Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

XXVIII - Sem um coração que sente


Mike entrou em casa a gritar:

– Feito!!

Rob espreitou o átrio, enfiando a cabeça pela nesga criada entre a ombreira e a porta da sala que acabava de abrir.

– O que é que está feito?

– O meu trabalho de Desenho Gráfico! E tive um "A"!

– Parabéns, Mike – felicitou o feiticeiro com um dos seus raros sorrisos. – Hoje, o Brad também trouxe boas notícias para casa. Teve um "A mais" no seu projeto de química sobre a depuração da água da escola. O professor gostou muito do que ele fez e anunciou que irá enviar a proposta imediatamente para o conselho diretivo. As ideias do Brad serão aplicadas até ao verão do próximo ano. Ou seja, no final desde ano letivo.

– Excelente! E tu?

– Passei a todas as modalidades desportivas com grandes notas. Nunca tive menos do que "B".

– E esse "B"... foi a quê?

– Esgrima. A máscara distrai-me. Vejo mal com ela posta e erro algumas posições. Também descobri que não gosto de esgrima. Espadas, espetar alguém... Escolhi a disciplina por causa das espadas, mas sou muito desengonçado a usá-las. Pareço um pateta.

– Nunca tinhas praticado esgrima.

– Não, Mike. Nunca.

– Bem, um "B" não é mau.

– Não, não é.

– E o futebol? Com e sem nódoas negras?

– Um "A" com distinção e um lugar a titular na equipa. O treinador gosta muito de mim, dos meus dotes futebolísticos. Diz que se me aplicar mais poderei vir a jogar profissionalmente daqui a dois anos.

– Profissionalmente? – admirou-se Mike.

– Sim. Profissionalmente! – Rob repetiu a palavra com eloquência. – O treinador diz que há clubes que mandam olheiros às escolas secundárias e que costumam contratar jovens para jogar nas suas formações de juniores. Se forem mesmo bons, passam logo para a equipa principal e disputam o campeonato regional.

– E tu queres isso? – admirou-se. – No início do ano disseste que não gostavas dos gritos do treinador.

O feiticeiro acariciou o queixo, pensativo.

– Pois disse... Entretanto, mudei de ideias. Queria experimentar, um dia, fazer outra coisa para além de ser um estudante do secundário. Ser futebolista pareceu-me uma boa alternativa. Durante alguns anos, enquanto puder disfarçar os meus quinze anos, posso sê-lo. Jogar durante uma década, talvez. Depois simular uma lesão irrecuperável e acabar cedo a minha carreira. Abandonar os relvados em apoteose.

– Mas tu usas feitiços...

– Os verdadeiros craques são mágicos – contrapôs Rob com um sorriso.

Mike revirou os olhos.

– Não são mágicos como tu.

– Não uso feitiços quando jogo a sério. Descobri, aliás, que gosto bastante de jogar futebol sem recurso a truques. Dominar uma bola não é fácil. Exige muita concentração, uma coordenação especial entre o cérebro e os músculos. Força e precisão, em momentos diferentes. E também resistência, para aguentar correr durante noventa minutos... ou mais, se forem aqueles jogos decisivos que ainda têm tempo extra. Estou a revelar-me um interessado por futebol. Nunca pensei que me cativasse desta maneira.

– E eu também estou espantado com o que me estás a dizer. Nunca imaginei que pudesses gostar tanto de praticar um desporto em específico. Neste caso, o futebol europeu.

– Futebol só há um e é o europeu.

– E estás a mostrar-te fundamentalista! Olha só para ti, Rob Park.

– Quando gosto de uma coisa...

– Estás a fazer-me lembrar quando, há uns anos, aprendeste a tocar bateria e entraste numa banda.

– Cheguei a gravar um disco que vendeu algumas cópias naquela cidadezinha.

– Pois foi. Ainda temos um exemplar?

– Acho que sim. Está num dos baús ainda por arrumar. Nós costumamos colecionar muitas recordações dos sítios por onde passamos. Juntamos tralha especial.

– Isso não é uma indireta à minha capa e à minha medalha da águia, pois não?

– Não. Eu também gosto muito do meu chapéu de feiticeiro.

– Bem, Rob... Estou a ver uma falha no teu plano de te tornares num futebolista famoso.

– Qual é?

– É, precisamente, essa de te tornares um futebolista... famoso. A fama. Os jogadores que são muito bons passam a ser conhecidos. Tornam-se ídolos de muita gente. A sua fotografia aparece em todo o lado, a começar pelos jornais desportivos. Como é que ficas depois dessa lesão que te vai obrigar a terminar a carreira cedo? Por onde andares vão reconhecer-te como o tal futebolista.

