Beijo
Realmente estraguei tudo. Só confirmei quando Cheryl sumiu, ignorando minhas ligações e mensagens. Passei a noite sozinha, quando a procurei em seu apartamento no outro dia estava do mesmo jeito em que deixei e sua cama nem tinha vestígio dela.
Hoje é com certeza o dia em que estou me sentindo uma completa idiota, não tinha animação para nada e nem ao menos para meu ultrassom. Eu sabia que era arriscado todo esse envolvimento com Cheryl e que poderia perde-la, mas não acreditava nessa possibilidade. Estávamos tão bem, não deveria ter feito nada por impulso, agora me sinto mais arrependida do que qualquer outra coisa que já fiz em toda minha vida.
— Toni.
Jason me chamou estalando os dedos em frente ao meu rosto, levantei o olhar e o encarei sorridente. Era incrível o quanto o ruivo está animado com a gravidez, parece realmente estar se sentindo pai.
— É nossa vez.
Informou-me. Assenti, levantando e caminhando com ele para dentro do consultório. Na sala encontramos Josie com seu lindo sorriso simpático então, me lembrei do favor que fez a Cheryl gravando os batimentos do meu bebê. Aquilo foi de longe a coisa mais linda que a ruiva fez por mim.
— Bom, agora que tenho todos seus exames posso dizer que está tudo bem com o bebê, Toni. – seu olhar estava nos papeis. — Mas sabe que é sempre essencial continuar tomando todos os cuidados.
— Estou fazendo isso.
A assegurei e a mesma assentiu.
— Bom, vamos vê-lo. Quem sabe saber o sexo.
— Estou ansioso.
Jason falou, realmente estava. Podia ver suas mãos se esfregando uma na outra, para acalma-lo coloquei minha mão sobre as suas, fazendo um carinho e tentando demonstrar segurança.
Tive que solta-lo para trocar de roupa e colocar a camisola para fazer o exame. Em poucos minutos eu estava na mesma posição, deitada e com minha barriga a mostra. A mão de Jason estava na minha, um gel foi colocado sobre minha barriga e o aparelho começou a se mover lentamente. O som do coração podíamos ouvir, depois na tela a sua imagem bem pequeninha, me emocionando de tal maneira que lágrimas escorriam por meus olhos. Malditos hormônios, me deixam muito mais sensível.
— O que vocês acham que é?
Josie nos encarou, pelo pequeno sorriso que havia em seus lábios tinha quase certeza que a médica já tinha nossa resposta.
— Acho que é um menino.
Jason prontamente falou.
— Menina.
Respondi, vendo o sorriso de Josie aumentar.
— Bom, Topaz. Você está completamente certa.
Um sorriso enorme apareceu em meus lábios, desviando meu olhar para Jason que também sorria.
— Vamos ter uma garotinha!
Ele comemorou e então, acredito que totalmente sem pensar colou seus lábios nos meus em meio a euforia. Demorei a reagir, mas quando percebi o que realmente estava acontecendo nos afastei lembrando que ontem mesmo havia tocado na boca de sua irmã. Desviei meu olhar do seu, não conseguindo o encara-lo por mais nenhum segundo.
O clima na consulta ficou tenso, dei graças a Deus quando acabou e saímos da sala voltando ao trabalho. Jason insistiu em me acompanhar, fazendo um sentimento muito estranho de traição me invadir. Nós não temos nada. Pensei sobre Cheryl, mas ainda sim, não conseguia fazer essa sensação passar. Era como se quando a ruiva ficasse sabendo pioraria tudo.
— Toni, me desculpa pelo que fiz.
Pediu, andávamos em direção ao painel de cirurgias. Na verdade, eu andava enquanto Jason me seguia. Absorvi suas desculpas, pensando se foi assim que Cheryl se sentiu quando a beijei de surpresa. É como se o ruivo tivesse invadido todo o meu espaço.
— Tudo bem, Jason. Só não faça de novo.
— Claro, foi impulso... – pausou respirando fundo. — Nossos pais querem um jantar hoje para falarmos o sexo do bebê, acredito que vai ser na casa dos Topaz.
