As vezes temos que cavar um buraco e sepultar nele o que sentimos.

Esse buraco é escavado em nosso peito, nossa alma. Tão profundo que a ferida nunca fecha, a cicatriz nunca desaparece.

Ou talvez não é tão fundo, ou é fundo, mas o que temos que enterrar é maior do que podemos carregar em nossos ombros, maior do que somos capazes de arrastar em sacos pretos ou enrolado no tapete velho e mofado da sala.

As vezes suas mãos tremem demais para achar, com uma punhalada, o ponto certo. Mas, Deus... como queria saber encontrar esse ponto! Como queria ter forças!

Existe uma linha muito tênue entre o amor e o ódio. Tênue como a que existe entre a vida e a morte. Depois de rompida é impossível juntar as duas pontas, é impossível voltar para trás.

Sinto muito te dizer, mas você rompeu meu amor. A coisa mais preciosa que eu tinha se foi. Tudo que me resta é a certeza que sim, você continua feliz sem mim, embora eu sinta como se meu chão estivesse rachado e rangendo debaixo dos meus pés.

Sim, você está feliz sem mim. Mas por que não estaria? Não foi seu coração o órgão estraçalhado, não foram seus olhos que arderam e pesaram depois de noites chorando, não é você que tem que ver a pessoa que você um dia quis ser o motivo dos sorrisos dela sorrindo para outra.

Não, não é você. Você também nunca saberá como doeu em mim. Melhor, você nunca procurará entender, porque isso ocuparia muito do seu tempo. Que desperdício, não?

Se me perguntar, o que duvido muito que aconteça, se hoje tenho raiva de você, sinceramente direi que não. Claro que não... raiva é algo tão volátil, tão mutável... do tipo que existe por algum tempo, dias, horas, minutos, as vezes até segundos... mas que depois... depois bate um arrependimento, de ter falado demais, de ter ferido quem ama tanto.

Não, o que sinto não é raiva. Na verdade estou decepcionada, magoada. Eu acreditei. Sim, eu acreditei em você e em suas promessas; nas palavras que você disse com carinho, nas declarações que fez apenas com seu belo olhar ou seu sorriso que ainda está claro em minhas lembranças.

O que sinto por ti é mágoa. Não é mais amor, também não é raiva. É mágoa. E a mágoa é uma erva daninha que mata todo sentimento a que se prende. É mágoa, mas ela não vive mais que o esquecimento, ou que a vontade de seguir em frente e viver o que você não foi capaz de me fazer sentir.

Eu te amei porque eu seu lado encontrei uma felicidade que nunca antes tinha encontrado ao lado de ninguém. No fim, talvez não é com você que eu esteja magoada, mas comigo mesma, por te ter amado tanto ao ponto de me acostumar a te ter ao meu lado, me fazendo rir e me sentir livre. Eu me deixei levar e me acostumei a você, agora tenho que aprender a levar a vida adiante e me acostumar a não ter você.

No fim, tudo se resumiu a uma cova rasa e um amor cadáver.