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Capítulo 16: O Mercado Estelar

Os alunos da E.E.P.S.G Monteiro Lobato estavam todos eufóricos.

Era hora de começarem os preparativos para o acampamento dos quartos e quintos anos na escola. Aquilo era um alívio para Luquinha. Ele não aguentava mais ter que manter os ombros duros e as costas rentes à cadeira para disfarçar o que estava lhe incomodando muito: o par de asas negras em suas costas que, às vezes, dançava dentro do moletom rosa que Júlia havia lhe emprestado. Aliás, ter ficado vestido daquele jeito nas últimas três aulas da Dona Conceição foi um verdadeiro martírio para ele que virou motivo de piada na sala.

Eram seis da tarde, e o menino loiro, os irmãos Freitas e Júlia Dias haviam combinado de se encontrar em frente à biblioteca enquanto a maioria dos alunos estava indo para a quadra coberta. Era lá que as barracas do acampamento seriam montadas.

O plano dos quatro era o de resgatar o jogo de RPG e convencer Dona Lígia, a bibliotecária, a deixá-los acampar na biblioteca.

— Pare com isso, Tato. — Sofia disse para Eric que imitava Luquinha dançando com os ombros.

O menino loiro abaixou a cabeça. Ele já não aguentava ser o centro das piadas naquele dia. Começou a pensar se era assim que Cauã se sentia quando ele o chamava de "Sarará". Assim que Júlia chegou em frente à biblioteca, os quatros entraram para falar com a bibliotecária.

— Boa tarde, Dona Lígia. Tudo bem com a senhora? — Eric tomou a iniciativa ao aproximar-se do balcão.

— Olá, meninos. — ela disse tirando os olhos de um livro de capa preta que estava lendo. — Tudo bem com vocês? Não podem mais pegar livros! A biblioteca está fechada para as férias e, como vocês sabem, hoje é o último dia de devolução.

— Bem, é sobre outra coisa que queremos falar com a senhora. — Eric viu que ela lia um livro que lhe parecia muito familiar. — E aí a senhora está gostando de ler o livro do Fabulosos?

— Ah, esse aqui. É legalzinho, né. — ela soltou alguns risinhos. — Vai me dizer que você já o leu? Ele está escrito em kângelus!

— Pois é. Nós quatro estávamos jogando o jogo de RPG e usando esse livro.

— Os pais do Cauã o deixaram comigo. Vi a capa do jogo e quis logo ver do que se tratava. Adoro anjos!!! Mas como vocês estavam fazendo para ler este livro todo aqui em kângelus? Até eu, que me considero fluente, tive algumas dificuldades.

— Bem... ele não estava em kângelus quando o jogamos. Apenas o pergaminho é que estava. — pontuou Sofia. — Será que a senhora poderia nos ajudar?

— Bem que eu gostaria, meninos, mas vou ter que montar um grupinho de alunos para acampar aqui na biblioteca. Não vão caber todos os alunos na quadra fechada.

— Fique com a gente, então, Dona Lígia. — disse Júlia entusiasmada. — Nós super topamos acampar aqui!

— Bem, meninos, verei se as suas professoras me autorizam a ficar com vocês aqui. Vou lá perguntar e já volto! Por favor, se algum aluno aparecer querendo pegar livro diga que só no ano que vem agora, ok.

As quatro crianças se entreolharam e deram um sorriso largo.

Entrementes, a quilômetros dali, Cauã e Aracne ainda sobrevoavam a Mata do Assobio no aspirador vertical. Faltava um pouco mais de uma hora de viagem para eles chegarem até o vilarejo fabuloso, Devaneios. Como todo o cuidado era pouco, eles continuavam invisíveis graças às penas de mafagafos que traziam consigo. O principal objetivo era o de não chamar atenção de nenhum dos seres que habitavam a mata onde uivos e assobios assustadores eram constantemente ouvidos, sobretudo durante a calada da noite.

