IV - Perigo na Terra
No outro dia, era sexta-feira, no pátio da escola, quando um homem se aproximou de Ivy e ela lanchava na cantina. Ele trajava uma calça esporte preta e uma camisa azul com listras verticais brancas; seu cabelo era castanho escuro e ele o penteava para direita partindo-o de lado. A secretária olhou para ele e viu que o conhecia:
— Gostei de seu disfarce, Ann.
— Collin! Você quer estragar tudo me chamando pelo nome. O que o traz aqui? Precisa me ajudar e não atrapalhar... Não é comum uma secretária de escola receber visitas enquanto trabalha.
— O motivo é relevante, você vai entender — ele disse retirando um objeto de uma pasta preta que segurava em suas mãos.
Ivy ficou curiosa e ele continuou:
— Agente Soliver, eu trouxe o exemplar dos óculos de reconhecimento de transmutados que pode ajudar você a reconhecer algum suspeito nesta escola.
Estes óculos especiais haviam sido obtidos de um extraterrestre que fora estudado pela agência de capturas na base do governo no Arizona há muitos anos. Ele havia morrido e deixara esta tecnologia que não conseguiram copiar.
Os óculos funcionavam perfeitamente e eram estratégicos, porque permitiam reconhecer seres transmutados por causa das radiações eletromagnéticas emitidas pelos corpos com esta condição.
— Por favor, me chame de Ivy. Assim você está se esforçando para estragar meu disfarce. Ainda mais me chamando de agente. Pelo amor de Deus! Nem parece que você é um membro da equipe Alfa-Ômega do Pentágono.
— Tudo bem, não farei mais isso. Mas pegue os óculos. Já os usei enquanto esperava a hora do recreio e não vi nenhuma pessoa estranha.
— Como conseguiu entrar na escola?
— Mostrei meu distintivo e disse que trabalhava para o governo. Usei a desculpa de que estava fazendo uma verificação de rotina na segurança da escola. Disse que fazia uma inspeção para saber se as instituições de ensino do país estavam preparadas para eventos calamitosos como incêndios, ciclones e coisas parecidas e eles me deixaram entrar.
— Se acreditaram, está bem. Obrigada pelos óculos. Vou usá-los com frequência durante os intervalos das aulas e se houver um extraterrestre por aqui, vou achá-lo.
— O chefe Steighem me confidenciou que uma grande agência internacional está sendo organizada para agrupar todos os serviços secretos de investigações sobre extraterrestres em um único órgão globalizado. Este se chamará AMPT, Agência Mundial de Proteção à Terra, e há chances de o chefe ser o diretor do órgão devido à sua experiência na captura de seres alienígenas. Este órgão será subordinado à ONU e as obras para sua sede já estão bem adiantadas. Se você for bem-sucedida nesta missão, poderá ser promovida e receber algum cargo de chefia, assim como eu. Vamos trabalhar como uma equipe. O que acha?
— Demais.... Adoraria participar dessa nova Agência. Imagine se pudermos trabalhar juntos com agentes de outros países e ter à nossa disposição uma base de dados internacional como se fosse uma Interpol para capturar "ETs"!
— Ainda bem que gostou da novidade. Sempre gostei muito de você. Você deve saber disso. — Collin quase revelou o amor que sentia por Ann.
Ele sempre escondera a atração que tinha pela agente com medo de não ser correspondido e de perder a sua companhia. Também tinha receio que se a agência descobrisse, resultaria na perda de seu emprego. O relacionamento amoroso entre agentes não era aceito em hipótese alguma pelo órgão. Isso comprometeria a eficiência das investigações, segundo as regras de comportamento da agência.
Ann sentiu que Collin parecia querer dizer algo mais, no entanto ignorou o fato já que nem de longe passava pela sua cabeça que pudesse ter alguma coisa com ele.
— Ficaremos em contato. Se precisar de ajuda ou de apoio para capturá-lo não hesite em nos chamar — disse o agente Netil já indo embora.
Ann levantou a mão levemente para se despedir. Ela, disfarçadamente, pegou os óculos com as duas mãos e colocou-os sobre os olhos.
