Os Nafllloig
Agora, às 4:34 da manhã, com o último resquício de sanidade, escrevo essa carta. Não leve o meu suicídio como uma perda trágica, apenas não aguento lembrar do que passei e vivi. Poderia ser um abuso, morte ou qualquer coisa do tipo, mas não. Sempre tive uma boa família, pais que me educaram muito bem, um irmão que sempre me guiou para bons caminhos e amizades incríveis, porém, a duas semanas atrás algo veio a me atormentar, por mais inexplicável que tenha sido minha experiência, tentarei elucidá-la. Ainda sóbrio e sem o efeito da heroína.
No dia 10 de agosto tudo ocorreu de forma normal. Fazia o que me era comum, trabalhar e estudar mais para meu artigo de história. Trabalhava sobre tribos, povos e suas línguas de origem, em mais específico, a tribo dos Nafllloig e o estranho idioma que possuía diversos mitos e debates acerca da sua origem, como a de que antigos deuses conceberam essa dádiva a eles, ou que até seria uma espécie de maldição, mas claro, não acreditava nisso, apenas respeitava suas crenças.
Em uma de minhas pesquisas, acabei me aproximando de uma nativa, sendo a mais bela mulher que havia visto, nunca encontrara uma jovem tão perfeita, seu nome era lindo, Pufe'llrific Na'ah'ehye, tentava me explicar o que significava, mas não lembro, estava enfeitiçado pelos lindos lábios e olhos cor de mel que ela tinha, uma verdadeira deusa. Seu cabelo era curto, estilo Chanel, sempre gostei de mulheres assim. Pufe, como preferia que a chama-se, me tirou as dúvidas acerca de sua linguística, contou-me em forma de poema:
"Nesse deplorável canto de terra,
meu legado e adoradores esqueço.
Provam-me com guerra e
sua negação vem em carne.
Não permito o seu esquecimento.
Assim como seu escarne,
assim como meu provimento.
Isso repugna.
Permito minha comunicação,
para um dia ser feito a erradicação.
Atraí-los devem.
Para um propósito existem.
Preciso acordar,
assim que tudo começar."
Eu prestei atenção em poucos detalhes. Era impossível não apreciar a beleza daquele ser incrível que, mais tarde, seria meu futuro.
Para mim, tudo possui um sentido, e isso não era diferente. Provavelmente de uma origem antiga, seu poema era sobre o povo que vivia sobre um escravocrata que os exigia trabalhos extremamente exaustivos. Por fim, matava-os e até assassinava seus familiares, pelo menos foi o que havia pensado. Agora, refletindo enquanto olho para minha janela entre aberta, percebo a falta de coerência em minha teoria
Tudo fazia sentido naquele momento. Ao final, por mais que eu houvesse terminado minhas pesquisas para o artigo, eu queria me aproximar dela... Estava completamente apaixonado e encantado por Pufe'llrific, queria tê-la, após muitos dias tentando faze-la de minha esposa, assim o fiz, porém, pediu-me para seguir as tradições de sua família, conforme a religião dos Naflloig, claro que aceitei, iria reforçar meus laços com aquela deusa.
Após muita preparação e treinamento, lá estava eu, perto do que seria o altar, era uma grande pedra cilíndrica com seu topo plano, em uma circunferência de aproximadamente 20 metros de diâmetro que ficava ao centro de um gigante círculo desenhado na terra, com o total de 400 metros localizado em uma grande floresta tropical, com muitas árvores por volta. Era tudo tão incrível, um sonho, o ritual antes do casamento era da seguinte maneira:
Seus pais deveriam me dar uma espécie de benção, onde passariam uma tinta azul partir de minha testa até o redor dos olhos, formando uma espécie de tornado.
Logo após, outros familiares, que totalizavam 10, deveriam fazer outros desenhos. Muitos eram difíceis de explicar, uma mistura de russo, mandarim antigo e algumas coisas do latim clássico e vulgar.
Então, tive que usar uma tanga feita com couro especialmente para o noivo. Por último, tinha que ler a seguinte frase junto a eles:
"Ekvapyd vit llll c' pufe'llrific ng''ogg lloig H' Mgyaah, ng' hh' aza 'oosca goka Na'ah'ehye"
Fui ao esperado momento: meu casamento.
Tudo estava perfeito. A lua nos iluminava naquela linda noite, subimos até a escada natural que era formada nas rochas. A cerimônia se iniciava.
Eu me sentia estranho e tenso, algo estava me incomodando, a lua parecia tão pálida, havia um buraco de aproximadamente 16 metros em sua circunferência, ao lado da rocha, um buraco muito profundo, não se dava para saber o quão fundo aquela cratera chegaria, isso me deixava um pouco acrofóbico, mas não liguei, Pufe começara a falar seus "votos".
"Geb, llll'yasg goka vit h' Mgyaah, llll c' Mgyaah ng ogg' l' goka h' ah llll rllpigg'ht Na'ah'ehye"
Dizia enquanto acendia sua magnífica tocha, que iluminava e destacava seus lindos olhos hipnotizantes, então atira o objeto luminoso no buraco, era o momento que eu iria beijá-la, quando o fiz, estranhei a tocha não ter feito barulho algum, seria alvo de estudos caso, é claro, tal evento não mudasse tudo em um piscar de olhos... O que saíra daquele buraco. Não tive tempo para nada, havia congelado. Olhando aquela coisa, apenas me joguei de cima daquela grande pedra ao sentido oposto da criatura, havia quebrado minha perna, mas mesmo assim, continuei correndo. Os nativos, lá presentes, apenas me olhavam correndo desesperado, eu me perdi naquela floresta, não fazia ideia de como estava lá, "como quebrei minha perna?" Me perguntava, tinha como esquecer aquilo? Por sorte, achei meu diário. Infelizmente, lembrei-me de tudo.
Desde então, não paro de ter pesadelos, apenas enxergo aquela criatura... Sinto que, por algum motivo, ela me observa.
Parecia gosmento, sólido, de uma cor que eu nunca havia visto, meio negro, branco, avermelhado, talvez azul. Não gosto de lembrar... Mas agora eu o vejo, esgueirando-se por meu piso.
Encarando-me, mas não possuindo olhos, sem nem ao menos possuir uma boca, falava comigo enquanto toca em minha perna esquerda com seus braços. Se ergue da sua forma líquida. Nada me resta. Somente a janela aberta.
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