Mente Vazia, Oficina do Diabo
- Então...- O homem parou de andar e esfregou a nuca, pensativo - Um gato falante roubou todo seu estoque de comida, e fugiu para a floresta?
- Hm, por ai - Yochi respondia colocando a mão sobre a face e suspirando. - Ah! Quer dizer! Sim senhor!
Yosuki soltou um suspiro pesado, passando a mão pelos cabelos desgrenhados. - Que desastre! - Deu alguns tapinhas na própria cabeça, como se quisesse chacoalhar as ideias soltas em sua mente - Certo, abra essa mochila! Tire tudo de útil!
Com a mochila agora aberta, Yochi começou a dispor cuidadosamente os itens sobre o pano estendido no chão. Uma pequena panela de ferro fundido, um cantil de água, um isqueiro, um kit de primeiros socorros e algumas cordas foram dispostos em uma linha organizada. Seus olhos brilharam com uma ideia repentina quando avistou algo esquecido no fundo da mochila.
- Oh! Estava me esquecendo... - exclamou, com entusiasmo, enquanto puxava o estilingue que ganhara de Takemori em seu último aniversário - Podemos usar isso né?
Algo acendia na mente de do gigante. Aquilo na verdade, era uma oportunidade perfeita! Talvez seu irmão não o perdoaria, mas não tinha outro jeito, era hora de explorar a independência daquela garota.
- Podemos? Por acaso acha que vou pegar na sua mãozinha e ensinar você a fazer tudo? Nada disso! Se vira! Se até final desse dia não caçar nada é melhor que me esqueça - Foi firme na voz e virando as costas, mas sem que ela pudesse ver, ele colocava a mão no lábio contendo um sorriso.
"Na verdade, eu reparei que essa garota não sabe agir por si só direito. Ela depende de opiniões alheias toda hora... Então é melhor assim!"
- Mas... Tio, eu... - Yochi parou de falar, seus olhos buscavam desesperadamente por alguma compreensão do gigante. Sem êxito, ela então acenou com a cabeça em reverência, sentindo o peso da responsabilidade esmagá-la.
Em sua mente, ecoava a frase de seu pai como um eco insistente, uma advertência que parecia sufocá-la com sua gravidade.
Isso não é como em um conto de fadas, onde você é a escolhida... Isso é abraçar uma responsabilidade acima das outras. Tenha em mente que seus estudos de guerra estão anos-luz atrasados, você não é nenhum tipo de prodígio, não tem o destino ao seu lado.
O coração batia forte, misturando medo e ansiedade. Ela sabia que estava sozinha agora, enfrentando os desafios da floresta sem a proteção ou orientação. Mas também a faísca de uma determinação recém-descoberta começava a surgir. Esta era a sua chance de provar não apenas para o tio, mas para si mesma, que era capaz de enfrentar aqueles obstáculos.
- Eu vou dar no pé. Só me invoque quando tiver pego algo... - A voz do tio soou firme, mas havia uma ternura velada por trás daquelas palavras. Ele começava a se desvanecer lentamente, quase como uma sombra se dissipando ao amanhecer - Observe mais... - Foi a última instrução antes de deixa-la sozinha no coração da floresta.
Yochi olhava ao seu redor, confusa com a última instrução de seu tio.
"Observe mais? Mas o que devo observar?"
Franzindo a testa. Sem muitas ideias claras, decidiu confiar em seu instinto e pegou seu estilingue de madeira, correndo em direção às margens de um rio próximo, seguindo o curso das águas.
O lago era um local encantador, com águas serenas e cristalinas, refletiam os raios de sol que penetravam entre as copas das árvores. À sua volta, as margens do lago estavam salpicadas de moedas, vestígios de uma época em que o local era usado como um lago dos desejos.
- Eu lembro disso... Na verdade, já ouvi falar. Lago dos Milagres, né? - murmurou para si mesma, recordando as histórias que ouvira sobre o lugar.
A garota retirou suas botas com cuidado, sentindo a frescura da grama entre os dedos descalços. Com um suspiro de alívio, ela afundou os pés na relva macia e sentiu a energia da natureza fluir através de seu corpo. Suas calças jeans foram cuidadosamente enroladas até os joelhos.
Com passos lentos e cautelosos, aproximou-se das margens do lago, observando o reflexo das árvores dançando na superfície serena da água. A aura mágica do local parecia envolvê-la cada vez mais.
"Não foi aqui que ocorreu aquele crime? O senhor Ginzu me disse uma vez que um corpo foi encontrado..."
Finalmente, pisando sobre as águas rasas, Yochi começou a procurar pequenas pedras, que seriam sua principal munição. Ela selecionou algumas, testando seu peso e formato para garantir a precisão.
Enquanto procurava, Não pode deixar de notar partes de barcos espalhadas ao redor das margens do lago, junto com ossos de animais grandes.
Por mais estranho que fosse, tentou manter o foco e selecionou mais pedras
- Hm, essas vão servir... - murmurou.
Tudo estava quieto demais... Aonde estavam os animais? O lago, envolto em uma calmaria estranhamente sutil, parecia congelado no tempo, suas águas serenas refletindo a luz do sol de forma quase irreal. Não havia movimento, nenhum som além do suave murmúrio das folhas nas árvores próximas.