A curiosidade era muito grande e ela não podia esperar mais tempo. Girou a cabeça para todos os lados e observou as crianças que circulavam pelo pátio. Algumas estavam sentadas nas escadas de acesso às salas de aula. Ann passou a usar seus óculos capazes de reconhecer aliens transmutados por onde andava.
Durante o recreio observava todas as pessoas que transitavam pelas dependências da escola. Ninguém escapava de suas suspeitas, nem mesmo a professora que presenciara o fato ou o diretor. Ela sabia que os extraterrestres podiam se transmutar em qualquer pessoa.
Helen não gostou de Ann quando a viu no pátio. Apesar de não saber quem era aquela mulher, alguma coisa nela lhe passava uma energia ruim.
A agente Soliver não conseguiu perceber ninguém estranho no local. Helen brincava com suas colegas na hora do recreio e sua presença ficou no raio de observação de Ann. Entretanto, Helen havia nascido com a forma terráquea de Nícolas. A dominância genética terrestre estava naquele instante protegendo a menina e ela não sabia disso e nem poderia imaginar que corria tamanho perigo. Principalmente, agora que não havia ninguém para protegê-la. Seus pais e seu avô extraterrestre estavam longe dali e ela estava indefesa.
O espião Dargan continuava sua rotina de trabalho no Instituto, reservando um tempo para namorar com Rachel à noite e aos finais de semana. A moça o cativava cada vez mais e ele não conseguia parar de pensar nela. Talvez aquele fosse o amor que os humanos antigos tanto idolatravam.
Sophia, por outro lado, ao perceber o completo desinteresse dele, não o procurou mais, de coração partido. Depois de um tempo sem notícias, Dargan resolveu tomar uma atitude. Alugou um carro para não levantar suspeitas e começou a observar a rotina da família do seu inimigo em horários diversos.
Precisava dar um jeito de descobrir se a esposa e a filha haviam obtido alguma pista de Merko nesse período. Podia até tentar se aproximar de Sophia, mas como, sem ela pressioná-lo em direção a um romance?
Estava parado ali, em meio às sombras, pensando nisso, parado a certa distância da casa dela, quando alguém chegou perto dele, chamando a sua atenção:
— Oi!
Hans levou um susto e se xingou mentalmente quando viu que Sophia estava bem à sua frente.
— O que você está fazendo parado, aqui na minha rua? Fui até a padaria buscar pão fresco e vi você... — Ela indagou, desconfiada.
Sophia até pensou em evitá-lo, mas ele estava observando a casa dela. A moça achou aquilo muito estranho.
— Eu.... Eu estava...
— Já sei. Você andou meio sumido e ficou receoso de me procurar... Me evitou este tempo todo não sei porquê.
— Isso mesmo — ele aproveitou a deixa. — Resolvi dar uma passada por aqui para vê-la. Como demorei a procurá-la, fiquei envergonhado. Precisava pedir desculpa para tentar ser seu amigo.
— Eu já havia avisado que cheguei faz alguns dias e você nem se preocupou em me ver, depois de todo este tempo. Acho melhor a gente deixar as coisas para lá mesmo, cada um seguir o seu caminho. Podemos ser amigos sim, mesmo porque sempre nos veremos na faculdade e, na verdade, não tenho nada contra você. Tenho outros problemas para resolver que ocupam bem mais a minha cabeça.
Ele sorriu, sem graça, ao ouvir ela falar sobre a irrelevância dele, mas no fundo era isso o que queria.
— Todos da sua família voltaram?
— Não. Somente eu, minha mãe e sobrinha. Mas por que quer saber?
— E onde os outros estão? — Hans continuou a indagar.
— Esta é uma pergunta cuja resposta nós também queremos saber. Meu irmão, minha cunhada e padrasto sumiram como num passe de mágica, e até agora não mandaram notícias. Falaram de uma história meio louca de uma invasão que aconteceria aqui no país — Sophia o fitou, inconformada — Hans, eu estou terminando com você e me pergunta sobre a minha família? Parece que vive no mundo da lua!
