🔹 11 🔹
— E onde eu entro nisso Martin? — pergunto, já sentindo a aflição penetrar.
— Nós já dissemos, você é realeza. Uma descendente direta de Henry se apresentando em Nihal pode ser o necessário para acalmar os ânimos e evitar o pior.
— Só por ser realeza você acha que eles irão me escutar? Logo eu, apenas uma garota, que nunca nem colocou os pés em Nihal...
— Se eles não te escutarem por bem, você pode fazê-los te escutar à força!
— Nossa Martin... Não sei não. Minha vó disse que eu tenho que tomar cuidado com a exposição dos meus domínios, ainda não tenho pleno controle sob o meu domínio de mentes, e ela disse que se eu usar isso de qualquer jeito, as consequências podem ser terríveis. Eu nem tive coragem para perguntar quais seriam essas.
— Sei bem disso. Mas isso seria apenas a nossa última opção.
— As consequências por mais severas que possam ser, podem vir a ser um preço pequeno para se obter a paz e não ter essa queda de barreiras — Adam diz com uma voz sombria.
— Exatamente.
— E além da província do Metal e do Ar, ainda tem a adição da província do Fogo. Mas essa adição nessa aliança vai se dar de uma forma diferente... — Martin olha pra Adam que arregala os olhos e suga uma respiração cortada.
— E-eu tenho que ir — Adam diz e nem me dá tempo de fazer outra coisa além de receber um beijo seu em minha testa. — Nos falamos depois Meg!
Olho pro Martin inquisitivamente, mas ele apenas dá de ombros.
— Eu te encontro lá no meu quarto. Quero mais detalhes...
Entro em casa e meus pais estão adormecidos no sofá, com a televisão ligada. Acordo eles e digo que amanhã eu digo para eles como foi o baile. Digo que estou cansada e que vou dormir. Abro a janela do quarto para que o esquilo pule para dentro. Sento na cama, cruzando as pernas.
— Minha avó já está sabendo disso?
— Sim. Ela que me informou. Ela ouviu os rumores hoje, mas disse que falaria com você apenas depois do baile... Queria que você aproveitasse a noite.
Tento sorrir, mas já busco o celular dentro da bolsa. Disco o número dela, e depois de alguns toques ela atende, com sua voz calma.
— Boa noite minha querida. Como foi o baile?
— Boa noite vó. Foi maravilhoso. Eu me diverti bastante... Ah, e obrigada pelos brincos, eles são lindos!
— Não há de quê! Fico feliz que gostou!
— Mas vó a senhora já deve saber o motivo dessa ligação... Como assim, controle dos reinos? Guerras entre províncias? Barreiras mágicas? Explosões que acabariam o mundo? E eu no meio disso? Não vai dar certo... Eu só tenho 16 anos, e a minha diplomacia é pífia! Nem preciso lembrar que até uns meses atrás, a minha maior preocupação era que eu estava ficando maluca conversando com um esquilo! — olho pro lado e meu guardião já não é mais um esquilo, e sim o rapaz bonito que me estende a mão para me confortar com a conversa que vou ter agora. Eu aperto sua mão e me sinto imediatamente mais confiante.
— Calma querida. Imaginei que essa notícia não cairia muito bem em cima de você... Mas uma coisa de cada vez... As províncias do Metal e Ar estavam há um bom tempo combinando para unir suas forças para controlar as outras quatro províncias. O acordo era secreto, mas como algo tão perigoso assim não tinha como ficar enterrado por muito tempo, as outras províncias tomaram conhecimento e não estão contentes por não fazerem parte do acordo.
— E onde a província do Fogo entra nessa história?
— A filha do governador do Ar está para anunciar um noivado com o filho do governador do Fogo. A aliança entre essas duas províncias é bem antiga, e vem bem antes dessa aliança entre o Metal e Ar. Mas não tem como não pensar que esse noivado vai se estender bem mais do que esse acordo antigo. E então três províncias contra as restantes...
— Não vai dar nada certo... E a queda dessas barreiras é tão ruim assim?