De repente, como se a própria natureza protestasse contra essa tranquilidade forçada, um som profundo e gutural ecoou de suas profundezas. Era como se um rugido ancestral emergisse das entranhas do lago, ressoando pelas margens e ecoando pela floresta ao redor. O som era assombroso e arrepiante, fazendo com que Yochi parasse abruptamente e olhasse ao seu redor com olhos arregalados. A origem exata do som permanecia um mistério, oculta nas profundezas
- Mas...De onde diabos veio isso?...
Vila Verdejante - Ichi no Tane
Numa ensolarada manhã, a pacata Vila Verdejante estava animada com a expectativa do evento anual de pescaria municipal. Os habitantes da vila se reuniam na margem do lago principal, onde uma grande tenda foi montada para receber os participantes. O local estava decorado com bandeirinhas coloridas e mesas repletas de petiscos e bebidas, enquanto música suave tocava ao fundo.
À medida que os moradores se aglomeravam, os recém-chegados eram recebidos calorosamente pelos anciãos da vila.
O veterano pescador, Sr. Matsumoto, reuniu todos ao redor da fogueira crepitante, aonde assava alguns peixes. Com um brilho nos olhos, começou sua narrativa. Lá vinha historia!
- Quando tinha a idade de vocês, eu era um pescador lendário! Viajei por todos os lugares em busca de espécimes únicos, enfrentando desafios que poucos ousaram encarar - Ele coçava a garganta e prosseguia - Na época que servi a marinha, pesquei até mesmo baleias em alto mar!
O velho gesticulava a cada frase - Mas hoje não vou lhes falar sobre essas aventuras. Hoje, vou compartilhar com vocês a pior tragédia de minha vida... - Ele ergueu a perna de pau, revelando a ausência do membro. Um silêncio tenso pairou sobre o grupo, enquanto todos se perguntavam que tipo de monstro poderia ter causado tal dano.
- Era uma noite escura e silenciosa, as águas do lago dos milagres refletiam apenas a luz tênue da lua. Eu estava sozinho, na minha pequena embarcação, esperando pacientemente por uma boa pescaria. Mas o que eu encontrei naquele lago foi muito mais do que eu poderia imaginar.
Ele pausou dramaticamente, observando o rosto atento dos espectadores, antes de continuar:
- De repente, senti um tremor nas águas, como se algo colossal se movesse sob a superfície. Então, vi surgir das profundezas um monstro terrível, com escamas reluzentes e presas afiadas como lâminas. Possuía quatro, não! Cinco metros! Nunca antes vi uma fera como aquela, não possuía registro algum entre meus livros! Era algo novo, uma anomalia da terra! Seu surgimento chacoalhou tudo como um terremoto!
O Sr. Matsumoto arregalava os olhos enquanto se abraçava em agonia:
- As malditas presas! Sim! Eram tão afiadas quanto lanças, perfurou até mesmo o casco de meu barco, que era feito de carvalho. Seus olhos brilhavam com uma malícia, uma inteligência maligna que o fazia parecer sentir prazer em matar.
Ele baixou a voz: - Eu o nomeei de "Carniceiro de Ouro", e pude ver ele arrastar meu barco inteiro para as profundezas com um único golpe...
Com um suspiro pesado, o Sr. Matsumoto finalizou sua advertência:
- Lembrem-se, mesmo nas noites mais tranquilas, o lago dos milagres sussurra os segredos de suas profundezas. Fiquem longe, meus jovens, ou podem acabar conhecendo o destino terrível que aguarda os que desafiam o Carniceiro de Ouro... Para sempre!
Floresta de Ichi No Tane
As águas revoltas explodiam em todas as direções, lançadas aos céus enquanto cediam espaço para a passagem de algo colossal, algo majestoso! Era um peixe de proporções monumentais, sua envergadura atingindo cinco metros de altura, sua presença imponente dominando o cenário. Sua pele escamosa brilhava à luz do sol, refletindo tonalidades de azul e verde, enquanto suas barbatanas poderosas cortavam a água com facilidade. Seus olhos, frios e penetrantes, pareciam vasculhar cada canto do lago em busca de sua próxima presa. Em sua mandíbula, ele segurava um infortunado servo, sua vítima inteira, que havia tido o azar de estar no lugar errado na hora errada.
As águas que retornavam ao lago caíam em cascata, simulando uma chuva incessante, enquanto Yochi era banhada pelas gotículas que se dispersavam pelo ar. Com um estrondo ensurdecedor, o monstro se precipitava de volta às profundezas, criando uma onda gigantesca que lançava a garota para trás, fazendo-a colidir violentamente contra uma árvore próxima, onde finalmente encontrava um breve momento de repouso.
Após alguns instantes, um silêncio sereno parecia se estabelecer sobre o cenário, como se até mesmo a natureza estivesse contendo a respiração. No entanto, esse momento de tranquilidade foi interrompido por um pequeno som de ronco, algo quase imperceptível. De vinha? Os lábios de Yochi se umedeceram lentamente, enquanto suas pupilas dilatavam.
No templo, nunca havia experimentado a sensação de fome ou necessidade, então aquele desejo era surpreendente. O fenômeno tinha uma explicação simples: Quanto mais extrema a situação enfrentada por um membro do clã, mais ele se adaptava a ela, era isso que Yosuki queria treina-la.
Nesse momento de extrema adversidade, Yochi chegou a uma conclusão inegável.
- Eu... quero... comer aquilo...
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