Capítulo XV: Onde os fracos não tem vez.
TUM
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O som rítmico de passos martelando o chão ficava cada vez mais alto à medida que a besta se aproximava de mim. Uma certeza cruzava minha mente: ela me encontraria cedo ou tarde. Seja por um vacilo meu ou por interferência dos gerentes da arena. Ah, perdão, você não deve saber de que arena estou falando. Bem, o certo seria começar pelo início, como toda boa história. Prazer, eu sou Arthur Solís, você deve me conhecer como o rapaz charmoso que a curiosidade (quase) matou.
Ou como o azarado que foi abandonado pelos amigos, tanto faz! Não me incomodo com nenhuma opção.
Tudo começou quando eu decidi sair daquela maldita caixa para descobrir o que o dragão estava fazendo. Claro, existe um vazio nas minhas memórias — por ter sido desmaiado no momento em que pisei para fora da caixa — e eu não lembro exatamente quanto tempo se passou. A minha primeira memória depois daquilo foi um corredor escuro. O teto acima de mim estava se fechando, cobrindo o último resquício de luz do sol. A cadeira em que eu estava era arrastada por meia dúzia de esqueletos roxos, e logo na frente deles estava um esqueleto maior, vestido em uma armadura pesada e com uma espada dourada em seus ombros.
Depois disso, de alguma forma, tudo piorou. Eu fui arrastado até uma cela, onde um homem loiro e alto — que eu descobri se chamar Tântalo — me mandou trabalhar pela minha liberdade. Logo depois eu fui jogado aqui, nessa arena amaldiçoada. Meu adversário era ninguém mais ninguém menos que O Minotauro. É, esse mesmo, corpo de boi, perna de homem, cem por cento aberração. Nem preciso dizer que eu, como um homem inteligente e racional, reconheço meus limites e decidi não brigar. Agora estou aqui, escondido atrás de uma pedra e segurando a minha respiração, esperando o instante em que o machado gigante da criatura vá encontrar meu crânio.
— Sai dai, covarde! — um espectador grita, me assustando. — Vai lutar!
Antes que eu possa reagir, vejo ele arremessando um pequeno projétil em minha direção, e logo o impacto em minha testa me desorienta por tempo o suficiente para que eu solte um baixo grunhido de dor. Uma pedra, uma pedrinha na hora errada talvez tenha me matado. Eu não acredito nisso.
— Droga.
Eu exclamo, pulando para o lado no momento exato em que uma lâmina do tamanho do meu braço parte a pedra que eu usei de cobertura ao meio, e por um instante eu imaginei o que teria acontecido comigo se eu não tivesse me movido. Esse foi meu segundo erro, pois me fez congelar tempo suficiente para o Minotauro erguer seu machado mais uma vez.
Ataque atrás de ataque eu consigo esquivar por um triz, e eu sinto que minha estamina esgotaria em pouquíssimo tempo, e se isso acontecer eu certamente morreria. Eu até usaria meu arco para atirar uma flecha no monstro, mas eu já fiz isso umas dezenas de vezes, e o resultado era sempre o mesmo: a flecha nem sequer penetrava a pele do alvo. Claro, eu poderia mirar em seus olhos, porém eu não tinha a mínima confiança de que conseguiria executar precisamente esse disparo.
Agora? Talvez seja minha única opção.
Correndo pela arena, eventualmente enxergo uma flecha fincada no corpo de um pobre coitado — que poderia muito bem ser eu em breve. Espera, os monstros não viram pó quando morrem? Então isso é...
Não, eu não posso pensar nisso agora.
Eu agarro a flecha sem pensar duas vezes, e encaixo-a em meu arco, mirando na criatura que vinha em minha direção com passos rápidos. Enquanto ela se movia era quase impossível acertar isso; eu simplesmente não sou bom o suficiente. A minha oportunidade seria a mais arriscada, pois seria em um momento em que ele fica parado. E que momento seria melhor do que quando ele está com seu machado erguido para cortar minha cabeça em dois pedaços?
Seria uma janela de menos de um segundo, mas era a minha única chance.
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Meu arco para de tremer. Minha respiração congela e tudo que enxergo são os olhos bestiais do Minotauro, que já parecia estar irritado por ter passado tanto tempo atrás de mim.
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O momento chega. Ele para na minha frente e ergue seu machado.
Eu disparo. A flecha corta o ar ao mesmo tempo em que vejo os músculos da criatura se tensionando para liberar seu ataque. O tempo parecia congelar. Em momentos a flecha estava muito para a esquerda, em outros muito para a direita, e o caminho até o alvo nunca queria acabar, como se a criatura estivesse mais distante do que nunca. Seja como for, o resultado eventualmente chega:
No alvo. O monstro grita de dor e para seu ataque, colocando uma de suas enormes mãos em seu rosto. Maravilhado, eu abro um sorriso de orelha a orelha. Eu não tinha o mínimo de fé em mim mesmo para acertar isso. Na verdade, eu nem ao menos acreditava que sairia vivo, mas cá eu estava. Vivo por tempo suficiente para suspirar mais uma vez.
