Entre Vagalumes e Rosas Azuis
Kurama - Kojima - Ruas
À luz da cidade, revela-se um luxo imensurável: ruas dignas de espetáculos; cores vibrantes, avenidas reluzentes que se estendem pelo horizonte, adornadas com uma infinidade de letreiros de neon e outdoors exibindo propagandas brilhantes.
Aquela região era, sem dúvida, a mais próspera de Kojima.
Essa exuberância urbana representa testemunho do espírito resiliente do povo de Kurama, que haviam enfrentado adversidades e se levantaram novamente com determinação.
Nas movimentadas calçadas, grupos de amigos e famílias mergulhavam na vibrante vida noturna, provando a culinária local em refinados restaurantes ou explorando as elegantes lojas que ofereciam desde artigos de luxo até peças exclusivas de artesanato. O aroma tentador de comidas de rua (exóticas) preenchia o ar, convidando os cidadãos a experimentar as iguarias tradicionais.
Essa era a atmosfera envolvente que cativava os visitante e moradores de Kurama, uma combinação perfeita entre tradição e modernidade, onde as luzes da cidade refletiam não apenas um luxo imensurável, mas também a força e a esperança de um povo que nunca desistiu de sua casa.
— Deixe-me ter certeza absoluta... — Indagou o sacerdote, enquanto dirigia seu velho jipe pelas agitadas ruas da cidade. — Você mudou de ideia e não quer mais ir ao centro de artes?... Eu realmente gostaria de entender o que aconteceu nesse meio tempo! Você precisa confiar em mim e se abrir, minha cara...
A garota parecia absorta em seus pensamentos, a música ecoando suavemente no rádio do jipe, tornava as palavras do sacerdote quase inaudíveis. Sua mente estava mergulhada na reflexão do que havia acontecido anteriormente...
— Yochi!
— Ah... Desculpe, senhor Ginzu. O que foi que disse?
Suspirando, frustrado, ele gira lentamente o volante, direcionando o carro para uma área completamente distinta da cidade. À medida que se afastam da região próspera, as ruas amplas e iluminadas dão lugar a vielas estreitas e escuras, escassamente iluminadas por lâmpadas fracas.. Os prédios decadentes, com fachadas desbotadas e janelas quebradas, mostram sinais visíveis de negligência e abandono.
À medida que avançam, a atmosfera se transforma, pairando um ar de desespero e desolação. Solidão. A população mais pobre, antes invisível na parte rica da cidade, agora está à vista. Pessoas perdidas e exaustas se aglomeram nas calçadas, buscando abrigo sob cobertores desgastados ou improvisadas caixas de papelão. O cheiro de miséria e desesperança sufocava qualquer beleza, enquanto o som de conversas sussurradas e passos apressados ecoavam pelos becos estreitos. Talvez fossem ratos; é, talvez; ou, pessoas tratadas como eles...
As fachadas das lojas exibem sinais enferrujados e quebrados, testemunhas silenciosas de estabelecimentos abandonados há muito tempo, agora tomados por prostitutas e marginais.
Grafites sinistros cobrem as paredes, ecoando expressões de frustração e desespero. Uma aura de perigo se instala à medida que avançam em direção a uma zona onde o tráfico e a violência são uma ameaça constante. Nestes espaços desolados, negligenciados por seus guardiões, as sombras da cidade rapidamente se infiltram, trazendo consigo elementos sinistros e problemáticos... Ok, na verdade, problemático seria um elogio: eram territórios tomados. Ignorados...
Não eram bem-vindos.
Ginzu, agora completamente atenta ao ambiente, volta sua atenção para a garota — Veja, Yochi... Como esse lugar mudou...
Meio pasmo, com os olhos percorrendo as ruas deterioradas e os edifícios abandonados.
— Você acredita que eu já morei aqui quando criança?
A garota olhava ao redor, estarrecida com a transformação sombria que havia ocorrido, contrastando com a região outrora vibrante. Ela notou as paredes pichadas, adornadas com grafites que ecoavam a ira e o sofrimento dos moradores, uma triste narrativa gravada em cada traço de tinta.
— Senhor Ginzu, o que aconteceu aqui?...
O sacerdote suspirou pesadamente, relembrando um passado que parecia distante. Ele se perdeu por um momento em suas memórias, enquanto compartilhava a história com a jovem.
— Após os conflitos litorâneos de Kurama e a derrota dos Aoi Bara, as cidades foram devastadas — explicou ele, sua voz carregada de tristeza. — Com o passar do tempo, elas se reergueram. Mas aqui..., assim como em outras regiões específicas, a milícia tomou conta... São terras sem leis. Invisíveis. Intocáveis.
Enquanto o sacerdote falava, uma pequena gangue de adolescentes se aproximou do carro. Eles encaravam o vidro escuro, transmitindo uma aura de ameaça. A garota sentiu seu coração acelerar e desviou o olhar, evitando qualquer contato visual. Por sorte não era nada demais.