Sete horas da noite foi o que relógio do pátio da escola indicou. Todas as barracas já estavam praticamente montadas na quadra coberta. Metade dela foi ocupada pelos alunos do quarto ano, e a outra metade pelos alunos do quinto. Alguns professores, como o Seu Mauro de educação física, se revezavam como monitores andando por entre as barracas observando as conversas e brincadeiras das crianças. Outros professores, como Dona Conceição, faziam vigília em frente à porta dos vestiários próximos às quadras evitando que os alunos se demorassem muito no banho.

A janta foi servida pontualmente às oito da noite. Sofia e Eric se esbaldaram com a quantidade de sanduíches de patê de frango enquanto Luquinha, ainda vestindo o moletom rosa, reclamava dizendo que preferia estar jantando em casa. Já Júlia estava se segurando para não revelar nada sobre o que acontecera no banheiro para a sua melhor amiga Bruna Novaes.

Ela havia prometido aos garotos da rua 17 que não contaria nada a ninguém até entenderem o que estava ocorrendo exatamente. Mas isso só iriam descobrir mais tarde usando os dentes para o tour até Aca.L.An.Tu.S, ou por meio do jogo de RPG.

Já havia clareado o dia, quando Aracne e Cauã sobrevoaram o último conjunto de vegetação da mata e avistaram um vilarejo cujo portal dizia em kângelus "Seja bem-vindo a Devaneios". Era possível ver várias casinhas com tetos verde-escuros.

A dona da Pousada do Viajante pediu para que o menino ativasse suas chuteiras troposféricas e continuasse voando por meio delas. A princípio, ele teve dificuldade de manter-se no ar, mas logo conseguiu se equilibrar.

— Mexa os dedos dos pés. Isso faz com que as chuteiras produzam mais nuvens! — Aracne soltou.

Ele já sabia daquilo e foi o que fez.

Após voarem sobre alguns conjuntos habitacionais, Cauã se deparou com uma enorme praça repleta de árvores e o que parecia ser uma fonte no meio dela. A praça ficava entre duas construções gigantescas. De um lado havia um prédio com abóboda de vidro pelo qual ele e Aracne sobrevoaram. E do outro lado, havia uma espécie de galpão.

Assim que a praça terminou, Aracne disse que eles deveriam pousar atrás de uma das árvores, longe de olhares alheios. Os dois esfregaram suas penas quando aterrissaram e logo deixaram de ser invisíveis.

Aracne pegou a sombrinha das vestes e a deixou aberta com a ponta no chão. Sem delongas, ela encarou, um pouco sem graça, o menino e olhou para os lados. Cauã foi logo fechando os olhos antes mesmo de ela pedir. Ele já imaginou que Aracne lhe pediria aquilo assim como fizera das outras vezes em que ela precisou usar de encantos.

Quando abriu os olhos, Cauã viu Aracne ajeitando o coque, sobretudo a agulha maior que ficava no meio dele. Logo, ela colocou o aspirador dentro da sombrinha cuja névoa o absorveu. Em seguida, ela tirou sua bolsa de couro da névoa e fechou a sombrinha.

Aracne guardou o objeto dentro da bolsa que passou a carregar pela praça. Ela e Cauã atravessaram uma rua onde passavam alguns pedestres. Os olhos do menino observavam tudo com muita atenção. Ele viu muitas pessoas que se vestiam de maneira peculiar como se suas vestes pertencessem a outra época. Ele viu também algumas pessoas andando de charretes puxadas por unicórnios e garotos lustrando, não os sapatos dos senhores, mas sim, as suas auréolas. Do outro lado, havia um grupo de meninos que brincava de bafo virando figurinhas que continham animais. "O seu mafagafo vulcano agora é meu!", Cauã ouviu um dos garotos falar. "Não valeu, seu trapaceiro, você passou cuspe na mão!"

Aracne mal se continha de alegria em ver o menino descobrindo o mundo fabuloso. O melhor ainda estava por vir, ela queria lhe dizer se ele estivesse prestando atenção nela. Pois tudo ao redor chamava a atenção.

