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Capítulo 2: O Jogo de RPG


Ao longo dos últimos dez anos, a Rua 17 foi o último lugar do mundo onde coisas estranhas poderiam acontecer. Até então! Algo fabuloso estava prestes a ocorrer naquela semana.

Em plena manhã de domingo, um Del Rey preto com retrovisores em formato de asas de anjo, placa roxa FIO - 1951, entrou na rua. O alto falante em cima de seu capô anunciava em alto e bom som:

— OLHA A PAMONHA. PAMONHA FRESQUINHA. PURO CREME DO MILHO VERDE. — o motorista achou graça e riu. — BRINCADEIRA, DONAS DE CASA. Vendem-se jogos infantis. Jogos inteligentes para a molecada.

No volante, um senhor pálido de cabelo castanho, bigode em estilo francês e óculos escuros. Seu traje era pouco comum para um vendedor ambulante em pleno verão: um terno preto com uma gravata listrada e um chapéu pork pie. Ele dirigia pela rua lentamente observando casa por casa na esperança de reconhecer vestígios de crianças nas residências, seja pela presença de brinquedos nas garagens ou roupas infantis penduradas nos varais. Em seu colo havia um pequeno pedaço de papel timbrado com os números 29, 30 e 66 escritos. Ele tentava identificá-los nos muros das casas.

No entanto, em meio às decorações de Natal, o senhor conseguiu mesmo foi constatar que, por se tratar de um conjunto habitacional, as ruas daquele bairro eram bem parecidas e a maioria não tinha saída. O mesmo ocorria com as casas que eram muito semelhantes.

Ao passar pela casa de número quinze, ele fitou de soslaio o banco de trás de seu Del Rey e avistou o que o havia trazido até ali: três caixas escuras de um jogo com uma estranha inscrição na tampa.


"Bem, espero que dê certo! Foi-se o tempo em que a meninada sabia brincar sem vídeo game!", ele pensou guardando o papel com os números no bolso do terno.

O Del Rey foi até o fim da rua, onde fez um retorno, e logo se aproximou da casa de número 66. Ela era a única que destoava das demais. Tratava-se de uma casa requintada de dois andares cuja árvore de natal do quintal ultrapassava a altura do muro de tijolos à vista.

O senhor estacionou o carro ali em frente e pegou uma das caixas do banco de trás. Abriu-a e fez questão de retirar de lá um pergaminho enrolado e selado com cera vermelha. Em seguida, apanhou no porta-luvas um vidrinho com rolha de cortiça e salpicou um pó brilhante em tudo o que havia na caixa. De repente, aquelas letras invertidas e cheias de traços presentes em todo o jogo foram sendo literalmente traduzidas para o português. Por fim, ele devolveu o pergaminho lá dentro e fechou a caixa.

Ele estava pronto para descer do carro e tocar a campainha da casa 66, mas avistou uma mulher morena entrando na rua com duas crianças. A cor do cabelo de uma delas lhe chamou muito a atenção. Ao perceber que elas estavam prestes a entrar na casa de número 29, o senhor acelerou o carro e não hesitou em usar o alto falante:

— Bom dia, senhora. Não gostaria de dar uma olhada nos jogos que tenho aqui. São para crianças em fase escolar. — ele anunciou em um tom pomposo no microfone. — Aposto que elas são superinteligentes.

Dona Márcia Freitas, a mulher morena em frente ao número 29, segurou os cabelos encaracolados por um instante e parou em frente ao portão de sua casa. Ela levou alguns segundos para notar que o senhor de pork pie estava falando com ela. Meio que ignorando a aproximação do carro, ela continuou girando a chave do portão pedindo para que as crianças entrassem. Nesse momento, o senhor desceu do Del Rey com um dos jogos nas mãos.

— Com licença. Meu nome é Foberto e estou vendendo este jogo. — ele a cumprimentou levantando um pouco o chapéu. Em seguida, pousou os óculos na testa.

Sua elegância e seus olhos azuis acinzentados chamaram a atenção das crianças que olharam para o seu 1,90 m de estatura de baixo para cima algumas vezes. Quando ele se agachou na altura das crianças para mostrar-lhes o jogo, elas se aproximaram curiosas. A maior delas era um menino de cabelo preto volumoso e pele morena e a menor era uma menina sardenta e de tranças ruivas.

— Eric! Sofia! Esperem. — alertou a mulher morena em vão.

— Olha, que legal, mãe. — as duas crianças sorriram.

O senhor logo concluiu que embora fossem fisicamente diferentes, os pequenos ali deviam ser irmãos. Talvez não filhos do mesmo pai.

