Capitulo 4: No templo dos Deuses.
Diante daquela criatura, ficamos estáticos e aterrorizados. Os seus grandes e vermelhos mostravam as suas intenções nada amistosas. Juro que pensei em fugir, mas uma força me impedia. Eu não queria acreditar que estava diante um vampiro, porém o que estava diante de mim me provava do contrario.
- O que vai fazer conosco? - perguntei apavorado.
- O que você acha? - responde a criatura.
As lágrimas de Olga escorrem no rosto.
- Por favor... Deixa a gente ir embora. Juro que não vamos contar nada a respeito de vocês. - diz a ruiva choramingando.
- Diga por você, Olga! - disse eu, jogando o meu último pingo de coragem. Se você escapar dessa, terá muita gente atrás de vocês. Nós trabalhamos numa organização muito poderosa. Se acontecer alguma coisa conosco, irás pagar muito caro...
Com desprezo, o loiro responde aos garotos:
- E daí? Não é a primeira vez que isso acontece.
- Luiz... Deixe os garotos em paz. - diz uma voz feminina. Precisamos de aliados e não de inimigos. Além do mais, estou cansada dessa eterna fuga.
O loiro se vira em direção da garota de cabelos pretos lisos.
- Sabe que não gosto de gente xereta. - diz com raiva em nossa direção. Mas seguirei o seu conselho. - e se transforma numa forma menos agressiva e muito mais humana.
- O que vocês são? - pergunto. Monstros?
A mulher nos olha com os braços cruzados e com desdém.
- Sinceramente... Não sabemos. Apenas nascemos assim.
- Como "nasceram assim"? - pergunto.
- Desde que entendemos por gente. - completa o loiro. Nunca tive uma explicação lógica sobre esta situação. Só sei que começou na adolescência, tive transformações hormonais totalmente diferentes os da minha idade. No meu caso, foram estes poderes similares a de um vampiro, porém, quero deixar bem claro, que não sou um sanguessuga ou parasita e não sinto qualquer atração pelo sangue humano ou de qualquer espécie de ser vivo.
- Será que é uma espécie de mutação ou doença? - divaga Olga.
- Tenho que estuda-los. - digo. Não posso dizer nada até que os examine. Mas pelo que vi... Não é nada de humano. Um homem que se transforma em névoa? Uma mulher que recebe mais de um milhão de Volts e sobrevive?
- Quero dizer que fui eu que provoquei aquela descarga elétrica. - diz a mulher.
- Como assim? - pergunto. Nenhum humano pode armazenar tanta energia!
- Não sei se alguém pode fazer isso, mas posso provocar este fenômeno. Quer que prove?
A mulher faz alguns gestos e uma bola de energia surge em sua frente. Diante dos meus olhos o impossível acontece. Uma esfera de energia no tamanho de uma bola de futebol fica flutuando próximo de mim e quando estava prestes a toca-lo, a mulher me alerta:
- E melhor não toca-la. Luiz fez isso uma vez e voou por duzentos metros.
- Acredite, sou muito mais resistente que você, garoto! - diz o loiro. Mas me machuquei muito...
Em outro gesto, a esfera desaparece num piscar de olhos. Como nunca estivesse existido.
- Caramba! - exclamei. Isso é legal demais! Eu nunca vi este tipo de coisa. É como nas histórias em quadrinhos, aqueles de super - heróis, poderes fantásticos, façanhas extraordinárias e lutas titânicas.
- Se eu fosse você, não ficaria tão empolgado. - disse o loiro. Tive mais problemas que aventuras. Você não sabe o que é ficar a juventude inteira em clinicas psiquiátrica e as pessoas te chamarem de aberração. Os seus pais se acusarem mutuamente, por você nascer.
- Ou ser perseguida por organizações que nunca ouvi falar que querem usar você por algum motivo que jamais gostaria de saber. - conclui a mulher. Lutamos muito por nossa liberdade. Acho que é muito perigoso que vocês fiquem sabendo de nossa existência.
