Capítulo - 05
A voz, aquela tenebrosa voz voltou a zumbir em meus ouvidos gritando o nome do meu melhor amigo como se quisesse levá-lo de mim assim como levou Raysa. Ao ouvir aquilo meus olhos saltaram e eu paralisei por alguns segundos, na minha mente vinha o filme se repetindo a morte chamando por uma vida inocente, não sabia se aquilo tinha alguma relação comigo ou era apenas uma coincidência e tudo o que eu queria saber era como impedir que a voz gritasse o nome do Lucão.
Mesmo alguns metros longe eu corri o quanto podia para alcançá-lo, pois temia que se eu deixasse aquilo passar o resultado se repetiria. Quando Lucão me viu correndo em sua direção, ele abriu um sorriso pois pensou tratar-se de uma brincadeira nossa que sempre fazíamos de usar os indicadores para pressionar os cantos barriga um do outro e causar cócegas, mas esse seu sorriso logo se apagou ao ver minha expressão de medo e angústia.
Ao chegar perto dele os gritos abruptamente calaram-se, entre os suspiros da minha respiração carregada disse com a garganta seca:
— A voz!
— Voz? — Ele repetiu inquisitivo.
— Ela voltou a me perseguir, eu to com medo dela te levar igual levou a Raysa. — Comecei a falar várias coisas que não faziam sentido para ele.
Seu olhar era confuso ao me encarar, falei todas aquelas coisas e agora tinha medo de que ele não acreditasse em mim e me tratasse como um louco. Calei e esperei ele falar para ver o decorrer da situação.
— Calma. — Lucão disse pausadamente. — Não estou entendendo nada do que você está me falando.
Respirando fundo contei tudo sobre as vozes, os sonhos e tudo sobrenatural que me ligava a morte de Raysa, era tudo muito fantasioso, mas não poderia deixar de contar e quem sabe assim impedir que mais uma tragedia acontecesse. Obviamente ele não acreditou em nenhuma das minhas palavras, mas fingiu que sim e sua expressão entregava a verdade.
Lucão parecia cada vez mais preocupado comigo e eu com ele e para que seguíssemos em frente e afastássemos aquela estranha situação que se decorria no meio de uma movimentada rua, ele me olhou sério e disse:
— Eu vou contigo até a tua casa, não precisa ficar com medo dessa voz estranha que ta ouvindo.
Sacudi a cabeça em positivo e voltamos para a rua principal que era caminho da minha casa, todo o percurso foi estranho não sabíamos como conversar sobre o delicado assunto, da minha parte faltava detalhes concretos para explicar, e da dele parecia difícil crer naquela história e para não ser indelicado comigo num momento tão difícil quanto o que eu estava passando ele continuava a fingir acreditar no que eu tinha dito.
Chegando na minha casa abri a porta devagar e não havia ninguém por lá, minha mãe ainda estava no trabalho e meu irmão na casa da nossa avó, entramos e continuamos em silencio, pela minha mente corria tantas teorias uma inquietude que me fez expor:
— No dia em que eu acompanhei a Raysa até a casa dela eu tava ouvindo uma voz estanha chamar o nome dela, eu disse pra ela e ela não acreditou no dia seguinte...
— Ta dizendo que sabia que ela ia morrer?
— Não sabia, foi a primeira vez que eu tinha ouvido aquela voz, não sei dizer como, mas sinto que era um aviso e agora ouvi a voz chamar o seu nome.
Com explicação, Lucão pareceu tenso e passou a mão na testa para limpar o suor que escorria, ele ligou o ventilador e pediu para que me deitasse, acatei ao pedido, pois essas fortes emoções que passei recentemente haviam me deixado extremamente cansado. Lucão desapareceu por alguns minutos e logo depois apareceu na porta do meu quarto com um copo de água, ele se sentou na beirada da minha cama e me ofereceu:
— Tome um pouco de água. — Depois de me entregar o copo questionou. — Por que não me contou essa história antes?
— Como eu vou contar uma coisa dessas? — Depois de um longo gole de água continuei. — Para qualquer um que eu falar isso certeza que vai pensar que eu to ficando doido, até eu mesmo to me perguntando se eu to lelé.
— Eu entendo, mas eu sou seu melhor amigo devia ter me contado!
— Eu contei. — Depois de colocar o copo na mesinha continuei. — E sei que você não ta acreditando em nada, sua cara diz tudo.
— Eu acredito em você.
— Sei que ta mentindo, eu conheço sua cara quando ta mentindo.
— Como quer que eu acredite numa história dessas? — Revelando sua verdadeira opinião, Lucão disse. — É muito sobrenatural.
— Porque não diz logo que eu to ficando doido de vez? — Disse irritado.
— Não to dizendo nada, você que ta falando isso!
Estávamos nos desentendo, nunca tínhamos brigado antes era estranho discutir pela primeira vez com uma pessoa que sempre esteve do meu lado, essa é uma história difícil de se acreditar, mas sinceramente pensei que Lucão seria a única pessoa do mundo que jamais duvidaria da minha palavra. Estávamos irritados não olhávamos na cara um do outro, sempre desviado para o lado para evitar maior constrangimento, ele se levantou e disse:
— To indo nessa.
— Falou! — Disse baixo.
Não disse mais nada, pois devíamos nos distanciar para não brigarmos a sério e assim manter nossa amizade intacta mesmo com essa desavença. Tinha medo de deixá-lo ir e o pressagio se cumprisse, mas o que devia fazer como poderia impedir uma morte dita como sobrenatural, talvez nem um médico ou espírita capacitado fosse capaz disso.
Lucão encontrou a minha mãe na saída de casa e a cumprimentou, eles conversaram um pouco e ele contou sobre as vozes que eu estava ouvindo, não falou sobre a relação disso com a morte disse Raysa, contou basicamente que eu estava delirando e ouvindo vozes e que ela devia cuidar de mim, soube disso porque ela veio logo em seguida falar comigo. Enquanto ela falava várias coisas eu ignorava e brincava com Miguel. Depois do sermão que ela chama de conselhos eu fiquei o resto da noite vendo vídeos aleatórios no celular até adormecer.
Durante a noite meu sono foi invadido por uma escuridão sem fim, no final de tudo enxergava apenas uma pequena luz que flutuava como se fosse um vagalume branco eu segui essa pequena luz por algum tempo até encontrar uma fonte de luz que lumiava na extremidade de uma espécie de túnel, tinha medo do que poderia encontrar do outro lado, mas tinha ainda mais medo de ficar na escuridão eu caminhava devagar e cheguei bem perto da luz estendi a minha mão e a expus a claridade parecia seguro e então entrei com todo o corpo, a luz era bem forte então com os olhos entre aberto olhei para o emissor da luz os de longe vi os fótons se apagarem e serem consumidos pelas escuridão ao mesmo tempo que um grito ensurdecedor varou meus ouvidos:
— "Lucão!"
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