Ele, vendo que havia dado uma mancada, resolveu desconversar e se preparar melhor para conversar com Sophia. Ela parecia ser uma moça inteligente e não poderia vacilar ou estragaria seu disfarce.
— Desculpe-me Sophia, preciso ir agora. Só queria ver você para resolver isso que me incomodava. Estava com saudades e fico feliz que tenhamos nos acertado. Esta semana nos veremos na faculdade.
— Não sei que saudade você sentiu que ficou tanto tempo sem me ver. Acho que você tem sentimentos tão volúveis quanto a sua personalidade.
Hans abaixou a cabeça depois de ouvi-la e foi embora, sem demonstrar nenhuma tristeza.
"Que estranho. Para ele, era como se eu fosse uma desconhecida. Aquele homem frio como a neve, não era o mesmo que eu conheci", ponderou Sophia, sentindo o coração livre de um peso imenso.
"Preciso fazer as minhas investigações com mais discrição. E se fosse Merko que me visse ali? Ele é um homem perigoso e se desconfiar que estou vigiando sua casa virá atrás de mim. Todos no planeta Vida sabem que ele nunca falhou em suas missões".
Na segunda pela manhã, o espião se teletransportou para o colégio de Helen. Tentaria se aproximar da criança que poderia revelar mais informações sobre o paradeiro de Merko. Seu intento com Sophia havia sido um desastre. Quem sabe na escola da menina conseguiria alguma informação?
"Crianças contam tudo", pensou.
Ele havia entrado no sistema de informação interno da escola e soube que havia sido pedida uma manutenção elétrica em um dos prédios. Por isso, apresentou-se na secretaria com um uniforme da companhia de eletricidade da cidade, com identificações falsas.
Esperou até a hora do recreio para observar as crianças brincando. Enquanto fingia que olhava a caixa central de energia, ele localizou Helen, brincando com outras crianças.
Ele começou a mexer nos painéis de disjuntores elétricos, esperando uma oportunidade de abordar a menina. Entretanto, ele nem imaginava que o pior estava para acontecer, já que Ann chegou ao pátio naquele mesmo instante, como sempre fazia diariamente. No rosto, os óculos escuros de reconhecimento estavam à procura de sinais extraterrenos.
"Estou quase desistindo desta investigação. Por semanas fico observando todas as pessoas desta escola e nada acontece", pensava, desanimada.
De repente, seu tão esperado momento ocorreu, quando ela se deparou com Dargan, que revelou, graças aos óculos, a sua identidade alienígena. Ann parou por um momento, e pensou como a sorte finalmente lhe mostrara o caminho. Não sabia se deveria confrontá-lo ali mesmo, porque haviam crianças demais ao redor. Embora estivesse treinada para combates, o mais sensato seria pedir ajuda aos agentes da organização.
Por isso, ela pegou o celular e, imediatamente, ligou:
— Collin, você não vai acreditar no que estou vendo.
— O que houve, Ann? Diga logo, estou em uma missão.
— Nosso alvo apareceu. Ele está aqui na minha frente. O que devo fazer?
— Espere aí! Eu estou indo o mais rápido possível.
O agente Netil ligou para seu chefe; começou a preparar a abordagem e prisão do alvo extraterrestre. Um comando especial do exército foi destacado para a missão e um jatinho levava mais agentes para Los Angeles.
Pouco tempo depois, o diretor da escola recebeu um telefonema do prefeito da cidade, que ordenou para terminarem as aulas imediatamente e mandassem as crianças para casa. Depois prometeu que explicaria as razões daquilo. O sinal ressoou pelas paredes da escola.
Ann ficara ali todo aquele tempo, sem tirar os olhos do suspeito. Aquela missão lhe valeria a melhor promoção de sua carreira. Em contato com o agente Collin Netil, sabia que em questão de minutos tudo estaria cercado.
Só que Ann nem imaginava que estava lidando com um soldado treinado pelo próprio Merko, pronto para qualquer tipo de combate.
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