- Nós trabalhamos para uma firma. - diz Olga. Acho que podemos ajuda-los, basta um telefonema e...
- Por favor, não faça isso! - exclama a mulher. Não queremos ser expostos como animais. Imagine a nossa vida como ficaria.
- Não pensaria duas vezes em mata-los. - diz o loiro.
Ao dizer estas palavras, senti um calafrio, pois tive consciência o que eles são o que passaram e o que são capazes de fazer por sua liberdade.
- Se quiserem partir, podem ir. Não vamos impedi-los. - disse eu. Não acho justo que nossa curiosidade provoque tanto sofrimento para vocês. Nós devemos sair do quarto deles, Olga.
- Tem razão, Rodrigo. - diz a ruiva resignada. Acho que a nossa ajuda poderia até atrapalhar o sossego deles.
Neste momento, peguei a mão de minha namorada e começamos a sair do quarto. De súbito, a voz da mulher interrompe a nossa saída.
- Que tipo de ajuda? O que poderiam fazer por nós?
Olga foi brilhante ao dizer as seguintes palavras:
- Não gostaria de encontrar outros que estão na mesma situação que vocês?
A reação foi imediata.
- Como assim outros? - exclama o loiro. Acho que somos os únicos!
- Duvido! - diz a ruiva. Seja o que for, é impossível que aja apenas dois como vocês. No mundo sempre há, por exemplo, gênios como nós, uns duzentos e cinquenta indivíduos no mundo. Certo, Rodrigo?
Fui evasivo.
- Se você está dizendo...
- Acredito que vocês são a maior descoberta da humanidade. - diz Olga empolgada. Se existir realmente mais seres como vocês, estamos na maior revolução evolutiva da humanidade. O fim do homo sapiens sapiens para o homo sapiens superior. Que extraordinário!
- Não acho que seja hora de fazer conjecturas a respeito deles. - fui colocando água fria nos delírios de minha colega. Devemos ajuda-los a entender o problema e, se houver outros, uni-los para que possam, na medida do possível, serem felizes.
O loiro colocou a sua mão pesada em meu ombro.
- Acho louvável a sua tentativa de nos ajudar, mas não acha perigoso que sua boa intenção possa, de alguma maneira, prejudica-lo? - diz ele.
- A vida é um risco, Sr Luiz. Se não ajuda-los, quem vai? Até quando vocês continuarão fugindo de um lado a outro do mundo? Nós temos os meios para realizar esse objetivo.
- Entendo a sua boa vontade, Rodrigo. - diz a mulher. A questão é como?
- Não subestime a nossa criatividade. - respondo.
O dia começa e os nossos novos hospedes estavam sentados vendo o Sol surgindo no horizonte, entre as montanhas. Estavam abraçados, como qualquer casal apaixonado. Olga e eu ficamos os observando e decidindo o que fazer.
- Ainda acho que deveríamos avisar os nossos superiores.
- Costumo-me por no lugar das pessoas, Olga. Certamente não gostaria de ser observado e examinado por uma legião de cientistas.
- O que acha que vamos fazer com eles? - diz a ruiva com um ar de deboche.
- Pelo menos, não serão enjaulados. - respondi.
- O que vamos fazer, chefe? - diz ela irônica.
- Que tal pedir a eles que façam alguns testes? Saber os limites dos seus poderes e tentar descobrir se eles têm mais poderes ocultos.
- Bem, posso pensar algo a respeito. Agora, o que você irá fazer? Ou vai deixar o trabalho pesado para mim?
- Vou pesquisar. Faz tempo que não brinco de "hacker". Acho que alguém ou algum grupo já esteja os procurando e, talvez, um grupo de seres similares que estejam recrutando "novos membros". Como pode ver, o meu trabalho é muito mais "pesado" que o seu.
