Capítulo 6
CILO – Distrito 7
1 hora antes
"O caminho está livre"
Através dos sinais de mãos, os aliados do distrito 7 descem das respetivas árvores em que estavam regressando ao chão em silêncio total. Cilo aproxima-se de Katherine, ainda nervoso com quem possa estar à espreita.
- Vamos ao acampamento deles.
Rapidamente chegam ao destino e imediatamente sorriem. Cilo agarra no machado que o tributo do distrito 9 havia deixado, rodando a arma nas suas mãos.
- Tivemos sorte. Eles fugiram e deixaram imensa coisa para trás. – Kath comenta, guardando um pacote de bolachas dentro da sua mala e comendo uma laranja.
Os dois tributos tinham passado pela Cornucópia. Cilo sabia disso. As laranjas, a garrafa de água e a arma que os outros haviam deixado, juntamente com outros alimentos, só podiam ser encontrados no centro da arena. Houve um ano em que as armas estavam espalhadas pela arena, e não na Cornucópia. Outro, os alimentos eram todos venenosos, não havia algo seguro para comer e não havia qualquer fonte de água potável. Obviamente que esse ano os Jogos duraram menos de 4 dias.
- Eles passaram no centro. De acordo com a minha previsão, eles devem ter vindo de lá e agora estão a correr na direção da mansão rosa. Porque é que a perseguidora deles não agarrou nisto?
- Talvez estivesse demasiado atordoada ou cega. Se calhar queria apanhá-los o quanto antes.
Kath tinha razão e fez despertar uma ideia na mente de Cilo.
- Então é melhor sairmos daqui. Se ela os perseguiu e conseguiu, pode querer voltar aqui para vir buscar o que deixou para trás. E se perdermos este machado, ficaremos demasiado expostos.
- Para onde vamos?
É verdade. Para onde iriam? Estavam no meio de um jogo homicida, dentro de uma arena. Podiam tentar escapar, mas só resultaria na morte de ambos. A questão é: "Para onde não irão?". Qualquer local dentro da arena é perigoso e possivelmente letal. Apenas precisam de ter a sorte de ficar num sitio onde não haverá algum tributo.
- Não sei. Podemos ir para a mansão verde, do outro lado. Devíamos manter-nos sempre em movimento.
- Teremos de passar pela Cornucópia. Ou podemos ir pela floresta.
- Não, a Cornucópia parece-me melhor.
Recomeçam a caminhar em direção ao centro da arena, passando pela mansão azul e aproximando-se da enorme cornucópia repleta de castelos de madeira e escorres com as cores do arco-íris. Se fossem mais, poderiam manter-se naquela posição e defender os castelos. Não eram muitos altos mas quem se atreve-se a subir, seria facilmente derrubado com uma espada ou machado.
Imerso nos seus pensamentos, Cilo não repara na movimentação no interior da Cornucópia, num castelo ao lado de uma ponte de correntes e tábuas. Aproximando-se sorrateiramente, os dois tributos escondem-se junto a um escorrega e abastecem-se com águas e comida.
- Temos de chegar ao outro lado da Cornucópia. Podemos ir por dentro, saímos pelo escorrega do outro lado.
Kath acena afirmativamente. Sendo um ano mais velha que Cilo, seria ela que devia tomar as decisões, estar no controlo. Mas Cilo é um líder nato, sabe tomar decisões rápidas rodeado de pressão. É assim que a sua família sobrevive, com a ajuda dele.
Começam a subir, usando umas escadas de madeira, evitando ao máximo emitir algum som. Enquanto escalam e atravessam o castelo, Cilo recorda a despedida do seu irmão e da sua mãe.
Flashback
- Cilo. Cilo! Meu querido, eu amo-te muito. – a sua mãe corre para os braços do seu filho, agarrando-o com força e enchendo o ombro dele com lágrimas de mãe. Cilo, enquanto chora também, sente o peso de cada lágrima da sua progenitora nos seus ombros, puxando-o para baixo.
- Promete que vais vencer, por favor. Eu preciso de ti meu filho.
Agora com as mãos na face de Cilo, a sua mãe olha-o nos olhos, pintando na sua memória os olhos negros do filho uma última vez.
- Mãe, sê forte por favor, trata bem do Casper. Amo-te muito bem, obrigado por tudo.
Um último abraço e acaba. A mulher é retirada da sala, arrancada dos braços do seu filho. Mais tarde nessa noite, nos seus sonhos, a mãe recorda o nascimento do seu filho e a primeira vez que segurou Cilo nos seus braços. Nessa altura, ela jurou que ninguém o tiraria dali, jurou que ela o seguraria para sempre.
Presente
- Pára! Por favor!
Uma vez mais, Cilo imerso nos seus pensamentos e memórias fazem-no esquecer-se de onde está. Frente a frente com uma tributo ruiva, de estrutura mais cheia e de espada em riste, próxima à sua face.
- Voltem para trás, agora.
"São os tributos que estavam na floresta. Escaparam à tributo de cabelo azul, será que a mataram?"
- Nós não queremos confusão. Queríamos apenas ir até ao outro lado da arena.
"Se a mataram, onde está o sangue?"
- Podiam ter contornado a Cornucópia. – o outro tributo que estava na fonte, comenta, escondendo-se atrás da sua aliada.
- E arriscar sermos vistos? Não me parece. – Kath aperta com força o machado, pronta a desferir um golpe caso eles ataquem. – deixem-nos passar e não teremos problemas.
"Se são capazes de matar, irão matar-nos a nós? Será que devo arriscar matá-los? Estamos extremamente perto uns dos outros. Qualquer movimento pode ser fatal."
