Contração
Três dias depois... Dez dias de viagem.
Ser ignorada por Cheryl é realmente torturante, por mais mensagens e ligações que fizesse, não havia um sinal dela. A mesma deveria até mesmo ter desligado o aparelho para me ignorar, não a julgo, se ela me escondesse que estava passando parte do tempo com Heather com certeza ficaria louca.
Agora, não tinha nem ideia de quando a mesma poderia voltar, era para ser ontem e nada. Por precaução fui em nossos apartamentos, só para ter certeza que não estava se escondendo de mim ou coisa do tipo. Pedi para que Jason não aparecesse mais, não até eu resolver essa situação que me meti.
Era tarde da noite quando já havia desistido de Cheryl aparecer hoje, estava na sala assistindo um filme com minha madrinha. A mesma se sentia culpada por ter falado sobre Jason, tentei ao máximo lhe manter tranquila, mas não parecia o suficiente então, desisti de faze-la entender que a culpa era toda minha.
— Boa noite.
Uma voz ecoou pela sala onde nos encontrávamos, rapidamente virei meu corpo para de onde vinha o som e a vi. Parada a alguns passos do sofá em que me encontrava, os castanhos me encaravam. Levantei caminhando até ela, meu coração apertou ao ver seu rosto cansado e constatei que havia lhe magoado mais do que pensava.
— Cheryl, quando chegou?
— Hoje.
Respondeu rápido.
— Agora a pouco, na verdade. – deu de ombros. — Vocês estão bem?
A calma em sua voz me dava arrepios.
Ela não deveria estar brava?
— Estamos, Cher. E você?
— Não importa.
Agora sentia frieza em suas palavras.
— Podemos ir? Eu preciso te mostrar algo.
Concordei sabendo que não havia direito nenhum em querer algo dela, nem mesmo simpatia. Subi para pegar minhas coisas em seu antigo quarto, me despedi de Penélope já que Clifford estava deitado. Caminhamos juntas para seu carro, em silêncio. Por mais que quisesse lhe falar muitas coisas, não o fiz, conheço Cheryl a anos para ter ideia que não é o momento certo para explicações e que só devo falar quando a mesma quiser.
Para minha surpresa, paramos em nosso prédio. Mesmo sem trocarmos palavras, a ruiva fez questão de carregar minhas bolsas, no momento que a vi fechar o capô do carro algo partiu meu coração. Cheryl não usava nossa aliança, ainda olhei novamente quando estávamos no elevador para ter certeza e eu tive: não havia aliança em seu dedo.
— Vamos ao meu apartamento.
Murmurou quando chegamos ao corredor, apenas concordava enquanto a seguia. Cheryl deixou minhas bolsas pela sala de seu apartamento, subindo as escadas e pedindo para que a acompanhasse. A cada passo sentia que estava a perdendo aos poucos e me arrependia de tudo que fiz para que isso acontecesse.
Quando chegamos ao segundo andar, a mesma caminhou para a porta cuja nunca foi aberta para mim. O quarto misterioso de Cheryl, onde sempre a perguntei sobre e a mesma nunca me falou o que havia dentro.
A observei pegar a chave, sua mão tremia e não parecia conseguir acertar a fechadura. Cheryl encostou sua testa na porta, fechando seus olhos com força e respirando fundo, finalmente conseguindo destranca-la. Esperei a ruiva me dar passagem, não iria invadir seu espaço sem permissão e ela não demorou a fazer, afastando seu corpo para que eu adentrasse.
— Você só precisa me ouvir.
Falou assim que adentrei o quarto.
Um quarto, mas vazio... Quero dizer, vazio de moveis.
Girei meu corpo por todo o local. Haviam fotos. Eram muitas, todas penduradas em fios como roupas em varais. Com a luz acesa podia muito bem ver que a maioria eram minhas, isso, eu sozinha em muitas fotos. Algumas estava com Cheryl, outras com Jason e Cheryl, meus pais, meus padrinhos... Haviam algumas até mesmo grávida.
— Deve estar me achando uma louca.
A voz da ruiva me chamou a atenção, virei para encara-la.
— Bom, aqui é meu refugio. – deu de ombros. — Desde que descobri meus sentimentos por você, guardei fotos apenas para te admirar quando tivesse tempo livre. Pareço uma psicopata, eu sei. – riu negando. — Quando eu fugia... Você sabe, todas as vezes que sumi por medo, irritação ou qualquer outra coisa, eu estava aqui.