A ruiva dá uma dúzia de ruídos inaudíveis.
- Algum problema? - pergunto.
- Nenhum. - diz com raiva. Vamos?
Logo começamos os nossos afazeres. Eu procurei fazer a minha pesquisa no mais novo modelo de PC que desenvolvi. (Sinceramente, não gosto dos computadores a base de silício, afinal, são muito lentos. Por isso, tenho criado, juntamente com Olga, os orgânicos - sintéticos, além de serem muito mais rápidos, posso "mergulhar" em uma realidade virtual muito mais realista.) Já a minha colega, teve o prazer de passar à tarde com os nossos novos amigos.
Depois de horas infrutíferas, fiquei desapontado, pois procurar por algo que não se tem a menor idéia o que seja é muito frustrante. A busca de novidade fui procurar a minha parceira e tive uma boa receptividade. Estava muito animada...
- Rodrigo! - diz a ruiva empolgada. Você não tem idéia do que eles são capazes de fazer.
- Imagino...
- Não! Não imagina. Acredita que aquela garota é uma espécie de feiticeira do clima. Sabe... Ela controla toda atividade atmosférica num raio de dois quilômetros quadrados. Ela fez nevar em pleno Verão! Fez uma tempestade em miniatura! Foi incrível!
Sem demostrar surpresa, fiz menção de afirmação.
- É como ficar diante Deuses. - os seus olhos brilhavam. Rodrigo, tenho certeza que, se encontrar outros como eles, o mundo está diante de um novo panteão divino. Só que de carne e osso.
- É esse o problema. Há o poder humano.
- Como?
- Agora entendo... Nunca vou encontrar coisa alguma no computador. Oficialmente eles não existem é nunca vão existir.
- Por quê?
- Não seja ingênua! - disse a ela. Eles foram criados por algo ou por alguém e estão deliberadamente censurando qualquer coisa a respeito. É impossível que exista somente eles, mas são escondidos a todo custo e se for o que estou pensando estamos em grande perigo.
- Que tipo de perigo, Rodrigo?
- Eu não sei. Porém, deve ser algo muito poderoso.
- Pode ser seres como eles?
- São muitas hipóteses, uma empresa, uma sociedade secreta, um grupo, um gênio do "Mal", extraterrestres, qualquer coisa. Mas tem um relativo poder, pois não existe nada a respeito...
- Já tentou na área da ficção? De repente, alguém já tenha entrado em contato com estes "seres" e ninguém acreditou ou não "autorizou" acreditar, entende?
Uma Luz brilha em minha cabeça.
- Você é genial, garota! - e a beijei.
- Isso, eu já sabia! - diz sorrindo.
Fui correndo ao meu terminal virtual. (Caro leitor, como sou fã de filme de ficção científica e entendo a empolgada visão futurista que esteja imaginando, mas, infelizmente, as coisas não funcionam assim. O meu terminal se resume a um capacete, luvas, fios e um aquário de uma cor amarelada.{É o meu PC último tipo, legal né?} Como podem ver, não faço propaganda exagerada como fazem certos países que inventam certas coisas e fazem estardalhaço, no final, não é nada de mais.) Coloco o meu capacete e ativo a unidade.
Depois de algumas horas, descobri mais de (pasmem) mil e duzentos casos ditos "de ficção" a respeito de contatos com "seres" no mundo todo. São livros, revistas, contos, poemas, etc. Em vários períodos na história. Lógico que não estou falando de ficção, mas aqueles que juram que os fatos são verídicos. No Brasil, encontrei três, um deles no século XVIII, outro no início do século XX e o último é um livro chamado "Os Gigantes" escrito por Samanta Vargas.