Para ganhar mais ainda a atenção das crianças, o senhor foi logo abrindo a caixa do jogo. Entregou para Sofia a tampa, que continha a imagem de um chapéu, uma corrente com pingente de estrela e um anel, mas Eric a roubou de suas mãos. Logo, o senhor tirou algumas coisas de dentro da caixa e as colocou ali na calçada mesmo. Havia um livro de capa preta com letras douradas, um tabuleiro que mais parecia um capacho de porta, algumas miniaturas, dez folhas de papel, um saquinho com dez dados e várias cartas do jogo com fotos de personagens em 3D. Além do pergaminho enrolado e lacrado com cera vermelha com a inicial A.

— Este aqui é o Fabulosos, um jogo de RPG de mesa. Do inglês role playing game, que significa jogo de interpretação de personagens. — disse o senhor todo empolgado — Imaginem vocês, crianças, deixando de ser panquecas para se tornarem fabulosos! — continuou indicando os poderes dos personagens nas cartas do jogo.

— Como assim panquecas? E fabulosos? — quis saber Eric na hora.

Joaninhas Barbudas, que falha a minha. Preciso explicar isso melhor. Bem, panqueca é um humano comum, sem poderes, sem graça, plano, ou como dizemos, achatado. — disse fazendo caras e bocas. — E fabuloso é o nome dado aos seres dotados de poderes especiais, como graças e encantos. Seres complexos e densos. Os fabulosos são anjos e fadas.

— Uau. — soltou Eric abaixando-se para pegar as miniaturas no chão.

— S-Seu Roberto... — Dona Márcia interveio.

— É Foberto. Com F, minha senhora.

Bem, Seu Foberto. Esse jogo me parece ser muito difícil para a idade deles. — Dona Márcia aproximou-se do vendedor olhando para baixo. — Eles são muito pequenos, senhor.

— Que nada, senhora. Olhe a faixa etária. — ele indicou com o dedo para um selo de certificado de qualidade na tampa da caixa. — É a partir de dez anos. Quantos anos vocês têm, crianças?

— Eu tenho onze. — disse Eric fuçando nas peças do jogo.

— Eu tenho dez, mas meu aniversário é na quinta-feira. — soltou Sofia.

A resposta da menina fez com que o senhor de chapéu esboçasse um sorriso largo e ficasse quieto por alguns instantes. Ela parecia ter dito algo que há muito ele queria ouvir.

— Hmmmmm, s-senhor. — desdenhou a mãe olhando, ora para o vendedor, ora para a caixa. — Vem um tabuleiro e um livro junto? Ixi, eles nem gostam de ler. São a preguiça em pessoa!!!

— Não se preocupe, senhora. É um jogo que estimula a leitura e a criatividade. É muito divertido!

— Mas, tio... — exclamou Sofia segurando nas mãos algumas cartas que Eric insistia em roubar dela. — O que tem que fazer neste jogo?

— Vocês devem usar os guardiões tutelares para chegarem em Aca.L.An.Tu.S, a Academia Legendária de Anjos Tutelares do Sudeste. Para jogar, basta preencher as fichas de perfil de acordo com as cartinhas, colocar as miniaturas dos guardiões escolhidos sobre o tabuleiro e depois lançar os dados. — disse jogando para ensinar os meninos. — E aí vocês podem ver se conseguem atravessar abismos, lutar contra monstros e bruxos, usar poderes e até voar. Tudo isso como se vocês fossem esses guardiões tutelares. Já imaginou que legal!

— C-Compra, mãe. — soltou Sofia puxando de leve o vestido florido da mãe.

— E então, senhora? — indagou o senhor levantando-se com leve dificuldade com a mão nas costas e com um sorriso aberto no rosto.

— C-Compra, mãe. — repetiu Eric segurando firmemente as miniaturas e algumas cartas. — Eu gostei!

— Tá fácil não, hein, senhor. Como é mesmo o seu nome? Roberto, né! — soltou Dona Márcia com ar de deboche colocando a mão na cintura. — Primeiro, o senhor me para na rua bem na hora que eu tenho que preparar o almoço. Depois o senhor tem a coragem de nos chamar de "cara de panqueca". E ainda por cima atiça os meus filhos com esse jogo doido. Valha-me Deus, Nossa Senhora também!

— Não quis ofender, senhora! Mas... — o senhor tentou consertar o mal-entendido, porém foi interrompido pelas crianças que insistiam para a mãe comprar o jogo.

— Vocês não estão merecendo não, molecada. Se eu tiver dinheiro aqui, vou pensar.