A travessia da rua iria demorar muito se eles continuassem naquela velocidade. Aracne pegou a mão de Cauã e o guiou para o outro lado. Ao focar em Aracne, Cauã se deu conta de que estavam em frente ao galpão que ele havia visto lá de cima. Os dois estavam diante de uma enorme entrada com vinte portas giratórias. Eles escolheram uma por onde entrar.

O menino curioso se aproximou do vidro na tentativa de ver alguma coisa do outro lado, mas não viu nada. De repente, a porta começou a girar, e depois de algumas voltas, saiu dela o que Cauã nomeou como "um grupo de ovelhinhas bípedes com vestidinhos e chapéus". Ele achou engraçado como elas tremelicavam quando andavam. Aracne logo o repreendeu dizendo que elas eram pândegas e não ovelhas.

Mais algumas giradas, e da porta saiu um casal de senhores. Ele era barbudo e usava uma capa preta e chapéu coco. Ela usava vestes lilases e um chapéu bem feminino. Cauã reparou na mão da senhora e viu que ela trazia um anel dourado, o que indicava que ela era um anjo, um anelar. E o senhor levava consigo no peito um colar com pingente de estrela, sinal de que ele era um fada, um estelar.

— Aracne. — Cauã parou por um momento. — Existem fadas homens?

Yes, but of course!!!! Déda, por exemplo, é um fada! Você vai ver muitos deles aqui no Mercado Estelar. Os fadas são ótimos comerciantes. Todos têm uma lábia muito boa.

Após esperarem para ver se a porta giratória não estava prestes a rodar de novo, os dois entraram nela. Cauã achou estranho, pois não conseguia ver nada através do vidro, e tudo parecia muito silencioso. Giraram então uma vez pela porta, e ele não viu nada ao seu redor. Depois duas, e nada. Cauã começou a achar engraçado os dois ali rodando e nada aparecendo através do vidro. Quando iniciou a terceira volta, ele fitou Aracne que desviou o olhar dele. Algo dizia que ela estava segurando uma risada.

— O que foi, Aracne?

— Vamos ficar girando aqui até amanhã se continuarmos assim! — ela riu apontando para a placa em kângelus acima da cabeça de Cauã que dizia "Quando dentro, girar sete vezes correndo".

E foi o que fizeram, e já no fim da sexta volta, Cauã conseguia ver centenas de pessoas e dezenas de lojas através do vidro da porta. Até o barulho da movimentação ele já conseguia ouvir. Um cheiro de fritura acertou em cheio o seu nariz, e ele gemeu achando aquilo bom.

Quando a porta parou depois da sétima rodada, Cauã se viu diante do que Aracne chamou de o melhor lugar do mundo fabuloso para se gastar todo o seu dinheiro.

— Bem-vindo ao Mercado Estelar, Cauã. — ela soltou toda animada.

Havia tanto para se ver e tanto para se descobrir que o menino não sabia para onde olhar. Havia pessoas com vestes suntuosas por todos os lados, grupos de pândegos andando para cá e para lá. Crianças correndo de um lado para o outro e muitas lojas para visitar. E o teto era repleto de estátuas de anjos e fadas voando presos por fios de aço.

— Vou apresentar tudo a você. — Aracne soltou.

Ela começou a falar sobre o Empório das Chaleiras, uma enorme loja de dois andares que vendia apenas o mesmo objeto há mais de um século: chalefones. Depois ela apontou para a Mercúrio Express e disse que lá equivalia ao que os panquecas chamavam de correios. De lá, Cauã viu saindo alguns anjos com asas cinza carregando várias correspondências em suas bicicletas. E Aracne disse que aquele nem era o horário de pico, pois as lojas haviam sido abertas há pouco.