Para minha alegria, o livro é recente e pude compra-lo na Rede. (Afinal, gosto de ler.) Deu para ter um resumo e comentários do livro na Rede. O livro conta a história da autora que foi seqüestrada por um grupo de "superseres". (Foi o termo que usou.) Conta, também, como foi aterrorizada por eles e sua heróica fuga. Os críticos dizem que o livro é uma fantasia insana formulada por uma jornalista sensacionalista. O livro não teve muito sucesso e obteve poucas vendas.
Não é preciso dizer que resolvi conversar com a autora.
- Alô? - disse por telefone. Gostaria de conversar Samanta Vargas, ela está?
Seca, responde:
- Está falando com a própria. Quem é?
- Bem, eu li o seu livro e gostaria conversar a respeito dele...
- Qual deles?
- Os Gigantes.
Com aspereza, diz:
- Tudo que podia falar a respeito do livro está minha página na Rede. Por tanto, não tenho nada o que falar a respeito.
Senti que iria desligar o telefone e usei a única alternativa possível para prendê-la.
- Eu os encontrei. Preciso de sua ajuda. - disse fingindo aflição.
- Como e que é?!
- Senhora... Sei que passou por muitos constrangimentos, mas os encontrei será que posso conversar e pedir a sua ajuda.
Desconfiada, responde:
- Que tipo de ajuda?
É nessas horas que valeu a pena todos aqueles livros de psicologia.
- A minha mãe é dona de um hotel e um dia hospedaram um grupo muito estranho.
- Como assim, estranhos? - pergunta com sua curiosidade jornalística.
Caro leitor, preciso adiantar que já tinha lido o livro dela antes de telefonar para a autora. Claro que é impossível registrar num romance como um diário, pois ficaria deveras maçante. Por isso, peço desculpas pela ocultação proposital deste fato.
- A aparência deles... Sei lá... - disse simulando um garoto de minha idade. São muito "sinistros". Caraca! Dá vontade de sair "vazando". Olha, dona. Outro dia vi um deles comendo um rato vivo! Muito nojento!
- É mesmo... - responde a mulher no outro lado da linha.
- E as minas. Dá medo! Uma delas tinha uma aura do Mal, sabe?
- Incrível! - diz ela. Você deve ser uma pessoa de hábitos muito solipsos.
- Como assim? Eu não sou nenhum eremita ocioso... Ahn?! Que disse, dona?
- Garoto... - diz a jornalista. Não nasci ontem. Ninguém de sua idade se interessaria em uma obra de ficção como a minha e ainda usa um monte de gírias fora de moda e sem nenhum respeito regional. Além do mais, o meu telefone não está em nenhuma lista telefônica. Creio que você seja, no mínimo, um "hacker"! Sabe que eu acho, se você me procurou deve ter encontrado outros superseres, pois, com certeza, não eram "Os Gigantes".
"Peguei-te!" Pensei. Ela é inteligente, mas ambiciosa. Sabia que fingisse ser uma pessoa solitária que descobrisse a existência de "superseres" faria o que fiz e ela demonstraria interesse. Porém, um comentário dela me deixou desconfiado, como sabe que o os "superseres" que encontrei não são "Os Gigantes"? Será que os seres que narra são imaginários?
- Tem razão... - fingindo estar confessando. Eu encontrei os tais "superseres", mas eles partiram. Quando li o seu livro, descobri que se tratava deles e pensei que se procurasse alguém que tivesse passado a mesma experiência, talvez me desse uma Luz.
- Agora sinto uma aura de veracidade. - diz a mulher no outro lado da linha. Sabe, garoto. Temos fatos que nos causam surpresa ou espanto, porém o que passamos são experiências únicas e ninguém vai te privar disso.
- É verdade... Acho que tens razão... Bem, desculpe tê-la incomodado. - disse em tom de despedida.
- Ei, garoto! Espere! - diz a mulher. Que tal conversamos sobre a sua experiência? Afinal, não é todo dia que encontramos seres tão extraordinários, não é?
Quase não contive o riso.
- O que quer que faça?
- Da onde você está falando?
Tive que mentir.