— Hoje?
Suspirei.
Sem a Cheryl?
— É, convida minha irmã, por favor ainda não nos falamos.
Uma risada irônica escapou por meus lábios. Nem eu e ela. Jason parecia confuso com minha reação, mas nem me dei ao trabalho de explicar. Um bipe nos interrompeu, era o meu chamando-me para uma das salas de cirurgia, o sinal vinha de Betty. Sabia muito bem o que aquilo significava, Cheryl estava nessa sala. Combinei mais cedo com minha chefe que se a ruiva a chamasse, que me chamasse em seu lugar para podermos conversar. Pelo jeito, a cardiologista estava no hospital.
— Preciso ir.
Avisei a Jason, saindo as pressas em direção a sala em questão. Assim que adentrei, passei pela higienização despercebida por Cheryl que estava muito concentrada em operar a criança. Coloquei minhas luvas e todos as vestimentas esterilizadas.
— O que precisa, Blossom?
Quando me pronunciei bem ao lado da ruiva, seu olhar saiu do pequeno coração em que trabalhava e me encarou, surpresa em me ver.
— É um sopro?
Perguntei, conhecendo muito bem as técnicas que já vi milhares de vezes no hospital. O pequeno garoto de oito anos tem um sopro no coração, isso quase sempre é tratado pela cardiologia, mas nunca é preocupação demais ter uma pediatra por perto.
— Sim.
Respondeu, voltando a trabalhar no coração. Havia só mais uma pessoa com nós na sala, uma anestesista que se preocupa em manter o paciente desacordado e qualquer alteração em sua pulsação.
— Eu chamei a Betty.
— Ela estava ocupada.
Essa era a maior mentira, mas quem ligava? Cheryl não falou mais nada, ficou em silêncio e concentrada em seu trabalho, era incrível sua habilidade os nossos acessórios. Admira-la é algo que faço muito antes de nutrir qualquer sentimento pela mesma, a ruiva é um gênio em sua área. Ao perceber que estava tudo ocorrendo bem, achei melhor contar logo sobre o bebê e Jason. Era o melhor a se fazer.
— Vou ter uma menina.
Comentei. Cheryl voltou a me olhar, por debaixo da mascara podia ver que um sorriso se formava, ela também esperava que fosse uma garotinha. Sorri de volta, sentindo meu coração se aquecer com sua reação.
— Isso é incrível, T. Estou tão feliz por você.
Mesmo falando comigo, Cheryl fazia suturas perfeitas no pequeno garoto. Voltamos a um silêncio até a cirurgia acabar, preferia falar sobre Jason quando a mesma não estivesse com a mão em nenhum corpo. Fomos juntas para a sala de descanso, a ruiva se serviu com café e sentou no sofá, fiz o mesmo, mas sem o café.
— Jason me beijou.
Soltei de uma vez por todas, sem ao menos ver a reação de Cheryl que estava tomando seu café. Quando a olhei, a mesma também me encarava, sua testa franzida e os olhos sem brilho me partiam o coração.
— Eu não retribui. – justifiquei. — Nem sei mais se sinto algo por ele, Cheryl. Tudo que consigo pensar agora é que estraguei nossa amizade...
— Toni.
Interrompeu-me largando seu copo e se aproximando, meu rosto ficou entre suas mãos e me prendi naquele olhar que parecia desvendar minha alma.
— Sai correndo ontem porque fiquei apavorada. – confessou suspirando. — Você me beijou e eu senti coisas que nenhuma garota me fez sentir a vida toda. Não sei o que é, se vai durar ou não, mas talvez... Eu goste de você, de verdade. Por isso eu disse não querer ser apenas uma experiência, quando to perto de você é incrível e me sinto bem.
— Promete que se não der certo, ainda seremos nós?
Meu tom vacilou demonstrando meu medo de perde-la.
— Sempre seremos nós, T. Eu prometo.
Seu lábios tocaram os meus devagarinho, um toque suave que mesmo curto me satisfazia. Era apenas um selar de lábios, mas que significava muito para nós duas. Estamos juntas, é isso.
