Meu corpo cansado, não me permitia aproveitar das visitas e todos parabéns que me desejavam. O máximo que consegui aguentar foi ver minha mãe e minha madrinha animadas para conhecerem sua neta. Antes de fechar meus olhos, sempre checava se Cheryl ainda estava ali, assim como quando acordava era a primeira por quem procurava. Entre cochilos, amamentações e exames em Ariel a nossa primeira noite chegou, ainda no hospital tentava me aconchegar naquela cama desconfortável.

— Ei.

Chamei a atenção de Cheryl ao meu lado, a mesma tirou o olhar do seu celular e me encarou. A ruiva não havia saído do meu lado um segundo sequer enquanto seu irmão na primeira oportunidade foi para casa “descansar”. Ariel dormia tranquilamente em seu berço, perto de minha cama, estava alimentada e limpinha, Cheryl a trocava quase que de hora em hora sempre checando a pequena.

— Tudo bem se não quiser ficar.

— Não vou deixar vocês sozinhas, T.

Negou, voltando a atenção pro celular.

Só de pensar que pode estar trocando mensagens com a Heather.

Suspirei, incomodada com o fato de Cheryl estar sendo disputada. Eu sempre soube que a ruiva é uma mulher incrível, principalmente para min, mas com as outras sempre foi galinha. Claro, nunca ouvi nenhuma reclamação de maus tratos das suas peguetes, mas sei que não as trata como eu. Agora me sinto uma idiota por ter perdido a oportunidade que tantas querem ter, inclusive Heather que deve estar fazendo por merecer.

— Acha que ela vai incomodar a noite?

Cheryl puxou assunto, voltei a encara-la.

— Bom, iremos descobrir hoje. – dei de ombros. — Ainda bem que o calmante dela está aqui.

— Jason também parece acalma-la.

Comentou, revirei os olhos.

— Você está tentando insinuar coisas, eu te conheço.

Cheryl desviou seu olhar do meu, ela sabia que eu estava certa. A ruiva está tentando me fazer confessar algo que não quero, nem sinto, a mesma acha que ainda amo seu irmão e quer me arrancar isso a todo custo.

— Não sinto mais nada por ele, Cheryl. – me olhou, buscando a verdade. — Só tenho corpo, alma e mente pra você.

Declarei, eu queria ser sincera com ela.

— Vou sair com a Heather.

Falou. Parece que ela também quer ser sincera. Não consegui sustentar meu olhar no seu, estava a perdendo e saber disso doía mais do que o normal. Virei meu corpo, deitando de barriga para cima e encarando o teto. Sem que eu controlasse uma lágrima rolou por minha bochecha.

— Sinto muito, T. – voltou a falar. — Mas não quero ser como você era com o Jason, não quero entregar meu coração para alguém que não vai cuida-lo.

Caralho, cala a boca.

Pensei sentindo a dor aumentar a cada palavra dita. Quer dizer que eu sou o Jason dela? Não, não pode nos comparar assim. Eu a magoei, mas não como seu irmão fez comigo.

— Não sou como o Jason.

— Desculpa, eu não quis...

— Eu quero dormir um pouco.

Interrompi, ouvindo um suspiro seu. Virei meu corpo de costas para ela, as lágrimas começaram a descer e não controlei meu choro. Nunca pensei que algum dia me compararia com o Jason, não com tudo que fez. Isso me doeu mais do que qualquer coisa, ser a primeira a magoa-la me parte o coração, deveria ser a primeira a lhe fazer feliz e sentir o amor da forma certa. Cheryl sentiu o amor, mas sentiu a dor dele e não o que há de bom e eu causei isso.
(...)

A noite foi tranquila, quando Ariel acordava com fome, Cheryl fazia questão de traze-la para mim e nem sei se a mesma dormiu durante a noite porque sempre que acordava, a mesma estava em alerta. Não trocamos muitas palavras apenas o básico e era melhor assim, nós duas estamos magoadas. É claro que não posso me fazer de vítima, a ruiva só me falou aquilo por eu ter a machucado.

— Bom dia.

Jason adentrou o quarto sorrindo, com um café em mãos. Murmurei um “bom dia” de volta quando o mesmo me alcançou um copo, agradeci por isso, estava precisando de energia. Nem percebi, mas um clima estranho se instalou por Cheryl estar com Ariel no colo, a mesma estava acordada desde a última vez que a alimentei.

— Que tal ir descansar?

Perguntei a ruiva, encarando a mesma que franziu a testa em minha direção. Jason nos observava, Cheryl mordeu seu lábio levando Ariel até seu irmão e só então, percebi como minha pergunta havia soado.

— Cher, eu não...

