Capítulo XIII: Eu tento lutar (e falho miseravelmente).
Vai soar como uma surpresa, mas: está tudo horrível. Em um dia tão complicado, eu sinto que ter sido perseguido por um dragão foi o menor dos meus problemas. Na minha estreia nesse acampamento, eu apanhei muito. Por alguma razão, o anel da minha mãe invoca barris. Claro, barris não eram as armas mais perigosas do mundo, porém serviriam. Quão difícil é acertar um barril em uma pessoa? Pelo visto, muito, já que eu não acertei nenhum. Até agora me lembro do olhar de Dante enquanto ele se aproximava de mim, erguendo o machado e pronto para me cortar.
Logo depois o meu pai tentou matar uma menina. Mesmo eu entendendo o porquê, ainda era errado. Ela não tinha culpa pelo que houve comigo, a culpa disso era dos deuses. Todos eles. Enquanto eu tento distrair a minha mente desses pensamentos horríveis, aproveito a comida mágica do pavilhão para devorar dois cachorros-quentes, do jeito que vendiam na esquina ao lado do orfanato. Era bom, saboroso, e só isso. Não era nada do tipo "me traz boas memórias", já que eu não tenho boas memórias. Não tinha antes, não vou ter agora.
Enquanto mastigo lentamente, ouço passos se aproximando, e quando menos percebo, Kuta se senta ao meu lado. A expressão dele era complicada, no mínimo. Ele encara o horizonte em silêncio, parando apenas para comer um cachorro quente. Que coincidência.
— Ah, cachorro quente também?
— Hm? É, pedi. — ele demora um pouco para processar a minha pergunta. — É a minha comida favorita.
— Olha, eu acabei pegando dois, se você quiser...
Eu divido o segundo cachorro quente ao meio e entrego para ele. Kuta aceita, porém parece ficar desconcertado.
— Se você quiser um pedaço do meu também. Eu pedi do jeito que a minha vó fazia, é muito bom.
— Não, não! Eu te dou metade do meu e aí fica um e meio para cada um.
Mesmo que eu insista, ele ainda me entrega metade da comida dele.
— Você não vai se arrepender.
Ele diz enquanto põe o cachorro quente no meu prato e abre um sorriso confiante. Ele parecia certo de que aquela era a melhor comida do mundo, e eu admito que fico curioso para saber se ele estava certo ou não. Enquanto comemos juntos, acabo me lembrando de um detalhe importante que percebi enquanto caminhava pelo pavilhão.
— Ei, eu percebi que não vi uma mesa no refeitório com o símbolo que apareceu em cima da sua cabeça.
— É, ele não é bem visto por aqui, cheinho. — ele diz e logo depois percebe a expressão que eu faço. — Eu posso te chamar de cheinho, né?
— Ah... ok? Pode, se você preferir. — aceito, mesmo sabendo que não era o meu apelido favorito. — Onde que você esteve? Você sumiu depois do caça-bandeiras, achei que tinha fugido.
— Não, eu só... — Kuta mais uma vez encara o horizonte como se estivesse procurando alguma coisa, ou apenas pensando. — Só fui tirar uma água do joelho.
Eu decidi não insistir nisso, mesmo sabendo que ele não estava falando toda a verdade. É algo que consigo compreender. Também tenho a minha parcela de segredos, uns por vergonha, outros por preferir não comentar. É assustadoramente fácil fazer uma pessoa olhar para você com pena apenas por contar um detalhe de sua vida. Bem, pelo menos para mim era assim, não sei se com o resto do pessoal é a mesma coisa.
Voltamos para o pavilhão depois de um tempo. Todos — exceto os que jogaram o caça-bandeiras — estavam encarando Kuta assim que ele passava. Todas aquelas expressões eram familiares para mim, eu costumava ser o alvo delas. Agora eu parecia ser invisível, mas mesmo estando aliviado por isso não desejava aquilo para Kuta. Ele era bom, não merece isso. Nós continuamos enquanto ele finge não perceber os olhares.
A noite é turbulenta. Um rapaz de cabelo branco some e um barril começa a pular. Kuta me questiona sobre isso, porém eu digo que não foi culpa minha. O cara loiro que foi jogado do penhasco abre o barril e de dentro sai o rapaz de cabelo branco. Nós decidimos nos sentar com o resto do pessoal, até porque Alexandre estava lá, e ele foi gentil comigo. Ele mais uma vez nos trata bem, insistindo para nos sentarmos lá.
