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Capítulo XIX: A barreira vai virar baile...

É o que estava tocando na minha mente enquanto eu pensava: de todas as decisões que tomamos até então, acredito que a grande maioria levou a um desastre. É com muita insegurança, então, que me pergunto: será que seguir a deusa da morte é mesmo uma boa ideia? Experiências anteriores e o papel dela levam a entender que não, e, ainda assim, cá estamos.

Seguindo a deusa da morte.

— Kuta... — chamo a atenção do rapaz ao meu lado, que se assusta com a minha voz. Não é de se surpreender: ele estava só o pó. Pra piorar só se estivesse em chamas, coisa que ele estava alguns momentos atrás. — Eu tô achando que isso é uma má ideia.

— A gente não tem muita opção, né? Pelo menos ela é aliada.

Aliada. Palavra curiosa nessa situação. Bem, ela não trucidou o Getúlio quando ele começou a levantar o tom de voz, o que é um ótimo sinal.

— Senhora, — é a vez de Kuta me pegar de surpresa, acelerando sua caminhada o máximo que pode e alcançando a deusa. Eu sinto o meu coração pular uma batida ou duas, acreditando que dessa vez ele não escaparia da morte. Piada não intencional. — com todo respeito, o que você tá fazendo aqui?

— Uma alma fugiu do submundo. — ela responde com seu tom sereno, sem nem ao menos virar-se para olhar para Kuta. — Meu trabalho é trazê-la de volta.

Nesse momento, eu iria odiar ser o pobre coitado que é alvo de uma deusa. Não me parece ser um destino agradável, com toda certeza. O que seria ainda pior, no entanto, seria acabar entrando no caminho dela, seja por sermos irritantes ou algo do tipo. Talvez eu esteja preocupado até demais, porém não tenho vontade nenhuma de ver outro amigo meu ficando para trás, ainda mais se fosse completamente evitável com ações simples, como: deixar a deusa em paz.

Não é tão difícil, caras, eu juro!

— Alex. — o filho de Hermes me chama de longe. — O que a gente veio fazer mesmo?

— Viemos buscar um semideus perdido.

Eu respondo, tentando ser o mais breve possível. Algo me impede de querer ser percebido por aquela mulher. O que não faz o mínimo sentido, mas com instinto não se discute.

— Não era um sátiro?

Getúlio pergunta, confuso. Ainda mais confuso estava eu, me perguntando como diabos ele trocou "semideus" por "sátiro". As palavras nem se parecem.

— Pelo que observo, Quíron mandou seus melhores para essa missão.

Tânato comenta, e eu posso jurar que senti o sarcasmo em sua voz. Por um lado, essa foi boa, genuinamente. Por outro, foi uma ofensa direta que eu nem ao menos posso contestar. Difícil acreditar que eu, Alexandre, sou o mais competente desse grupo.

— Ah, lembrei. — Kuta estala os dedos. — Era um negócio de filho das chamas, não?

— Um filho de Hefesto?

Tânato questiona.

— Ninguém sabe. — Getúlio responde a deusa. — A oráculo disse que temos que ir atrás de uma cidade perdida, ou escondida, ou ambos, aqui dentro do labirinto.

— No labirinto, hm... — Tânato parece ponderar aquelas palavras, e por um momento eu acredito que ela estava disposta a compartilhar seu conhecimento conosco. Infelizmente, ou ela não estava no clima de dividir ou não sabia de nada sobre aquele assunto. — Vocês tem alguma forma de se localizar aqui?

— Não que eu me lembre.

Respondo, tentando lembrar do momento em que eu pessoalmente verifiquei todos os nossos itens. O único que estava de fora, claro, era Lucian, por motivos óbvios. Eu preciso parar de pensar nisso.

— A importância de um guia nesse lugar é indiscutível. — ela comenta. — Infelizmente, não tenho nenhum para entregá-los.

— Pessoal, vamos dar uma olhada de novo.

Digo, e logo Getúlio, Noah e Kuta concordam, abrindo suas mochilas enquanto andam.

— Ué. — Kuta murmura para si mesmo. — Alguém viu um cartãozinho preto? Pequenininho, assim ó...

Enquanto o rapaz gesticula o tamanho do cartão com suas mãos, eu logo me lembro do incidente que fez Hermes aparecer para nós, e eu logo engulo em seco. Por alguma razão, o detalhe de que o pai de Kuta era um inimigo mortal do Olimpo, e por consequência, de Tânato, fugiu completamente dos meus pensamentos.