- Rio de Janeiro, capital.
- Pelo meu prefixo sabe que sou de São Paulo. Acho que tenho negócios no Rio nesta semana, por que não conversamos? Tem um restaurante ótimo e discreto na Barra. Topa?
Respondi que sim e marcamos tudo. Depois de uma conversa de encerramento e uma troca de telefones, (No meu caso, um celular pré-pago.) retornamos aos nossos afazeres.
Minutos depois, fui conversar com Olga a respeito do telefonema.
- Acho que foi uma estupidez! - diz ela irritada. Uma jornalista? Era melhor entrega-los aos cientistas.
- Não acho. Sabe, essa tal de Samanta Vargas teve a carreira destruída por causa dessa história. Uma pessoa que dedicou a esse tema como ela e teve o final que teve. Não creio que seja trapaceira.
- Não é isso. Não acho que seja uma picareta, mas uma jornalista que perdeu a sua reputação e descobre um rapaz que pode servir testemunha... Não sei não...
- A vida é um risco. Além do mais, aquela mulher deve ter mais detalhes do grupo que descreve no livro.
- Como também acha que tenha dos seus... - indaga Olga. É um risco muito grande, Rodrigo. Eu não quero me sentir culpada por coloca-los numa situação incomoda.
- Olha só quem fala. - digo. Há pouco tempo estava querendo entrega-los aos cientistas de nossa firma.
- Tá certo. Agora, eu gosto deles! Tá legal! Quero o melhor para eles e ponto.
Sorrindo, digo:
- Essa é a minha garota. - e a abraço.
Relaxada, Olga retribui a minha ação.
- Rodrigo...
- O que foi?
- Olha só quem está dependurado lá no teto.
Quando olho, vejo o loiro de cabeça para baixo, como um morcego, sorrindo e olhando para nós.
- Certas decisões deveriam ser decididas em grupo, não acha? - diz ele.
Senti um calafrio subindo toda a espinha. Olga e eu nos separamos.
Segundos depois, o loiro se solta do teto e cai como um gato, em pé.
- Pensei que você dormia de dia. - tentando ser irônico. Sabe, como os vampiros normais.
- Tenho poderes de um vampiro, mas não sou um, Rodrigo. - responde sorrindo e mostrando os grandes caninos. Descobri isso quando um grupo de dez enfermeiros me jogou num pátio aberto ao meio dia. Quando foi isso? Ah, sim! Aos treze anos. O pior monstro é aquele que habita dentro de nós e não o que aparenta.
- Você deve ter sofrido muito, Sr. Luiz? - pergunta Olga.
- Os nossos poderes são partes de nós e não um acessório. Talvez que eu e Claudia tenhamos algo em comum, apesar de nossas diferenças. O poder dela o faz parecer uma fada. Sabe, ela fica linda quando a usa e eu pareço um monstro. Garotos, sinto que vocês quem realmente nos ajudar, mas procurar um outro grupo...
- A ideia é essa, Sr. Luiz! - exclamo. Esta situação que está passando pode ser dividida com outros que tenham o mesmo tipo de problema. Como nos alcoólicos anônimos, ajuda psicologicamente vendo o seu problema no outro.
- Quando estudei os seus poderes, descobri que há uma espécie afinidade entre vocês. - diz Olga com os olhos brilhando. Principalmente, da parte dela. Noto que o dia sempre é nublado ou muitas nuvens quando vocês passeiam nos jardins do hotel. Ela ama você. Eu não acho que um monstro desperte tanto carinho de uma mulher como ela.
O homem olha para a menina e sorri afagando a sua cabeça.
- Desculpe tê-la hipnotizado. Devia ter te conhecido melhor.
- Eu que peço desculpas. Por pensar que eras um monstro.
Nós três nos abraçamos. Neste momento, entra Claudia e comenta:
- Perdi alguma coisa?
Fim do capítulo quatro.
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