— Temos um jantar hoje.
Murmurei, meu rosto ainda muito próximo ao seu.
— Temos?
— Na casa dos meus pais, junto com os seus e Jason. – suspirei ao falar o nome do ruivo. — Para anunciarmos que vamos ter uma menina.
— Vou estar do seu lado.
Sussurrou, beijando minha testa.
— Acha que devem saber sobre nós?
— Ainda não, T. – sua mão tocou a minha entrelaçando nossos dedos. — Vamos com calma, nem nós sabemos o que isso tudo significa.
— Você tem razão.
(...)
— Ah, meu amores!
Dona Barbara juntou nós duas em um abraço, já na entrada de sua casa, enchendo-nos de beijos igualzinho quando éramos crianças. Tentei para-la, mas seus braços nos apertavam mais ainda.
— Mamãe!
A repreendi finalmente sentindo um alivio quando nos soltou. Cheryl apenas ria da mais velha. Adentramos cumprimentando todos, como sempre éramos as últimas a chegar e mais uma vez os gêmeos nem ao menos se olharam. Prometo que um dia irei colocar os dois frente a frente para acertarem-se.
Fomos todos para a sala de jantar, o mesmo estava sendo servido e dessa vez o clima era bem melhor do que a situação anterior. Conversávamos entre si como antigamente, muitas risadas e troca de olhares que eu sentia falta. Éramos uma família novamente.
O grande momento chegou, todos estavam na sala quando só eu e Jason ficamos de pé para dar a tão esperada noticia por todos. Os olhares apreensivos de nossos pais chegavam a ser engraçados.
— Vamos ter uma menina.
Anunciamos juntos, recebendo a alegria de nossas famílias de volta por muitas vezes meu olhar foi a Cheryl que tinha um sorriso contido no rosto. Parecia que a mesma não queria que seu irmão visse o quão estava feliz com nossa gravidez.
— Bom, eu tenho um presente.
Jason falou saindo de nossas visões, caminhando para fora da casa. Todos os observavam, aproveitei o momento e me aproximei de Cheryl que me acolheu em seus braços, beijando o topo de minha cabeça.
— Você vai ser uma mãe incrível.
Sussurrou, a olhei e eu tive vontade de beijar seus lábios, mas beijar de verdade. Conhecer seu beijo, o encaixe de nossas bocas, o seu gosto...
— Olhem só.
Jason chamou a atenção de todos ao adentrar a casa guiando um carrinho rosa bebê, para recém nascidos. Meus olhos devem ter brilhado ao verem o presente que havia até um laço em seu topo. Prontamente fui até o ruivo, abraçando seu corpo sem conseguir segurar o sorriso enorme que rasgava meu rosto.
— Muito obrigada, Jason.
Falei me desvencilhando do ruivo.
— Não precisa agradecer, Toni. É nossa filha, ela merece.
— Eu adorei. – virei-me para Cheryl que nos observava. — O que achou, Cher?
— É lindo, T.
Sorriu, deixando-me ainda mais feliz.
Começaram as especulações para os nomes, muitas discussões, nomes horríveis enquanto eu não havia ideia de como começar escolher, mas uma coisa eu tinha certeza: Não pediria ajuda a nossos pais que saíram com cada nome antigo que nem vão entrar em minhas opções.
Cheryl aproveitou uma pequena distração de todos ao discutirem sobre os nomes e me puxou junto dela, sussurrando que queria me levar em um lugar, apenas concordei. Chamei a atenção de todos alegando estar cansada e começamos a nos despedir, quando cheguei em Jason o mesmo me deu um abraço demorado.
— Responda minhas mensagens, vamos marcar de sair.
O encarei, assentindo o seu pedido. O mesmo sorriu e quando me virei uma Cheryl de braços cruzados nos analisava. Não é isso. Tentei falar com o olhar, mas a mesma deu de ombros como se não importasse. Sei que importa. Saímos juntas, carregando o carrinho que Jason deu a bebê, com facilidade conseguimos deixa-lo mais acessível para colocar no porta malas.