— Ah, a gente usou sem querer pra te salvar.

— É, Kuta. Você tava queimando depois da luta. Não queimando, não sei, era estranho. — Noah detalha mais a história. — Enfim, eu tropecei com o cartão na mão, ele queimou e seu pai apareceu!

Eu engulo em seco no momento em que o pai dele é mencionado, e não posso evitar de olhar na direção da deusa. Ainda andando reto, sem demonstrar nenhuma mudança na sua linguagem corporal. Ótimo.

— Por que você não contou sobre o cartão, Kuta? Poderia ter sido bem pior se não tivéssemos achado ele por sorte.

Tento voltar atrás no assunto, tirando a conversa do tema "pai" e focando no cartão. Certamente Hermes não é o único deus com cartões, né?

— Você sabe, Alexandre. — a voz de Kuta parece ficar mais triste, e eu posso jurar que sei exatamente o que ele vai dizer a seguir. — Meu pai não é bem-vindo no acampamento, não achei que vocês fossem gostar de saber disso.

É exatamente como eu imaginei. Estamos todos mortos, obrigado rapazes.

— Quem é seu pai, garoto?

Tânato questiona, e pela forma como ela diz, só posso imaginar que ela sabe exatamente quem é o pai dele. Era quase como se ela procurasse apenas uma confirmação. O que ela faria depois disso, no entanto, era uma grande incógnita. Tânato não havia mudado a velocidade de sua caminhada, muito menos havia estendido a sua mão para agarrar sua foice. Não é como se isso fosse mudar algo, visto que eu não duvido que ela possa simplesmente matar a gente. Sem armas, sem feitiços complicados, só puff, e quatro semideuses caem mortos sem mais nem menos.

— Hmm, é... — Kuta me encara com os olhos arregalados, finalmente percebendo seu erro. — Você sabe, aquele lá!

Meu coração mais uma vez congela quando a deusa para de andar de repente, virando-se para olhar para Kuta. De lado, vejo que ela apenas ergueu uma das sobrancelhas, aguardando uma resposta concreta.

— Dionísio! Ele!

Kuta mente, e Tânato apenas dá um único passo em sua direção. Meu corpo estava gritando para eu fazer algo: interromper a conversa, pular na frente dele, qualquer coisa. Não era uma questão de se ela mataria ele, e sim quando mataria. Agora ou depois de mais uma mentira suja do pior mentiroso do mundo? Uma coisa é certa: se Tânato não fizer nada, eu mesmo dou um jeito nele.

— É... É... — o rapaz gagueja enquanto caminha para trás lentamente, olhando para cada um de nós em busca de ajuda. — É Hermes! Desculpa, é Hermes! E-eu não sabia o que você...

Tânato para de andar mais uma vez. Enquanto a deusa encara Kuta, eu conto os segundos em minha mente, esperando alguma coisa acontecer. O silêncio apavorante que se forma só quebra com o som dos passos da deusa, que volta a caminhar em sua direção original, e só então eu percebo que nada havia acontecido. Kuta estava intacto, de alguma forma.

— Isso explica sua proeza em arriscar a vida de seus companheiros. — Tânato comenta com uma frieza macabra. — É idêntica a dele.

— V-você conhece meu pai?

Kuta pergunta, trêmulo demais para acompanhá-la imediatamente, ficando congelado por alguns segundos antes de correr até ela.

— Felizmente, não muito. Eu não... "ia com a cara dele". — Tânato faz o símbolo de aspas com suas mãos. — Na verdade, ninguém ia. As únicas companhias dele eram os filhos gêmeos de Ares e uma filha de Afrodite.

— E você, senhora Tânato, tinha muitos amigos?

Getúlio entra na conversa também, e para o bem dele, espero que a resposta para essa pergunta seja sim. Qualquer coisa além disso seria extremamente constrangedora.

— O bastante. — ouço certa animação na voz da deusa. — Nos afastamos após nos tornarmos deuses, e meu círculo pessoal envolve somente meu irmão e meu marido. No entanto, acabei me acostumando com o tempo, visto que é um sacrifício necessário para manter a ordem das coisas.

— Seu irmão é Hades?

O filho de Dionísio solta outra pergunta, sua voz um pouco mais séria.

— Sim.