— E ali é a Barra e Bainha, a melhor butique de Devaneios. Madame Carochinha tem mãos de fada. Pena que só conta lorotas. Do outro lado, nós vemos a Nibelungus, uma oficina especializada em polimento de anéis e correntes de ouro e prata. É sem dúvida a melhor do vilarejo. Ao lado, temos a PIN-LIN-PIN-PIN – material escolar. É ali que os alunos de Aca.L.An.Tu.S compram todos os seus materiais. Logo aqui ao lado, vemos a loja dos brinquedos mais desejados de Devaneios, a Travesseiros e Travessuras. À sua esquerda e mais adiante, fica a tão famosa Farinha, Fubá, Fruta, Farofa e Feijão, popularmente chamada de 5F, a lanchonete mais gostosa ever! — Aracne soltou com muita empolgação.

— Vamos lá. Estou com fome! — disse o garoto vendo uma menina saindo de lá com uma casquinha com dez bolas de sorvete equilibradas uma em cima da outra, deixando escorrer muito doce de leite com granulados.

— Depois passamos por lá. — ela disse guiando a cabeça do menino para onde ela apontava. — Aquela ao lado da 5F é a Bufunfa, uma casa de câmbio. O dono é um chato! Ao lado é a Auréola Chapeleira, lá vendem os melhores chapéus e boinas do mercado. Estou lhes devendo uma visitinha. Lá no canto direito é o bar mais popular daqui, o Boto Cor de Rosa. Legalzinho até, mas muito mal frequentado! — ela fez cara de nojo tirando do menino um riso. — Ao lado do bar é a Pé de Atletas, uma loja especializada em artigos para queda-livre. Você vai gostar de conhecer aquela loja, um dia, não hoje, é claro, né, Cauã. C-Cauã? Cadê você, boy?

Aracne só precisou dar uma volta em torno de si mesma procurando o menino e quando viu, ele estava em frente à vitrine da Pé de Atletas paquerando um artigo em exposição.

Calcanhar de Aquiles Nova Geração. — Cauã leu boquiaberto na caixa abaixo do par de chuteiras troposféricas. Ao lado dela havia um banner promocional.

"A nova Calcanhar de Aquiles tem um sistema de amortecimento e de produção de nuvens que nunca se viu antes no mercado. É, sem dúvida, a mais rápida e leve já produzida. Totalmente moldável! ", Cauã leu em kângelus empolgado.

— Uau, olha isso!

— Uau é o preço disso! — Aracne apontou para a etiqueta do produto. — Duzentos e cinquenta e cinco raios e cinquenta e cinco trovões. Forget it!

Aracne conduziu Cauã para a frente de uma loja de dois andares que ficava exatamente no meio daquele bloco, entre a loja esportiva e a loja de chapéus. Não havia placa e nenhum banner ou toldo. Era simplesmente aquilo. A loja com aspecto mais velho e sujo que o menino havia visto ali. Era o tipo de loja em que Cauã jamais entraria se estivesse sozinho. Havia uma porta de madeira velha na frente e duas vitrines de vidros quadriculados de cada lado. Cauã passou a mão em uma delas e se impressionou com a quantidade de poeira que ficou em seus dedos. Ele avistou centenas de livros do lado de dentro.

— E aqui é o quê, Aracne?

— É a loja do meu amigo Déda, o Sebo nas Canelas. — ela disse sorrindo enquanto procurava por alguma campainha próxima à porta. — Ah, aqui está.

DIN-DON. Ela tocou duas vezes. E antes de tocar a terceira, alguém gritou lá de dentro avisando que já viria atender. Algum tempo depois, um homem de olhos puxados abriu a porta. Ele parecia ter lá seus quarenta e tantos anos e trazia na gola de seu avental todo empoeirado um par de óculos de fundo de garrafa e um colar com pingente de estrela.

— O que vocês querem? Não estamos aceitando mais doação! — ele dizia apertando os olhos para enxergar as visitas. — Se eu colocar mais um livro neste estabelecimento não terei onde trabalhar e morar! Tentem enviar seus livros para Aca.L.An.Tu.S. Eles têm uma biblioteca enorme lá.

