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Compreendendo a amizade

Caim

Após o encontro com Miguel, teria de admitir: foi a primeira vez que apanhei da guarda municipal com um sorriso no rosto. Tenho certeza de que os dentes amarelos foram motivo para a sessão de tortura durar pouco mais que o normal.

Levei chutes, socos e porradas de cacetete por cerca de quarenta minutos. O impacto do soco quando tocava meus músculos faziam uma orquestra. Quando a tortura cessou, me deixou exausto e dolorido, mas com a estranha sensação de vitória. Ria por ter conquistado um amigo.

A caminhada para a Rocinha era penosa. Junta distância, fome, as pancadas, e o sol escaldante que esfola minha pele. Pele... A pele do Miguel era branca, distinta da minha. Ele subiria até a Rocinha para me visitar? Se fosse negro, apanharia junto comigo? Ainda bem que não é.

Avistei a íngreme entrada da Rocinha. Cada centímetro revelava o toque humano. A cada passo, a humanidade pulsava dentro da favela. Barracas, bares, lojas, ponto de moto-táxi, um ritmo frenético de vida. Trabalhadores subindo e descendo o morro, crianças brincando livres, algumas até matando aula.

Mesmo cercado por tudo isso, nunca me senti de fato ligado a favela. É cruel pensar dessa forma? Ou viver nesse meio? O que há de bom num lugar que todos rejeitam?

Não odeio esse lugar. Ele é tão humano como qualquer outro... pior, ele é moldado para ser violento. A felicidade de ratos presos num labirinto. Matam uns aos outros, homens e mulheres, policiais e bandidos, cidadãos de bem e malfeitores.

Quem é burro a ama, e quem é eugenista a odeia. Eu só a vejo como ela realmente é. Cruel.

Sob a sombra da passarela, cheguei ao meu lar. Um refúgio que fedia a urina. Eu e meu pai, nascidos e criados nas ruas, só conhecíamos o asfalto sujo e podre. As baratas eram mais minhas companheiras do que os humanos.

Nem os favelados me viam como ser humano. Os cachorros do papai eram uma família. Eles latiam em felicidade. Alimentá-los era mais importante do que saciar nossa fome.

—Filho! — Meu pai gritou. — Por que demorou tanto? Está todo machucado! — Era um homem doce, qual não tinha do que reclamar.

Que ironia! Ele, que mal podia ficar de pé, preocupado com meus hematomas. O diabetes o consumia, inchando suas pernas como bexigas de carne. Condenado à imobilidade, ele vivia deitado ou sentado sob um papelão amassado.

— Os guardas me pegaram. Não foi nada. — Menti.

— Roubando de novo Caim!? — Papai ficou triste — Te falei que não se deve fazer isso filho! Eu não te criei para fazer algo desse tipo!

—E me criou para o que, pai? Catar latinha e papelão das sete da manhã às nove da noite e conseguir quinze reais!? — Sentei-me ao lado dele — Eu sei que o senhor me criou com educação. Mas honestidade não vale de nada para quem está com a barriga vazia há três dias. É sobre a gente morrer, pai. Quem não vive com a gente quer que a gente morra.

—Caim... — Ele me abraçou. — Essa amargura no peito só vai te deixar doente, filho.

—E tem outro jeito de viver, pai? —Apontei para a pista. — Eles são enxergados que nem vermes! Mas nós? Nós nem existimos.

—Filho... —Ele me abraçou mais forte.

No fedor de seu cecê e camisa encardida, encontrava ali a única presença de amor em toda uma vida.

—Eu vou descer amanhã, pai. —Afirmei. —Vou encontrar um... —A palavra travava na garganta. —Um amigo. —Nem eu acreditava no que dizia.

Ele marejou, e um sorriso largo, porém amarelado, se abriu em seu rosto. Em silêncio, ele assentiu com a cabeça. A verdade era nosso alicerce. A fé que tinha em mim era inabalável.

Meu pai não possuía o quarto ano. Na verdade, ele pouco frequentou o fundamental. Era analfabeto. Lia nomes de salgados em pastelaria. No entanto, foi com ele que aprendi as mais importantes lições de vida. —Seja quem você é. — Ele sempre me dizia em momentos cruciais.