O rapaz de cabelo branco acaba ficando preso em outro barril, após provocar um homem com pernas de bode, que pelo visto se tratava de um sátiro e foi quem pôs ele lá. Ele sai completamente sujo de vinho estragado, e o cheiro era péssimo. Ele parece perceber isso também, decidindo sair do pavilhão para tomar um banho no lago. Antes dele sair, o rapaz se apresenta para nós. Pelo visto, o nome dele era Lucian Grace, um filho de Zeus. Pouco depois dele, Alexandre joga um pedaço de carne no fogo, se assusta e sai correndo para fora, com espanto estampado em seu rosto. Não, eu não faço ideia do porquê, e eu não sei se gostaria de saber.
Após isso, Kuta, por alguma razão inexplicável, decide tomar as dores de Lucian para si, e logo ele se aproxima do sátiro, pondo a mão no ombro dele para chamar sua atenção.
— Ei, bichinho.
Antes que ele possa dizer qualquer coisa, o sátiro se vira com uma expressão estranhamente intimidadora para alguém que tinha exatamente a mesma estatura que eu. O sátiro coloca a mão no ombro de Kuta, e essa mão parecia estar bem pesada.
— Volta para o bueiro de onde você veio.
O sátiro diz, e até eu — que não tive nada a ver com a história — me sinto intimidado, inconscientemente buscando algum bueiro para pular dentro. Por que diabos até os monitores do acampamento parecem capazes de me matar em um piscar de olhos? Ainda mais curioso do que o ato de Kuta ir confrontar o sátiro pelo que ele fez com Lucian, logo vejo o cara da venda correndo para interferir.
Interferir como? Bem, com violência, pelo visto. Ele se aproxima com a intenção de socar o sátiro, e após um sopro de apito, some também. Aproveitando a brecha, Kuta tenta roubar o apito, porém também é levado depois de um sopro. Essa magia de aprisionar em um barril era assustadora, e eu não sei se estava afim de passar por isso.
— Olha, você tem um hábito terrível de prender as pessoas. — eu comento enquanto me aproximo do sátiro, tentando soar o menos desrespeitoso possível. — Você pode me dizer para onde eles foram parar?
— Garoto, se eu fosse você, ficaria longe daquele filho de Hermes. Filhos de Hermes sempre trazem problemas.
— Ah... vou deixar isso em mente. — respondo para tentar apaziguar ele, mesmo tendo a certeza de que eu não consideraria isso nem um pouco. Mesmo tentando roubar o orfanato, eu sei que Kuta não é má pessoa. — E os outros?
— Estão com ele.
— Ok... e onde é isso?
— Segredo.
Algo me diz que continuar essa conversa seria inútil. Decidido a investigar por conta própria, eu procuro o depósito onde estão os barris de vinho, e logo começo a busca. Um detalhe importante que eu sinto que teria que compartilhar uma hora ou outra: eu consigo ouvir a voz das coisas. Não era exatamente a voz. Eu não conseguia me comunicar com uma pedra, por exemplo, porém eu consigo sentir exatamente o que ela diria se pudesse falar, e é assim que eu pretendo descobrir onde estão.
Eu sempre senti que fosse maluco por isso, porém não seria a coisa mais estranha das últimas vinte e quatro horas. Talvez seja alguma característica dos filhos de Dionísio, ou algo só meu. Independente do que seja, eu me aproximo dos barris e tento ouvir a voz deles. Se eles pudessem falar, sinto que seria algo como "olha que gordinho idiota! Ele não sabe que os amigos não estão aqui". Pode ser que uma dessas partes seja mais uma projeção do que a intenção dos barris, porém eu não vou elaborar isso.
Como esperado, eles não iriam colaborar tão fácil, logo decidi partir para a opção mais violenta. Pegando um dos barris, eu arremesso ele no chão na frente de todos os outros, partindo-o em vários pedaços. A intenção deles é repassada para mim: eles com certeza não gostaram disso.
— Vejam bem. — eu digo enquanto agarro outro barril. — Vocês vão me contar onde eles estão.
Raiva. O barril que eu agarro gritaria em ódio se pudesse. Ok... eu vou ter que ser mais insistente. Eu ponho ele acima da minha cabeça.
— Onde. Eles. Estão?