– Hum, bem visto. Mas posso ser alguém parecido ao futebolista. Existem pessoas que são muito iguais a outras que não são parentes, que nem sequer se conhecem.

– Pois existem.

– E além do mais, volto a ser um adolescente de quinze anos. Nunca poderei ser o tal futebolista com essa idade.

– As pessoas vão achar que é uma grande coincidência e podem querer investigar o adolescente com cara de futebolista famoso.

– Depois de terminar a minha carreira, terei de desaparecer durante alguns anos. Regresso à mansão, ajudo o mordomo num dos seus projetos de recuperação de criaturas famosas. Faço algo diferente.

Mike assobiou.

– Tens tudo muito bem pensado. Vais querer avançar com esse plano.

Rob meditou durante alguns segundos.

– Estive a pensar nisso, sim, um pouco mais seriamente do que o habitual. Mike, só estamos no fim do primeiro semestre do primeiro ano. O treinador falou-me que poderei vir a ser contactado por um clube daqui a dois ou três anos, quando estivermos a finalizar o secundário. Por isso, não precisas de ficar muito preocupado com a minha saída da irmandade. Não vai acontecer para já.

– Se deixas de estar comigo ou com o Brad, teremos de chamar um outro irmão Park para ficar connosco. O Joe ou o Dave...

– Ou o Chester.

– Ou o Chester – concordou Mike, mas não deu particular ênfase a essa ideia. – E o mordomo terá de arranjar um sexto irmão Park. Talvez o Mark que antes fez parte dos irmãos, logo no início. Lembras-te? Hum... tiveste alguma visão do futuro recentemente?

– Não. Tenho estado ocupado com os exames, tal como tu e o Brad. Nunca mais fiz as minhas meditações reveladoras.

– E vais querer ver esse futuro? Tu a jogares futebol, eu e o Brad com outro irmão Park na nossa aventura numa outra cidade, numa outra escola?

Rob voltou a calar-se por mais um punhado de segundos.

– O nosso futuro vai ser diferente, Mike. Sei disso há algum tempo, mas estou a deixar as coisas acontecerem.

– Vais mesmo ser esse futebolista famoso? – E Mike franziu a testa.

– Talvez... Estão muitas variáveis à nossa disposição. Se selecionarmos as corretas...

– E quais são as corretas?

– Não posso dizer. Sabes que me é proibido divulgar as minhas visões. Irei criar um paradoxo se me puser com revelações antes do tempo certo.

– Ah! Os feiticeiros são sempre tão complicados! – queixou-se Mike.

– E os vampiros costumam ser impacientes até saciarem os seus apetites.

– Vou concordar contigo, irmão. – Esfregou as mãos uma na outra. – Sinto-me, neste momento, saciado. Tudo resolvido. O trabalho de Desenho Gráfico era o último que me faltava entregar e defender. As minhas avaliações terminaram! Um alívio. As tuas também terminaram e o Brad estará a terminar as suas.

– Sim. Hoje tinha o último teste, de Biologia.

– Ele vai safar-se bem. O Brad consegue sempre superar-se. Apesar de continuar a achar que ele é um pouco preguiçoso...

– Tu consegues ser mais exigente do que os nossos professores, Mike.

O vampiro fez um gesto, como que a desvalorizar a observação do feiticeiro.

– O primeiro semestre está feito. Temos de ir fazer alguma coisa para comemorar.

– O que sugeres?

– Ir ao centro comercial. Chegaram muitas novidades de jogos, por causa do Natal. Vamos fazer uns recordes de pontuação. Hum? O que me dizes?

– Boa ideia, Mike! – exclamou Rob. – Vamos esperar pelo Brad.

– Eu posso começar a esperar já.

Mike sentou-se no primeiro degrau da escada e ficou quieto, a fixar atentamente a porta da rua. Rob juntou-se a ele. De vez em quando, olhava para a sala e parecia meditar sobre um qualquer problema insolúvel que reciclava vezes sem conta na sua cabeça.

– O que se passa?

– Devíamos arranjar e limpar a sala, como fizemos com o quarto lá em cima – respondeu Rob.

– Isso já estava nos nossos planos para as próximas férias.

– Podemos não ter tempo...

– Nós temos o tempo que quisermos! – riu-se Mike. – E também o engenho. Mais uma pitada de magia. Temos tudo a nosso favor. Basta só querermos e os nossos desejos concretizam-se. É muito fácil.

– Podemos não ter tempo – repetiu Rob, e os ombros estremeceram.