Hello, Déda, seu traça de livros! — Aracne disse colocando os óculos no rosto do homem.

— É você, Aracne? — ele sorriu após reconhecê-la.

— Será que tem lugar para dois amigos aí?

— Mas é claro. Só para livros que não. — Déda sorriu prestando atenção no menino negro. — Ah, então esse é o Cauã. Prazer em conhecê-lo pessoalmente. — ele cumprimentou Cauã que se apresentou com timidez. — E-Entrem, mas não reparem na bagunça.

"Para ser bagunça aquilo precisava melhorar muito" pensou Cauã assim que passou da entrada da porta. Só se viam pilhas e pilhas de livros em todos os cantos. Havia até uma pilha em formato de árvore de natal com pisca-piscas de pirilâmpados.

Livros eram o que não faltavam ali, em cima do balcão, da mesa, na vitrine, nas prateleiras e até no chão. Eles tiveram que andar meio se esquivando das estantes, prateleiras e pilhas para que elas não caíssem. Três cômodos de móveis depois, os três chegaram a uma escada que ficava junto a uma parede e levava para o andar superior. Os três subiram segurando firmemente no corrimão, pois próximo à parede havia livros amontoados em cada um dos degraus.

Déda, Aracne e Cauã foram dar em uma pequena sala onde um sofá branco cheio de almofadas em frente a uma TV antiga parecia ocupar quase todo aquele espaço. No meio da mesinha da sala havia um chalefone, e atrás uma estante repleta de livros. Cauã recordava ter visto a tal estante durante a ligação chalefônica.

— Sentem-se. Fiquem à vontade. — Déda disse um tanto encabulado tirando livros de todos os móveis para que eles se sentassem.

MIAUUUUUUUU! Cauã havia sentado sobre alguma coisa. Ele levantou-se de supetão e olhou se havia algum gato embaixo dele, mas para o seu espanto, não viu nada.

— Perdão, Cauã. Esqueci-me de te avisar que Machado de Assis estava deitado aí.

O garoto estranhou a explicação de Déda, já que ele não viu nada e não fazia ideia de quem era Machado de Assis.

— Machado de Assis, o meu mafagafo. Você sentou em cima dele. Não conseguiu vê-lo porque ele se mafagafou, ou seja, se tornou invisível. Logo ele se desmafagafa.

Cauã olhou para todos os lados, e não estava vendo nenhum sinal de bicho algum. Aracne, então, explicou que mafagafos geralmente se mafagafam ainda mais na presença de estranhos, mas que ela trazia algo que poderia fazer Machado de Assis aparecer.

Foi naquele momento que Aracne pediu autorização de Déda para ir até o banheiro. Ela alegou que precisava lavar as mãos com urgência e fez questão de levar a bolsa. Por alguns minutos, Déda ficou a sós com Cauã que procurava com os olhos por algum animal na sala. Aracne voltou com a sombrinha semi-aberta e ajeitando o coque. Posteriormente, ela abriu o objeto e o colocou de ponta cabeça sobre a mesinha. A névoa dentro da sombrinha girava feito redemoinho e Aracne disse que naquele momento, com as mãos limpas, ela poderia pegar o bolo lá dentro.

— Deixa que eu pego! — Cauã se ofereceu.

Aracne disse que ele tinha que pensar fortemente no objeto que gostaria de tirar de dentro da sombrinha, e aí daria certo. Mesmo inseguro, Cauã quis tentar.

Ele enfiou as mãos pela armação metálica até seus dedos entrarem em contato com a névoa. Fabulosamente, suas mãos atravessaram o tecido como se tivessem ido para outra dimensão e tocaram um recipiente redondo de plástico. Cauã achou se tratar da embalagem do bolo, mas quando tirou as mãos da névoa, elas seguravam um penico.