E como nada pode ficar bom para sempre, o monstro logo se enfurece ainda mais. Ele prepara seu machado com uma mão só, e eu percebo que sua ideia era acabar com o inseto na frente dele (eu) antes de sequer se importar com seu olho. A magia percorre meu corpo como um reflexo que eu nem ao menos sabia que tinha, e logo um clarão é emanado por minha mão, bem na direção de seu olho bom. Ele grunhe mais uma vez, porém ainda assim eu sou pego de surpresa.
Dessa vez ele não pararia de atacar, mesmo que não estivesse mais me enxergando.
Aproveitando aquele momento eu me jogo no chão, esquivando com um mero corte na bochecha. Cego dos dois olhos, a criatura balança seu machado para todos os lados, tentando garantir que acabaria comigo mesmo sem me enxergar. Em silêncio, me arrasto em direção a um pedaço rompido de um navio que decorava o centro da arena, me escondendo atrás dele.
Eu poderia buscar outra flecha, atacar seu segundo olho e tentar alguma outra coisa, mas como? Meus braços estavam tão trêmulos que até eu conseguir colocar a flecha no arco eu já teria sido partido ao meio dez vezes. Era uma batalha impossível, só de eu estar vivo já era uma conquista e tanto. Foi um momento de coragem em meio a uma situação desesperadora, mas eu não era idiota de pensar que conseguiria fazer isso novamente.
Era só eu não ter saído daquela caixa idiota. Também seria ótimo se meus amigos tivessem me resgatado! Ficar naquela escola não parecia ser uma ideia tão ruim agora. Claro, era tudo um porre, e meu único amigo de verdade era o Getúlio. Ainda assim, eu não lutava pela minha vida, e se eu fosse pego sendo fofoqueiro, não seria jogado em uma arena. Se arrependimento matasse...
Minhas lamentações e xingamentos continuam por longos minutos enquanto a criatura ainda gritava de raiva. Eu nem sequer tentaria ver se ele estava cego ou apenas irritado — seria uma ideia ruim até para mim. Seja como for, meu coração palpita quando vejo os portões se abrindo. Era o mesmo lugar que eu entrei aqui, então seria a saída. Os segundos se passavam e nada saia de lá, e a esperança ousou preencher minha mente.
Meu corpo se move mais rápido do que eu.
Assim que pisco os olhos, já estava correndo em direção aos portões. A criatura parecia ter se incomodado com a ideia, pois estava vindo atrás de mim enfurecida. Eu não ousei olhar para trás, e quando finalmente chego no meu destino, o portão se fecha com um som estrondoso. Logo depois disso, um segundo impacto atinge o metal, e só então eu olho para trás. O machado do monstro estava fincado entre as frestas das barras, a meros centímetros do meu rosto.
Medo? Raiva? Não, no momento eu estava preenchido por alívio.
— Toma essa, babaca! — eu grito, rindo da cara dele. — Boa sorte com esse olho, e da próxima vez, tenta ser menos burro.
Eu provoco ele, e minha arrogância logo se esvai quando sinto meus dois braços sendo agarrados. Ossos, eu sinto, e ao olhar para trás vejo uma dupla de esqueletos roxos me segurando. De novo não...
— Muito, muito decepcionante. — uma voz desinteressada e familiar se faz presente na sala. — E pensar que meu associado pagou tanto por tão pouco.
Das sombras sai Tântalo. Sua expressão mostrava o quão pouco impressionado ele estava com minha sobrevivência. Não chega nem a ser "decepcionado". Eu morrendo ou vivendo, não acho que ele se importava com nenhum dos dois resultados.
Ao lado dele vem um rapaz um pouco mais baixo que ele. Seu cabelo era preto e amarrado em um coque, e em seu rosto estava estampada a frustração dele. Seus olhares de relance para Tântalo traiam que em seus pensamentos algo como "eu vou matar esse cara por me fazer passar por isso" vez ou outra se fazia presente.
— Olhemos pelo lado bom, Damian. Eu não preciso pedir para você resolver o assunto, já que nossos convidados já fizeram um ótimo trabalho.
— Tanto faz, velhote. — o garoto ao lado dele, que pelo visto se chamava Damian, revira os olhos. — Aquele esqueleto só era parrudo, sempre te disse isso.
— V-você! — interrompo a conversa enquanto encaro Tântalo. — O que você quer comigo?
— Hm? — ele me olha confuso, como se já tivesse esquecido que eu estava presente. — Ah, você é uma mera distração. Um bobo da corte para distrair as massas entre as atrações principais.