Quando percebo que falar não adiantaria, eu decido provar que estava falando sério, e logo parto mais um barril no chão. Agora sim eles indicam a posição. Os estábulos, pelo visto, e eu corro até lá, parando várias vezes para recuperar o fôlego. Se essa fosse a minha vida a partir de hoje, eu precisava urgentemente melhorar o meu condicionamento físico. Depois de mais tempo do que eu gostaria de admitir, chego nos estábulos e procuro o barril que ouvi falar. Ao encontrá-lo, eu viro ele de lado e abro a tampa. Kuta e o garoto vendado saem rolando para fora, sujos de cocô de cavalo e com expressões miseráveis. Se eu estivesse no lugar deles, acho que esse seria o meu fim.
— Noah, aquele sátiro. — Kuta fala com dificuldade, se levantando enquanto faz esforço para segurar o vômito diversas vezes. — Onde ele dorme?
— Como que eu... urgh... como que eu vou saber?
— Eu acho que vocês precisam de um banho.
Comento enquanto tapo as minhas narinas, tentando evitar de sentir esse cheiro horroroso. Deprimidos, eles concordam comigo, e a caminhada até lá é, felizmente para todos nós, curta. Assim que chegamos, vemos Alexandre correndo desesperado para fora da água. Eu ainda não entendo do que ele estava fugindo. Alexandre se tranca em sua cabana sem sequer nos ver, já Lucian parecia estar rindo descontroladamente.
— Cara... ele é doido! — Lucian ri dentro do lago. — Ai pessoal, o que deu com vocês?
— Longa história.
— É, percebi. Bora cair na água aí!
Kuta e Noah — aparentemente esse era o nome do rapaz vendado — pulam na água de roupa e tudo, lavando-as no lago e colocando-as para secar logo depois. Eu fico apenas na beirada. Alguns limites eu creio que jamais cruzaria por vontade própria, como tomar banho acompanhado dos meus amigos. Acho que tinha medo de me chamarem de "gordo" ou esse tipo de piada.
— Eu vou só tomar banho nos banheiros depois.
— Nada disso, vem pra cá!
Ele se aproxima de mim e puxa a minha mão. Eu tento lutar contra ele, porém o filho de Zeus era tão mais forte que eu que acabo apenas caindo na água. Eu tenho dificuldade para me manter de pé após a queda, e eu sinto que entrou água até pelo meu nariz.
— Tem que viver a vida. — ele passa o braço por trás da minha cabeça e põe a mão no meu ombro. — Aproveitar mais as coisas, dar um tibum com os amigos, saca?
— Sei...
Eu concordo apenas por educação. Claro, eu gostaria de aproveitar um tempo com o pessoal, e eles pareciam gostar muito de mim, eu só não estava afim de pular na água agora. Bem, agora não tinha mais volta, então eu só aproveitei até anoitecer. Nós conversamos sobre assuntos aleatórios, Kuta declarou várias vezes a sua gigantesca queda pela filha de Hades, Lucian fala sobre uma missão que ele matou a Medusa sozinho (sim, a própria Medusa, era uma história bem difícil de acreditar) e eu e Noah apenas ouvimos, as vezes comentando uma coisa ou outra.
Quando as nossas roupas na margem se secam, nós saímos. Lucian diz que quer ir ver a "árvore da mãe dele", Noah diz que precisa fazer uma coisa antes de dormir e só sobramos eu e Kuta. Ele me acompanha enquanto eu caminho até a cabana de Dionísio, e antes de entrar eu reparo em um detalhe importante:
— Ei, Kuta. — eu me viro até o rapaz, que estava parado na porta. — Você tem algum lugar para dormir?
— Ah... a cabana de Hermes tá só o pó, então não. — ele diz sem parecer se importar muito. — Eu ia dormir embaixo de uma árvore, algo assim, sabe? Já me acostumei, é até melhor aqui do que no Brooklyn, lá era barulhento.
— Tem certeza? Aqui tem várias camas, se você precisar eu...
— Aceito sim, muito obrigado!
Ele me interrompe e entra na cabana de Dionísio antes que eu possa terminar de falar. Suspirando, apenas aceito o comportamento dele e logo entro também. Era a minha primeira vez lá dentro, e confesso que estou surpreso. Não era nada de especial, nenhuma fonte de vinho infinita ou coisa parecida, somente algumas taças chiques espalhadas por aí. Não tinham tantas camas quanto eu imaginava, apenas três, mas o que me chama atenção está no fim da sala.