— O senhor acha que devíamos alertar as autoridades daqui?...— Perguntou, ela, sua voz trêmula e o suor frio escorrendo pela testa.
O sacerdote olhou para ela com seriedade, avaliando a situação. Por fim, balançou a cabeça — Não adiantaria de nada...
Iniciando o movimento lento para sair daquela região. Direcionou o veículo para um caminho mais isolado, onde uma densa vegetação arborizada cercava um longo rio.
Yochi olhou pela janela, buscando algum conforto na visão tranquilizadora da natureza ao redor. Ela segurou a respiração por um momento, enquanto o sacerdote guiava o carro para longe daquele ambiente opressor.
— Senhor Ginzu, aonde estamos indo agora?
O sacerdote deu um sorriso gentil enquanto continuava a conduzir o carro pela estrada. Ele move sua mão direita em direção ao rádio e muda a música.
— Bom, um velho amigo meu tem um terreno aqui — respondeu ele. — À noite, ele é tomado por vagalumes que rodeiam rosetas azuis. É algo verdadeiramente extraordinário. Essas rosetas são flores raras e exclusivas da região de Kurama. Possuem pétalas azuladas bem intensas, uma cor que parece até magia.
Após a euforia, o mais velho então complementa:
— Infelizmente, muitas dessas rosetas azuis foram perdidas durante os avanços de Saigai. Mas, apesar dos desafios, algumas delas ainda florescem, resistindo bravamente. É um verdadeiro presente da natureza testemunhá-las.
A garota ouvia aquela história, maravilhada, imaginando o que aguardava por eles no destino desconhecido. Ela se recostou no assento do carro, sentindo a ansiedade e a curiosidade se misturarem, enquanto o veículo avançava pela estrada, levando-os em direção àquele lugar.
Após alguns minutos de viagem, o velho jipe parou em frente a um portão de entrada feito de cercas que bloqueavam o caminho. Ginzu começou a buzinar de forma padronizada: beep! Uma pausinha, de novo beep! Beep! ,
De uma modesta casa distante emergiu um homem idoso, alto e robusto, coberto de pelos, com um sorriso largo estampado no rosto. Seus cabelos grisalhos e selvagens contrastavam com a energia juvenil que irradiava. Atrás dele, seguindo de perto, vinha um garotinho de testa proeminente, que parecia sempre carregar uma expressão desconfiada em seu rosto.
— Ora! Ginzu! Meu velho amigo! Haha, estava louco para te ver — disse o homem, erguendo a cerca para que o jipe pudesse passar.
— Oh, Takemori! — Ginzu estacionou o carro cuidadosamente e desceu para conversar com seu amigo. — Venha, Yochi.
O imponente Takemori abraçou Ginzu com entusiasmo, girando-o no ar como se fosse um boneco de pano. A face do pobre sacerdote foi bruscamente pressionada contra uma densa tufa de pelos no peito do homem.
"E-esse deve ser o famoso abraço de urso?!", um pensamento de Yochi.
— Me solte, seu tolo!
Exclamou, Ginzu, com uma voz abafada e engraçada, quando finalmente foi colocado no chão.
— Pesado como uma pinha! Você não mudou nada — brincou o homem, enquanto enxugava lágrimas de riso dos olhos. Ele, então, notou a presença da garota, que estava observando a cena com um misto de surpresa e diversão. — E você é...?
— Hm... S-saudações...
Takemori se aproximou e apertou as bochechas dela igual se aperta e puxa um marchimelo: — Então, essa é a sua menina? Hahaha, que fofinha!
Yochi soltou sons leves enquanto era apertada, mostrando um misto de surpresa e divertimento diante da atitude brincalhona de Takemori: — Ah, é um 'prauzer' 'cunhicer 'vucê'...
— Oh! Mil perdões! — Takemori finalmente a soltou, dando tapinhas suaves na bochecha de Yochi. A garota acariciou a região, levemente avermelhada, recuperando-se do pequeno susto. — Bem, o que fazem aqui tão tarde?
Ginzu sorria ao ver a situação da garota, colocava a mão sobre a cabeça dela como um gesto de proteção e afeto.
— Esta garotinha está fazendo aniversário hoje. Gostaríamos de levá-la para passear no Lago dos Vagalumes. Será que poderíamos usar o seu barco? — Perguntou Ginzu, com gentileza e entusiasmo. Yochi também sorria, apreciando o esforço que Ginzu havia feito para tornar aquele dia especial.
— Ah, sim! "O Lago dos Vagalumes". É a primeira vez dela, certo? Nesse caso, tive uma ideia...