Aceitar meus sentimentos, sejam eles dores, alegrias ou prazeres. Ser eu em minha plenitude. Passamos a tarde pedindo esmola, mas à noite fomos dormir com fome. O dinheiro não foi suficiente para comprar comida. Conseguimos comprar ração para os cães.

Na manhã seguinte, eu desci à orla. Desta vez, caminhei devagar. Algumas pessoas olhavam para os lados. Tinham repúdio da minha existência. Idiotas. Não pretendia roubá-los, pelo menos naquele dia.

Cheguei à orla. Desci as escadas. Um banho gelado no chuveiro de uma barraca era tudo que eu precisava para amenizar o sol quente.

Observei o horizonte. "Ele não virá..." Assim pensei. Não precisava me enganar. Era patético pensar em uma amizade que surgiu através de um roubo.

Um carro buzinou insistente. Alto, irritante, que chamava atenção de todos. Lá estava ele, a silhueta iluminada pelos deuses. "Que moleque idiota!", abri um largo sorriso no rosto. Nos encaramos como duas crianças.

—Caim! —Berrou. —Sobe aqui seu merda!

Olha que branquelo filho da puta. Mal me conhecia e sentia-se a vontade para me xingar. —Estou indo, arrombado! —Sempre quis xingar alguém com essa liberdade.

Ao me aproximar, ele apertou minha mão firme. Exceto por meu pai e os guardas, jamais alguém havia me tocado com tamanha intensidade.

—Você é burro demais para vir aqui e não achar que eu te roubaria de novo! —Afirmei, mas não conseguia esconder a felicidade.

—Está com saudade de levar uma surra!? —Ele era alegre, divertido. —Vêm, bora comer! —Virou as costas e caminhou para a pista.

A cena era surreal. Ele se acomodava em um carro que valia quarenta vidas minhas. Ao volante, um motorista particular. Careca, e ostentava um cavanhaque maquiavélico. "Será que estou sendo sequestrado?" Impossível, não conseguiriam aproveitar nenhum órgão, tão pouco minhas bolas.

Parti em seu encalço. Miguel abriu a porta do carro, e sem hesitar, me instalei. Fechei a porta com força. O careca olhou para trás.

—Não tem geladeira em casa não, moleque?! —Me perguntou, irritado.

—Eu nem casa tenho. Como vou ter uma geladeira?! — "Não vai responder né, filha da puta? Está sem argumentação é."

—Mestre Miguel, seus pais não vão gostar nada disso. Andando com um favelado da rocinha.

—Ele é meu amigo, Cleiton. Trate-o como se fosse da família, por favor! Além do mais, o pai e a mãe não precisam saber.

— Pfffff.... —Tentava controlar a risada. —ESTÁ JOGANDO A MAIOR MARRA E TEU NOME É CLEITON! ISSO É PIOR QUE MORAR NA RUA! HAHAHAHAHAHAHA!

Enfurecido pela zombaria, mais do que pela porta batida, Cleiton voltou-se para frente. Submisso às ordens de Miguel, ele retomou a viagem.

Encantador. Jamais havia contemplado o Rio de Janeiro com tamanha serenidade. Nos ônibus lotados, a sensação era sufocante, claustrofóbica. Aqui dava para respirar, extasiar-se com a paisagem. Miguel permanecia em silêncio, mas esboçava um sorriso sempre que presenciava meu fascínio.

Ah, eis a distinção que marcava nossas existências. Não se tratava do carro, do conforto ou da beleza da paisagem. A verdadeira diferença residia na capacidade de sorrir. Um encanto pleno de serenidade, desprovido do temor de ver a felicidade se esvair a qualquer momento. A vida dele protegia esse sorriso.

Chegamos a uma lanchonete daquelas frequentadas por multidões, um ponto de encontro popular entre os moradores da região.

—Nós vamos competir quem come mais! —Miguel falou com fogo no olhar.

— Tu está fodido, Miguel! —Correspondi o desafio.

A porta do carro se abriu, mas antes de sair, ele se virou para mim com um sorriso arrogante. — Ainda não caiu a ficha? — debochou. —Sou melhor que você!

—Há um abismo entre ser melhor e vencer.

Naquele instante se deu início àquilo que considero a única amizade verdadeira da minha vida.

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