Capítulo 2
JACK – Distrito 5
Durante os treinos de combate
Primeiro dia de treino e as alianças já começaram a ser formadas e os tributos começam a ser julgados pela aparência. Após a introdução do instrutor-mestre do campo de treino, os 24 tributos distribuem-se pelas diversas estações. Jack sabe que não é o mais forte. É alto e magro, numa luta corpo a corpo morreria com toda a certeza, mas a sua inteligência compensa. É com esse objetivo que ele percorre o caminho até à estação dos alimentos naturais que podem existir na arena. Lá encontra 3 tributos, os dois do distrito 10 e um do 12.
- Eles são horríveis, vão pôr na arena alimentos envenenados. Metade destes alimentos nem vão existir e os que sobrarem ou estão envenenados ou tão escondidos que irão morrer antes de os encontrar. – comenta maquinalmente, quase como se estivesse a ler um livro.
Ajeitando os óculos, Jack afasta o tributo do Distrito 12 que resmunga algo. Começa a mexer no painel de controlo, selecionando algumas maçãs verdes e vermelhas.
- Porque haveriam de colocar dois tipos diferentes de maçãs? Uma delas está com certeza envenenada. O melhor a fazer é não comerem nenhuma, é uma armadilha.
No painel, os criadores dos Jogos apresentam o que é envenenado ou saudável, por norma alimentos parecidos para enganar os mais desatentos. No entanto, como espetador atento dos Jogos, Jack sabe que existem alimentos tóxicos que não são anunciados.
"Não é justo, mentir aos tributos, mas a quem haveríamos de nos queixar?"
Ao afastar-se ouve o tributo do 12 a comentar que vai comer na mesma o que encontrar. Diz que se morrer, que seja a comer. Jack revira os olhos aborrecido por desperdiçar tempo com pessoas que não lhe dão ouvidos.
Observa o ambiente em volta e repara no seu próximo alvo.
"É promissor."
- Sou o Jack.
De mãos nos bolsos, o jovem fixa os seus olhos negros no tributo do distrito 11. Se estivesse no distrito 5 provavelmente seria gozado por alguém como Sylas. Mas não nos Jogos, onde tudo é possível.
- O que queres?
A seriedade com que Jack se apresentara deixou Sylas curioso.
"Se tudo correr bem, hoje vou sair daqui com um aliado forte."
- Vou ser sincero. Tu és enorme, força bruta. Não querendo ser convencido, mas no meio desta gente toda sou o mais inteligente. Também sei que só um ficará vivo no final disto tudo mas não peço uma aliança até ao fim. No entanto, pretendo ser imbatível, tal como tu. Se tivesse a força necessária, mataria metade desta gente. São um grupo de estúpidos, burros e ignorantes, mas não posso. Já tu...
Sylas ouve o discurso de costas viradas para Jack, atirando machados contra os bonecos de madeira que atravessavam o campo à sua frente. Infelizmente, de 5 bonecos, acertou em 2 mas Jack não se ri. Se desrespeitar o seu potencial aliado tudo irá por água abaixo.
- Vou pensar nisso, amanhã dou-te uma resposta. Mas aviso-te já que não gosto de espertinhos.
A sorrir por dentro, Jack acena e afasta-se.
"Fase 1 do plano completa. Agora preciso de encontrar mais alguém que com toda a certeza irá correr para a Cornucópia."
Decide treinar um pouco tiro ao alvo, percorrendo o campo de treino até à zona mais afastada, ao fundo. Encontra o tributo do distrito 1 que acertava grande parte dos alvos.
- Então, és bom nisso. Aposto que vais matar muitos na Cornucópia. Jack, prazer.
- Ónix.
Jack fica especado a olhar para o tributo. Uma abordagem direta e simples não vai funcionar. Mas se voltar a insistir irá parecer muito suspeito.
- O que achas dos tributos deste ano?
- Aborrecidos.
Outra tentativa falhada.
"Hora de uma medida desesperada".
- Podes ensinar-me a usar o arco?
- Claro.
As respostas dele são de apenas uma palavra, diretas e secas. Jack pega no arco e numa flecha, apontando a um alvo fixo, a alguns metros de distância. Tenta focar-se no centro mas é difícil de manter a corda tensa, quanto mais concentrar-se na pontaria.
