A Raposa
Dante tinha uma boa noção de suas fraquezas e forças.
Se esgueirar com certeza era uma de suas fraquezas.
Enquanto Kaizer e Alice passavam cuidadosamente por trás de objetos grandes e se escondiam na hora certa, Dante estava lutando contra seu próprio equilíbrio. Várias vezes o rapaz quase derrubou alguma coisa ou tropeçou em nada, ambas ações que poderiam alertar os monstros na área. Por sorte — ou milagre — ele se impediu de fazer uma grande besteira. Em seu rosto estava estampado o que ele realmente queria: começar uma briga.
Chega de se esconder, chega de agir que nem um rato!
Guerreiros de verdade brigam de frente!
Ou pelo menos é o que ele estava dizendo para si mesmo em uma tentativa de amenizar sua sensação de incapacidade. Não era justo colocarem ele em tantas situações onde ele não poderia expressar suas habilidades. Investigação? Furtividade? Não constavam em suas competências.
— Onde a gente tá indo?
Dante murmura para Kaizer, que estava se inclinando em uma tentativa de enxergar os monstros.
— Procurando a pessoa que mandou a cobra.
Dante se surpreende.
— Uau, vocês conhecem ela também?
— O quê? Não, idiota. — Kaizer suspira. Dante se sente estranhamente ofendido com o comentário. — Deve ser uma górgona ou algo do tipo. Só não faça barulho.
— Entendido, chefinho...
Dante responde cabisbaixo, deprimido que não poderia fazer nada. Ele não fazia ideia do que era uma górgona, então como poderia ajudá-los? Espera... Górgona não é aquelas estátuas de pedra nas igrejas?
Ele pensa por um instante antes de se lembrar de um detalhe.
Não, essas são gárgulas!
Dante fica se questionando se ele deveria ter lido um livro sobre mitologia grega enquanto estava no acampamento, porém ele eventualmente decide que não era uma má ideia deixar esse trabalho para Alice e Kaizer. Em algum momento eles precisarão dos serviços dele e ele estará à disposição. Até lá, segui-los em silêncio parecia ser uma boa ideia. Enquanto ele sorri sozinho pensando nesse momento, o rapaz sente uma mão em seu ombro e ele quase grita, porém a mesma mão faz um caminho rápido até sua boca, tapando-a.
O rapaz olha para o lado assustado e vê Alice encarando-o decepcionada. De onde ela surgiu?
Dante pensa, só então percebendo que ela não estava ao lado deles pelos últimos minutos.
— Achei um tipo de prisão. — ela sussurra. — Pelo visto os monstros estão prendendo outros monstros. Alguma coisa sobre um sacrifício, sei lá, eu matei o cara antes dele terminar de falar.
— Por quê?
Kaizer pergunta confuso.
— Ele tinha um mau hálito insuportável. — Alice responde sem perceber o quão bizarra era sua resposta. — Vamos, não temos muito tempo.
Dante e Kaizer seguem Alice sorrateiramente, eventualmente chegando na mencionada prisão. Era mais um agregado de jaulas amontoadas do que uma prisão comum, que é o que Dante esperava. Se fosse para comparar, o rapaz diria que é como se fosse uma venda ilegal de animais. Ele não ficaria nem um pouco surpreso se visse uma girafa em uma das jaulas.
— Por aqui. — Alice sussurra. — Eu vi uma pessoa que pode ser quem a gente tá procurando.
Ao chegarem no destino, o trio vê quem com certeza havia enviado a cobra. Aparentava ser uma mulher humana normal: estatura média, bem bonita, tudo "normal", exceto por seu cabelo. Em vez de fios normais, várias cobras se enrolavam em um coque, exceto por uma "mecha" — ou cobra — que claramente havia sido arrancada. O cérebro de Dante demora para processar essa informação, primeiro entendendo que realmente era quem procuravam, depois percebendo que se tratava de uma medusa.
Apenas depois de encará-la dos pés a cabeça que Dante se lembra do mito da medusa, e em seu susto, tapa os olhos desesperadamente. Eles já estavam na frente da jaula, e ela já sabia da presença deles ali também, visto que Alice havia parado de se preocupar com se esconder.
— Cuidado, uma medusa!
Ele avisa mesmo sabendo que era tarde demais.
— Para de passar vergonha. — Kaizer tira as mãos de Dante da frente dos olhos do próprio. — Se fosse a Medusa você já tinha virado pedra faz muito tempo.
— Acontece. — a garota com cabeça de cobra na jaula suspira. — Se vocês soubessem quantas pessoas cometem o mesmo engano, ficariam surpresos.
— V-você não é uma medusa?
Dante pergunta, ainda hesitando em olhá-la nos olhos.
— Só existe uma Medusa, imbecil. — Alice dá um tapa na nuca de Dante. — Então, qual é a sua? Por que você chamou a gente aqui?