— E como eu saio daqui?
— Sair daqui...?
Tântalo e Damian se entreolham. Para o mais velho, aquela noção parecia tão ridícula que ele até soava confuso por eu ter feito essa pergunta. Damian, no entanto, ria incontrolavelmente.
— Só dentro de um caixão. — Damian zomba de mim. — O melhor que você pode fazer é criar um pouco de coragem e começar a lutar que nem gente, seu merdinha. Talvez isso faça você sobreviver pra entrar no serviço da chefia, mas eu vou te matar bem antes disso.
Eu mal conseguia acreditar que ele estava dizendo isso. Algo em sua voz soava tão cheia de ódio que é como se eu tivesse feito algo contra ele. Eu encaro ele com o mesmo desprezo que via em seus olhos, e percebo que sua mão parecia estar trêmula enquanto ele agarrava uma adaga em sua cintura. Mesmo que eu precisasse dar tudo de mim, eu nunca deixaria esse babaca me matar.
— Tá... eu vou lutar. — meus olhos encaram Tântalo. — Eu vou ser sua distração, mas eu vou ficar forte o bastante pra você parar de me ignorar.
Tântalo me encara de cima para baixo, com seu nariz empinado. O canto de sua boca se curva em desgosto, e ele logo se aproxima de mim para tentar dizer algo. Nesse momento, eu uso toda a minha força de uma vez só, surpreendendo os esqueletos o suficiente para que eu solte uma mão. Dessa mão a mesma magia de antes é emanada, soltando outro clarão de luz. No momento em que Tântalo dá um passo para trás, eu começo a correr desesperadamente.
Em vez de gritos irritados — como os do Minotauro — ou uma reação parecida, eu ouço apenas um suspiro, e eu começo a me perguntar se o clarão realmente afetou ele ou não.
— Damian, tenho uma ordem para você — ele diz com uma voz cansada. — Dê uma lição nele. Deixe-o vivo, mas por pouco.
— Pode deixar, chefe.
Enquanto corro, ouço os passos de Damian nos corredores atrás de mim, junto com sua risada sádica.
O caminho à minha frente era cheio de celas. Algumas criaturas pulam na grade e começam a implorar pela minha ajuda, mas logo se calavam assim que viam Damian passando. Pelo atraso em suas reações, eu imagino que ele esteja bem na minha cola. Claro que ele é mais rápido que eu, claro! Quem diria que não se importar com educação física daria nisso.
Passando por uma porta, eu fecho ela e arrasto uma mesa próxima para impedir a passagem de Damian. A esse ponto eu já sabia que isso não adiantaria para sempre, e depois de respirar por um instante, volto a correr. Assim que começo a passar pelo próximo conjunto de celas, uma mão me impede de seguir.
— Moleque, você é um semideus, né? — a voz desesperada me assusta, e assim que eu olho, vejo uma criatura diferente: parecia um ser humano, mas com pernas de bode, um cavanhaque grande e chifres. Um homem-bode. — Rápido, você tem que me soltar!
— Agora não, tiozinho!
Digo enquanto continuo correndo. Assim que ele começa a gritar para que eu volte, eu ouço o som da porta quebrando.
— Para de correr, loirinho. — a voz insana de Damian ecoa pelos corredores, abafando todas as outras criaturas desesperadas. — Quanto menos você me irritar, menos vai doer!
É, sem chance.
Assim que penso isso, vejo que o próximo corredor era bloqueado por uma porta. Eu tento abrí-la, porém sem sucesso. Ok, duas opções: a primeira era o método Damian, que se resumia a chutá-la até quebrar. O problema? Bem, é simples, eu sou fraco.
A segunda opção é a que eu escolhi imediatamente: me esconder em uma cela aberta. Assim que ele chegar, eu posso só usar o clarão e correr de novo, dessa vez tentando outro caminho e rezando para dar certo.
— Coragem da sua parte tentar fugir, moleque. Pena que foi uma puta idiotice. — Damian ri. — Você teria se dado melhor usando essa energia pra correr que nem o verme patético que você é. Depois de acertar uma flechada daquelas você vai lá e se esconde? Tão triste, tão fraco.
Deuses, por favor, agora seria uma ótima hora para me abençoar para eu poder arrebentar ele. Ele merece, eu mereço!
Assim que os passos de Damian se aproximam o suficiente, eu executo meu ataque. Eu estendo minha mão bem no rosto dele, e faço a magia percorrer pelo meu corpo. O que eu não esperava, no entanto, é que ele já estava preparado. Damian segura meu braço com força, e logo me puxa de forma que eu sou arremessado por cima de seu ombro, soltando o clarão de luz para uma direção aleatória.
Minhas costas acertam o chão com força, e eu me lembro de quando Deucalião fez algo parecido comigo. O dragão me jogou no chão com mais força, babaca!
