Pressa
Acordei sozinha na cama, a claridade que vinha da janela do quarto parecia me incentivar para que levantasse logo. O fiz, arrastando meu corpo até o banheiro para fazer minha higiene matinal. Não troquei de roupa, apenas prendi meus cabelos e desci para o andar debaixo. Já no final das escadas podia ouvir uma conversa paralela, era Cheryl e as crianças.
Caminhei devagarinho até a entrada do local, queria observa-los e os três estavam tão entretidos que nem notaram minha presença. O pequeno casal estava sentado nos bancos altos que ficavam junto do balcão enquanto a ruiva estava do outro lado escorada sobre o mesmo, prestando atenção em suas falas.
- Por isso eu sou a melhor da minha turma!
Megan se gabou encerrando a história de que tirou a maior nota em um trabalho de desenho. Dylan não falava, estava concentrado demais em comer biscoitos de chocolate com leite. Iria conversar com Cheryl sobre isso. A ruiva tinha um enorme sorriso em direção a pequena loira parecia encantada.
- Se eu tivesse sua idade, iria ser sua melhor amiga.
- Sério?
Os olhinhos de Megan brilharam.
- Sim, você é incrível!
Cheryl a elogiou, arrancando um sorriso da pequena.
- Bom dia, pessoal.
Chamei a atenção dos três, uma pequena risada saiu por entre meus lábios quando vi Dylan com um pequeno bigode branco. Me aproximei deles, sentando ao lado do garotinho.
- Tia, quer biscoito?
Megan perguntou, oferecendo-me os biscoitos de chocolate.
- Pois, eu queria saber quem deu isso a vocês. Nem parece que estão tomando café da manhã.
- A culpa é dela. - Cheryl prontamente acusou a mais nova. - Ela me convenceu, T. Usou esses olhinhos claros e fez a maior cara de coitada.
Neguei, olhando para Megan que encolhia os ombros e então, resolvi deixar para lá. Desde que Betty não saiba. Cheryl me alcançou uma xícara, ao tocar percebi que estava quentinha, mas o líquido dentro da mesma não era meu café.
- O que é isso?
- Leite.
Respondeu dando de ombros.
- Cheryl, cadê meu café?
- Já conversamos, T...
Murmurou. Realmente conversamos, a ruiva colocou na cabeça que tomar café durante a gravidez é arriscado e não tirou mais, tentei reverter esta situação de todas maneiras, mas minha melhor amiga é muito teimosa.
- Conversamos que eu poderia tomar de vez em quando.
- Sim, e você tomou ontem.
Cheryl venceu-me, revirei os olhos.
- Minha mãe também não deixa a gente tomar café.
Megan comentou arrancando uma risada de Cheryl, neguei para o deboche da ruiva e resolvi tomar aquele leite. Se era o que tinha... Demoramos a tomar nosso café, mais conversávamos do que qualquer outra coisa. Por mais que tentasse não consegui arrancar nenhuma palavra de Dylan que muito diferente da irmã é pura timidez.
Coloquei um filme de desenho para assistirmos, procurando nemo um dos meus preferidos. Sentei com Megan em um sofá, Cheryl dividia outro com Dylan. Tentei por muitas vezes prestar atenção na televisão, mas algo me atraia para o outro lado onde uma certa ruiva estava sentada e diferente de mim muito concentrada no filme.
Os pensamentos pareciam querer me matar. Cada vez tinha mais certeza de que queria beija-la, mas algo me impedia. Seu irmão? Nossa amizade? Minha heterossexualidade? Queria essas respostas, mas a mais cobiçada por mim é porque a ruiva disse não querer ser só uma experiência.
- Toni.
Acordei dos meus pensamentos com uma figura a minha frente, chamando minha atenção. Levantei o olhar e vi Betty muito melhor do que a noite anterior, parecia recuperada.
- Ah, oi, Betty.
Ajeitei minha postura no sofá, agradeci mentalmente por Cheryl estar muito entretida conversando com Veronica e não ter notado que estava com os olhos fixos nela.
- Estava no mundo da lua. - comentou sentando ao meu lado, fiquei entre ela e Megan. - Aconteceu alguma coisa?
- Quase nos beijamos.
Sussurrei para Betty, suas mãos foram a boca.
- Mentira?! Como foi?