Respondendo com um olhar, a mulher-cobra olha para os lados e aponta para as várias jaulas. Alice cruza os braços e resmunga, aceitando a justificativa silenciosa dela.
— Tá, desembucha, cobrinha, quem a gente-
— Pode me chamar de Cris.
Cris interrompe Alice, que cerra os olhos visivelmente frustrada.
— Ok, Cris, como eu ia dizendo... — Alice enfatiza o nome da mulher com certa raiva. — Quem a gente tem que matar?
— Espera, Alice, deixa que eu faço as perguntas. — Kaizer chega mais perto da jaula de Cris. — Prazer, eu me chamo Kaizer, sou um filho de Atena, se você-
— Pfft.
Cris falha em segurar uma risada.
— E-eu disse alguma coisa engraçada?
Kaizer pergunta envergonhado.
— Não, não, é que vocês semideuses realmente são todos iguais. — Cris responde enquanto se recompõe. — Tipo, sem querer ofender, mas você parece muito fácil de desenhar.
Kaizer põe a mão no próprio rosto, confuso. Dante e Alice também tem que segurar a risada, impossibilitados de discordar de Cris. Kaizer realmente parecia fácil de desenhar.
— Eu não sei o que você quer dizer com isso. — Kaizer tenta encerrar o assunto. — Olha, você chamou a gente aqui. Nossa amiga aqui falou que os monstros estão fazendo algum tipo de ritual, a gente precisa saber mais.
— É basicamente isso. Vocês já ouviram falar da mãe dos monstros?
— Meu pai acabou com ela. — Alice ergue o nariz, orgulhosa. — Ele sempre me conta a história, é uma das minhas favoritas.
— Seu pai...? — Cris ergue a sobrancelha. — Não sabia que aquele cara tinha uma filha. Bem, já que você sabe do básico, não é difícil explicar o resto. Desde que ele "acabou" com ela, Equidna ficou fraca demais, mesmo depois de alguns anos no Tártaro. Ela pediu ajuda, agora esses monstros pretendem nos sacrificar para ajudá-la a se recuperar.
— Sacrificar? — Kaizer pergunta. — Eu não sabia que funcionava assim.
— É uma palavra chique para devorar.
Cris ri, e Dante percebe que ela parecia estranhamente despreocupada. Em vez de suspeitar disso, ele só deduziu que ela era uma pessoa tranquila em geral, ou que ela confiava demais nos semideuses presentes. Outra coisa que ele notou — agora que não estava mais tapando seus olhos — foram as várias tatuagens no corpo dela. Seus braços e pernas estavam completamente preenchidos por desenhos.
Desde novo, Dante sempre gostou de tatuagens. Eram desenhos que você podia carregar no seu corpo para todo lugar — o que não era legal nisso?
— Ei... quem é seu tatuador?
Dante pergunta enquanto se aproxima.
— Agora não, cara. — Alice afasta ele. — Essa mãe dos monstros aí, é só acabar com ela e os outros e tá tudo bem?
— Bem... se vocês preferirem assim, é. — Cris dá de ombros. — Alguns dos outros monstros aqui também são pacíficos. Não costumamos nos meter com semideuses nem com os outros, por isso eles pegaram a gente. Se não nos juntarmos a eles, então vamos ser sacrifícios.
— Ótimo! — Alice saca sua espada. — Eu gosto desse plano. Vamos lá!
— Nem pensar. — Kaizer puxa ela pela gola da camisa. — A gente não vai bater de frente com tantos monstros assim.
— Quê? Por que não?
Alice soa desanimada, e Dante sente que ela realmente não via problema com o plano de lutar contra todos.
— Você é uma criaturinha imparável, mas eu e o Abutre aqui não.
Kaizer responde, e Alice adota uma expressão ainda mais confusa, um misto entre orgulho pelo elogio — por mais estranho que ele tenha sido — e a decepção de não poder lutar. Talvez essa tenha sido a estratégia de Kaizer, concentrá-la em uma direção diferente para que ela não proteste contra a mudança de planos. Mas o que realmente fica na mente de Dante é outra coisa:
— Abutre... Abutre. — Dante repete a palavra várias vezes, pensando sobre ela. — Eu gostei, é melhor que Cacatua.
— Também achei. — Alice concorda. — Mas foco no que importa agora. Qual é teu plano então, espertinho?
— Cris, você sabe onde a Equidna está?
— Não faço ideia. — ela dá de ombros. — Mas não deve ser tão longe, esse lugar é bem pequeno.
Kaizer resmunga e fica em silêncio, olhando para os lados como se procurasse algo. Todos ficam quietos também, e quando ele finalmente abre a boca, Dante não consegue conter o sorriso:
— Já sei. — ele repousa as mãos na cintura. — A gente vai explodir esse lugar inteiro.
— Quê?
Cris e Alice perguntam em uníssono.