Um quadro estava pendurado na parede, e nele estavam representados um par de gêmeos. Eles pareciam um pouco comigo, só que mais velhos e bem mais animados, contando com sorrisos largos de orelha a orelha. Intuitivamente percebi que eram os meus irmãos, porém não faço ideia de que época eles eram. A única certeza que tenho era de que estavam mortos, pois logo embaixo do quadro estava uma pequena estante com flores, e duas medalhas de honra ao lado.
Um pensamento sombrio passa pela minha mente: esse é o futuro que me aguarda? Morrer e virar um quadro em uma cabana?
Eu afasto o pensamento, e quando olho para trás vejo que Kuta estava tão interessado na cabana quanto eu. Quando ele percebe que eu estava encarando-o, ele desvia o olhar e começa a assoviar. Eu não penso muito sobre isso, estando cansado demais para sequer tentar entender o comportamento dele. Arrumando a cama com o máximo de cuidado possível, eu me deito e imediatamente apago. Mal consigo me lembrar dos meus sonhos. Fogo, um longo caminho, confusão, a sensação de perda. Essas imagens inundam a minha mente e somem como se nunca estivessem lá, e eu esqueço tudo que vi no momento em que abro os olhos.
Eu respiro fundo, como se estivesse tentando recuperar o fôlego. Com certeza já tive noites piores, mas também já tive noites bem melhores. Era de se esperar, eu estava cansado, assustado, cheio de coisas para pensar. Se eu tivesse uma boa noite de descanso depois de tudo isso, era um sinal de que minha mente estava mais acostumada com coisas ruins do que eu gostaria.
— Bom dia, Getúlio. — eu ouço a voz de Kuta, e vejo ele sentado na própria cama, oposta à minha. — Tá tudo bem?
— Tá sim, só um sonho ruim. — respondo enquanto coço os olhos, me espreguiçando e fazendo força para ficar de pé. — E você?
— Só coisas boas, cheinho, tive uma conversa produtiva com o meu sogro ontem.
— Seu sogro?
— Ah, cê sabe, o pai da mademoiselle.
— Hades?
— Não, o outro pai dela. Tristan, o marido de Ártemis, ex-Hércules, esse cara. — ele parece ficar animado apenas falando sobre esse homem. — Ele é muito legal, cheinho. Altão, fortão, cara de mal. Ele recomendou que eu coma feijões, disse que eu precisava comer muito disso pra ter uma chance com a filha dele.
Considerando a frase "comer muito feijão", eu imagino que não tenha sido essa a intenção de Tristan com o que quer que ele tenha dito, mas se alguém está feliz, não sou eu que vou acabar com isso. Aparentemente, Tristan também falou um pouco sobre o pai de Kuta, que pelo visto se chamava Nolan. Algo como "seu pai não define quem você é". Eu consigo concordar com isso, e pela forma com que Kuta falava dele, o pai de Alessandra parecia bem maneiro.
Quando a nossa conversa acabou, nós nos arrumamos e saímos da cabana. O pessoal de ontem, Lucian, Alexandre, etc. Estavam todos entrando em uma construção na distância, e eu e Kuta concordamos em seguí-los, observando que estavam todos lá dentro. Todo mundo que participou do caça-bandeiras ontem — exceto a garota que derrubou Kaizer do penhasco — e um homem que eu imagino que seja Tristan. Ele era realmente bem imponente.
Assim que chegamos, pelo visto começa uma sessão de treinamento. Duelos um contra um, e os primeiros a lutar são Dante e Lucian. Ambos pareciam bem animados com isso, e eu não consigo entender o porquê. Lutar não era tão legal, ainda mais quando você é péssimo nisso. Bem, eles dois com certeza não eram péssimos, então eu imagino que tenha algum lado positivo em duelar. Assim que Tristan libera os dois, Lucian corre na direção de Dante com ferocidade, atacando o filho de Ares com tanta força que a luta quase acaba em um piscar de olhos.
Se recuperando, eu vejo algo que me deixa ainda mais confuso: Dante recua, dança, e assim que Lucian se enfurece e avança, Dante desfere um golpe de baixo para cima, derrubando o filho de Zeus instantâneamente. Briar celebra a vitória do irmão, e Tristan também comemora com Abutre. Tristan entrega alguma coisa para Lucian, que come e parece se recuperar dos ferimentos instantaneamente. Acho que uma nova regra para me poupar de ficar tão confuso seria atribuir tudo a "é magia".