- Porque não nos acalmamos e fazemos uma trégua. Nós vimo-vos a fugir daquela rapariga de cabelo azul, lá no bosque. Encontrámos o resto das coisas que deixaram no acampamento. Não vos queremos mal, apenas sobreviver o máximo possível.
A tributo ruiva olha fixamente nos olhos de Cilo, como outrora a mãe havia feito, mas desta vez com dúvidas e medo. Medo de morrer. Ao fim de uns segundos, ela afasta-se dois passos.
- Ok, podem ficar aqui mas nada de armas. Vamos deixá-las neste espaço e ir para aquela torre ali. Estamos escondidos e podemos conversar à vontade.
Ainda receosa, Kath pousa o machado a pedido de Cilo. Já Rubi, que revela o seu nome no caminho para a torre do outro lado da ponte, encosta a espada junto à porta que dá para a ponte, caso seja preciso agarrar na mesma em caso de emergência.
- Vocês estavam numa árvore, por cima de nós?
- Perto, sim. Vimos também o Alexander a encher as garrafas de águas. Tens que idade?
O jovem diz ter 15, surpreendendo Cilo. A mesma idade que o seu irmão, apesar de Alex ser loiro. Uma vez mais, o choque de ver nos Jogos crianças de 12, 13 e 14 anos, deixa-o maldisposto. É horrível o que os obrigam a fazer. Ainda se lembra da sua mãe contar histórias sobre os "Dias Negros", quando a revolução incentivava os jovens da altura e grande parte da população a criar enormes conflitos. Dizia que ele não devia temer essa altura mas não devia nunca, achar que aquela altura foi boa para eles.
- Aquele tributo do Distrito 11, o Sylas, está aliado a outras 3 pessoas. Um deles é Ónix, o rapaz do meu distrito. Nós... não somos chegados.
Sendo 4 contra 4, Cilo pondera a possibilidade de lutarem mas depois recorda as armas que têm, a idade e as inúmeras desvantagens contra eles.
Passam o resto da tarde e a noite a vigiarem o terreno circundante. Trocando de turnos a cada 4 horas, os tributos dormem cada um no seu lado. Cilo e Katherine num lado. Alex e Rubi no outro. O primeiro turno da noite é feito por Kath e Alex, o segundo por Cilo e Rubi e o último pelos mesmos do primeiro turno.
Apesar das 8 horas de sono, Cilo não dormiu nada de especial, levantando-se com olheiras evidentes. Apesar da noite anterior ter sido passada a conversar e a se conhecerem, a desconfiança permanece, como uma nuvem negra, prestes a descarregar água e trovoada.
DIA 3
A meio da tarde, a última garrafa de água acaba. Existem 4 garrafas de água ao todo, uma para cada um. Cilo observa as mansões que rodeiam a Cornucópia, edifícios imponentes mas letais. Durante a noite, o rapaz chegou mesmo a sonhar com os perigos que se avizinham em cada mansão e ainda sonhou com a sua mãe a ser engolida por chamas, gritando por ajuda, as lágrimas a evaporarem-se no ar.
RUBI – Distrito 1
A sede aumenta a cada minuto e a preocupação também. Não só está nos Jogos da Fome e em riscos de morrer a cada hora, minuto e segundo que passa, como agora aliou-se a dois tributos do mesmo distrito. Eles são leais um ao outro, sabem com o que contar e sabem que podem ajudar-se mutuamente. Rubi não. O seu único aliado é um adolescente de 15 anos que à primeira oportunidade e sinal de perigo, correrá pela sua vida para longe, deixando a gorda e feia Rubi para trás.
- Temos de ir buscar água. Kath, podes vir comigo.
A ruiva sabe que numa luta, ela perderá. Se eles os três se virarem contra ela, a única coisa que ela fará é tropeçar e cair no chão. Com sorte morre com o embate no chão duro de alcatrão. Na pior das hipóteses, cai na areia, no meio da Cornucópia ou se afogue em 2 segundos, antes da espada de Alex se cravar nas costas dela.
"Não, ele precisa de mim. Ele vai andar atrás de mim até ao fim."
Caminham em silêncio junto ao muro da mansão azul. A fonte está a poucos metros e não há sinais de inimigos à vista.
- Então... És muito amiga do Cilo? Lá no teu distrito?
Quando os olhos de Kath cruzam os de Rubi, a tributo do distrito 1 repara que o seu olhar é vazio e sem esperança.
"De que vale sermos amigos aqui ou no nosso distrito? A partir do momento em que entramos neste jogo, sabes que o teu amigo irá morrer mais tarde ou mais cedo."
Rubi recorda-se de Crystal, a sua amiga que deixou para trás, no seu distrito. Lembra-se das tardes passadas com ela, sentadas nos bancos do jardim da praça central do Distrito 1. Cada pessoa que passava, elas tinham que adivinhar a sua história de vida com base na roupa, companhia e forma de andar. Se tivesse que fazer o mesmo com Katherine, a história de vida da jovem seria repleta de tristeza, desgostos amorosos e traumas. Talvez estivesse certa, talvez não.
- Chegámos. Enche rápido as garrafas enquanto eu fico de vigia.
Kath esconde-se atrás de um arbusto do outro lado da fonte pronta para saltar para cima de algum inimigo que se aproxime. Depressa a atenção de Rubi vira-se para a fonte, esperando que a fonte encha as garrafas ao seu ritmo. Enquanto enche a segunda, bebe água da primeira. Nunca se sabe quando a água pode acabar.
"Acabar..."
O pensamento de Rubi divaga pelos primeiros momentos na arena e depois pelas primeiras horas. Recorda-se de ter guardado um frasco com um líquido transparente.
"Se eles querem que eu jogue e ganhe, que eu deixe de ser uma gorda inútil que vai morrer no terceiro dia, então estão muito enganados."
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