— Explosões, kabum, entendem? — Kaizer responde. — Estamos no subsolo, não deve ser difícil derrubar o teto.
— Tá... e os monstros presos? — Cris pergunta. — Tipo eu?
— As jaulas são reforçadas, algum tipo de metal mágico, você não vai ser esmagada só com uma tonelada ou duas de concreto. — Kaizer revira os olhos como se aquilo fosse óbvio. — Depois é só limpar o lugar e salvar vocês, não é difícil.
— Eu gosto desse plano.
Dante diz.
— Eu odeio esse plano. — Cris retruca. — Eu sei que os filhos de Atena são sabidinhos, mas você tem certeza sobre as jaulas? Não estou muito afim de arriscar minha vida em uma possibilidade.
— Eu garanto.
Kaizer soa sério, e pelos outros três não terem tanto conhecimento quanto ele, apenas cabe a eles acreditarem nele ou não. Dante já tinha sua decisão pronta: ele confiava totalmente em Kaizer. Talvez fosse sua vontade de ver as explosões, claro, mas não era só isso.
— Tá, e como você vai explodir o teto? — Alice questiona. — Eu não vi você trazer nenhuma bomba.
— Eu vou dar um jeito. — Kaizer se vira para ir embora. — Fiquem aqui com a Cris, não sejam vistos, eu devo voltar em breve.
Alice e Dante observaram Kaizer em silêncio, vendo o rapaz se esgueirando até sumir do seu campo de visão. Nenhum dos três disse algo por muito tempo. Dante, perdido em pensamentos, ainda estava se questionando se aquela era realmente uma ideia boa. Afinal, se até mesmo um deus disse para eles pedirem ajuda em vez de lutar, deve ter algum motivo bom para isso. Isso não é um jogo, muito menos um ato de rebeldia com pouca consequência. Não é como quando seu pai pedia para Dante não fritar um pedaço de carne, por exemplo, onde o pior dos casos levaria a um pedaço chamuscado.
Não, o pior dos casos agora seria a morte.
Dante se sentiu nervoso pela primeira vez. Não era um incômodo, era algo a mais. Ele finalmente havia entendido o peso de tudo que estava acontecendo ao seu redor, e mesmo sabendo que aquilo provavelmente era uma ideia boa, ele decidiu que precisava conversar com alguém.
— Alice. — Dante chama a atenção da garota, que girava sua espada de um lado para o outro, inquieta. — Você acha isso normal?
— Quê? — ela olha para os lados. — Olha, eu tô ansiosa pra fatiar uns monstros, é normal eu ficar me mexendo.
— Não, não é isso. Eu digo... tudo ao nosso redor. Monstros, batalhas até a morte, deuses, isso não é normal.
Assim que Dante termina sua fala, Alice encara ele com sua sobrancelha erguida. O rapaz começa a cogitar que realmente tenha sido uma má ideia falar sobre isso, afinal, não é como se alguém como ela conseguisse entender isso.
— Esquece, é besteira.
— Dante, esse aqui é o meu normal. Eu mato monstros, converso com deuses, costumo batalhar até a morte pelo menos uma vez ao mês. Você só tem que aceitar que esse é o seu normal agora, não uma idiotice tipo entregar atividade na escola ou coisa do tipo.
Ouvindo isso, Dante suspira, sabendo que ele não poderia discordar dela. Ela estava certa.
— É que foi tão do nada. Eu não sei se consigo me acostumar tão rápido assim. — Dante aos poucos vai pensando mais e mais em sua situação, e ele eventualmente conclui: — Eu acho que vou sentir saudades do outro normal.
— Não é como se fosse pra sempre.
Essa é a resposta que Dante menos esperava vindo de Alice. Se fosse qualquer outra pessoa menos honesta, claro, ele entenderia que seria um tipo de conforto. A Alice que ele conhecia — mesmo que pouco — diria algo do tipo "problema seu, palhaço".
— Como é?
— Se você ficar forte o bastante pra se proteger e proteger sua família, você pode voltar pra casa e continuar como se nada tivesse acontecido, exceto que de vez em quando uns monstros podem acabar aparecendo. — ela responde. — Bem, é como as coisas eram antigamente, já que tinham centenas de semideuses por aí. Você realmente acha que os semideuses moram no acampamento até morrer?
— N-não... não sei, eu não tinha pensado nisso. — Dante sorri, percebendo que fazia sentido. Ele não viu nenhum semideus velho até agora, o que poderia ser um sinal ruim, mas pelo visto nem tanto. — É sério? É só eu ficar forte e ir embora?
— É. Só deixar de ser incompetente e você nunca mais precisa ver a gente. — Alice mostra a língua para ele, debochando do rapaz com seu insulto. — Então larga de drama, o Kaizer deve voltar daqui a pouco.