Espera... eu sei que já disse isso antes, mas eu acho que sei onde essa conversa está indo. Eu não gostei nem um pouco do tom de Getúlio.

— Ele amaldiçoou a minha mãe. A mesma pessoa cujo espírito ainda me assombra, e maldição essa que deveria ter matado tanto a mim quanto a ela. — o rapaz começa a dizer com uma mistura de raiva e tristeza. — Meu pai me contou.

Tânato não responde imediatamente, respirando fundo e digerindo as palavras do rapaz antes de dizer qualquer coisa. Eu conseguia ver a expressão assustada de Noah e Kuta, que não esperavam isso, mas o que me preocupa é o próprio Getúlio. Desde que perdemos Lucian, ele parecia mais instável do que já era. Em frente a deusa da morte isso parecia ter piorado ainda mais. Só consigo imaginar o que ele diria para o próprio Hades.

— Criança, digo isso com as intenções mais puras, sem acusar você ou seu pai. — Tânato justifica o que estava prestes a dizer, o que me surpreende. Uma deusa se justificando? Talvez eu tenha a impressão errada dela. — Eu conheço meu irmão e sei que ele não tem tempo para isso. Dúvido até mesmo que ele tenha motivos para amaldiçoá-lo, e pelo que vejo da energia que você emana, nem ao menos sinto algum indício da magia de Hades.

— D-desculpa, eu só... eu só queria... — Getúlio gagueja várias vezes, e eu vejo algumas lágrimas escapando de seus olhos. — Eu só queria respostas.

Enquanto anda ao lado dele, Tânato põe a mão em seus ombros e abaixa seu próprio capuz.

— Garoto, ceifar almas não é um trabalho fácil, mesmo para uma deusa. Para isso eu tenho uma equipe, eu chamo eles de ceifadores, e são eles quem cuidam das almas que não aceitam seu fim. — Tânato diz com certo carinho em sua voz. — Se você quiser, pode se juntar a nós. Será solitário, você passará muito tempo afastado de seus amigos, mas poderá te dar as respostas que está procurando.

— Você tá falando sério?

O rosto do rapaz se ilumina, e eu vejo o quão desesperado ele estava para descobrir o que estava por trás do mistério de sua mãe. Não o julgo; provavelmente faria o mesmo, até aceitar entrar para a equipe da dona Morte.

— Estou. — Tânato confirma. — Como eu disse, é cansativo e solitário, porém já tenho quatro ceifadores em minha equipe.

— E-eu preciso pensar nisso...

— Você não precisa responder agora. — a deusa sorri e tira a mão do ombro dele. — Se algum dia precisar, o convite já é seu. Não se preocupe em me encontrar, eu saberei quando você estiver pronto para dar sua resposta.

Eu respiro fundo. Uma sensação de alívio toma meu corpo, e eu finalmente consigo respirar direito desde o início dessa conversa. Depois das mentiras de Kuta e das acusações de Getúlio, eu estava genuinamente assustado com a paciência da deusa. Infelizmente, pelo som que ouço ao meu lado, percebo que a paz ainda não estava presente nesse grupo. Não demora muito para eu perceber Kuta com a mão em minha mochila, tirando-a de lá rapidamente antes de fingir que não estava fazendo nada.

— Alex, achei uma bússola!

Ele diz, abrindo um sorriso de orelha a orelha. Em suas mãos estava um pequeno círculo de vidro, com um orbe de bronze no meio, pressionando-se contra uma das paredes do domo que o continha. Com o brilho repentino que é emanado, os meus outros companheiros se aproximam do objeto, curioso.

— Vocês tinham um guia, afinal de contas.

A deusa comenta após olhar de relance o objeto.

— É pra soltar a bolinha? — Getúlio pergunta, apontando para o orbe. — Ela parece que está tentando ir para lá.

— Não. — Tânato responde com seriedade. — Simplesmente siga a direção que ela está indo. Mantenha ela presa a todo custo.

Não me chamem de pessimista, mas algo me cheirava mal aqui, e não eram só quatro crianças fedorentas e machucadas. Não, era algo bem pior: bússolas não aparecem do nada. Embora eu não seja muito bom com magia, eu estava convencido de que nem isso era uma boa explicação.

— Cara, onde você arrumou isso?

Questiono, esperando que Kuta tenha uma boa resposta.

— Ué, o senhor D. entregou pra gente antes de sairmos. — ele responde como se fosse óbvio. — Vocês não lembram? O Lucian entregou pra mim depois.