Lucian recusa a ajuda de Tristan para se levantar e logo vem até nós, se sentando ao nosso lado e cruzando os braços. Ele estava furioso, e se isso fosse um desenho, com certeza teria fumaça saindo dos seus ouvidos.
— Acho que o nosso amiguinho aí não gosta de perder.
Kuta comenta enquanto se aproxima de mim.
— É, puxou a minha irmã.
Tristan concorda enquanto Lucian encara ele furioso.
— Ah, ei, Tristan! — Kuta chama a atenção do homem, que estava organizando a próxima luta. — Eu posso pegar qualquer arma daqui e usar?
— Você tem a sua própria arma, não?
Tristan encara a mochila de Kuta, que parece ficar envergonhado. Eles se olham por um tempo, e alguma mensagem parece ter sido passada com essa breve comunicação não-verbal. Eu fico com medo do que pode ter sido, porém qualquer coisa a esse ponto estava me assustando. Antes que eu possa comentar algo com Kuta, o próximo duelo começa. Alexandre estava enfrentando Briar, e o clima fica tenso só com a forma com a qual os dois se encaravam.
O semblante de Alexandre parecia magoado e furioso ao mesmo tempo, enquanto Briar parecia estar se sentindo culpada. Eu não faço ideia do que aconteceu, e sinto que eu possa ter perdido alguma coisa. A luta dos dois é bem mais demorada do que a luta passada, com a troca de golpes sendo mais equilibrada. Alexandre lutava como se fizesse isso faz anos, atacando Briar com precisão e acertando ela com golpes fortes.
Mesmo assim, Briar não parecia se afetar mesmo que fosse atacada várias vezes, e retribui a todo momento, mesmo que fossem ataques mais fracos. A luta rapidamente se torna uma batalha de atrito, e embora tivesse utilizado até seus poderes de filho de Poseidon, Alexandre foi o primeiro a se cansar, sendo derrubado após um soco preciso de Briar. Eles conversam um pouco, logo depois parecendo se reconciliar. Dante celebra a irmã como se ele tivesse ganhado, e interrompe a preparação da próxima luta para introduzir Briar e Tristan.
Quando essa conversa acaba, o próximo duelo começa. Para a minha surpresa, Tristan convoca a sua filha, Alessandra, e Noah. Alessandra parecia estar tão indisposta quanto eu, se levantando apenas quando seu pai sussurra algo em seu ouvido. Ela se aproxima insegura, enquanto Noah parecia um pilar de confiança. Ele estava — quase literalmente — brilhando, sorrindo de orelha a orelha como se fosse um herói.
Ao meu lado, Kuta estava encorajando fervorosamente Alessandra, muito a contragosto de Tristan, que vez ou outra lançava um olhar acusador para o garoto, que se calava. Assim que a luta começa, ela acaba em um piscar de olhos. Alessandra diz algo para o pai e arremessa a sua faca na lâmpada que iluminava o centro de treinamento. Eu fecho os olhos com a súbita mudança na iluminação, demorando um tempo para a minha visão se acostumar.
Assim que meus olhos se adaptam a escuridão, vejo Alessandra desferindo um golpe em X em Noah, que cai para trás. Ela fica de pé enquanto encara ele, e segundos depois seu pai vem correndo para comemorar com ela. Kuta também celebra, porém fica em silêncio quando Tristan decide trocar seu "olhar acusatório" para um "olhar assassino".
Após as celebrações, Tristan profere os nomes das duas pessoas que lutariam a seguir, e eu sinto meu coração chegando na minha boca.
— Getúlio e Kuta, agora é a vez de vocês. — ele diz, e eu aponto para mim mesmo, buscando assegurar que ele não tinha se enganado. — É, você mesmo, vamos.
— Kuta, você tem certeza disso?
Eu olho para o rapaz ao meu lado, e ele põe a mão no meu ombro, acenando para mim como se estivesse dizendo "vamos lá, cara!". Eu não sinto nem um pouco daquela confiança, porém aceito. Era só um duelo, e nada seria pior do que ontem, né? Tudo bem que dez pessoas estavam me encarando, e com certeza Kuta lutaria para impressionar duas pessoas em específico na multidão. Ótimo, era o que eu precisava para começar o dia bem.