- Estás errado.
Vira o corpo dele para o lado, levanta-lhe o braço direito, o que estica a corda e sussurra ao seu ouvido.
- Não penses demasiado.
"Então ele é destes..."
Jack aprendeu a ler as expressões das pessoas em vez de aprender a lutar. No entanto, as suas táticas não eram infalíveis, havia sempre alguém que escapava às suas análises e essa pessoa era Ónix. O tributo do distrito 5 respira funda e vira o olhar para os olhos de Ónix que estão extremamente perto dele e sussurra num tom sedutor.
- Acho que é impossível... Vou tentar.
Concentra então o seu olhar no alvo e sem pensar larga a corda, deixando a flecha correr pelo ar e perfurando o alvo perto da borda.
- Para a próxima corre melhor.
E então o tom sério de Ónix muda por completo ou assim pensa Jack. O rapaz sorri brevemente, piscando-lhe o olho. Afasta-se, indo até à tributo do seu distrito, deixando Jack com o arco na mão e imerso nos seus pensamentos.
"Resultou melhor do que eu esperava. Não esperava que ele gostasse de mim assim tão facilmente mas talvez consiga usar isto a meu favor. Deve estar tão desesperado para ser amado que agora que está tão perto da morte, todo o amor que receber, ele aceita. Focar-me-ei nele amanhã, não me preocupa tanto como pensava. O que interessa agora é o Sylas."
Jack passa a vista pelo seu futuro aliado que mudou para as lanças, nas quais é particularmente muito bom. Contente com sua estratégia, Jack concentra-se de novo no arco e flecha para dar credibilidade à sua vontade de aprender como usar a arma de longo alcance. Se a sua estratégia não resultar, terá de recorrer ao plano de reserva. O único senão é se se apaixonar por alguém, pois de acordo com a sua teoria, o amor é uma fraqueza.
Na arena
- Sylas, atrás de ti!
Graças ao aviso de Jack, Sylas desvia-se da espada do tributo do distrito 10, usando a sua por sua vez para desferir um golpe certeiro na cabeça da vítima, decepando-a. É ao som do canhão que Jack recolhe mais uma mochila, sendo protegido pelos seus tributos aliados.
O seu plano deu resultado. Sylas decidiu aliar-se ao rapaz, trazendo consigo os tributos do distrito 2. Já Jack acabou por se aliar a Ónix, do distrito 1, por razões ainda estranhas a Sylas e ao próprio Jack. Os 5 aliados dominam por completo a Cornucópia, distribuindo tarefas para rapidamente poderem começar a caçar os tributos restantes. Jack recolhe as mochilas numa pilha junto ao escorrega azul, enquanto Ónix recolhe as armas e deposita-as noutra pilha distinta. Os restantes protegem-nos, afastando os que restam. O Banho de Sangue chega ao fim quando a tributo do distrito 2 torce o pescoço à tributo do distrito 8.
- Temos tudo, vou distribuir os alimentos e medicamentos por 5 malas, cada um escolhe uma arma para si, o resto guardamos nas malas ou enterramos na areia.
Sendo ele o cérebro da equipa, rapidamente subiu ao poder, criando estratégias e guiando os aliados antes e no início dos Jogos. Um tributo foge da Cornucópia, escapando por pouco à espada de Sylas e por fim os 5 juntam-se no topo do castelo de madeira para definir o que fazer a seguir.
- Daqui consigo ver 8 casas, divididas em grupos de dois. Muitos tributos esconderam-se nas mais próximas da Cornucópia mas os mais receosos devem ter corrido para o fundo, para trás dos jardins. É arriscado irmos até lá por causa da barreira.
- Então vamos entrar em todas as casas e matar os que lá se escondem. Isto assim acaba depressa. – Sylas afirma enquanto come uma bolacha.
- Sim, será esse o plano. Se os Criadores dos Jogos estão a planear armadilhas dentro das casas, muitas serão desativadas pelos tributos que lá estão agora. Para não gastarem os trunfos todos agora, algumas apenas serão ativadas hoje à noite ou amanhã, para entreter o público.
Todos o ouvem atentamente. Apenas Ónix observa o espaço em redor para não serem surpreendidos.