Virei minha cabeça para o sofá em que Cheryl estava, mas a mesma e Veronica haviam sumido. Voltei meu olhar para Betty e comecei a contar tudo que se passou na noite passada. Sentia cada sensação novamente apenas de pronunciar as palavras - que eu ainda lembrava, da ruiva. Por muitas vezes Jason me levou ao paraíso, mas Cheryl... Só de estar tão perto de mim, sinto como se fosse tudo que preciso. Encontro calma, proteção, segurança...
- Menina, ela é apaixonada por você. Eu sabia!
Betty prontamente falou, comemorando. Arregalei os olhos em sua direção, não acreditando nas palavras que saíam da boca de minha amiga. Será que ela ainda está bêbada? Cheryl apaixonada por mim? Não, isso é loucura.
- Betty, não. Eu saberia.
- Claro que saberia, você só presta atenção no irmão dela.
Revirou os olhos.
- Mas ela me contaria, certo?
- Toni, você sempre foi apaixonada pelo Jason e nunca deu uma abertura. Como ela mesmo disse vocês tem algo muito bonito, para Cheryl é melhor terem isso do que nada. E se contasse e você saísse correndo?
- Eu nunca faria isso.
Neguei, absorvendo as teorias de Betty. A mesma abriu sua boca para voltar a falar, mas Veronica adentrou a sala carregando uma xicara e entregando a esposa. Pelo cheiro identifiquei ser um chá.
- Precisa de recuperar.
A morena falou, a pediatra revirou os olhos e tomou o primeiro gole fazendo uma grande careta arrancando risadas minha e da Megan. Será um dia bem divertido...
(...)
- O que está fazendo para nós?
Meus braços envolveram a cintura de Cheryl, encostando meu corpo no seu e descansando minha cabeça em suas costas. Respirei seu cheiro, me sentindo em êxtase.
Estávamos na cozinha, a ruiva é a cozinheira do dia e eu sei o quão boa a mesma é nisso. É um de seus hobbys cozinhar, principalmente para mim já que praticamente vivemos juntas. Pensando agora, Cheryl é um par perfeito, sabe cozinhar, está sempre disposta, conhece meus gostos...
- Lasanha.
Respondeu, mexendo em sua panela.
- Você sabe que eu amo.
- É, eu sei sim.
Virou seu corpo, mostrando-me seu belo rosto com um sorriso enorme. Seus dentes perfeitamente alinhados e a boca carnuda me chamavam a atenção. Por que nunca reparei o quanto essa mulher é linda? Talvez eu estivesse ocupada demais pensando que ela é parecida demais com Jason.
- Como você está hoje?
Perguntou, tocando em meu rosto.
- Estou bem, Cher.
- E você, mon trésor...
Sua mão adentrou minha blusa, tocando a pele de minha barriga, deslizando seus dedos pela mesma. Ela estava falando com o bebê. Seu olhar estava lá embaixo, mas eu só conseguia pensar nos arrepios que seu toque me causava. Respirei fundo, tentando eliminar qualquer tipo de reação, mas não conseguia.
- Acha que serei uma boa tia ou madrinha?
Me encarou, falando como se não tivesse acabado de me causar reações. Cheryl só poderia estar fingindo não perceber que eu estava completamente entregue a ela.
- Está brincando? - arqueei as sobrancelhas. - Você vai ser incrível, Cher. Já percebeu o quanto cuida de nós?
- É, eu sou realmente um sonho.
Jogou seus cabelos, se gabando. Sorri com sua frase, olhando para ela e confirmando. Ela realmente é um sonho. Por mais que eu tente negar, estou me envolvendo com minha melhor amiga, irmã do pai do meu filho.
- Tia!
Uma voz interrompeu nosso momento, olhei para o lado vendo Megan nos observando. Desvencilhei-me de Cheryl indo até a garotinha que sorria.
- Estou com fome.
Choramingou, arrancando-me uma risada.
- Reclame para aquela tia, ela que é demorada.
- Tia, estou com fome.
Megan olhou para Cheryl, fazendo sua maior cara de tristeza. A ruiva riu negando e veio até a loira pegando a mesma no colo, colocando-a sentada em cima do balcão.
- Então, vai ser minha ajudante. Primeiro prove o molho...
As observei interagir, as duas pareciam se conhecer a anos e fiquei me perguntando. Quando Cheryl começou a se interessar por crianças? Tenho tantas perguntas que deveria andar com um caderninho em casa também, porque aposto que quando tiver oportunidade de fazer todas essas perguntas irei esquecer.