Você mesmo disse que não tínhamos uma bússola, Kuta.

Noah aponta um furo na história do rapaz.

— A gente tinha uma bússola o tempo todo? — Getúlio sussurra com raiva enquanto olha de relance para Tânato, tentando evitar que ela ouça o atestado da nossa incompetência. Eu não tinha coração para lembrá-lo que ela era uma deusa, e que provavelmente conseguia ouvir tudo. — Você só pode estar brincando. Uma bússola, Kuta?

— Não é culpa minha se vocês tem memória de peixinho dourado. — Kuta responde com um fato inegável. Eu estou genuinamente em choque por ter esquecido disso. — Além do mais, eu falei que não tínhamos porque achei que vocês tinham combinado de mentir.

— Por que a gente faria isso?

Noah pergunta.

— Não sei. — o filho de Hermes dá de ombro. — Mas é algo que eu faria, então eu apoiei.

Sem mais palavras, todos nós ficamos em silêncio, porém dessa vez seguindo a caminhada com a bússola em mãos. Eu devo dizer: tudo havia ficado muito mais fácil. Tipo, ridiculamente mais fácil. Foram mais de cinco corredores seguidos sem armadilhas ou criaturas sanguinárias. Não como se fosse fazer muita diferença, visto que agora estávamos acompanhado da própria Morte, que vez ou outra ceifava uma alma ou duas no caminho. Confesso que toda vez que ela cortava os espíritos com sua foice, meu corpo se arrepiava mais e mais. Me chamem de louco, mas eu não estava acostumado com o conceito de "morte", ainda mais vendo a personificação dela trazendo o fim de tantos diante de meus olhos.

De qualquer forma, a presença dela era mais que bem vinda. Uma pena que isso aconteceu quando lembramos da nossa bússola. Que timing horrível...

— Senhora Tânato. — Getúlio chama a atenção da deusa, que estava assobiando uma canção serena, se não macabra. — Quando você... corta os espíritos, machuca eles?

— Aqueles que aceitam seu destino sentem apenas alívio. — ela responde com completa naturalidade. — Porém existem aqueles que tentam fugir, ou até mesmo lutar, e esses sim sentem desconforto.

Algo me diz que desconforto era uma forma mais amigável de dizer "dor agonizante".

— Lutar? — Getúlio soa confuso com parte da resposta dela. — Eles conseguem lutar contra você?

— A grande maioria deles não. Existem aqueles, no entanto, que conseguem me atrasar o bastante para fugir. Talvez seja a presença de um deles que esteja atraindo tantas almas para o labirinto. — a deusa seguia encarando o corredor como se estivesse vendo algo além. — Somente espíritos antigos, poderosos, conseguem essa chance. Eu vim a esse labirinto em busca de um desses, que por alguma razão inexplicável desapareceu do Tártaro, mesmo comigo protegendo os portões. Não consigo evitar de pensar que algo tirou eles de lá.

— Algo... tipo o quê?

Noah faz a pergunta que também estava passando em minha mente. Na escala de poder de todos os seres que presenciei até agora, talvez só o pai de Kuta consiga se comparar com Tânato, então é difícil para mim imaginar o que "algo" seja.

— Não sei. Considerando que se trata do domínio do meu irmão e que ele sabe de tudo que acontece lá, deve ser uma opção que não considerei até então. — sua voz carrega o peso de suas dúvidas, e até mesmo agora ela parecia estar ponderando a explicação desse mistério. Talvez seja por isso que ela tenha parecido distraída desde que a vimos. — Somente Zeus, talvez Poseidon, tem o poder para sobrepô-lo, porém nenhum deles faria isso.

— E se não for um deus?

Eu solto, quebrando a minha regra de passar despercebido pela dona Morte. Para o meu azar, minha curiosidade estava acima do meu instinto de sobrevivência.

— Hm. — Tânato soa confusa, e por ela não ter ignorado meu argumento imediatamente, eu intuo que era plausível. — Fora do submundo não há um ser mais poderoso que os três grandes. Se houvesse, eu saberia. Só espero que os meus ceifadores encontrem algo, esse mistério já foi longe demais...

Com nossas dúvidas majoritariamente sanadas, o silêncio volta a se instaurar. Isso por aproximadamente dez minutos, quando então a barriga de Getúlio ronca tão alto que eu não consigo evitar de puxar a minha caneta de meu bolso, pronto para entrar em combate novamente. Não, eu não estava exagerando para humilhar o meu colega, o ronco foi alto assim.

