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Capítulo 1: A Criança Perdida


Sem dúvida alguma, não havia figura mais esquisita naquele bonde vermelho do que o homem de capuz. Ele parecia ser de outro mundo.

O veículo seguia pelos trilhos de uma avenida repleta de plátanos. E o estranho passageiro usava longas vestes verde-oliva que ocupavam boa parte do seu banco. Ele estava cabisbaixo e escondia seu rosto com um enorme capuz.

A única coisa que lhe parecia incomodar era o vento noturno que entrava pela janela. Nas suas costas havia algo nada comum: um par de asas brancas. Uma delas parecia estar quebrada, pois pendia para a esquerda. E ele estava compenetrado na leitura de um jornal.

CASTELO MISTERIOSO É VISTO POR TURISTAS NO MONTE DO DEVANEIO, NA SERRA DA MANTIQUEIRA, EM CAMPOS DO JORDÃO-SP. Populares afirmam que a construção apareceu do nada e logo sumiu. Especialistas dizem que o turismo na região tende a aumentar por causa do ocorrido.

Joaninhas Barbadas! — ele disse ao folhear o exemplar daquela segunda-feira, 05 de março de 1984. — Até o jornal dos panquecas já está anunciando a existência dos fabulosos!

Assim que dobrou o exemplar, o homem esticou o braço e fechou a janela acima. Sua única companhia era um baú aberto, à sua esquerda. De tempo em tempo, ele levantava parte da manta que cobria o baú e sorria sem parar, com afeto.

Não tardou muito, e o comportamento daquela estranha figura chamou a atenção das únicas pessoas que estavam no vagão além do motorneiro, um casal de jovens.

— Que fantasia da hora, fera! Acabamos nem nos fantasiando. Só usamos isso aqui... — interagiu um rapaz negro ao mostrar os chapéus de bruxo que trazia entre as pernas. — Você também estava na festa à fantasia lá no Morro do Elefante?

O homem de capuz consentiu com a cabeça sem pronunciar nenhuma palavra.

— Somos turistas e estamos em lua de mel. — o rapaz negro insistiu na conversa. — Nos empolgamos tanto que perdemos o horário do teleférico. Conseguimos uma carona até o Capivari e demos sorte de pegar o último bonde.

— Deixe-o quieto, querido. — cochichou a esposa que começou a mexer na câmera em seu colo para mudar o foco do marido. — Ele não deve ser de falar muito.

O casal desistiu então de interagir com o estranho homem e continuou conversando sobre a festividade, que era um pretexto para aquecer o turismo na baixa temporada da cidade. A alta era sempre de maio a julho, época do frio.

A festa à fantasia acontecia no carnaval e iniciava-se com marchinhas na praça do Capivari, a região central de Campos do Jordão. E terminava com um corso até o mirante do Morro do Elefante.

E por tal motivo, os boatos de que algo estranho ocorria na cidade sempre se espalhavam naquela época. Algumas fofoqueiras de plantão alegavam terem visto carneiros e ovelhas falantes, ou ainda, seres alados como anjos e fadas. Sem contar os unicórnios, mulas-sem-cabeça, sacis, curupiras e gnomos que as pessoas juravam terem visto perambulando pela cidade.

Havia ainda boatos sobre bruxas, mas esses eram mais raros. E quando os boatos pareciam demais, chuvas misteriosas caíam exalando um cheiro que muitos diziam parecer com essência de morango. Após as chuvas, muita gente começava a ter lapsos de memória.

Desta vez, o motivo de tanto bafafá era o misterioso castelo que aparecera por aqueles dias no topo do Monte do Devaneio.

O monte, que é uma espécie de pano de fundo para a bela cidade, é considerado o mais alto da Serra da Mantiqueira com um total de três mil metros de altitude. Bem, pelo menos é o que se estima, pois apenas sua metade foi explorada. O restante permanece escondido por espessas nuvens que nunca se dissipam. No entanto, o seu topo é visível e foi lá que avistaram o tal castelo.

Houve uma época em que um dos primeiros prefeitos da cidade de Campos do Jordão promoveu campeonatos para desbravadores e aventureiros tentarem ultrapassar a marca dos mil e quinhentos metros. Quem chegou lá em cima disse que depois daquela altura não se vê mais nada com nitidez devido à densidade das nuvens.

A lenda diz que há quem insistiu em continuar subindo, mas de duas, uma: ou desapareceu, ou voltou meio lelé da cuca, contando histórias sobre anjos, fadas e bruxos. Desde então o monte passou a ter o nome que possui hoje. E o prefeito decidiu estipular a marca de mil e quinhentos metros como o ponto mais alto e seguro da cidade para todos os moradores e turistas.

Por falar neles, o casal dentro do bonde não conseguia tirar os olhos do homem de capuz. Ainda mais quando ele retirou uma caneta de pena das vestes verde-oliva e passou a escrever em uma espécie de pergaminho. Ele escrevia sem parar enquanto esporadicamente dava atenção para o baú que estava ao seu lado.

Assim que o bonde entrou na região do Jaguaribe, o estranho levantou-se com um pouco de dificuldade e puxou a campainha de parada. Mancando, ele dirigiu-se até a porta de trás e desceu balançando as asas. O casal tentou disfarçar, mas acabou olhando para o estranho quando um vento retirou seu capuz. Antes de descer, ele encarou o casal. O estranho homem não tinha cabelo, barba ou sobrancelhas, e seu rosto pálido trazia dois olhos castanhos tristes.