– Estás muito tenso. As provas físicas esgotaram-te, ou quê? Nunca te tinha visto tão... apoquentado. Não é possível, pois não? Ficares esgotado.

– Posso ficar. Se não gerir bem a minha energia, posso ficar muito cansado ao ponto de precisar de dormir alguns dias de seguida.

– Mas não estás assim, pois não? É alguma doença?

– Não é nada.

– É falta de distração. Vamos jogar ao centro comercial e isso passa. Nem vais precisar de dormir.

Nisto, o feiticeiro confessou com timidez:

– Gosto desta casa.

– Também eu e também o Brad. Acho que o Brad gosta mais do que nós. Tem orgulho do átrio e do quarto, do alpendre e do relvado com a cerca pintada. O nosso irmão vampiro é um materialista. Se o deixássemos, acumulava coisas sem parar nos seus baús. Acho até que terá coisas a mais, que tu ajudas a camuflar com alguns feitiços de encolher.

– São pedaços do passado. O Brad aprecia agarrar com as mãos o que perdeu.

– Estás muito inspirado. Para a próxima não queres tirar um curso de literatura e deixar o desporto de lado?

– Pode ser.

– Tens jeito com as palavras.

– Tenho jeito para muitas coisas.

– Pois tens. És um tipo excelente para termos por perto. Especialmente se formos fazer obras dentro de casa. Rob, se não fosse a tua ajuda, nem eu nem o Brad dávamos conta do recado com o quarto lá de cima. Ou mesmo com a sala... é um bom projeto para as férias de inverno, sim. Precisamos de vários dias para tratarmos da sala, deixá-la apresentável. Nem falo em mobílias, nem em decoração. Só para deixar o espaço limpo e bonito, igual a uma sala normal. – O Mike ia dizendo estas coisas e mexia as mãos, a mostrar um entusiasmo satisfeito. O facto de ter terminado o período de avaliações, ao ter concluído o seu último exame e ao ter a certeza de que obteria boas notas, contribuía, seguramente, para o seu bom humor. – Será uma boa prenda para o Brad. Não concordas? Olha, agora tive essa ideia. Vamos tratar da sala só tu e eu, para surpreendermos o Brad. Oferecemos a sala limpa e bonita no Natal.

O Rob assentiu. Disse, a mastigar as palavras, relutante na revelação:

– Temos de adiar a remodelação da sala. Vai acontecer uma coisa.

– Que coisa?

O Brad apareceu, de repente. Escancarou a porta da rua com um baque, deixou-se ficar na soleira a arfar como um animal que acabara de fugir para salvar a própria vida. As suas costas formavam uma corcunda e havia gotas de suor a escorrer-lhe pelas faces. Um excelente teatro feito por um excelente ator, porque eles não tinham reações físicas às situações do dia-a-dia. Gostavam desse exagero dramático para terem alguma emoção postiça, embora também fossem incapazes de se emocionarem genuinamente.

Mike levantou-se, esticando-se de tal maneira que quase tocou no teto do átrio. Retraiu-se. Ele também era dado a rasgos trágicos e a inclinações cómicas como resposta ao que via nos outros, principalmente para não destoar. Quando se tratava de outro vampiro exagerado e intenso, acontecia deixar-se levar pela brincadeira e replicar as ações do mesmo modo, cheio de hipérboles.

– O que se passa? Essa aflição toda é por causa do teste de Biologia? – perguntou com uma gargalhada. – Acalma-te! Era o teu último teste, não era? Já terminou. Estamos todos livres dos exames. O primeiro semestre foi concluído.

Enviou uma curta mensagem telepática a Rob. «Não lhe fales na sala, por favor. Vai ser uma surpresa.» O feiticeiro não se mexeu.

– Então, Brad?

O vampiro fechou a porta da rua. O átrio, subitamente, ficou demasiado quente.

– Brad...

– A Anna Hillinger desapareceu – cuspiu Brad como se se quisesse livrar de um veneno que lhe enchia a boca. – Convidei-a para vir cá em casa, ela não veio. Julguei que tivesse ficado com medo... que tivesse desistido à última hora... Hoje, uma das amigas dela veio ter comigo e perguntou-me o que tínhamos feito com a Anna. No início, ri-me. Mas depois achei estranho e pus-me a fazer perguntas. A Anna não é vista desde anteontem, quando lhe dei a nossa morada. Portanto, concluí que alguma coisa lhe aconteceu. A Anna está desaparecida.

Mike escutou o relato do irmão atentamente, muito tranquilamente também.