Meio sem graça, ele devolveu o objeto. Mas insistiu e tentou tirar de lá o bolo, mas dessa vez, ele tirou um sutiã. Déda começou a ficar sem graça, e Aracne começou a ruborizar. No entanto, Cauã insistia que iria tirar o bolo de lá. Concentrou-se e na terceira tentativa, ele tirou uma calçola.

Aracne tomou a sombrinha dele e tirou o bolo de lá de primeira. O menino ficou sem graça.

— Fui eu mesma que fiz. — Aracne disse fazendo Cauã torcer o canto da boca, pois ele sabia que foram as bonecas que haviam feito todo o bolo. O chantilly havia neutralizado o odor da lama usada como cobertura.

— Hmm, parece ótimo! Machado vai adorar!!!! — Déda emitiu para os quatros cantos da sala, esperando que seu animal de estimação ficasse visível.

Entrementes, Aracne retirou pratos e talheres de sua sombrinha e logo cortou o bolo em oito pedaços.

Assim que ela pôs um pedaço sobre um pratinho na mesinha de centro, um animal de porte pequeno apareceu vindo de baixo da mesinha. Ele era branco com tons arroxeados nos pelos e penas. O corpo era de felino, as asas de falcão e a cara de foca. Seus olhos eram grandes e profundos e ao mesmo tempo fofos e assustadores.

— Ah, aí está você, Machado de Assis!!! Seu mafagafo interesseiro. — Déda disse para o bichano que parecia não representar nenhum perigo. — Só se desmafagafou porque viu que a visita trouxe bolo, né?

O pedaço foi devorado em instantes e em seguida os demais. O mafagafo se esbaldou com o bolo de fubá e cobertura de lama e chantilly que Aracne havia trazido.

O bichano deitou no chão de barriga para cima esperando o carinho de seu dono. Cauã observou que o mafagafo tinha uma espécie de bolsa, assim como os cangurus tem, na barriga. Déda acariciou o animal e logo chamou Cauã para fazer o mesmo.

— Mafagafos são seres puros. Eles adoram crianças. Tente você.

Com um pouco de receio, Cauã tocou o animal que a princípio pareceu apreensivo, mas em seguida, deixou-se ser acariciado.

— Ele voa?

— Não, ainda não. É um filhote. — Déda disse. — Tem apenas um ano.

Enquanto Cauã brincava com o mafagafo, os dois estelares conversavam sobre trivialidades até que o rumo da conversa foi ganhando um ar mais sério. Aracne relembrou Déda sobre a situação do menino panqueca e quis saber sobre o diário de viagens de Pete Atlas.

— Aqui está! — Déda tirou um livro de capa preta e páginas amarelas da estante atrás dele e o entregou para Aracne. — Está quase intacto.

Well, antes que o nosso chalefonema fosse interrompido, você disse que havia um problema. Qual? — Aracne indagou Déda seriamente.

— Na verdade, Aracne, há dois. O primeiro é que uma folha foi arrancada. O segundo é que a maioria das páginas está escrita em runas cônicas. Precisaríamos de um cônico para decifrá-las.

— Você já tentou pó de cuco tradutor?

— Já sim, Aracne, mas não funciona nele. — Déda disse mostrando um vidrinho com rolha de cortiça cujo conteúdo era um pó brilhante. Seu rótulo dizia "Cuco Tradutor" em Kângelus.

Let me see. — Aracne folheou o diário.

Cauã notou que as mãos de Aracne estavam tremendo bem pouco, bem menos do que de costume. E ele se animou quando a ouviu dizer que poderia dar um jeito naquilo.

— Você conhece algum cônico aqui em Devaneios? — soltou Dédalo surpreso.

— É claro que não! — ela ruborizou. — Mas eu tenho um dicionário de runas cônicas que pode nos ajudar.

— Jura, Aracne? Eles se tornaram raridades depois que a Secretaria Anelar mandou a ARCA destruir tudo o que fosse relacionado aos cônicos. Quando descobriram então que a urna com o artefato milenar estava nas mãos do Mestre Pete Atlas, até a palavra bru..., bem você sabe do que estou falando, as pessoas tinham medo de falar.

