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Epílogo

   Morto em um corpo vivo

O tempo estendia meu velório em terra, consumindo como a chama de uma vela quase apagada.

Respondia todos os dias ao chamado de uma voz silenciosa que me cercava, impedia, limitava.

Ela soprava seu grito em meu ouvido,

E esse tempo todo respondia a essa voz, doando-lhe a minha vida.


   Não saber viver é o mesmo que estar morto

Uma morte calma, que a dor aquieta e esconde a cruz sobre a sua cabeça.

A vida era escura, e os clarões revelavam a voz.

A vida era surda, e os gritos despertaram a surdez.

Sem enxergar as cores, o desfalecido ouviu os gritos.

O chamado acendia a saudade e alimentava a dor,

Dando nós nos meus pulsos, prendendo-me ao passado, limitando o presente e queimando o futuro.


   Nas alturas, o medo me impedia de voar

E os gritos queriam tirar sempre o melhor que havia em mim.

Perder cansa, fadiga a alma, mas as derrotas te tornam mais forte.

Não permitiria mais perdas, aprenderia a viver livre pelo céu.


   Quebrei

Os meus pedaços espalharam-se pelo chão.

Minha carne cinza foi pintada com o sangue e, mesmo despedaçada, vibrou em vida.

A voz não me assombrava mais, quebrei com tanta força que a morte se tornou pequena.

E o medo que eu tinha dela desapareceu, abafando os gritos e escondendo-a em um túmulo profundo.

Os meus pedaços foram semeados pela terra

E cresceram fortes e firmes.


   Não ser regado pelo medo me fez entender que viver é correr riscos.

Saber lidar com a vida é ter coragem para florescer.

Deixar suas pétalas caírem e esperar por uma nova primavera.

Saber ficar e saber partir.

O mundo gira, e nessas voltas o seu destino é o mesmo de todos.

E no final, tudo o que vai restar são as lembranças.

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