Antes que pudesse me justificar, a mesma saiu em disparada para fora do quarto. É, ela acha que eu estava a expulsando. Pelo jeito nada está a meu favor, até quando quero ser legal, pareço uma bruxa.

— O que vocês tem?

Jason perguntou, revirei os olhos.

— Cuida da sua vida.

Respondi, irritada com toda essa situação. Só consigo pensar na ruiva indo direto para os braços de Heather, aquela loira deve aproveitar todas as situações para ganhar pontos com Cheryl enquanto eu pareço estar em saldo negativo.

— Cadê minha paciente preferida?!

Betty adentrou o quarto animada como sempre, aproximando-se de Jason para dar uma olhada em sua afilhada. A mesma disse que poderíamos ter alta a tarde, fiquei feliz com a notícia, mas ao mesmo tempo triste porque não pensei que minha ida para casa seria assim.

Sempre que me imaginei saindo do hospital, Cheryl estava ao meu lado e iríamos as três juntas. Minha vontade ainda era essa, mas parece que agora tem uma loira em nosso meio.
(...)

Pela primeira vez, estávamos apenas eu e minha filha sozinhas em nossa casa. Havia tanta gente aqui em nossa volta que não pensei que ficaríamos a sós nunca. Meus pais e meus padrinhos estavam aqui, junto de Jason. Todos me perguntaram se eu queria que alguém ficasse, mas neguei. Eu não queria nenhum deles. Queria Cheryl, mas a mesma sumiu o resto do dia.

Já era tarde quando assistia um filme na sala, Ariel dormia em meu colo e havia acabado de mamar, assim como eu havia trocado a fralda. Ainda não havia dado seu primeiro banho, a mesma tomou com as enfermeiras no hospital e eu não queria lhe fazer passar frio duas vezes no dia, mas a sentia limpinha.

Estava quase cochilando quando a campainha tocou e eu me assustei. Olhei para Ariel, a mesma ainda dormia tranquilamente e parecia não ouvir nada. Levantei com a pequena em meu colo, pensando que alguém poderia ter esquecido algo, mas não era nenhum deles.

— Oi, T.

Cheryl abriu um pequeno sorriso. A analisei, a ruiva estava linda em um vestido vermelho colado em seu corpo e havia uma maquiagem em seu rosto, saltos nos pés... Ela com certeza não se arrumou assim para me ver.

— Minha mãe me mandou mensagem, disse que você estava sozinha.

— Na verdade, tenho uma companheira agora.

Apontei para Ariel em meu colo.

— Entra.

Pedi, dando passagem para a mesma. Fechei a porta, caminhando de volta para meu sofá, Cheryl me seguiu deixando seus saltos pelo caminho e sentando seu corpo ao lado do meu. Um silêncio se instalou entre nós, queria lhe perguntar se estava com Heather. O que estou pensando? É claro que estava, falou que iria sair com ela hoje de manhã.

— Posso pega-la?

A ruiva quebrou nosso silêncio.

— Não precisa pedir, Cheryl, pode pegar quando quiser.

Falei, colocando a pequena em seus braços. Cheryl sorriu aconchegando a bebê em seu colo, parecia analisar cada detalhezinho do rosto da minha filha. Aproveitei o momento para admira-la, a ruiva estava ainda mais linda que o normal e eu só queria que tivesse se arrumado assim para mim.

— Você está linda.

Deixei escapar e para quem me olhasse agora diria que estou babando em sua beleza. Cheryl desviou seu olhar de Ariel e me encarou, sorrindo sem mostrar os dentes.

— Estava em um encontro?

Perguntei, a surpreendendo.

— Tudo bem falar sobre isso.

Dei de ombros.

Na verdade, não estava tudo bem, mas a quero a vontade comigo.

— Ainda somos nós, certo?

Toquei em seu ponto fraco, dessa vez Cheryl sorriu de verdade assentindo. Seu olhar voltou a Ariel, ela nunca me encarava para falar sobre Heather então, agora tenho certeza que estavam juntas.

— Não era bem um encontro, saímos para conversar apenas.

— Foi divertido?

Eu sei, estou me torturando.

— Foi, T.

Respondeu, agora me olhando.

— Que bom, estou feliz por você.

Tentei sorrir, mas não funcionou.

Cheryl riu.

— Não, você não está.

Suspirei, ela me conhece tão bem.

— É, não estou.

Mordi o lábio, desviando o olhar do seu. Sentir seu cheiro tão perto de mim, me dava ainda mais saudades de quando éramos uma da outra... Se é que fomos. Voltei minha atenção ao filme que dava na televisão, tentei não pensar que queria tirar Ariel de seus braços e me enfiar ali. É muito egoísta eu ter inveja da minha própria filha? Pois estou nesse exato momento.

— Você quer dormir, T?