Rob levantou-se e colocou-se entre os dois vampiros. Não iria haver nenhum ataque, mas o Mike, quando se tratava da Anna, podia ser imprevisível. O Brad não estava diretamente implicado no desaparecimento da moça, mas só o facto de que a sua ausência se pudesse dever a ela ter a sua morada e combinado vir visitá-los, lançava uma suspeita desagradável sobre Brad que levaria a uma discussão feia. Mike abanou a cabeça e continuou a abaná-la de forma automática, mecânica, repetitiva, o que era assustador.

– E o que sabe o Elliot? – perguntou Rob.

– Não falei com o Elliot... Achas que ele sabe alguma coisa? – arquejou Brad, trocando as inspirações pelas expirações, baralhando o mecanismo da respiração, a simular uma apreensão muito convincente.

– O Elliot sabe sempre muitas coisas.

– E tu, Rob?

– Eu sei as minhas coisas. Telefona-lhe. Usa o meu telemóvel.

Brad abriu o pequeno roupeiro do átrio. Agarrou na mochila do feiticeiro, vasculhou os bolsos exteriores e, à terceira tentativa, encontrou o aparelho. De alguma maneira, Rob tinha registado nos seus contactos o número do Charles Elliot.

O rapaz atendeu ao fim de dois toques. Já sabia que o Brad iria falar com ele, acabava de saber do desaparecimento da Anna. Tinha os seus informadores em campo, bastava fazer alguns telefonemas e já lhe dava mais informações. Perguntou pelo Mike, como é que ele estava a reagir. Brad olhou para o irmão vampiro que se mantinha a abanar a cabeça como um demente. A sua temperatura corporal tinha subido. A raiva cozia dentro dele. O Mike não estava a reagir bem. Pediu-lhe que se despachasse, que lhe ligasse para aquele número. Desligou.

– O Elliot vai descobrir o que se passa. E tu, Rob? Não podes também ficar a saber o que raio aconteceu com a Anna?

– Podia, mas não o quero fazer. Vou interferir e a situação já é suficientemente complicada.

– Mike, acalma-te.

Mike parou de se movimentar. Atirou-se para cima dos degraus, sentou-se com espalhafato, a madeira rangeu. Por pouco, não partia o início da escadaria.

– Estou calmo.

– Não parece...

– Como querias que reagisse quando vens nesse estado enlouquecido e dás-me uma notícia dessas?

– A notícia não é boa. Não sabia como podia dar uma notícia que não é boa. Pensei que o histerismo iria condizer com o que tinha para contar.

– Não. Não é uma boa notícia. De certeza que não é uma boa notícia.

O telemóvel apitou, uma série de bipes irritantes que fez Mike cobrir as orelhas com as mãos e Rob cambalear, chocado. Era a primeira vez que estava a escutar o toque de chamada recebida do seu telemóvel... e era uma melodia horrorosa e irritante. Brad atendeu. Disse vários hum-hum ao que o Elliot contava do outro lado da linha, num discurso um pouco atropelado. Agradeceu no final e voltou a desligar.

Encarou o Mike. Escureceu. Tudo ficou mais penumbroso em redor deles. Sério, começou:

– O Elliot diz que corre o boato de que viram o Johnny na cidade, anteontem, ao final do dia. Veio com o carro dele. Ele nunca chegou a sair do carro, não passeou pelas ruas a exibir-se. Mas era ele, de certeza, porque mais ninguém conduz aquele automóvel. Só o Johnny. Rondou a escola, há quem o tivesse visto na zona residencial do Oeste. Onde mora a Anna... É uma grande coincidência. O Johnny esteve na cidade, a Anna deixou de aparecer. O Elliot disse que a família do Johnny tem uma casa de férias numa povoação aqui perto, na zona balnear do lago. São, mais ou menos, dez milhas de distância. A casa está vazia nesta altura do ano. Seria um bom esconderijo para levar alguém. O Elliot pode tentar saber mais, mas a história parece-me plausível... Sei lá... O Johnny está à procura de vingança e sabe que a Anna é o teu ponto fraco, Mike. Faz sentido. Para mim, faz todo o sentido.

O Rob aconselhou:

– Não nos devemos precipitar.

– O que fazemos, Mike? – perguntou o Brad. – Acreditamos no Elliot e vamos espreitar essa tal casa de férias para ver se o Johnny tem lá a Anna?

O lábio de Mike arrepanhou-se. Os seus caninos tinham crescido e escorria por eles uma saliva pastosa e amarela.

– O Johnny tem a Anna nessa casa. E eu vou salvá-la – regougou.

O Brad apertou-lhe o ombro.

– Não, Mike. Nós vamos salvar a Anna. Iremos juntos. Os três.

Mike concordou e, de seguida, soltou um uivo como o mais tenebroso dos lobisomens.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro