Após um longo período de espera é anunciada a chegada de Ivan, juiz representante das feras noturnas. Lídya, já impaciente, se levanta e já vai dizendo:

- Qual seria o motivo da sua demora para chegar aqui? Estamos te esperando há horas Ivan!

- Que seja! Eu já estou aqui, não estou? Diga-me logo o que é de tão importante que vocês têm para me falar. - Disse Ivan.

- É sobre o seu filho! - Disse Sebastian.

- O Ryan? Posso saber do que se trata? - Indaga Ivan.

- Parece que ele está envolvido no caso do assassinato do policial na floresta. - Disse Lídya.

- Essa é uma acusação muito grave Lídya, você por acaso tem provas? - Indaga Ivan.

- Não se vai à uma guerra sem armas, não é mesmo? A não ser que você queira morrer mais cedo. - Disse Lídya.

- Muito, bem, vocês têm minha atenção, o que querem que eu faça? - Perguntou Ivan.

- Ora, não é óbvio? Traga o Ryan aqui! - Disse Sebastian.

- Muito bem, vou chamá-lo, mas que fique claro que por essa importunação haverão consequências graves. - Disse Ivan.

- E claro que isso só irá acontecer se Ryan realmente for inocente. - Acrescenta Lídya.

E assim, Ivan ordena que um de seus subordinados vá a procura do filho. Não demora muito até que o subalterno retorna, e com a respiração ofegante diz:

- Seu filho não se encontra na base senhor!

- O que disse? Tem certeza disso? - Indaga Ivan.

- Sim senhor, e pelo que pude identificar no nosso sistema de segurança do portal não há registros da entrada dele aqui desde ontem a noite!

Ao ouvirem tudo aquilo que o subalterno acabara de relatar, Lídya e companhia passam a encarar Ivan dirigindo-lhe olhares indagativos.

- Ora, por acaso não estão pensando que só porque o meu filho não dá as caras desde ontem ele é assassino daquele humano, estão? - Indaga Ivan

- Mas é claro que não! Entretanto isso o torna o nosso suspeito número um, e vale ressaltar que até então ele é o nosso único suspeito! - Disse Lídya.

- Só por que ele esteve fora? Pelo amor de Licáon*¹! Vai precisar de bem mais do que isto se quiser culpar o meu filho!

- Você é mais inteligente do que isso Ivan, e sabe muito bem que todas as suspeitas caem sobre o Ryan, mas se realmente acha que ele é inocente vou lhe dar a oportunidade de provar para nós. - Disse Lídya.

- Oportunidade? Caso não saiba temos poderio igual neste tribunal, então não pense que pode me dar ordens! - Esbraveja Ivan.

- Que seja! Você tem vinte e quatro horas para apresentar o seu filho no tribunal, caso isso não aconteça ele será declarado culpado pelo incidente na floresta e, tratado como fugitivo por não comparecer perante todos nós! E claro, como de costume também será exilado da base! - Diz Lídya em resposta.

- Você não tem o direito de me dar ordens Lídya! - Acrescenta Ivan.

- Eu sozinha não tenho todo esse poder, mas, assim que eu prestar uma queixa formal solicitando a presença do seu filho e ele não estiver aqui, para quem de nós dois você acha que o júri dará a carta branca? - Indaga Lídya.

- Então esse é o seu preço? Eu trago o meu filho até você e em troca o júri não toma conhecimento disso? - Perguntou Ivan balbuciando.

- Está vendo? Até que você é bastante esperto para uma fera! Vamos rapazes! - Disse Lídya dando as costas para Ivan.

- Não pense que isso ficará assim Lídya! Eu provarei a inocência do meu filho, e você pagará por esses seus insultos! - Berrou Ivan ao longe.

Já do lado de fora do tribunal, Lídya diz:

- Sebastian, por favor, fique aqui e me mantenha informada sobre cada passo que aquele cão sarnento der.

- Está bem senhora Lídya. - Responde Sebastian.

- É muito importante que ele não note a sua presença, por isso aja discretamente.

- E quanto a mim? - Indagou Christopher.

- Você, meu caro Christopher virá comigo para uma lição especial sobre magia! - Disse Lídya sorrindo levemente.

- Com todo o respeito mas, de que tipo de "lição" estamos falando? - Perguntou Christopher ainda confuso.

- Hoje vamos caçar um certo lobo fugitivo que não gosta muito de dar as caras.

- Perdão por interromper Lídya mas, não está pensando em procurar o filho do Foster, está? - Pergunta Sebastian.