Seu olhar percorreu pelo local, respirando fundo. A observava prestando atenção em cada palavra que saia por sua boca, eu queria ir até ela e pular em seus braços, dizer que não a acho uma louca.
— De alguma maneira, você me acalma, T.
Encarou-me, seus castanhos estavam claros e percebi que Cheryl estava prestes a chorar. Isso não era possível. Não, não, não. Eu não posso ser a primeira pessoa a fazer a ruiva chorar. Dei um passo em sua direção, mas a mesma fez sinal para que eu parasse.
— Nessa viagem, eu senti tanto sua falta que chegava a doer. Eu queria estar aqui, cuidando de vocês e não deixando nada de mal acontecer. Comecei a pensar no quanto quero estar por perto, te beijar, cuidar, dar carinho e ser tudo que precisa. – uma lágrima solitária rolou por sua bochecha. — Sabe quantas vezes você falou isso sobre o Jason? Que queria ser a única dele, cuidar, beijar...
— Cheryl, por favor.
Meu coração doía.
— Era só me contar, Toni, mas se você não o fez é porque algo tem e eu sei o que é. – Cheryl não tinha mais controle de seu choro. — Você o ama, sempre vai amar.
— É claro que não, Cheryl.
Neguei, dessa vez me aproximando sem obedecer seus impedimentos.
— Eu quero você.
Falei, encarando os castanhos.
— Toni, eu pensei muito para fazer isso. – suas mãos seguraram meus braços. — Não vou sumir da sua vida, mas não posso mais ser sua namorada. Eu estava cega, não via o quão despreparada está para se envolver com alguém e não quero sair mais magoada do que já estou.
— Eu nunca quis magoar você.
— Sabemos, T. – tocou meu rosto. — Mas consegue me entender? Não posso ter metade de você, eu te quero por inteira.
— Você me tem.
Tentava demonstrar toda a verdade.
— Não, não tenho. – sorriu triste. — Você nem consegue ser sincera comigo, T.
Suspirei, sabendo que não a convenceria de continuar com nosso namoro. A mesma está magoada e talvez eu não consiga consertar isso agora, ela precisa de tempo.
— Eu vou me mudar.
Sussurrei, desviando nossos olhares.
— Comprei uma casa, eu achei que seria bom para nós. – deixei as lágrimas caírem, meu peito doía tanto. — Promete não se afastar? Que irá nos visitar as vezes?
A encarei.
— Nunca vou te deixar sozinha, T.
Falou, colando seus lábios em minha testa.
Nove meses de gestação...
Nunca é fácil acabar um relacionamento e tentar manter uma amizade, mas Cheryl parecia fazer ser normal. Sabendo que Ariel pode nascer a qualquer momento, a mesma não se afastou como o prometido, nos visitava todos os dias e sempre agindo da mesma maneira como se nunca tivéssemos sido namoradas. Não sabia se isso era bom ou ruim, a queria por perto, mas não dessa maneira. Tinha vontade de lhe perguntar se havia se encontrado com outras mulheres pois só de pensar na possibilidade de alguém a tocando, meu sangue fervia.
Eu queria lhe dizer tudo que estava sentindo, mas a ruiva não parecia preparada, sempre que eu tentava uma aproximação que não fosse amigável, a mesma recusava como se pudesse quebra-la só de tocar.
Agora em minha nova casa, Jason também vinha me visitar. Sempre tentando algo comigo principalmente após saber que meu relacionamento com Cheryl terminou, mas o máximo que consigo é ser simpática. Se não fosse por Ariel, não teria mais nenhuma ligação com o ruivo.
— Surpresa!
A voz da ruiva soou animada, ao tirar as mãos de meus olhos e mostrar o pequeno espaço decorado. Cheryl fez questão de me ajudar com o quarto da Ariel, mas muito mais que isso, ela o montou por inteiro.
Um berço lindo de madeira, envernizado chamava minha atenção. Perto dele, uma sereia... Ariel para ser mais específica. Com varios peixinhos por toda a parede do quarto. Estava tudo lindo, eu não poderia fazer de maneira melhor.
— Cheryl, você é incrível!
A abracei, não contendo minha emoção.
— Vocês merecem.
Beijou o topo de minha cabeça.
— Daqui a pouco preciso ir.
— Não...
Murmurei, dessa vez a olhando.
— Você sabe que tenho que ir, T.
— Eu quero conversar.