Essa resposta foi menos agradável do que Dante gostaria. Teoricamente, ele adoraria poder ir embora e fingir que nada da última semana que vem aconteceu, seria um sonho. Mas agora que ele sabia que isso era uma possibilidade, uma parte sua não consegue evitar de se sentir mal por isso. Querendo ou não, ele via Alice e Kaizer como amigos. Mesmo sem querer aceitar isso, Dante sabe que, no fundo, sentiria saudades desse seu novo normal.
Nenhuma nova conversa se iniciou até Kaizer chegar, e quando ele retornou, parecia mais animado que antes. Dante via um brilho em seus olhos que não tinha visto no rapaz até então, e isso fez ele se perguntar se Kaizer era algum tipo de maníaco por explosões.
— Tá pronto! — ele diz, alegre. — Os monstros estão andando por aí, então foi difícil voltar aqui escondido, mas eu consegui. Todas as bombas estão a postos!
— E agora? — Dante pergunta. — A gente corre?
— Não, não se preocupa, eu dei um jeito melhor. — Kaizer ri. — Em vez de arriscar o teto amassar as jaulas, foi só não explodir o teto em cima dessa sala! Muito mais prático.
— Por que você não sugeriu isso antes, cara?
Alice pergunta, indignada.
— A ideia me fugiu. — Kaizer dá de ombros. — Bem, não se preocupem, apenas saquem suas armas e esperem.
— Quanto tempo?
Dante pergunta. Em resposta, Kaizer levanta três dedos e começa uma contagem regressiva:
— Três, dois, um...
BOOM!
Uma dúzia de explosões ecoam em sequência por todo o lugar. O chão começa a tremer e o teto ruiu, soltando pequenas pedras e poeira. Dante, por precaução, puxa Kaizer e Alice para perto e ergue seu machado, colocando-o na frente de qualquer entulho que possa cair na cabeça de seus amigos e na dele mesmo.
Depois do que parecia ser uma eternidade de tremores, o silêncio se instaura na sala — exceto pelo som de várias tosses, incluindo as dos semideuses — e Dante finalmente se afasta dos outros dois. Olhando para o lado, ele vê que tudo parecia bem. O teto da sala não havia caído tanto e as jaulas não estavam amassadas, o que era uma vitória completa.
— Rápido, não podemos perder tempo. — Kaizer diz enquanto vai até a jaula de Cris. — Eu vou soltar o pessoal daqui, vocês corram até as outras salas e eliminem todos os inimigos.
— Pra já!
Alice salta para fora da sala, apressada. Não demora muito para Dante ouvir o som de sua lâmina cortando o ar e monstros grunhindo de dor. Respirando fundo antes da batalha, Dante dá uma última olhada para Kaizer, que acena com a cabeça, confirmando que ele deve ir.
Dante ergue seu machado e corre para fora da sala.
O primeiro inimigo que ele encontra é uma das criaturas mais bizarras que ele já viu. Um corpo humano, só que sem a cabeça e com o rosto em seu torso. Ele nem ao menos tentou se perguntar o que era aquilo, apenas aproveitou que o monstro estava atordoado para atingi-lo com seu machado. Enquanto estava preparado para ver sangue — de qualquer tipo de cor, ele não se surpreenderia nem se fosse azul —, Dante pensa em fechar os olhos, mas se surpreende quando a criatura se torna uma nuvem de pó dourado logo após ser atingida.
Estranho? Bastante, mas ele estava muito feliz de não ter que ver corpos, mesmo que de monstros. Além disso, isso só confirma que o que aconteceu com o ciclope da porta não era algo exclusivo dele. Se todo monstro vira pó dourado, isso torna as coisas muito mais fáceis.
Uma criatura logo atrás, que parecia um tipo de lobisomem, vem em sua direção com sua espada erguida. Dante bloqueia o ataque e revida com uma cabeçada, que atordoa seu inimigo por tempo o suficiente para que o rapaz possa desferir um golpe que finaliza ele de vez. Olhando para o lado, ele vê um monstro se aproximando sorrateiramente de Alice, que estava batalhando três criaturas ao mesmo tempo.
Aproveitando a oportunidade, Dante arremessa seu machado na criatura que tentava flanqueá-la. Ouvindo o som do impacto, a garota olha para trás, e quando vê a nuvem dourada atrás dela, apenas revira os olhos e resmunga. Uma vitória para Dante Redgrave!
Correndo até seu machado, Dante saca ele bem a tempo de se defender de mais um inimigo. Enquanto lutava contra eles, o rapaz percebe que o plano de Kaizer havia sido mais efetivo do que o esperado. Até mesmo os inimigos que sobreviveram estavam atordoados, e certamente haviam sido pegos de surpresa. Isso tornava as coisas mais fáceis, e já estava fácil demais.
Para cada inimigo que caia perante seu machado, Dante sentia sua fúria se tornando mais e mais presente em seu coração. Seus pensamentos saíram de "tenho que acabar com isso logo" para "não tem inimigos o bastante para eu cortar". Racionalmente, isso era preocupante, porém racionalidade era a última coisa passando em sua mente agora. Sem que ele percebesse, o rapaz havia se tornado um guerreiro imparável, cujo único objetivo era a vitória.