— Cacete. — eu exclamo, surpreso. — Hora do rango então, pessoal.

— Vocês parecem cansados. — a deusa comenta. — Podem parar e descansar, eu ficarei com vocês para garantir que ficarão bem.

Talvez, mas só talvez, Tânato seja a minha deusa favorita nesse momento. Digo, como eu poderia recusar a proteção da dona Morte? Ninguém nunca me disse que ela era tão gentil!

— Eu agradeço muito, senhora Tânato.

Com meu agradecimento, ela se vira para mim com um sorriso gentil. Enquanto nós quatro nos sentamos no chão e puxamos as latas de dentro de nossas mochilas, a deusa estala os dedos e faz surgir uma grande chama verde do chão, criando para nós uma fogueira. O calor emanado por ela parecia nos envolver como um grande abraço, e por um momento eu até considerei dormir ali mesmo. Infelizmente, imagino que isso seja abusar demais de nossa gentil guardiã.

— Você precisa comer? — Getúlio diz, estendendo uma lata de comida para ela. — Nós temos o suficiente para cinco.

— Deuses não precisam comer, mas agradeço o gesto. — Tânato nega com a cabeça, mantendo seu sorriso. — Entretanto, eu realmente sinto saudades de comer cheeseburgers.

— Nem me fale.

Dessa vez a barriga de Noah que ronca, e eu juro que vejo o rapaz salivando assim que a palavra cheeseburger é mencionada.

— Senhora Tânato, se me permite perguntar, o que aconteceu com o Tânato anterior?

Getúlio pergunta.

— Durante a guerra, Tânato, que era um servo leal ao seu mestre, Hades, se sacrificou para que ele não tivesse que fazê-lo. Infelizmente para ele, não foi o suficiente.

Ela responde.

— Senhora Tânato, você é uma deusa muito gentil.

Getúlio comenta, e eu imagino que ele mal tenha conseguido conter algo como "surpreendentemente". De qualquer forma, eu concordo. Até me sinto mal de ter pensado negativamente dela só por conta de seu cargo macabro. Alguém tem que fazer o trabalho sujo, no fim das contas.

— A mãe do seu colega, Alexandre, é muito mais gentil. — Tânato vira seu rosto para o lado, encarando a parede como se estivesse vendo algo atrás dela. — Se ela estivesse aqui, certamente teria resolvido tudo.

— Você conheceu a minha mãe?

Pergunto, impressionado. Digo, eu sei que meu pai é famoso, mas minha mãe também?

— Sim, me lembro de ver você quando nasceu. Já carreguei você no colo uma vez.

Ela segura a risada com essa última frase, e eu percebo que ela estava sendo sincera. Como. Assim?

— Que loucura. — comento, dando uma risada desconfortável. — Não sabia que vocês, deuses, conheciam minha mãe.

— Perdão? Isso não faz sentido, já que sua mãe também é uma deusa, Alexandre. — ela me encara confusa. — Poseidon e Atena estão juntos desde antes de se tornarem deuses.

Ca-ce-te. Atena é minha mãe? A mãe do Kaizer? Eu tenho um irmão? Que explosão de informações, e que merda que eu tenha que descobrir assim. Ninguém poderia ter dito nada antes, sério? Digo, não me parece ser um segredo guardado a sete chaves, né?

— Ué, se os pais do Alexandre são deuses, como ele é um semideus? Ele não devia ser um deuszinho?

Eu nem tinha pensado nisso. Na verdade, parecia ser o menor dos meus problemas, já que não era mistério nenhum que eu não me sentia um deus, nem tinha o poder de um. Cara, eu tenho um irmão no acampamento e tudo que fiz foi ver ele tomar a maior das porradas no caça-bandeiras. Isso sim é loucura.

— Não é exatamente assim que funciona. — Tânato ri. — E como eles são semideuses, embora portando divindade, Alexandre é, essencialmente, um semideus também. Sinto muito pelo desaparecimento dela, garoto.

— D-desaparecimento? A–Atena sumiu?

Eu fico completamente em choque. Minha mãe, que aparentemente era uma deusa, sumiu? Ok, agora a próxima notícia é que... sei lá! Eu nem consigo imaginar algo mais absurdo do que as últimas duas coisas que ouvi.

