esperança
Fadas não existem (desculpa, Sininho). Vejo esperanças infantis mortas pelas ruas, cadáveres que nunca irão se decompor me encarando como se eu fosse a salvação para suas existências. Será que elas sabem que a mais contante inspiração do poeta é sua dor, a saudade que ficou quando o que era bom se foi e seus amores? (os mesmos que ele vai matar em seu peito depois que o abraço que o aconchegava passou a sufocar, que virou mais uma saudade ou um segredo que ele espalha em sua poesia, sem nunca citar o nome do dono).
Na mesma rua que vejo a esperança jogada, maltrapilha, pessoas passam em seus belos carros, alguns não tão belos assim (me refiro tanto aos carros quanto às pessoas). Os carros não são mais brinquedos, os meninos são adultos agora.
Tem poucas horas que o dia começou, mas existe pressa para não se perder a hora, existe àquele desejo quase (ou completamente) melancólico de que chegue logo o fim de semana e não interessa se hoje é segunda.
A esperança olha para eles, desgostosa. "É isso que me mata todos os dias, menina. Eu morro sempre que o ser humano cresce e esquece quem era quando criança." Esquece porque não aparece na lista de compra "um quilo" dela ou na receita do bolo "duas colheres de sopa" e nem mesmo no boleto ela está. Bom, talvez tenha um pouco dela quando ele pensa se o salário vai dar conta das contas.
Tá difícil a situação, nessa nossa rotina diária o viver não achou lugar ainda, por isso a esperança tá jogada aí na rua, deixaram ela cair na correria do dia-a-dia.
O relógio manda no humano e ninguém quer saber se ele foi criado para servir ao homem ou o homem o criou para ter sobre si um rei que manda aos tics e aos tacs.
E, no fim, eu tô aqui; escrevendo um texto deprimido pra falar sobre esperança. Talvez eu nem tenha, assim do nada, esbarrado com o cadáver da minha esperança infantil na rua, enquanto corria para mais um dia de trabalho. Talvez, só talvez, ela tenha me olhado e eu, aproveitando que não estava tão atrasada assim, parei diante dela. Talvez, assim quase que um devaneio bobo demais pra acreditar, ela tenha sorrido (o que é bizarro para um cadáver fazer) e no seu sorriso tenha me dito "é, menina. Parece que você ainda me vê aqui no seu caminho."
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