Ele não fazia ideia de quanto tempo havia passado desde que a luta tinha começado, porém como todas as coisas boas chegam ao fim, essa sua batalha teve o mesmo destino. Eventualmente nenhum inimigo aparecia, e tudo que restava em seu corpo era a adrenalina que não parecia querer ir embora tão cedo. Quando ele olhou nos olhos de Alice, a ideia de chamá-la para um duelo ali e agora parecia ser muito boa, e ele jurou que ela pensou o mesmo por um segundo.
Infelizmente, um rugido estrondoso os ensurdece momentaneamente, sendo tão alto que fez Dante cair de joelhos. Alice, por sua vez, aguentou a dor melhor. O corpo de Dante sai do "modo de combate" para confusão quase que instantâneamente. Quem ou o quê gritaria tão alto ao ponto de fazê-lo cair no chão? Ainda mais quando várias explosões nem chegaram perto de fazer o mesmo.
O rapaz se arrepia só de pensar, mas a garota ao seu lado parecia ter outra ideia.
— Eu reconheço esse som.
Ela diz, porém os ouvidos de Dante ainda não estavam funcionando muito bem.
— Quê?
Dante grita, tentando fazer com que ela repita.
— Esse som, eu reconheço ele. — Alice anda na direção da fonte do som. — Eu já ouvi ele antes, eu só... não sei onde.
Confuso — e incerto se ouviu tudo aquilo direito — Dante segue a garota pelos escombros. A sala ao lado era a maior de todas até então, porém a mais vazia. Além de um altar com um grande caldeirão (que agora exalava vapor quente) no centro, não tinha quase nada. Isso, claro, excluindo a criatura gigante no meio.
Era uma mulher-cobra também, só que muito diferente de Cris. Em vez de ser bela, era uma criatura que lembrava vagamente uma mulher. Da sua cintura para baixo uma cauda gigante se enrolava pela sala, e em sua cabeça várias outras cobras menores saiam. Ela era completamente verde, e Dante quase vomita ao ver seu rosto. Era assombrosa, a imagem perfeita do que é o verdadeiro terror. Ele nem precisava perguntar: aquela era a mãe dos monstros.
Em vez de ser intimidada — ou enojada — pela aparência de Equidna, Alice se aproxima curiosamente, nem ao menos erguendo sua espada. Por conta dos vários destroços soterrando a criatura, pode ser que Alice não veja sentido em se armar, afinal, Equidna estava completamente imóvel, porém consciente. Ao ponto em que seus grandes olhos amarelos se encontram com os de Alice, e seu rosto perverso parece exibir uma expressão de surpresa.
Assim como Alice parecia reconhecê-la, Equidna também reconhecia ela.
— Você... é você... — a voz grotesca de Equidna é tão alta que Dante mais uma vez tem que cobrir seus ouvidos. — A maldita prome-
O som de uma lâmina cortando o ar silencia a mãe dos monstros.
Dante nem chegou a ver quando Alice ergueu sua espada, e certamente não viu o corte que foi feito. Ele só entendeu o que aconteceu ao ver o pó dourado surgindo e flutuando pelo ar. A expressão de Alice dizia tudo que ele precisava saber: ela estava sentindo ódio. Um ódio tão puro que ele nunca viu antes, apenas sentia ser possível existir.
— Alice? — ele chama a garota, que demora para se virar até ele. — Tá tudo bem?
— Tá, tá... eu só... eu só fiquei com raiva, muita raiva. — ela ri. — Que estranho, acho que ela era tão feia que me irritou de verdade. Sério, você já viu um monstro tão feio assim antes? Eu sei que não vi, que porc-
Algo molha o rosto de Dante.
Calmamente, o rapaz ergue sua mão e esfrega no rosto. Ao encarar sua palma novamente, ele vê algo viscoso e vermelho. Sangue, só poderia ser sangue. Mas por que sangue? Monstros não sangram, eles viram pó. Isso era tão, tão estranho que ele estava prestes a soltar alguma piada para Alice, e quando ele olha para ela novamente, seu cérebro processa tudo que aconteceu nos últimos segundos.
Em um último ataque desesperado, repleto de uma necessidade de se vingar, Equidna atacou Alice, que estava desprevenida demais para perceber o golpe. Uma de suas longas garras impala a garota, atravessando suas costas e saindo pelo seu peito. Dante e Alice se olham brevemente, ambos entendendo o que estava acontecendo ao mesmo tempo.
Talvez aquilo não fosse real. Talvez ele tenha batido a cabeça durante a luta.
É mais provável, claro, visto que Alice é imbatível. Kaizer mesmo disse: ela era uma criaturinha imparável.
— Dante?