— Que cara esquisito! — disparou o jovem negro.

— Vai ver ele bebeu além da conta... — a esposa tentou encerrar o assunto. — Como eu ia dizendo, querido... O pessoal caprichou nas fantasias. E a gente veio assim, né.

— Ano que vem, teremos que caprichar mais. Podemos vir cobertos com...

— Sangue! — ela exclamou com a voz trêmula.

— Não, querida. Ia sugerir de virmos com capas da próxima vez...

— Olhe, um rastro de sangue! — ela apontou para o chão. — Deve ser do homem que desceu.

Os dois se levantaram e foram até o fundo do bonde em movimento. Pelas janelas traseiras, eles conseguiram avistar o homem, graças às luzes dos postes. Ele havia recolocado o capuz e caminhava com um pouco de dificuldade. O casal não conseguia ver, mas um rastro de gotículas de sangue se formava pelos trilhos por onde o estranho passava.

Era noite de lua nova, e os mais supersticiosos diriam que pairava no ar um quê de esperança.

Conforme o bonde se afastava, a figura do homem ficava cada vez menos nítida, mas o casal ainda conseguia vê-lo. O que mais chamou a atenção deles foi quando dois lobos albinos se aproximaram do homem de capuz.

Cada um dos lobos parecia ter vários rabos que se agitavam de forma alucinada, enquanto seus olhos vermelhos reluziam. E antes que o casal pudesse dizer algo, os animais atacaram o estranho.

Quando o bonde virou rumo à região da Abernéssia, o casal se entreolhou sem saber o que dizer, e de supetão a esposa gritou:

MOTORISTA, PARE O BONDE. O homem que acabou de descer foi encurralado por cães gigantes. Precisamos ajudá-lo.

— Nem pensar, senhorita. Já está tarde da noite, e esta é a minha última viagem. — soltou o motorneiro de forma truculenta. Um moço pálido com cabelo escuro dentro de um quepe e com nariz aquilino. Lembrava mais um corvo. — Não se preocupe, a polícia está fazendo ronda a noite toda. A festa à fantasia do Capivari sempre resulta em arruaceiros oportunistas.

— Eu disse cães. Não bandidos, senhor!

— É, eu ouvi, moça. É comum nesta época do ano as pessoas avistarem esse tipo de bobagem. Já estou acostumado com isso. Sentem-se. Vocês devem ter bebido demais no Capivari. — disse o motorneiro com desdém acelerando o bonde.

O casal voltou a se sentar um tanto quanto perplexo. Estavam começando a duvidar de sua sanidade e de certa forma, atribuindo aquilo ao fato de terem bebido um pouco na festa. Mal sabiam que a vida deles estava prestes a ser mudada para sempre.

De repente ouviram um... HIQUE! E depois outro... HIQUE! E em seguida, uma dezena de soluços começou a ecoar pelo veículo. O casal percebeu que eles vinham do banco onde o homem de vestes verde-oliva estava. Os dois se aproximaram com calma e viram que um objeto coberto por uma manta fora esquecido lá.

Alguma coisa embaixo da manta começou a se mexer. "Talvez seja um gatinho", imaginou a esposa. "Mas gatos soluçam?" ela reprimiu tal pensamento. "Talvez seja um filhote de cachorro", pensou o marido. "Mas cães soluçam?" ele ficou cogitando. E logo ouviram um BUÁÁÁÁ. Os dois se entreolharam e pensaram "Ah, não me diga que é...."

— Um bebê. — a esposa retirou a manta e viu que se tratava de uma criança envolta em uma fronha azul repleta de estrelas.

Ela pegou a criança no colo e tentou acalmá-la enquanto o marido, ainda atônito, tinha uma enorme indagação: "Quem era aquele homem de capuz e, como no mundo, ele teve a coragem de abandonar aquela frágil vida?". A resposta veio quando ele achou no fundo do baú uma bolsinha com fecho de vovó. Lá havia algumas moedas com desenhos de relâmpagos e um pergaminho dobrado e escrito à mão. Ele dizia:



O casal não acreditava que aquilo estava acontecendo. Muita coisa naquele bilhete não fazia sentido algum. Que diachos eram Aca.L.An.Tu.S e panqueca naquele contexto? E o que aquelas iniciais da assinatura significavam?

Eles se entreolhavam e olhavam para a criança, que parara de chorar, com muitas indagações na cabeça. Seja lá quem fosse aquele estranho, ele havia confiado a eles uma criança. Mas por quê? O que fazer então? Ir à polícia assim que o bonde parasse? Voltar para a pousada onde estavam hospedados?

Uma coisa era certa, se eles ficassem com a criança, suas vidas iriam mudar para sempre. Embora o passeio de lua de mel do casal estivesse acabando, havia muita coisa a ser resolvida naquela noite antes de voltarem para o seu endereço de partida: a pacata Rua 17 no Bairro da Esperança em São José dos Campos. Um pouco mais de uma hora de viagem dali.

O casal partiu para lá levando consigo aquela que seria procurada por muitos anos pelo nome de a criança perdida.


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Beijos

Luiz Horácio

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