Foi aí que Eric deu um sorriso maroto para a irmã e já pegou a caixa nos braços como se o jogo fosse deles. Eles sabiam que toda vez que a mãe falava Se eu tiver dinheiro..., Dona Márcia tinha. Embora ela sempre insistisse em adicionar drama às situações com frases do tipo Ah, se o pai de vocês ainda estivesse vivo, jamais deixaria eu comprar isso para vocês! ou a mais repetida ultimamente Eric reprovou na escola ano passado, e Sofia tem sido advertida por conversar muito em sala! Eles não estão merecendo!

— Muito boa a sua lábia, senhor. Mas e aí quanto custa esse tal jogo fabuloso? — perguntou Dona Márcia já pronta para dizer "Não".

— Faço por dez raios...

— O quê? — Soltou a mãe espontaneamente.

— Desculpe, senhora. Eu quis dizer dez, dez... reais.

— Bem... — Dona Márcia pensou em questionar a bagatela que estava o jogo, mas decidiu fazer uma pausa dramática enquanto seus filhos fecharam os olhos na esperança de que a mãe dissesse "Sim".

— Diz que sim, diz que sim. — as crianças se ajoelharam no chão ao lado da mãe mantendo a cara de pedintes esfomeados.

— Vou comprar um só. — ela soltou tirando uma nota de dez de dentro do sutiã enquanto as crianças pulavam mais que pipoca. — Vocês vão ter que jogar juntos, hein, meninada. Não quero saber de brigas.

— É um jogo de até dez jogadores. Não se preocupe senhora! — o senhor pegou o dinheiro e guardou no bolso de seu paletó preto. — Eles vão se divertir muito lendo o livro com as histórias e as regras do jogo.

As crianças trataram de colocar tudo dentro da caixa o mais rápido possível e entraram afobadas pelo portão da garagem de casa.

— A gente se vê em Aca.L.An.Tu.S, meninos. — despediu-se o vendedor entrando novamente em seu Del-Rey preto.

Ainda faltavam os números 30 e 66.

No dia seguinte, o chá da tarde na casa de número 30 foi atrapalhado pelo som agudo da campainha. Ele ecoou várias vezes até ser interrompido pelos latidos do cachorro da casa e por um "Já vai!" vindo da cozinha. Lá moravam os Travassos, uma família muito humilde.

Eu desisto! Não acredito que o Cauã sujou a fronha do travesseiro dele com sangue de novo. Já é a quarta vez que troco a fronha do meu filho essa semana, mãe. — disse Dona Bernadete Travassos, uma jovem morena de trancinhas, sentando-se à mesa.

— É o dente dele, filha. Até os onze anos, cai um atrás do outro. Às vezes, até os treze. Você mesma, demorou. Seu último dente de leite caiu aos doze. Cauã vive mexendo naquele dente para ele cair. — exclamou Dona Ana Gorgonha, a senhora negra e gorda que limpava o fogão.

— Aquele dente parece estar enfeitiçado! Não cai por nada nessa vida, mãe.

— É assim mesmo! Deixa que eu atendo, filha. — disse Dona Ana referindo-se à campainha. — Descanse um pouco, você acabou de chegar da faxina.

Dona Ana tirou o avental e ajeitou os cabelos brancos nos bobs pelo corredor. Quando chegou na sala, pôde ouvir com clareza os latidos do cão da família. Dona Ana não sabia ao certo a idade do animal, mas sabia que ele era parte da família da filha há mais de dez anos. Tratava-se de uma vira-lata marrom de porte médio que trazia no pescoço uma mancha escura em formato de lua. Daí vinha o seu nome.

— Chispa, Luna. Vai deitar! — Dona Ana soltou para a cadela ao espiar pela cortina. Ela viu para quem Luna estava latindo e bufou "Outro vendedor!?! Já não basta aquele cara esquisito de terno e chapéu vendendo um jogo maluco ontem?"

Luna parou de latir e saiu com o rabo entre as pernas.

— Boa tarde. — disse a senhora em trajes de cigana em frente ao portão. Ela usava um lenço com motivos de borboletas na cabeça e segurava em um dos braços uma pequena sacola. — Boa tarde, senhora. — ela repetiu sorrindo, mas não obteve resposta. — Tem criança em casa?

— Por que você quer saber? — disparou Dona Ana com um olhar de desconfiança aproximando-se do portão, mas mantendo uma distância considerável da cigana.

— Só estou vendendo algumas fronhas de travesseiro. — enfatizou a vendedora retirando as fronhas da sacola e deixando um papel timbrado com os números 29, 30 e 66 escritos cair no chão. — A senhora não tem interesse?

— Não, obrigada. Boa tarde! — disse Dona Ana dando as costas e indicando para Luna que latir para a cigana estava liberado.