- Vamos começar pela casa verde e depois para a vermelha e por aí adiante
Todos concordam e após cada um receber uma mochila, descem do castelo e caminham até à mansão verde claro. Ao longo do caminho acabam por ouvir o som de mais um canhão. A contagem decrescente continua a ecoar na mente de Jack, contente por haver menos uma pessoa no seu caminho.
"Cada casa tem uma cor diferente. E não é apenas para mostrar o poder arquitetónico do Capitólio, há aqui algo de errado mas não consigo entender o quê."
- Jack, vem atrás de mim, entramos pela frente. O resto vão pelos lados, entrem pela parte de trás, impeçam alguém de sair. E cuidado. – as ordens de Sylas são dadas num tom de voz baixo, quase como um sussurro, diferente do que estavam habituados a ouvir. Todos acenam e dirigem-se para os seus lugares, prontos a atacar ao mínimo movimento.
Sylas faz sinal e abre a porta cuidadosamente. Não há barulho nenhum e parece tudo em ordem. O hall de entrada coberto de lianas e folhas no chão liga-se a um corredor comprido até à porta do outro lado da casa, a qual se abre e mostra a tributo do Distrito 2. Ela entra, juntamente com Ónix, deixando o outro rapaz de guarda. Rapidamente percorrem o primeiro andar e o segundo, não encontrando nada a não ser um monte de comida.
- Não comam nem bebam nada. É óbvio que está envenenado.
- Mas é tudo tão apetitoso. – Ónix aproxima-se e cheira um pedaço de carne ainda quente.
- Eles querem mostrar que a comida do Capitólio é apenas deles. Para nós, é como se fosse veneno, não somos merecedores do luxo deles.
Entre grunhidos e estômagos a roncar, os tributos percorrem o último andar. A cada andar que sobem, o verde torna-se mais intenso e mais escuro. A casa apresenta decoração exótica, como se estivessem numa floresta. As paredes têm pinturas de árvores e folhas, num fundo azulado e a própria escadaria são tábuas de madeira. Lianas sobrevoam as suas cabeças, presas ao teto e ao corrimão do piso superior.
- É uma floresta dentro de casa. É nisto que eles vivem?
- Quase, eles estão a mostrar que podem escolher onde querem viver, em que ambiente. Têm o poder e a tecnologia para recriar ecossistemas dentro de casa.
Jack evita tocar nas lianas e pisar em zonas que parecem perigosas. Apesar da sua análise anterior sobre as armadilhas serem ativadas mais tarde, nunca se sabe que surpresa o Capitólio preparou.
Ao fim de uns minutos, o grupo desiste. Não há ninguém na mansão verde e sem perder tempo avançam para a vermelha, prontos a matar alguém no seu caminho.
CILO – Distrito 7
- Eles saíram da casa?
- Sim, estão a ir para a vermelha. Vi que dois tributos entraram lá, é capaz de haver luta. Queres correr para a Cornucópia e ver se sobrou algo?
Após o ataque de pânico, os dois aliados observam cada um por uma janela os acontecimentos na rua. Os tributos mais fortes criam alianças e começam a caçar os solitários e os mais fracos. É uma forma suja de jogar, mas é estratégia. O que podem fazer é esperar que alguns morram até serem em menor número para depois matarem os que sobram.
- Não, vamos ficar aqui. Ainda não sabemos quem pode estar lá, a arena é muito pequena, vamos defender esta casa.
- Mas aqueles 5 vão percorrer todas as casas à procura de vítimas. Não quero ser uma delas.
- Não vamos ser. Fugimos quando estiverem a chegar aqui. Anda, vamos ao jardim. Quando lá estávamos vi maçãs no topo de uma árvore, talvez sejam, comestíveis.
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E com o término deste segundo capítulo ficamos a conhecer quase todas as personagens destes primeiros Jogos. A história irá avançar a um ritmo rápido e terá flashbacks dos momentos antes dos Jogos (tanto para conhecerem melhor as personagens como para entenderem o motivo de ódio e amor de alguns).
Comentem aqui as vossas apostas de quem acham que irá vencer (não se esqueçam das personagens que ainda não apareceram!)
Espero que estejam a gostar. Não se esqueçam de votar na estrela no final de cada capítulo!
Boas leituras!
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