Takemori reuniu ar em seus pulmões, preparando-se para compartilhar sua surpresa com todos os presentes. Todos ao redor arregalaram os olhos, esperando ansiosamente. Ginzu percebeu o alvoroço e rapidamente tapou os ouvidos de Yochi, preparando-a para o impacto sonoro que estava por vir.
— Mão nos ouvidos, todo mundo! — gritava o menorzinho, tapando os ouvidos, já familiarizado com o comportamento do avô.
— Minha velha! Prepare muita comida! Temos visitas hoje! — a voz de Takemori ecoou pelo cenário com uma intensidade surpreendente, fazendo com que Ginzu sentisse um leve incômodo nos ouvidos, enquanto as palavras reverberavam no ambiente.
Yochi, ainda meio confusa, observava a reação de Ginzu, notando o suor frio em sua testa.
— Oi!? Não estou ouvindo!
Uma voz nos fundos da casa respondeu.
— Eu disse para "preparar muita comida! Temos visita!"
Takemori lançou outro grito alto, o que começou a irritar o sacerdote.
— O que?! "Capturar a chiquita?!"
Reclamou a pobre senhora, que já era um tanto surda.
— Ahh... — suspirou Takemori frustrado. — Ela não escuta mais nada devido à idade! Sabe?!...
— Jura?... Pois nós também não! — Retrucou o sacerdote.
Yochi, por outro lado, foi salva pelas mãos de Ginzu, mas não pôde deixar de notar o garotinho testudo a encarando. Ela fez um pequeno gesto com a mão, porém o garotinho fez uma expressão de receio e correu para as costas do avô.
— Ora, o que foi? Vá se enturmar!
Gritou o homem.
— Não! Ela é uma garota! Ela vai roubar meus brinquedos!
— Ahhnn, eu não sei o que fazer com ele. Desde o dia que o pai foi alistado pro exército, ele não muda de expressão!... — O grande homem olhou para sua casa ao fundo. — Ginzu, você sabe onde fica o lago. Lá você vai encontrar o barco parado em um pequeno cais improvisado, basta subir. Eu vou falar com minha velha!
— Ei, não precisa se esforçar muito, ok? Eu só queria levá-la para passear...
— Tá brincando?! São nossos convidados! Não vão embora até provarem a culinária da família Goro! — exclamou ele, aproximando-se de Yochi e bagunçando seus cabelos com suas mãos enormes. Um sorriso brincalhão iluminava seu rosto enquanto seus olhos brilhavam de entusiasmo. Por fim, ele a presenteou com um estilingue que era seu, estendendo-o com um gesto generoso. — Já você... feliz aniversário!
— Puxa, muito obrigada!
Respondeu Yochi, curiosa sobre como manusear aquela ferramenta. Ela olhava para o estilingue com um misto de empolgação e perplexidade, examinando seus detalhes cuidadosamente.
— Takemori! Isso é perigoso! — Disse Ginzu, rapidamente pegando o estilingue da mão da garota. Seu rosto expressava preocupação, enquanto seus olhos demonstravam um misto de carinho e leve repreensão. — Está ficando maluco!
O homem ria de maneira frenética e, entre risos, continuou:
— Você diz isso, mas no exército era o maior caçador de pombos que eu conheci! — Ele revelou suas antigas lembranças, erguendo uma sobrancelha, soltando uma risada nostálgica. Yochi ficou maravilhada ao descobrir aquilo, seus olhos se arregalaram em admiração e fascínio.
— Senhor Ginzu, você não me disse que serviu no exército
— Haha! Você não sabe de metade das histórias sobre Ginzu! — Takemori ria alto, com um brilho travesso nos olhos. Ele se aproximou como se fosse revelar um grande acontecimento. — Sabe, uma vez, ele escondeu as roupas do nosso comandante e... — antes que Takemori pudesse terminar a frase, Ginzu o interrompeu.
— Takemori! Por favor! Não precisa contar essa história agora...
Takemori então se afastou mas sua feição brincalhona se manteve.
— Ah, você venceu, Ginzu! Vou guardar essa história para outra ocasião! — Aproveitando a oportunidade para provocar ainda mais o sacerdote. Ele colocou o braço em volta dos ombros de Ginzu, dando-lhe um aperto afetuoso. — Mas não se preocupe, ainda temos muitas outras histórias para compartilhar, não é mesmo?
Ginzu suspirou aliviado, esboçando um sorriso forçado. A pobre garota observava a interação divertida entre os dois, alheia a qualquer detalhe.
— Muito bem. Até logo! Irei deixar um banquete pronto! — O homem corpulento virou as costas e saiu, carregando o pequeno garoto nos ombros. O menino olhou para Yochi e fez uma careta, provocando-a. Sentindo-se um pouco irritada, Yochi não hesitou em devolver o gesto.
— Ora... Não se deixe levar por isso — comentou o monge, caminhando em direção ao lago. — Venha...
— Hm! Que menino mais mal educado! Você viu como estava me olhando?