— Sim, imaginei que você soubesse, já que outros cinco semideuses foram enviados para achá-la. Seu irmão e minha sobrinha estão incluídos neste grupo.

Então foi pra isso que Kaiser, Alessa, Dante, Briar e Arthur saíram antes da gente. Pra salvar a mãe que eu nem sabia que tinha e muito menos sabia que estava sequer precisando de salvamento. Espera, eu não devia estar lá, ajudando a minha família? Essa vida de semideus é uma confusão sem fim. Em vez de fazer isso, cá eu estava, preso nesse maldito labirinto e indo atrás de um qualquer.

E sim, voz do Lucian no fundo da minha mente, missão é missão, eu sei!

— Faz muito tempo?

Pergunto, me arrependendo imediatamente de ter feito isso.

— O suficiente para Ares ter que assumir o posto dela, mesmo que por um tempo.

Eu nem sabia o que responder. Era bastante coisa para processar, e eu preferiria fazer isso em silêncio. Portanto, continuo sem dizer nada, apenas decidindo pegar as mochilas e contar as nossas latas, tentando racionar as porções de forma justa. Enquanto eu fazia isso, vejo que as feridas ao redor do meu corpo estavam se fechando, com a chama verde cobrindo-as. Era como se ela não estivesse só nos aquecendo, e também nos revigorando. Eu não iria reclamar de forma nenhuma.

— Senhora Tânato, você gosta de vinho?

Kuta pergunta enquanto tira sua mochila de perto de mim. Felizmente, eu já havia terminado a contagem.

— Tá falando desse vinho aqui? — Getúlio interrompe enquanto puxa uma garrafa de dentro de sua própria mochila, encarando Kuta com raiva. — O vinho que você roubou do chalé do meu pai?

Eu roubei? Do que você tá falando, Getúlio?

Kuta soa indignado, como se alguém aqui acreditasse em suas palavras. Era admirável a capacidade dele de mentir na cara dura. Eu realmente gostaria de ter esse tipo de coragem, ou sei lá, burrice. Depois da conversa dele com Tânato, não sei mais distinguir.

— Você roubou.

Getúlio insiste.

— Não foi bem assim...

O filho de Hermes começa a ceder. Muito mais rápido do que pensei que ele faria, inclusive. Talvez até ele esteja começando a perceber o quanto suas mentiras não estavam mais colando.

— Você tem que parar com isso Kuta. — Noah cruza seus braços. — Isso é feio.

Enquanto Getúlio e Noah se juntavam para humilhar Kuta em frente a uma deusa, eu apenas abro a lata, já aquecida pelo fogo, e começo a comer em silêncio. Sinceramente, eu não sei o que deveria fazer nesse momento. Não é como se eu pudesse sair daqui e ir atrás da minha mãe, e mesmo se pudesse, acredito que não faria. Se Lucian estivesse aqui seria outra história, mas, por processo de eliminação, eu acabei me tornando o líder do grupo.

E meus amigos com certeza precisavam de mim. Eu só poderia confiar nos outros cinco, e acreditar que eles salvarão minha mãe.

— Argh, Kuta, fica quieto! — Getúlio aumenta seu tom de voz, já sem paciência com o rapaz. Revirando os olhos e respirando fundo, ele novamente vira sua atenção para Tânato, que estava sentada em silêncio observando a discussão com um olhar caloroso. Considerando que ela também já foi uma semideusa, imagino que esteja se lembrando do passado. — Enfim, senhora Tânato, você pode ficar com esse vinho para você.

Negando com um aceno de mão, a deusa responde:

— É uma bela gentileza, Getúlio, mas vocês precisarão desse vinho mais do que eu.

— Nós somos menores de idade, não tem como usarmos isso.

Noah responde, e eu tenho a impressão de que ela não estava se referindo a consumir aquele álcool da forma tradicional.

— Não. — a deusa ri. — Quando precisarem, apenas quebrem a garrafa. Vocês saberão a hora certa de fazê-lo.

— Tá vendo, Getúlio? Eu sabia que era importante, por isso eu trouxe! — Kuta clama enquanto cruza os braços e empina o nariz, sentindo-se vitorioso. — Agora vai, me devolve, esse mérito é meu.

— Nunca!

O filho de Dionísio afasta o vinho das mãos de seu colega e o guarda na mochila, colocando-a dessa vez em sua frente, evitando possíveis furtos. Rapaz esperto.