A voz dela mal consegue escapar de sua garganta. Sangue jorra de sua boca.
Era real, era mais real do que qualquer outra coisa até agora.
Sem pensar duas vezes, Dante corre até ela, segurando-a antes que a garota caia com tudo no chão. Ele repousa ela gentilmente, sendo a última coisa que consegue fazer antes de ser completamente tomado pelo nervoso. Sangue. Era muito sangue. Era mais sangue do que ele jamais conseguiu imaginar uma pessoa tendo, ainda mais uma pessoa tão pequena.
Muito pequena. Alice era uma criança. Pelos deuses, ela era da mesma idade que Briar. Dante pisca uma vez, vendo Briar no lugar de Alice, e quando pisca novamente, sua irmã some, dando espaço para a realidade. Uma criança estava morrendo em seu colo. Ela iria sangrar até a morte, ou se engasgar com seu próprio sangue antes disso.
Não, não aqui, não agora. Dante arranca sua jaqueta e pressiona na ferida da garota. Isso certamente iria ajudá-la a não sangrar tanto. Tempo. Ele precisa de tempo, tudo que ele precisa é tempo. Com tempo o suficiente, alguém poderia aparecer para ajudá-los. Uma ideia cruza a sua mente.
— Kaizer! Kaizer, corre aqui agora, Kaizer! — ele grita com toda a sua força. — Kaizer, aparece, porra!
O mundo, que parecia estar girando mais rápido do que Dante poderia imaginar, começa a desacelerar. Todo breve momento parecia durar mais do que devia. Kaizer não chegava nunca. Dante estava começando a se perguntar se ele ainda estava no subsolo. Talvez ele tenha ido pedir ajuda. Talvez eles estejam sozinhos e sem chance de pedir ajuda. E se fosse Briar? E se fosse ela morrendo na sua frente, Dante?
— ALGUÉM! POR FAVOR! — Dante grita mais uma vez. — QUALQUER UM!
Um passo ecoa pela sala. Dante se vira esperando encontrar Kaizer, e ele estava apenas parcialmente correto. Ao lado dele estava Cris, a garota com cabelo de cobra. Ambos encaravam Alice com uma expressão de choque. Eles não tinham tempo para isso, não, não, eles precisam de tempo.
— AGORA!
O último grito de Dante parece despertar os dois. Kaizer se aproxima e vai para o outro lado. Os olhos de Alice lentamente vão de encontro a ele. Dante conseguia ver que ela não tinha muito tempo. Se os olhos são a janela para a alma, então as janelas de Alice estavam se fechando. Quanto tempo se passou? Tempo, tempo, eles precisam de tempo.
— M-merda, merda! Como isso aconteceu? — Kaizer pergunta, mas logo o rapaz se dá um tapa. — Não importa, porra, porra! Eu preciso de... uma poção, alguma coisa. Néctar, talvez isso ajude, isso!
— Não vai adiantar. — Cris diz. — Os órgãos dela tão completamente destruídos.
— Então que merda você quer que eu faça? — Kaizer grita. — Eu não sei fazer magia!
— Eu sei.
Cris responde, pegando a espada de Alice de suas mãos. A garotinha segura a lâmina com o resto de suas forças. Mesmo no que poderia ser seu último momento, ela não queria soltar sua arma. Ela encara a espada e seus olhos se enchem de lágrimas. Dante não fazia ideia do que estava passando na mente de Alice, mas ela certamente já não estava consciente por inteiro.
Cris usa a lâmina para fazer um corte em sua mão, e logo posiciona o ferimento próximo da boca de Alice.
— O que é que... PARA! — Kaizer puxa a mão dela para longe. — Sangue de górgona? Você vai matar ela de vez!
— Escuta aqui, garoto, eu sei o que eu tô fazendo. — Cris volta a jorrar seu próprio sangue na boca de Alice. — Eu e meu irmão temos... uma diferença. Cada um herdou uma metade de nossa mãe. Pra sorte de vocês, eu herdei a parte boa.
Dante não havia entendido uma palavra sequer da conversa deles. Sangue de górgona? Que diferença isso faz? Ela iria morrer se ninguém fizesse nada, e sendo assim, que ao menos eles tentassem algo.
O sangue que pingava na boca de Alice brilhava com um tom esverdeado, semelhante a um tipo de veneno. O brilho escorre por dentro de seu corpo, e Dante consegue vê-lo se espalhando pelas veias de Alice, ao mesmo ritmo de seu tão lento coração. O rapaz segura a respiração, e o mundo desacelera ainda mais do que antes. O silêncio entre os quatro é tão alto que Dante começa a ouvir seu próprio coração batendo. Nem mesmo seu nervosismo parecia existir, apenas o presente.
Tempo. Eles precisam dar tempo ao tempo.