— A magia acumulada nessas barreiras é antiga Meg. Não temos como mensurar muito bem a quantidade de energia que será liberada, muito menos se os humanos poderão suportar. É bem provável que tudo o que não tiver um toque mágico, desaparecerá se houver a queda de todas elas... E não sabemos as consequências que trarão para os seres de Nihal.
— E porque exatamente meus pais não são dominadores?
— Desde a segregação de Nihal, a magia vem pulando uma geração. Esse foi o preço que Henry pagou para conseguir o poder para derrotar Michael. Assim os filhos não pagam ou carregam os pecados dos pais.
— Entendo... Mas vó... É muita responsabilidade.
— Ainda bem que você não vai ter que fazer tudo sozinha... Claro que a sua figura vai ser o nosso carro-chefe para as coisas darem certo, mas estaremos ao seu lado a todo momento. Mas tenha mais fé em suas habilidades meu amor.
— Estarão?
— Sim querida. Eu e Martin iremos lhe acompanhar a cada passo do caminho. Infelizmente já teremos que partir logo depois das suas provas finais. Queria poder lhe dar mais tempo, mas não vai ser possível.
— D-depois das provas? — tão cedo...
— E outra, sempre teremos a sua carta na manga...
— Fico ainda mais nervosa quando você fala assim. A senhora mesmo me disse que esse meu domínio de mente é muito perigoso...
— Não fique querida. Mas é que se a situação ficar muito desesperadora, vamos ter que recorrer a medidas desesperadas.
— Estou com medo vó...
— Eu ficaria surpresa caso você não tivesse. Mas eu gostaria muito que você se concentrasse nas suas provas, já que a sua viagem vou preparar tudo com seus pais e o Martin.
— Obrigada. E eu vou tentar. Mas dá um alívio saber que tem pessoas tão boas cuidando do meu bem-estar — percebo que ainda estou segurando a mão do Martin, mas não solto. — É bom saber que eu posso contar com vocês dois.
Vejo o rosto do Martin ficar vermelho e ele desvia o olhar do meu.
— Sempre querida. Você tem mais alguma pergunta?
— Nada que não possa esperar uma próxima conversa vó.
— Pois então descanse. E pode me ligar a qualquer hora, pra qualquer coisa.
— Obrigada. Boa noite vó.
— Boa noite querida. Durma bem.
Desligo a ligação e quando solto a mão do Martin, fico nervosa e não sei ao certo o que fazer. Mas não quero ficar sozinha hoje.
— Martin... — agora sou eu que desvio o olhar do dele. — Será que teria como você virar um ursinho de pelúcia... Eu vou precisar de um pra dormir, e sinceramente vou ficar bem mais tranquila sabendo que o meu ursinho é você...
— Claro Meg... — ele sorri e a fumaça o transforma num pequeno urso de pelúcia marrom.
Em passos pequenos, ele foi caminhando até a minha cama, e quando chega perto o suficiente, eu o apanho do chão e o aninho em meus braços. Fecho os olhos e tento deixar o sono me levar.
A temperatura está alta na minha cama. Sinto uma fonte quase inesgotável de calor deitada ao meu lado e dou um suspiro triste ao perceber que Martin não está mais nos meus braços.
Abro os olhos lentamente, sem querer acordar totalmente, mas quando a pessoa do meu lado começa a ganhar formas, e muitas dessas conhecidas, quase caio da cama. E eu teria caído se um braço pesado e definido não estivesse abraçando a minha cintura.
Adam está deitado ao meu lado e está de camiseta branca e uma calça de moletom folgado. Seus cílios grossos estão cerrando os olhos bonitos e ele respira com tanta calma que me surpreende.
Ele está perto e posso até respirar o mesmo ar que ele. Mas acabo respirando mesmo é um fio de cabelo meu, o que faz com que o meu nariz se irrite e eu espirro. Não é alto, mas com a nossa proximidade é o suficiente para acordar o Adam.
— Foi mal... — digo e consigo colocar o fio para detrás da orelha.
— Bom dia pra você também Meg... — o sorriso que ele dá deve ser a coisa mais bonita que eu já vi.