E Jason? O ruivo veio para minha mente. Será que está se esforçando como a irmã? Isso me lembra que amanhã teremos o ultrassom e que talvez possamos ficar sabendo se é menina ou menino. Negar que quero uma menina, seria mentiroso de minha parte já que me sinto mais a vontade pensando em criar uma garotinha. Se a mesma for igual a Megan então, será perfeita.
- Observando sua garota.
Betty sussurrou, parando ao meu lado.
- Ela não é minha garota.
- Mas bem que você queria.
Soltou uma risada, debochando. Revirei os olhos para minha amiga e a puxei para voltarmos a sala. Puxei um assunto qualquer, mas não queria mais falar sobre Cheryl e o quanto estou me contendo para não beija-la. Tentei me distrair com uma conversa sobre o caso de um transplante, um bebê nosso que espera por um coraçãozinho.
O almoço foi anunciado que estava pronto por Megan sorridente, dizendo que a grande "chef" nos chamava. A lasanha estava uma delicia como o previsto, comi mais de uma vez. O que foi? Agora como por dois. Assim que todos acabaram de comer, uma pequena loirinha começou seu discurso de porque deveriam levar ela ao parque para se divertir um pouco.
Os motivos eram: Ela comeu toda comida. É uma ótima aluna na escola. Ajudou a fazer o almoço. E por último, mas o mais importante Cheryl prometeu que a levaria.
Por mais que Betty tentasse convencer a pequena de que a cardiologista estava brincando, foi em vão. Em menos de uma hora estávamos todos dentro de um carro, partindo em direção ao parque mais próximo. Diria que até mesmo gostei da ideia de Megan, sair um pouco do apartamento parecia bom para quem sai de casa para ir ao hospital e sai do hospital para ir para casa.
- Ei, T.
A voz de Cheryl chamou minha atenção, virei-me para olha-la a mesma pediu uma aproximação e eu o fiz. A ruiva estava encostada em uma árvore, as crianças corriam pelo gramado enquanto o casal de mulheres os observavam.
- O que foi, Cheryl?
- Nada. - deu de ombros. - Só quero ficar perto de vocês.
- Ficar perto de nós, uhn? Que tal amanhã quando irmos fazer o ultrassom?
Arqueei as sobrancelhas em sua direção, Cheryl suspirou negando e eu revirei os olhos. Por mais uma vez a ruiva não vai estar ao meu lado em algo importante. Sei que tudo isso é por causa do Jason, mas não posso proibi-lo de ir junto.
- Não quero invadir o espaço de vocês ainda mais agora.
- Ainda mais agora?
Franzi a testa, confusa com suas palavras.
- Qual é, T? - suas mãos tocaram minha cintura. - Eu te sinto, sei o que você quer...
- E o que eu quero, Cher?
A interrompi, aproximando nossos corpos e descansando minhas mãos em seus ombros. Sim, eu estava a provocando. Poxa, eu sou uma mulher grávida, que não transa a três meses, tem necessidades de um beijo, carinho... Cheryl tem me torturado ao fingir que não aconteceu nada ontem.
- Você quer que eu te beije, vejo isso nos seus olhos. - confessou, mordendo seu lábio. - Mas não quero que seja assim, com você toda confusa...
- Cheryl, eu tenho certeza do que quero e das consequências.
- Toni...
Murmurou.
- Só me beija.
Pedi aproximando nossos rostos, assim que nossas respirações se cruzaram a vi fechar os olhos, completamente entregue a mim. Meus lábios chegaram até os seus em um toque tão suave que me fez suspirar. Deus, ela é deliciosa. Por mais que fosse apenas um tocar de lábios, podia senti-la e ter ainda mais certeza de que a queria. Porém, o sentimento não pareceu recíproco quando Cheryl nos afastou.
- Eu... Eu preciso pensar. Me desculpa, Toni.
Se embolou nas palavras, me deixando sozinha junto daquela árvore. Procurei as meninas com o olhar e Betty nos observava, fazia sinal apontando para Cheryl. Apenas levantei minhas mãos, demonstrando que não sabia o que havia acontecido.
A verdade, é que sei muito bem o que aconteceu. Por meu impulso acabei de estragar tudo. Cheryl deveria querer espaço e eu não a dei. O que eu estava pensando? Se não queria me beijar ontem porque iria querer hoje? Deveria dar tempo, deixar que as coisas acontecessem, mas meus hormônios a flor da pele não me deixam nem pensar.
Só espero que eu ainda tenha uma melhor amiga.
Capítulo meio chato, mas prometo que o próximo será melhor... Um "beijo" choni aconteceu, mas Cheryl saiu correndo. E agora?
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