Alice seguia respirando. O coração dela ainda batia. Ela não estava morta, e enquanto ela estivesse viva, tudo poderia acontecer. Ele precisava manter a esperança, mesmo que isso fosse voltar para mordê-lo depois.
E como se estivesse apertando o botão de despausar o mundo ao seu redor, o som de algo queimando faz Dante acordar de seu transe. Aos poucos a carne de Alice começa a esticar e se reconectar, como se fossem pequenos fios se movendo para criar uma corda. Isso se repete centenas de vezes, acelerando cada vez mais, até que os fios agora passem a ser feitos de pele. E como se nada tivesse acontecido, Alice parecia completamente recuperada, exceto por um buraco em sua roupa.
Um milagre.
Essa é a única descrição que Dante encontra para o que aconteceu diante de seus olhos. Ele nunca acreditou que ela fosse morrer, mas esse certamente não era o meio que ele imaginou para isso. Seja como for, tudo que Dante sentia agora era alívio. E por ter finalmente relaxado, só agora o rapaz sente todo o cansaço da última semana, caindo de costas e encarando o céu estrelado da noite sendo iluminado pelo brilho de sirenes se aproximando.
Polícia? Tanto faz. Ele não conseguia se importar menos com isso agora.
— C-como você fez isso? — Dante encara Cris ainda embasbacado. — Você... você salvou ela.
— Faz parte dos meus talentos. — ela sorri. — E vocês me salvaram também. O mínimo que eu poderia fazer é dar um pouco do meu sangue de volta.
— Você é cem por cento cura? Como que... quem é seu irmão? Espera, não é o...
Kaizer pergunta enquanto averigua o estado de Alice.
— Não importa. — ela revira os olhos. — Cuidem dela. Ela deve se recuperar de verdade daqui a uns dias, meu sangue não faz tudo sozinho, ela tem que lutar um pouco também. E se eu fosse vocês, sairia daqui o mais rápido que der. Nem todo monstro que estava preso é tão prestativo quanto eu.
Lembrando desse detalhe, Dante reúne o que sobrou de suas forças para ficar de pé e ajudar Kaizer a erguer Alice, que estava inconsciente.
Mesmo com o alívio dela estar viva, Dante não iria se recuperar dessa situação tão cedo. Tudo em seu corpo doía, ele estava totalmente drenado de energia. Talvez ele vá precisar dormir pelo próximo mês inteiro, isso se ele conseguir relaxar. Toda a sua concepção de normal e de futuro mudou mais uma vez graças a essa situação, e mais uma vez ele precisaria processar tudo isso.
— Cris, obrigado. — Dante fala com a górgona, que por sua vez estava indo embora em silêncio. — Muito obrigado mesmo.
— Já disse, eu só retribui o favor. — ela mantém o sorriso convencido. — Inclusive, moleque do moicano, você me perguntou quem era meu tatuador, né? Sou eu mesma. Algum dia, quando você estiver mais crescidinho, procura a Última Gota. Meu estúdio fica por lá, e eu posso te fazer uma tatuagem no precinho.
Se isso já não era um fato antes, agora era. Cris deve ser a monstra mais descolada que ele já viu em toda a sua vida, e ele iria contar os dias até fazer sua primeira tatuagem.
E esse foi o único ponto positivo inteiro das próximas vinte e quatro horas. Dante desligou seu cérebro completamente na hora de ir embora. Ele nem ao menos se lembrava como eles fizeram para fugir da polícia, nem se precisaram fugir deles. Como foram embora, que horas foram embora, nada disso havia ficado em suas memórias. Tudo que ele lembrava era de deixar Alice na enfermaria do acampamento e ficar plantado na porta, sentado em um banco ao lado de Kaizer.
Todos estavam errados, todos. Até mesmo ele.
Aquilo não era normal. Não poderia ser um de seus "normais". Nem se ele fosse embora de volta para o seu lar, junto de sua família e forte o bastante para protegê-los. O constante perigo ao seu redor e o medo de que algo assim possa acontecer de novo era um sinal de que isso não é uma vida que valha a pena viver. Ter Alice morrendo em seu colo já era ruim o suficiente. Ele mal conseguia imaginar quão pior seria ver Briar passar pelo mesmo.
E quantos semideuses passaram por isso antes deles? Quantas Alices morreram em missões, quantos Dantes tiveram que ver isso? Milhares de anos, duas gerações diferentes de deuses, e esse era o ponto mais alto da segurança que eles poderiam esperar.
Não.
Nada de bom viria de graça. As coisas tinham que mudar, ele só não sabia como. Desse momento em diante, Dante se recusava a pensar nisso como normal. Nada disso é normal e nunca deveria ser. Se não fosse pela mão dos deuses, talvez devesse ser a mão dele que traga uma mudança. Até lá, ele não teria coragem de encarar sua irmã nos olhos e dizer que está tudo bem.
Não está. Nada está bem, e nada estaria bem até que algo mudasse.