— Dê ao menos uma olhada, senhora. — a cigana suplicou tentando falar mais alto do que os latidos. — Eu mesma que as bordei.

— Estou com a comida no fogo. Obrigada.

— Só uma olhadinha sem compromisso. — a cigana insistiu.

— Não, eu já disse.

Dona Ana já estava virando a maçaneta da porta da sala para entrar em casa quando deu de cara com a filha.

— Mãe, quem é? — disse Dona Bernadete abrindo a porta, preocupada com a demora da mãe.

— Olá, senhora. — interveio a cigana exibindo dentes de ouro. — Tenho fronhas lindas para travesseiros de crianças. A senhora tem interesse?

— Filha, eu já disse que não queremos nada. — interpelou Dona Ana. — Ela já estava indo embora!

— Jura? Ai, deixe-me dar uma olhadinha. — Dona Bernadete soltou entusiasmada. —A senhora veio na hora certa. Meu filho Cauã, sabe, sujou todas as fronhas dele com sangue. O menino não para de mexer naquele dente que insiste em não cair. Ele costuma dizer que o dente vive provocando ele. Vê se pode! Meu menino é fogo, sabe. Não para um minuto. É hiperativo. Tem dificuldade na escola. Um danadinho.

Dona Ana revirou os olhos querendo que Luna avançasse na cigana.

— Quem era aquela mulher lá fora com a sacola? — perguntou Seu Luiz Travassos, o pai da família, assim que entrou na cozinha. Ele deu de cara com Dona Bernadete sentada à mesa tomando chá e Dona Ana fritando bolinhos de chuva. Como de costume, ele sempre ia tomar o café da tarde em casa, já que trabalhava em uma oficina a algumas quadras dali.

Seu Luiz era negro, baixinho e barbudo. Usava óculos e suas mãos de mecânico eram ásperas com unhas que tinham uma espécie de francesinha às avessas. Seu apelido entre os conhecidos era Chocolate devido ao seu tom de pele. E aquilo já havia lhe rendido alguns momentos hilários.

Uma vez, ele fez uma lista de compras e assinou seu apelido embaixo, autorizando que seu filho, Cauã, pegasse alguns produtos na quitanda para marcá-los na caderneta. O resultado foi que Cauã voltou para casa com um litro de leite tipo C, quatro maçãs argentinas, uma penca de bananas nanica, um pé de alface lisa e, para a surpresa do pai, uma barra de chocolate. Após rirem bastante, Seu Chocolate fez com que Cauã devolvesse o doce. E ele nunca mais assinou o seu nome quando pediu para o filho comprar as coisas fiado.

— A mulher lá fora com a sacola? — soltou Dona Bernadete bebericando seu chá. — Uma cigana que vendia fronhas de travesseiros. Acredita? Tão bonitas!!!

— Não vai me dizer que você comprou, "mãe"? — disse o marido já sabendo a resposta. — O Cauã não está merecendo presente nenhum! Só tem vindo reclamação dele da escola.

— Ai, "pai". Não é presente! É necessidade! E estava tão barato que não resisti. Três por apenas dez reais. Houve um momento em que ela disse "dez raios" e achei graça, mas logo ela se corrigiu. Achei o preço uma pechincha e comprei logo as fronhas daquela cigana!

— Cigana es-qui-si-ta, Chocolate. — pontuou Dona Ana no fogão para o genro.

— Ai, mãe, pare de julgar as pessoas. Eu comprei só para ajudar aquela pobre senhora. Olha esse bordado, que coisa mais linda, "pai". — ela disse segurando uma das fronhas.

Os pais de Cauã tinham adquirido durante os dez anos de casamento o hábito, que muitos achavam engraçado, de chamar um ao outro de "pai" e "mãe". É claro que seria impossível alguém achar que eles eram realmente pais um do outro, pois tinham praticamente a mesma idade.

— Hmmm, e o que é esse desenho bordado nas fronhas, "mãe"? É um...?

— Apanhador de sonhos! — soltaram os dois juntos.

— A cigana me explicou que enquanto a criança dorme o ar ao seu redor está cheio de sonhos bons e ruins, e que o apanhador de sonhos só captura os sonhos bons fazendo com que a criança durma a noite toda tranquilamente.

— História para boi dormir, filha! — falou Dona Ana de forma ríspida colocando um bolinho de chuva inteiro na boca.

— E como o Cauã é travesso e tem sonhos agitados, espero que a fronha ajude. Vou usá-la hoje à noite já. Ele sujou todas as fronhas de sangue por causa daquele bendito dente.

— Ixi, esse dente promete, hein. — soltou o pai tomando um gole de café.


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Beijos

Luiz Horácio

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