A voz de Cheryl chamou minha atenção, abri os olhos percebendo que havia cochilado um pouco. Cocei meu olho, olhando para ela que tinha um sorriso divertido no rosto.

— Você vai embora?

Perguntei, receosa.

— Quer que eu vá?

— Não, o que mais quero é que fique.

Confessei, levantando meu corpo. Não queria pressiona-la sobre nada então, comecei a desligar as luzes enquanto a mesma carregava Ariel em direção aos quartos. Adentramos o meu, o berço da pequena estava ali perto de minha cama, pedi para Jason coloca-lo por não confiar na babá eletrônica e porque seria horrível ter que ir até o outro quarto toda vez que Ariel sentisse fome.

— Não, não.

Impedi Cheryl de coloca-la no berço.

— Coloque na cama com nós.

— Com nós? – arqueou as sobrancelhas. — Estava pensando em ir pro quarto de hóspedes.

— O que? Não. Eu não vou te agarrar, Cheryl. – falei rindo quebrando o clima tenso. — Pelo menos não com Ariel em nosso meio.

— Você é uma idiota.

Revirou os olhos.

— E você precisa de roupas confortáveis.

Caminhei até minhas roupas, não era novidade ter algumas de Cheryl misturadas sempre nos trocamos roupas. Consegui um conjunto seu de moletom que estava ali, resultado de usar suas roupas quando estava gravida. Quando a mesma caminhou para o banheiro, deitei com Ariel ao meu lado, parecia que não iria acordar tão cedo e isso me aliviava mesmo sabendo que não duraria a noite toda.

Cheryl voltou para o quarto vestida em seu conjunto e livre de maquiagem. As luzes se apagaram, ficando apenas dos abajures em nossos lados aceso. Observei a ruiva deitar bem devagarinho na cama com medo de acordar Ariel, aconchegou seu corpo mantendo uma distância segura da pequena.

— Você não tem medo de dormir e acabar esmagando ela?

Sussurrou, olhando para a bebê.

— Por que acha que ainda não dormi?

Nós rimos, acredito que todas mães já sentiram esse medo.

— Ela é linda, T.

— Ela é.

Suspirei, analisando seu rostinho. Os pelinhos da sobrancelha mal apareciam e seu cabelo claro davam indícios de que puxou aos Blossom, claro que não estou reclamando. Se ela for parecida com Cheryl ou Penélope será linda.

— Tente dormir, precisa descansar.

— Você trabalha amanhã?

Fechei meus olhos, sentindo o sono vir.

— Só a partir da tarde, não se preocupe.

— Boa noite, dorme bem, Cher.

Desejei, ainda com meus olhos fechados, meu corpo já não respondia mais e nem me lembro da sua resposta. Estava exausta e era apenas meu segundo dia como mãe.
(...)

— Toni.

Um sussurro ao meu lado fez com que eu acordasse. Olhei para cima, Cheryl estava com Ariel em seus braços a balançando. Rapidamente sentei meu corpo na cama, encostando as costas na cabeceira.

— Ela está com fome.

Concordei, pegando-a em meu colo.

Ariel não estava chorando, mas resmungava. Tirei meu seio do sutiã, meu leite já vazava parecendo adivinhar que a pequena estava com fome. Quando coloquei o bico na boca da garotinha, a mesma sugou como se eu não tivesse a amamentado a algumas horas.

— Como você acordou? Não ouvi nada.

Encarei a ruiva que continuava de pé.

— Nem sei se dormi.

Deu de ombros.

— Cheryl...

— Está tudo bem. – interrompeu-me. — Dormi a tarde toda hoje.

— Amanhã você trabalha, não pode se sacrificar assim.

A ruiva revirou os olhos.

— Não vamos discutir, quero cuidar dela.

Respirei fundo, desistindo de tentar convence-la, não iria me ouvir de qualquer jeito. Quando Ariel terminou de mamar, Cheryl voltou a pega-la fazendo a mesma arrotar e logo caminhando com a mesma pelo quarto. A cena era linda, ter a ruiva com minha filha em seus braços se esforçando para mantê-la calma sendo que nem agitada estava, podia ver o quanto Cheryl queria protege-la de qualquer coisa.

— Volte a dormir, T.

Falou, me encarando.

Querendo ou não, ainda era a minha melhor amiga da vida toda, cuidando de mim e minha filha como sempre prometeu. Tudo que ouvia na minha gravidez era Cheryl dizendo que não sairia de nosso lado, fico feliz que a mesma cumpra suas promessas mesmo com tudo que aconteceu. E estando juntas ou não, ainda somos nós.

Vocês shippam Ceather?
Ih, nem tem como fazer um shippe cheryl + heather.
Ok, desafio vocês a acharem um.
Valendo.