— Que azar.
Damian diz enquanto eu tento fugir mais uma vez. O rapaz arremessa a sua adaga ao meu lado, barrando meu caminho. Quando me viro para tentar bloquear seu próximo ataque, já era tarde demais. Seu punho atinge meu rosto, e eu tenho quase certeza que meu nariz é deslocado — ou até pior. Quando vejo ele puxando outra adaga, penso em como eu poderia reagir. Infelizmente, eu nem sequer tenho essa oportunidade, pois ele arremessa ela ao lado do meu pescoço, fazendo um pequeno corte nele.
— É uma pena que eu não possa te matar agora.
— Q-quê?
Quando eu termino minha pergunta, outro soco atinge meu rosto, fazendo com que eu caia no chão quase inconsciente. Eu sinto o sangue escorrendo em meu corpo pelos meus ferimentos, e logo todos os meus músculos começam a gritar em dor. Todo o meu cansaço acumulado estava me alcançando no pior momento possível. A cada segundo em que eu mantinha a consciência, mais eu amaldiçoava aquelas circunstâncias.
Tântalo, Damian, Deucalião, Dante, Kaiser, Briar, Alessandra, Apolo...
Todos eles tinham culpa nisso, todos. Mas a pessoa que eu mais amaldiçoava era eu mesmo. Se eu não fosse tão idiota... se ao menos eu tivesse ouvido eles. Se eu não tivesse fugido da escola, se eu tivesse convencido o Getúlio... Ah, Getúlio, onde você está agora, meu amigo?
Tantos, tantos "se", e nenhum deles importa agora.
Mesmo com minha audição já parando de funcionar aos poucos, consigo escutar os passos pesados de Tântalo se aproximando de nós, assim como os sons do homem batendo palmas lentas.
— Bom trabalho, Damian.
Ele diz enquanto se aproxima do rapaz, e logo desfere um soco em seu estômago.
Espera, o que?
Não só um, como dois, três e... eu logo perco a conta de quantos socos Damian recebe. Em pouco tempo, o rapaz cai no chão em um estado que eu só conseguia descrever como "tão acabado quanto eu". Se não fosse extremamente confuso, seria até satisfatório, e eu ouso abrir um sorriso quando vejo que ele olha para mim. Tântalo, eu te odeio, mas eu vou ficar te devendo essa.
– Que merda que você... — Damian questiona Tântalo, se colocando de joelhos e puxando suas adagas. — Eu vou matar você, velhote.
Mesmo ferido, seu rosto ensanguentado ainda exalava o mesmo ódio de antes, senão algo ainda pior. Por um instante eu até mesmo estava esperando que ele fizesse exatamente o que estava dizendo. Independente do resultado, um desses dois merdas iria acabar morto.
— Silêncio. — Tântalo comanda, limpando seus punhos com um pano. — Os nossos convidados indesejados voltaram, e outros brindes saíram de onde deveriam estar. Eu quero que você se infiltre e traga todos eles. Se fizer exatamente o que estou mandando, te entregarei uma unidade do produto ao fim da missão e mais uma no próximo carregamento.
— Seu, seu... não, você me dá duas agora e duas depois.
Damian parece um pouco menos irritado, porém ainda parecia querer negociar. Em resposta, Tântalo o encara como se ele fosse apenas uma formiga, nem ao menos sentindo-se ameaçado pela aparência demoníaca de Damian.
— Isso não é uma negociação, é uma ordem. — Tântalo junta suas mãos em sua frente, e uma faísca sai de seus dedos. — A pergunta é, você vai aproveitar enquanto estou sendo gentil ou prefere ficar sem nada? Pois é o que vai acontecer se você continuar me desrespeitando.
A expressão de Damian se contorcia, e várias meias-palavras e xingamentos saem de sua boca, mas o rapaz eventualmente parece ceder. Eu quase senti pena dele, porém a dor no meu corpo logo me lembra que ele merecia isso também.
Sem falar mais nada, Damian guarda suas lâminas, fica de pé e passa por mim, cuspindo no chão enquanto me olha nos olhos.
— E você, semideus, espero que mantenha essa energia enquanto estiver fugindo pela sua vida. — o rosto de Tântalo sai de "leve inconveniência" para "desinteresse" assim que ele olha em meus olhos. — Pelo menos se esforce para dar um show decente até que encontre sua morte.
Morte, né? Só nessa última hora eu já aceitei a morte e fugi dela umas dezenas de vezes. Ainda assim, não havia nem um semblante de esperança em meu coração. Se meus amigos e os deuses não iriam me ajudar, então a responsabilidade de sair vivo era minha. Mas o que um incompetente como eu tem para oferecer?
Eu até gostaria de responder essa pergunta, mas a verdade é uma só:
A minha história já foi contada, e por enquanto ela acaba aqui.
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