E apenas com essa realização que, mais uma vez, Dante sai dos seus pensamentos. O sol do meio-dia queimava sua pele e ofuscava seus olhos como um lembrete ruim de que ele não estava confortável. Nada naquela situação era confortável.
A mãe de Alice estava na enfermaria. Ele nem chegou a ver ela chegando, apenas ouviu a voz dela conversando com a do médico, Tomás, que havia sido trazido para cuidar da garota. O que ele devia fazer? Pedir desculpas? Se ele fosse a mãe da Alice, provavelmente socaria ele assim que Dante dissesse algo assim. Talvez ele merecesse o soco.
Kaizer, por sua vez, parecia inquieto. Ao contrário de Dante, que desligava sua mente nessas situações, o filho de Atena entrava em um modo de sobrecarga. Dante não ficaria surpreso se descobrisse que todas as situações possíveis passaram pela mente de Kaizer até então, e ele tem medo do que o rapaz estava pensando agora.
— Kaizer, eu... eu tenho que te pedir desculpas. — Dante fala, chamando a atenção de Kaizer. — Eu... eu não consegui ajudar a Alice a tempo. Foi mal.
— Não é culpa sua. — ele responde imediatamente. — Foi aquela monstra maldita. Ela era muito forte. A culpa é minha por ter seguido com o plano de atacá-los.
— Deixa disso, cara, você tentou impedir a gente.
— Não importa! — Kaizer reclama. — As ordens eram claras. Eu estava no comando, a decisão final era minha. Eu decepcionei o Tristan e coloquei vocês em perigo. Isso não vai se repetir. Isso nunca mais vai se repetir.
— Eu não vou tentar te convencer. — Dante suspira. — Você sabe que não é sua culpa. Eu que incentivei a Alice, mas se você quiser, a gente pode dividir esse peso.
Dante fica de pé e vai até a porta da enfermaria, porém é impedido por Kaizer, que segura o rapaz pelo ombro.
— O que você está fazendo?
Kaizer questiona.
— Eu vou falar com a mãe da Alice.
— Nem pensar. Você não vai fazer isso sozinho. Eu conheço ela a mais tempo, eu resolvo.
Dante empurra Kaizer de leve, afastando-o.
— Cara, ela deve estar uma fera. Se alguém for aguentar o soco, esse alguém sou eu, não você. — Dante ri. — Agora vê se descansa, dá pra ver a fumaça saindo das suas orelhas.
— Você tá falando que vai aguentar o soco de uma deusa? — Kaizer pergunta, embasbacado. — Ela nem... cara, você é louco.
Dante dá de ombros e entra na enfermaria. À distância ele vê uma mulher sentada ao lado da cama de Alice. Ela era uma mulher alta, bem vestida e com um cabelo longo com uma única grande trança que repousava em seu ombro. Ela sussurrava algumas palavras quase inaudíveis. A única frase inteira que Dante conseguiu escutar foi "isso nunca mais vai acontecer com vocês duas".
— Ei, senhora mãe da Alice. — ele diz para tentar chamar a atenção da deusa, que apenas fica em silêncio. — Eu vim pedir desculpas. A gente... eu, eu deveria ter sido mais responsável pela Alice. Eu sei que desculpa não muda nada e... e o que aconteceu, aconteceu, mas eu sinto que tinha que te dizer isso, já que-
— Eu quero ficar a sós com minha filha. — a voz da deusa parece ecoar dentro da cabeça de Dante, comandando-o. Ela se vira para olhar em seus olhos, e em vez de raiva, Dante vê uma expressão de profunda tristeza e culpa. — Por favor.
Sem saber o que dizer, Dante balbucia palavras incompletas, sentindo-se inadequado. Arrependido, ele sai da enfermaria sem dizer mais nada. Ele nem deveria ter entrado ali para começo de conversa. Que tipo de ideia idiota foi aquela? Por que ele tinha que se envergonhar assim?
Agora uma deusa deve odiar ele.
Tudo porque ele não conseguia ficar quieto.
— Abutre?
Kaizer pergunta quando vê o rapaz saindo da enfermaria.
— Você tava certo, eu acho que sou maluco. — Dante ri. — Eu vou... eu vou treinar, eu acho.
— Ah, ok. — Kaizer encara ele com a sobrancelha erguida. — Você quer... alguém pra treinar contigo?
— Não. — Dante responde com o máximo de educação que consegue. — Eu acho que preciso ficar sozinho por agora, mas valeu. E sério, tenta descansar, você tá com uma cara de merda.
Andando em frente sem parar, Dante respira fundo e dá os primeiros passos para o seu novo objetivo. Se o mundo não vai mudar sozinho, ele mesmo teria que fazer isso acontecer. Pelo bem da Briar e dos seus amigos. Um dia de cada vez, ele ficaria mais forte, ao ponto em que ninguém ao seu lado estaria em perigo novamente.
Afinal, ele estará lá.
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