Assim que termino uma das latas, abro outra, jogo metade de seu conteúdo fora e rezo silenciosamente para Tânato. Quando o brilho dourado que sai das cinzas de minha comida voa em direção a deusa, vejo ela sorrindo gentilmente para mim, agradecendo com seu olhar. Não era a forma mais comum do mundo de homenagear alguém, porém parecia ser o bastante para ela. Após essa primeira reza, queimo a outra metade da comida na lata, dessa vez direcionando-a a minha mãe.

Fica bem, e eu quero te encontrar logo.

É a mensagem que passo, tentando direcionar meus sentimentos mais sinceros para ela, onde quer que esteja. Sei que não era a intenção de Tânato, porém sinto que eu não deveria ter descoberto isso agora, já que com certeza vai ficar na minha mente pelo resto da missão.

Enquanto os outros terminam de comer, vejo as sombras na parede tremendo, e eu sinto que já vi isso antes. Com certeza não é um bom sinal. Chamando a atenção dos meus colegas, eu puxo a minha caneta do meu bolso, porém nem tenho a oportunidade de transformá-la na espada, já que Tânato estende sua mão em nossa direção, indicando que deveríamos baixar nossa guarda.

Bem, se ela quisesse nos matar, certamente teria feito isso com muito menos esforço do que uma mentira, logo eu decidi obedecê-la. Da sombra surge um lobo branco, enorme e ameaçador. Enquanto o lobo caminha em nossa direção, ouço sons estranhos de ossos partindo e carne se movendo, e aos poucos a criatura vai tomando uma forma humana. Quando ela termina de se transformar, a cena é completamente diferente do que eu pensei.

O lobo era, na verdade, um cara pouco mais velho que a gente. Ele era bem alto, sua pele era pálida e ele vestia roupas pretas bem exageradamente góticas, ou seja lá o nome daquele estilo meio roqueiro. Ele tinha cabelos metade pretos e metade brancos, que se estendiam até seu nariz. Além das várias tatuagens em todo o seu corpo, o que mais chamava atenção eram seus olhos, que brilhavam em vermelho carmesim.

— E aí, coroa. — ele diz com um grande sorriso convencido e relaxado, como se ele estivesse em um lugar qualquer, e não uma armadilha mortal em formato de labirinto. — Acompanhada? Que surpresa.

— Guerra, algo a relatar?

A deusa ignora os comentários do rapaz. Guerra? Que tipo de nome é esse?

— Ossos quebrando, foices cortando, nada demais.

O rapaz responde enquanto dá de ombros e dá voltas ao nosso redor, nos encarando dos pés a cabeça sem perder seu olhar de superioridade. Não parecia que ele estava nos desprezando, necessariamente. Era algo mais puxado ao "quanto tempo eu demoraria pra quebrar esses pirralhos na porrada? Trinta segundos? Menos?"

— Como estão as meninas?

— Olha... não fica brava, mas eu não fui ver elas. — ele diz enquanto solta uma risada falsa, colocando uma de suas mãos na nuca e evitando olhar para a deusa. — Elas não me chamaram, então com certeza tá tudo suave.

— Certo. — Tânato responde friamente. — Você está com fome? Os garotos disseram que tem o suficiente para cinco.

— Coroa, não me leva a mal... — Guerra olha para as latas em nossas mãos, seu rosto distorcido em nojo. — Eu acho que prefiro comer merda.

Por um momento, posso jurar que ouvi Tânato segurando o riso. Como assim ela não estourou o rapaz com uma magia de morte instantânea? Será que ela era realmente tão boazinha assim?

— V-você é um ceifador?

Getúlio pergunta enquanto encara a arma de Guerra, com seus olhos brilhando em admiração.

— A foice entregou, né?

— Que foice maneira!

Noah entra na conversa, levantando-se e indo até o ceifador, cujo sorriso só aumentou ainda mais. Não posso negar, a foice era maneira e ele era ainda mais, e isso me deixa irritado. Como se adquire esse tipo de estilo?

— Quer ver ela? Se liga!

Guerra pega sua foice com uma das mãos e arremessa lentamente na direção de Noah, que se prepara para agarrá-la no ar com tranquilidade. Para a surpresa de nós quatro, o rapaz caiu no chão como se tivesse sido atingido por uma pedra colossal. Assustado, Noah começa a fazer força para erguer a foice, porém sem resultado. Ainda por cima sua mão havia ficado presa entre a foice e o chão, o que era no mínimo cômico.