— Okay Martin... Eu já te disse que você deve avisar quando for mudar assim. Sei bem que você gostou do Adam, mas não precisa usar a forma dele só pra me agradar não...
— Quer dizer que eu te agrado...? — a voz dele ainda é arrastada pelo sono, mas escuto claramente o sorriso que se forma ali.
— ADAM?! — o grito sai controlado da garganta.
— Em carne e osso. Mas você está fugindo da minha pergunta... Você gosta da visão? — claro que gosto, só se eu fosse maluca pra não gostar.
— O que você está fazendo aqui? — no meu quarto, na minha cama? Quis completar, mas minha mente está entrando em ebulição.
— Você não está respondendo a minha pergunta...
— E nem você a minha. O que você faz aqui?
Adam senta na cama e se espreguiça. Depois de soltar um suspiro, ele volta a falar.
— O Martin me mandou uma mensagem de madrugada. Disse que tinha que resolver algumas coisas, mas que não queria deixar você sozinha... Então me pediu para ficar de olho em você essa noite... Acho que dormi também, desculpe.
— Mas que guardião mais... — nem sei se eu estou amando ou odiando ele agora. — Mas porque logo você? Ele poderia ter saído depois que eu adormeci e nem perceberia... Como não percebi quando ele saiu.
— Ah, o porquê eu não sei. Mas como ele insistiu, eu vim.
— E você chegou que horas?
— Pouco depois da meia-noite. Eu não estava conseguindo dormir lá na minha cama também... De certo modo você me ajudou a adormecer... Dormir ao seu lado foi relaxante... E bem fácil.
— Er... Obrigada, eu acho...
— Mas eu acabei de responder a sua pergunta, que tal você para de fugir da minha?
— Hã? — pergunta? Ah sim, ele vai ter que esperar deitado eu admitir nesse momento que sim, a visão dele na minha cama é uma coisa que eu gosto muito.
— A resposta Meg... Estou esperando — ele está parado na minha frente e então segura meu rosto com as mãos.
Não ouso fechar os olhos ainda, embasbacada com a beleza do brilho do olhar dele se aproximando do meu. Quando ele fecha os seus olhos, sou compelida a fazer o mesmo e meu coração está acelerado. Agora esse beijo vai acontecer!
Nem o destino me para agora! O mundo pode ser invadido por seres de outros mundos, meus pais poderiam entrar no quarto, ele poderia até mesmo pegar fogo e o mundo se acabar... Mas eu beijaria o Adam agora.
Em vez de sentir os lábios macios, acabo beijando uma nuvem de fumaça e caio de cara na cama. Balanço minhas mãos no rosto, a fim de espantar a fumaça, ah Martin seu malandro! Abro os olhos, e quando olho ao redor, não estou mais no meu quarto.
Sentada numa nuvem, não estou mais de pijama e sim utilizando um longo vestido dourado que brilha como ouro. Várias pessoas olham para mim, e gritam meu nome. Umas saudando e outra vaiando e querendo jogar coisas em mim.
— Majestade, você tem que abençoar a cerimônia! — um homem diz, puxando meu braço, e então me empurra.
Quando coloco as mãos no chão, já estou numa sala branca, onde um casal está de mãos dadas. Assim que ergo o rosto, eles se viram e petrifico no lugar quando percebo que é Adam segurando a mão de uma mulher com o rosto coberto.
— Estava esperando a sua benção Meg... Quer dizer Majestade — Adam sorri. — Você aceita a minha união com a mulher que eu amo?
— Não — o estômago revira ao olhar ele de mão entrelaçadas com aquela mulher.
— Não? Mas por qual motivo majestade? — ele parece ferido ao proferir as palavras. — Você não deseja a minha felicidade?
— Desejo! — mas o meu egoísmo quer que essa felicidade seja comigo. — Você pode ser feliz com outras pessoas...
— Com quem?
— Comigo.
— Ah minha linda e querida majestade... Porque você nunca falou nada antes? Agora é tarde demais para nós.
— Não, não pode ser tarde demais.