— E pensar que ele nem era um cônico. — Déda falou com pesar. — Era um anelar com ascendência cônica. Um mezzo, não é mesmo?

— Sim, ele era filho de uma anelar com um cônico. — Aracne pontuou. — Seus ancestrais cônicos guardaram por gerações a urna com o artefato milenar.

— Cauã... — Déda chamou seu olhar. — A urna que guarda o artefato milenar está sob influência de um forte feitiço: apenas os cônicos e seus descendentes conseguem abrir a urna. Ela se encontra selada e esconde o artefato milenar, uma lasca da Esfera de Todos os Bens, o estilhaço da esperança. Como você já sabe, ele é capaz de realizar qualquer desejo e pode te tirar daqui. No entanto, o paradeiro da urna é um mistério.

A euforia de Cauã em saber que estava próximo do artefato se esmaeceu um pouco, mas Aracne o confortou dizendo que eles estavam no caminho certo. O garoto se animou e decidiu se levantar do chão para brincar pelo sebo com Machado de Assis que havia descido a escada.

— Pobre garoto! — Déda continuou a conversa com Aracne sem pudores assim que Cauã saiu. — Então quer dizer que Custódio perdeu a vida para Eco, aquela cônica foragida que se escondia lá na mata?

— Foi o que o menino me disse, mas não fiquei insistindo nisso. Deve ter sido difícil para ele presenciar tal cena. Ele tem que voltar para casa o mais rápido possível. Vou precisar de algumas horas para traduzir isto aqui. — Aracne comentou referindo-se às páginas do livreto.

— Leve o tempo que precisar, mas tome cuidado com esse diário.

Don't worry, Déda. Ele está em boas mãos!

PAFT! Aracne e Déda se levantaram rapidamente e foram em direção à escada onde encontraram Cauã no fim dela com dezenas de livros em sua volta. Ele havia esbarrado em uma pilha de livros e tudo havia vindo abaixo, inclusive um tapete retangular que chamou muito a atenção de Aracne assim que ela chegou na base da escada.

Be careful, Cauã. Aqui não é lugar de usar as chuteiras troposféricas. — ela foi logo soltando para o menino. — Ué, o que esse tapete está fazendo aqui, Déda?

— Que tapete, Aracne? — o sebista disse aproximando-se com os livros que havia pegado do chão. — Ah, que bom que você achou esse tapete. Já tinha esquecido onde o havia colocado. Devo ter me distraído e o deixei em cima dessa pilha de livros. Você gostou dele?

— Mas é claro que sim. Fui eu que fiz. — Aracne soltou desconfiada. Cauã, para variar, não estava entendendo nada. — O que ele está fazendo aqui? Eu nunca te dei um tapete, my friend.

— Ganhei ontem de um cliente muito assíduo. Ele costumava vir constantemente aqui procurando livros antigos sobre graciologia, fabulosofia e mafagafologia.

— O Seu Limor Eufésio veio até o sebo ontem? Não sabia que ele queria te presentear com um dos meus tapetes. Ele tem sido meu freguês desde que se tornou dono da Travesseiros e Travessuras. Sempre vem com uma trama específica para eu bordar. Dessa última vez, ele encomendou sete tapetes com o mesmo desenho. E um deles é este aqui, Déda.

— N-não, Aracne. Estou me referindo ao senhor que me deu esse tapete na noite passada como presente por eu permitir que ele ficasse procurando livros do seu agrado fora do horário comercial do sebo: o Mestre Foberto Ícelos.

E aí o que está achando? Ainha há muito por vir. Continue acompanhando a história de "Os Fabulosos" e não se esqueça de dar estrelas, comentar e seguir a gente. Tudo isso ajuda a divulgar o nosso trabalho.

Beijos

Luiz Horácio

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