— Tá difícil, ceguinho? — Guerra ri, se aproximando e erguendo a foice com dois dedos, dessa vez arremessando-a para Getúlio, e o mesmo ocorre com ele. — Qual foi, pessoal, tá faltando força.

— Minha vez!

Eu digo enquanto me preparo para receber a foice, e quando eu a agarro com minhas mãos, percebo que ela era ainda mais pesada do que eu imaginava. Não era uma questão de fazer força, era completamente impossível de erguê-la, sem sombra de dúvidas.

— Eu agora!

Kuta corre em minha direção e nem espera Guerra arremessar a foice até ele, decidindo erguê-la por si próprio. Quando eu imagino que seriam apenas os esforços inúteis de nós dois, eu me surpreendo quando o rapaz empunha a arma como se não fosse nada. Dessa vez, não foi só eu, visto que até mesmo Tânato e Guerra ficaram visivelmente assustados. Até Kuta estava confuso, brincando com a arma como se ela fosse feita de papel.

— Ué, pessoal, ela é levinha!

Ele clama, ainda acreditando que tinha sido uma questão de força.

— Moleque, tu é filho de um deus do submundo? — Guerra pergunta, confuso. — Isso é ferro estígio, não é qualquer semideus que consegue erguer.

Ok, pessoal. Nós aprendemos com nossos erros, né? Ninguém vai falar sobre Her-

— Ele é filho do tio Hermes!

Noah anuncia, calando meus pensamentos imediatamente. É inacreditável, eles realmente estão tentando morrer.

Ao ouvir isso, a expressão de Guerra se fecha, e o rapaz logo olha para Tânato, que o encara de volta ainda confusa. Isso não dura muito, no entanto, já que eventualmente a expressão dela fica irritada também.

— Então foi isso. — ela diz, sua voz mais séria do que jamais ouvimos. — Eu devia ter suspeitado. Guerra, avise as outras, sairemos agora.

— Pode deixar.

Guerra se aproxima de Kuta sem olhar para o rapaz, puxando sua foice das mãos dele e caminhando até as sombras, desaparecendo nelas. Aos poucos, o fogo que Tânato havia acendido se apaga, e a sala estava ficando inacreditavelmente fria. Sem perder tempo, ela diz:

— Tenho um trabalho a fazer, adeus.

Sem dar tempo para nós, Tânato também desaparece nas sombras, e logo a temperatura local volta ao normal. Nós quatro nos entreolhamos assustados, também confusos com o que aconteceu. De uma hora para outra, com uma simples menção do pai de Kuta e por ele ter empunhado uma foice, o clima mudou. Pela falta de informação, não adiantaria teorizar sobre isso.

— Pessoal, nós também temos um trabalho a fazer. — chamo a atenção deles, tentando nos reorganizar. — Sei que foi do nada, mas temos que ir.

— É.

Kuta concorda, e ele parecia ser o mais confuso entre nós. Não o culpo, visto que desde que chegou ao acampamento, sua situação ficava cada vez pior. Eu sei que iria odiar ter meu pai como o inimigo número um de todos os deuses.

Tentando deixar isso — e as outras bombas de informação — de lado, nós quatro voltamos ao nosso ciclo repetitivo de caminhar por corredores longos. Já estávamos acostumados com isso, porém nunca deixaria de ser chato. Claro, agora, por termos uma bússola, era só isso: chato, não mortal. Isso com certeza foi uma evolução. Por conta disso, no entanto, mal temos tempo para descansarmos, e só nos resta caminhar até nossas pernas cederem, o que estava prestes a acontecer no momento em que finalmente vimos uma porta.

Seguindo a estratégia de sempre, eu transformo minha caneta em uma espada e vou em frente com Noah logo atrás de mim. Para a nossa surpresa, vimos uma escada muito semelhante com a que usamos para entrar no labirinto. Isso poderia ser um ótimo sinal, então sem perder tempo, subimos degrau atrás de degrau, cautelosos, embora esperançosos. Quando finalmente chegamos ao topo dela, vimos outra porta, e nas frestas ao seu redor consigo ver luzes. Sem perder tempo, abro ela e imediatamente cubro meus olhos por conta da iluminação repentina.

Assim que consigo enxergar novamente, eu mal consigo conter uma única lágrima de fugir dos meus olhos.

Em nossa frente, decorando o céu azul em uma rua qualquer, estava o sol.

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