Ele não me responde, apenas segura as pontas do véu que cobre o rosto da mulher e começa a levantar. Antes que eu consiga ver as feições dela, um buraco se abre no chão e me puxa para dentro.
As mãos de Adam tentam me puxar para fora da escuridão, mas ele não me alcança. Eu grito o seu nome. E começo a escutar ele me chamar de volta.
— Meg! Meg! Meg! Acorda!
Acorda?
Sinto algo bater em minhas costas e quando abro os olhos, estou deitada na minha cama. Martin ainda é um ursinho de pelúcia e está em meus braços. Só que Adam está na minha frente, segurando meus ombros, com um olhar preocupado.
— O que aconteceu? O que faz aqui Adam?
— Você deve ter me chamado em sonho Meg. Quando eu percebi já estava na janela do seu quarto, flutuando.
— D-desculpa, eu não percebi que poderia fazer isso.
— Tá tudo bem Meg... Ainda bem que eu estava aqui... Você estava tendo um pesadelo. Resmungando um monte de "não".
— Ela estava tendo um pesadelo com você — Martin diz. Ah seu guardião linguarudo! Será que consigo esganar um urso de pelúcia?
— Por isso que eu estava sendo atraído para cá?
— Sim, é bem provável ter acontecido isso. Ela já entrou na sua mente. A ligação entre vocês é forte.
— Entendo... Agora que você está devidamente acordada do pesadelo, vou voltar pra casa. A parte boa de ainda ser de madrugada é que não tem quase ninguém acordado e dá pra voltar voando rapidinho.
— Mais uma vez, desculpa Dam. Não quis atrapalhar sua noite.
— E não atrapalhou — só então olho para o corpo do Adam e vejo que ele está usando exatamente o que eu tinha visto no sonho mais cedo. A mesma camiseta e moletom.
Estranho, já que não tinha como adivinhar como ele viria. Assim que o Adam sai voando pela janela, eu viro o Martin ursinho para que ele me encare.
— Martin, você viu meu sonho?
— Não senhorita... Isso é indelicado, mas eu consegui identificar os resmungos que o Adam falou como o nome dele.
— Tudo bem, eu acredito em você. Mas agora uma coisa está cutucando minha cabeça. No meu sonho, o Adam estava vestido igualzinho ele está agora. E não tinha como eu saber, certo?
— Meg, eu já presenciei histórias parecidas com as suas. Onde os sonhos acabam por fazer parte da realidade. Há não muito tempo atrás, em Nihal, existiu uma mulher que também tinha o domínio da mente. Ela era espiã, só que colocou tudo a perder quando se apaixonou por um dos rapazes que ela dominou. Ela passou a sonhar com ele todas as noites, e sempre que conseguia, entrava na mente do rapaz. Depois de um certo tempo ela não sabia quais eram as suas memórias e quais eram dele.
— Isso é horrível Martin.
— Não é tão ruim assim... Já que depois ele também se apaixonou por ela, e a ligação entre as suas mentes se tornou inquebrável. E eles ficaram juntos até os fins dos seus dias.
— Mas ele se apaixonou de verdade por ela, ou foi apenas um pensamento que ela implantou? — perguntei e senti entre meus dedos quando a pelúcia ficou rígida. Sorri sem sentir humor. — Imaginei.
— Não pense demais sobre isso Meg — os bracinhos felpudos me abraçam. — Vocês dois podem ser felizes sem sentir a sombra do domínio da mente.
— Obrigada Martin.
Fico deitada, de olhos abertos, com os pensamentos fluindo a milhão na cabeça. E se eu impor algo que Adam não queria... Mesmo ele aceitando depois, seria o meu domínio, ou eu conseguiria despertar algo nele?
Os capítulos de um modo geral estão aumentando de tamanho, tentei acrescentar os detalhes que importam e retirar os que não acrescentavam em nada na história. Espero de verdade que esteja fazendo efeito.
Se gostou, não se esqueça de conferir se a sua estrelinha está aqui e de deixar seu comentário ♥ Ah, e cuidado com os spoilers (:
PS. Quero um Martin pra virar ursinho e me abraçar quando as coisas ficam complicadas também...
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