Para a minha surpresa, no entanto, eu ouço o som das portas do centro de treinamento se abrindo, e o centauro Quíron se faz presente. Seu ar regal toma o ambiente, e por um instante eu me sinto salvo. Observando os espectadores, eu percebo que Dante e Kaizer se olham animados.
— Briar e Dante Redgrave, Alessandra Mezzasalma, Kaizer Chase e, em breve, Arthur Solís — ele cita esses cinco nomes. Eu fico aliviado que não fui citado, mesmo não fazendo ideia do que seria. — Se apresentem na casa grande, vocês estão sendo convocados para uma missão.
Ah, uma missão. Eu penso. Uma missão!? Minha mente repete. O que diabos era uma missão? Assim como eu, Arthur, Alessandra e Briar estavam no acampamento faz um dia. Se nesse lugar você era teletransportado para um barril cheio de cocô de cavalo apenas por brigar com o monitor, então quais eram as missões? Matar um deus? Roubar as cuecas sagradas de Zeus enquanto ele está em um dia ruim?
Dentre os cinco que foram chamados, quatro já estavam no centro de treinamento, e eles saíram juntos após Dante conversar com Lucian.
— Tristan, o que é uma missão? O Arthur pode fazer isso mesmo estando aqui faz só um dia?
— Não esquenta com isso. Você acha que eu deixaria a minha filha ir em uma missão se eu não acreditasse que ela voltaria?
Ótimo ponto. Claro, pais divinos pareciam ser conhecidos pela sua negligência, porém Tristan não era um deus, e ele parecia valorizar muito a filha. Sim, eu tenho que ficar relaxado. Arthur e o resto do pessoal vai voltar, e pelo visto eu teria que me preocupar comigo mesmo agora, já que Tristan não parecia nem um pouco disposto a cancelar a luta.
Eu e Kuta vamos para as nossas posições, e eu invoco o meu barril enquanto fecho os olhos e suspiro. A multidão estava menor, e isso não valia nada. É só treinamento, Kuta não faria nada demais, ele é meu amigo. Se eu aguentasse um tempo, então ninguém poderia me chamar de fraco, né?
— Como as vinhas que crescem da videira. — eu começo uma prece ao meu pai. — E como o doce do vinho... que meu barril alcance e esmague os meus alvos.
Quando a contagem termina, eu ergo o meu barril e ataco. Kuta arregala os olhos, hesitando por um breve momento antes de tentar esquivar. Felizmente para mim, ele reage tarde demais sendo acertado na barriga pelo barril, que se parte ao contato. Pegou em cheio.
— Finalmente acertou uma, cheinho.
Ele comenta enquanto sente dificuldade para se manter de pé, pondo a mão na barriga. Eu me sinto bem. Ter acertado um golpe foi novo, para dizer o mínimo, e foi um ótimo golpe. Agora era a hora de aguentar a vez de Kuta, que planejava me atacar enquanto eu estava com a guarda baixa. Por ter ficado impressionado comigo mesmo, acabei perdendo muito tempo, e eu começo a invocar outro barril tarde demais.
Assim que pisco os olhos, ele já estava na minha frente. Eu vacilei, e agora vou pagar o preço. O mundo fica escuro, e quando eu volto a enxergar, estava jogando no chão. Kuta me olhava de cima para baixo, estando de pé ao meu lado. Eu fico confuso. O que diabos aconteceu? Eu realmente cai em um único golpe de novo?
— Lutou bem, Getúlio.
Ouço a voz de Tristan enquanto ele e Kuta me ajudam a levantar. Tristan me entrega a mesma coisa que estava entregando a todos os outros, que parecia ser um bolo. Eu não estava no clima de comer depois dessa derrota, mas já que todos antes de mim pareciam ter melhorado após comer isso, eu faço o mesmo. Em pouquíssimos instantes, já me sentia bem melhor.
— Eu ainda sou fraco, preciso melhorar muito.
Digo enquanto sentia mais uma vez o gosto da derrota. Porém havia uma diferença, já que eu estava melhorando, isso era claro. A única coisa que me mantinha motivado era essa perspectiva, a da evolução constante. Nesse momento eu fiz uma promessa para mim mesmo:
Na próxima eu vou vencer.
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