- Pode ter certeza que sim Sebastian! Se realmente for o culpado ele tem que ser julgado!

- Tem toda a razão mas, me preocupo mesmo com o Chris, você realmente acha ele dá conta?

- Não precisa se preocupar comigo Sebastian. Eu não sou mais um feiticeiro iniciante!

- Tudo bem, você quem sabe. - Disse Sebastian dando de ombros.

- Os dois já terminaram a discussão? Se sim, Christopher me acompanhe vamos até a minha casa antes de dar início a busca.

De volta ao jornal, Lisa se encontra com Cassy próximo a um bebedouro, Cassy sabia que sua amiga queria lhe contar algo pois estava sorrindo, mais do que de costume.

- Tá legal, me conta.

- Contar o quê? - Indaga Lisa ainda sorrindo.

- O motivo de tanta felicidade é óbvio! O que foi que aconteceu de tão legal?

- Aconteceu? Não... Ainda vai acontecer.  - Disse Lisa pausadamente.

Cassy começa a pensar no que poderia ter deixado Lisa tão feliz e de maneira imediata a resposta vem à sua mente.

- Não me diga que você vai sair com o Brian!?

- Já vi que não consigo esconder nada de você. Está tão óbvio assim?

- Está tão óbvio que sou obrigada a te impedir de sair com ele!

- Eu não sou mais criança Cassy! O Bryan parece ser um cara legal, fora que já faz um bom tempo que não dou uns amassos com alguém! - Disse Lisa suspirando.

- Eu não posso acreditar no que estou ouvindo! Você mal o conhece e já quer fazer sexo com ele!?

- Alto lá, Cassandra! Sexo não! Ainda não, mas se ele quiser... - Disse Lisa mordendo os lábios.

- Só me promete que não vai fazer nada de que se arrependa depois.  - Disse Cassy dando as costas para a amiga.

- Claro, eu prometo! E aonde você vai?

- Eu tenho que dar uma palavrinha com um certo funcionário daqui. - Respondeu Cassy sarcasticamente.

Lisa a princípio não entende o que a amiga diz, e logo retorna a beber mais água, dessa vez dando alguns pulos de alegria. Retornando para a redação, Cassy se dirige à mesa de Brian que se encontrava sentado com as pernas para cima, ela se aproxima dele e retira as suas pernas da mesa fazendo com que ele quase caísse no chão.

- Tá maluca garota? O que foi que eu te fiz agora?

- Não fez nada, e nem vai fazer!

- Do que você tá falando?

- A Lisa me contou que vocês vão ter um encontro, e aqui vai o meu recado: Nem tente beijá-la, não ouse tocar nela, e  nem pense em fazer sexo com ela! Eu não quero que ela tenha contato com toda essa coisa nova que eu ainda estou tentando digerir.

- Você age como se fosse a mãe dela, mas, já parou pra pensar que talvez ela queira tudo isso? - Indaga Brian.

- De todas as pessoas aqui, você é a que eu menos consideraria como inocente!

- E o que você quer dizer com isso?

- Eu quero dizer que eu tenho quase cem por cento de certeza de que você a induziu à isto!

Brian, rapidamente, muda a sua afeição tornando-a mais séria e fria o que fez Cassy se assustar e consequentemente não conseguir reagir, ele se levanta da cadeira e passa a se aproximar cada vez mais da jovem que agora passara  a dar passos para trás, entretanto, Brian não parava e continuava indo em sua direção e a medida em que caminhava para trás Cassy ficou sem ter para onde escapar já que havia uma parede bem atrás  dela. Brian, por sua vez põe uma de suas mãos sobre parede enquanto a outra acariciava a face assustada dela.

- É nítido que você tem medo de mim, e também sei que você teme que eu possa fazer algo de ruim com a sua amiga mas eu vou te dizer uma coisa e só vou dizer uma vez, por isso, presta bastante atenção garota: Eu não vou matá-la se é o que está pensando, e muito menos beber o doce sangue que flui no corpo dela, mas, se ela me pedir para fazer algo com ela, tenha a certeza de que eu vou fazer! Eu espero que você fique mais tranquila e me deixe em paz agora que já sabe que não vou matar sua estimada amiga. 

Após dizer tudo aqui friamente, Brian retira seu braço e libera a passagem para Cassy que sai dali imediatamente sem encará-lo.

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*¹ Licáon: Primeiro rei mítico da Arcádia cujo fora transformado em lobo por Zeus pelo fato de cometer sacrifícios humanos em seu nome, dando assim origem ao 1º lobisomem de que se tem conhecimento.