Assim que o carro arrancou, descansei minha mão na coxa de Cheryl fazendo um movimento de vai e vem. Um sorrisinho apareceu em seus lábios e senti que estava tudo bem entre a gente. Por um momento do caminho me senti curiosa, para saber onde estávamos indo, perguntei e não recebi resposta, a ruiva disse ser uma surpresa. Depois de um tempo, finalmente o carro estacionou em frente ao parque que viemos com as crianças ontem.
— O que estamos fazendo aqui?
Perguntei assim que saímos do carro, Cheryl nada falou, estendeu sua mão em minha direção e eu entrelacei meus dedos nos seus. Nos guiou pelo grande gramado, parando na mesma árvore em que a beijei.
— Eu estou louca para te beijar, mas quero fazer isso aqui, como se ontem não tivesse existido... Esse vai ser nosso primeiro beijo, T.
Apenas com a luz da lua nos iluminando, conseguia perfeitamente ver a pele branca de Cheryl ficar ainda mais linda. Seus lábios avermelhados aproximaram-se dos meus, tão devagar que me torturavam. Minhas mãos se fecharam em sua cintura, enquanto as suas estavam em torno de meu pescoço. Então, aconteceu. Nossas bocas se encaixaram e senti como se fosse a primeira vez, meu corpo inteiro se arrepiou quando nossas línguas se tocaram. Puxei seu corpo junto do meu enquanto Cheryl aprofundava nosso beijo, segurando os cabelos de minha nuca e me fazendo soltar um suspiro sobre seus lábios.
Eu me sentia literalmente no céu, beijando um anjo. O gosto dela era tão incrível que mal havia acabado de provar e já queria mais. Me perguntava: Por que demorei tanto a beijar minha melhor amiga? Por que beijei Jason e não Cheryl? Por que só a vi dessa maneira agora? As respostas para essa pergunta pode ser simples ou muito complexa, mas prefiro ficar com... Está sendo do jeito que deveria ser.
— Uhn, você é incrível.
Cheryl gemeu quando nos separamos por falta de ar, sorrisos trocados e mais beijos. Sentia como se tivesse perdido um tempo precioso e que queria recupera-lo. A ruiva estava ali na minha frente, embaixo de uma arvore, com a luz da lua nos iluminando como se nos abençoasse. Não conseguia pensar em qualquer outro lugar que quisesse estar que não fosse aqui em seus braços.
— Conseguiu pensar em um nome para ela?
A voz da cardiologista tirou-me de meus devaneios. Depois de muitos beijos, decidimos ficar mais um pouco, encarando aquele céu estrelado. Cheryl estava sentada encostada na arvore e eu entre suas pernas, suas mãos acariciavam minha barriga enquanto deslizava as minhas por seus braços. Aquele momento estava tão perfeito que não haveria como ficar melhor.
— Ainda não... – murmurei dando de ombros. — Gosto se pensar que tenho alguns meses para decidir.
— Está certo, é uma grande decisão.
Falou apoiando seu queixo sobre meu ombro.
— Mon amour...
Revirei os olhos, sabia que quando começava a falar em francês, eu estava excluída da conversa dela com o bebê.
— Tu auras la meilleure maman du monde. – seu sussurro bem perto de meu ouvido me arrepiava inteira. — Elle est incroyable, vous avez d'la chance de l'avoir pour toujours.
(Você terá a melhor mãe do mundo.
Ela é incrível, tem sorte de tê-la para sempre.)
— Cher... – resmunguei. — Por que faz isso?
A mesma riu, apertando-me mais em seus braços.
— Só disse que você vai ser uma ótima mãe.
Estalou um beijo em minha bochecha e eu me aconcheguei mais em seus braços, sentindo seu corpo aquecer o meu enquanto seu cheiro invadia minhas narinas me embriagando. Estamos juntas, romanticamente e amigavelmente. O que isso significa? Acho que nenhuma das duas sabe responder, só sei dizer que é isso, estamos juntas. Somos nós.
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