Falei, segurando em sua mão. Cheryl teria que viajar de novo para o mesmo paciente, apenas para verificar se está tudo ocorrendo realmente bem. Não posso deixa-la subir em um avião sem saber tudo que tenho para dizer.
— Tudo bem.
Suspirou, rendendo-se.
— Cheryl, eu...
Não tive tempo nem de começar, a campainha no andar de baixo começou a tocar. A ruiva sorriu compreensiva e nós descemos juntas para atender, na verdade eu fui até a porta enquanto Cheryl ficava pelo caminho.
Por favor que não seja o Jason.
Por mais que eu pedisse com todas minhas forças, assim que abri a porta dei de cara com um ruivo sorridente e com flores em mãos. Seu sorriso aumentou quando o mesmo beijou minha bochecha e alcançou-me o buquê.
— Como estão as minhas meninas?
“Minhas meninas” isso fez meu estomago se revirar já que Cheryl quem nos chamava assim. Jason adentrou a casa como se fosse íntimo e deu de cara com sua irmã, que já tinha a bolsa em mãos pronta para sair.
— Ah, oi, Cheryl.
Tentou ser simpático, ato falho já que a ruiva passou direto por ele e quando a mesma tentou sair pela porta, parei a sua frente negando qualquer tipo de ação que a mesma tentasse.
— Vamos conversar.
Pedi.
— Eu estou atrasada, Toni.
— Cheryl, por favor.
Implorei, dessa vez segurando em sua mão.
— Sinto muito.
Negou, conseguindo uma brecha para passar por mim. Ainda a observei ir até o carro e dar partida sem olhar para trás. Respirei fundo, não acreditando que a mesma havia ido embora sem me escutar.
— Jason, eu quero ficar sozinha.
Falei, encarando o ruivo que franziu a testa.
— Por favor.
— Tudo bem, Toni. Eu venho amanhã.
No outro dia...
— Toni, você deveria descansar.
Betty me repreendeu, assim que sentou em nossa mesa. Estava no hospital, almoçando com a loira. Eu precisava conversar com alguém e só conseguia pensar nela.
— Eu sei, mas... – suspirei. — Seja sincera comigo, antes de viajar a Cheryl andou com a Heather?
Perguntei levando minha mão a barriga, havia uma sensação de que a mesma estava se contraindo. Já senti isso hoje, mas parecia bem mais fraca do que agora.
— Algumas vezes, mas vocês não estão mais juntas.
— Mas foi só uma semana.
Bufei.
— Foi? Então, voltaram?
— Não, mas eu vou fazer a Cheryl ser minha. – decretei vendo um sorriso aparecer nos lábios da minha amiga. — O que?
Franzi a testa, tocando minha barriga mais uma vez.
— Sabe quando te vi falando assim? Quando estava obcecada pelo Jason. – revirou os olhos. — Quer me contar alguma coisa?
— Estou surtando por não tê-la.
Confessei, era verdade.
Essa necessidade imensa de ter Cheryl só pra mim e ninguém além dela, tem me consumido. Dessa vez tenho certeza do que sinto e quero. A ruiva é a única que tem alegrado meus dias, por mais que Jason tente, ele não o consegue. Quando imagino minha filha no futuro, Cheryl está sempre junto de nós, como uma família. Cada dia que fico sem a cardiologista, sinto como se tivesse perdendo tempo sem o amor da minha vida.
— Então, me diga aquelas palavras, Toni. Esperei tanto para ouvir você dizer isso sobre ela.
— Eu amo a...
Não terminei minha frase, sentindo minha barriga se contrair fazendo com que eu me agachasse com a dor que senti. Minha mão se firmou na mesa, enquanto mordia meus lábios.
— Toni.
Betty veio até mim, a sensação passou e eu a encarei.
— Ok, isso foi uma contração, não é?
— Acho que sim.
Sussurrei, respirando fundo.
— Vou bipar a Josie.
— Não. – pedi segurando sua mão. — Eu não posso ter a bebê agora.
— O que? Você não decide isso, Toni.
— Eu não vou ter a bebê, não sem a Cheryl.
Bom, essa fic não será muito longa então, provavelmente estamos caminhando para o final... Não sei se irei conseguir voltar a escrever Secret Love Song, mas estou tentando, acho que minha criatividade está se esgotando. Enfim, espero que tenhan gostado do capitulo, será que Ariel vai nascer sem a Cheryl estar por perto??
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