— Você diz isso, mas era igualzinha a ele quando nos conhecemos. Não confiava em ninguém. Lembro-me até hoje de quando você ficou com medo de Noburo ter "roubado seu nariz". Chorou por horas...
— Senhor Ginzu!
Acelerou o passo.
À medida que se aproximavam do lago , a atmosfera ao redor se transformava. A escuridão da noite era preenchida por um brilho suave e mágico, emanando dos vagalumes que dançavam no ar. Eles pareciam pequenas estrelas vivas, iluminando o caminho à frente, quase emulando uma aurora boreal.
O brilho revelava uma paisagem encantadora. O lago à sua frente refletia a luz suave das lanternas naturais. A superfície parecia cintilar com tons azulados, harmonizando perfeitamente com a escuridão da noite.
Nos arredores erguiam-se as rosetas azuis. Suas pétalas emanavam uma aura misteriosa e cativante. Facilmente se destacavam na paisagem.
— Isso é... — A garota rodeava o próprio eixo, era muitos detalhes para olhar. — Definitivamente, é o melhor presente que eu podia pedir!
O Lago dos Vagalumes era como um refúgio encantado, onde a natureza se manifestava em sua forma mais exuberante e mística.
— Ah, graças aos deuses! — O velho suspirava fundo. — Fiquei com receio de não gostar da ideia de passar seu aniversário em um sítio. Digo, sabe, jovens da sua idade preferiam estar–
— Aqui é perfeito, eu garanto — Yochi fazia uma breve reverência, no entanto, não podia deixar de notar que o homem parecia tenso. Isso desde o início do dia. Será que ele esconde algo? — E então? Onde está o barco?
— Venha cá.
Juntos, eles se aproximaram da margem do lago, onde um pequeno cais improvisado os aguardava. O barco parecia convidativo, com madeira bem polida, sem sinais de descuido e extremamente funcional.
— Parece bem confortável, eu leria centenas de textos sagrados aqui sem me preocupar — ela tomava iniciativa, e com cautela entrava no barco, mas foi ao se sentar que logo entendia o motivo de não poder concluir o que fantasiava. — Embora o banco seja bem rígido... É só um pouco desconfortável
O homem se sentava na frente, onde poderia segurar o remo. — Oh Puxa! Tem toda razão. Essa plataforma de madeira é bem desconfortável... — Dava pra notar um pouco de frustração em seu olhar.
Os olhos da menina eram prestativos. Ela tenta aliviar as coisas.
—Mas por essa visão, eu acho que sentaria até mesmo no chão. Não acha?
Será que conseguiria pescar novamente, alguma pista do que ele escondia?
Os olhos do mais velho voltavam a se erguer, ele recuperava sua confiança.
— Tem toda razão. Nesse caso, prepare-se para uma experiência única! — Ginzu começava a remar, mesmo que a idade não o permitisse passar de certa velocidade. Em sua mente tentava reunir coragem, logo seria o momento.
Enquanto o barco deslizava suavemente pelas águas, ele a observava com certo orgulhoso no rosto.
— Quer saber de uma coisa? Desde o dia em que você cruzou o meu caminho, minha vida mudou para melhor. Sim! É verdade! — Tomava postura como de um capitão de navio. — Ver você crescer e se tornar essa jovem inteligente e gentil, me enche de alegria e gratidão. Eu não vou mentir. Se um dia resolver seguir sua vida, eu acho que deixarei partir...
— Você é uma ótima pessoa... Mas é um péssimo mentiroso, sabia? — A delicada mão ia até os lábios contendo um sorriso. — Eu sei que por mais que diga isso, tem receio do mundo lá fora, certo?
— Não do mundo, mas do que as pessoas podem fazer. Não à toa, vivenciei um período difícil – foram tantas guerras – contudo, eu digo a verdade, mesmo que eu não vá me acostumar com isso tão cedo.
Yochi sutilmente catou uma flor que boiava no lago e a colocou atrás da orelha. — Senhor Ginzu, eu não sei por que, mas sinto que você está escondendo algo de mim...— Um silêncio desesperador se instalou, como se fosse a única resposta possível. Afinal, ele tinha sido tão previsível assim?
O barco parou lentamente, deixando apenas o assobio do vento ecoando ao redor.
— Yochi... Eu...
As palavras simplesmente não saíam de sua boca.
Era tarde demais. Ela o ouviu. — Sim... Pode falar...
— Por que diz isso? Por acaso você tem.... — A mão do velho estava dentro do bolso, apertava o colar com força.
— Eu te observei a um tempo, e sinto que está muito tenso esses últimos dias. Eu apenas gostaria que me contasse. São os pesadelos? — O dedo indicador de Yochi brincava com uma mecha. — Ou talvez, tudo isso não seja só um presente de aniversário? — Apenas deduziu sem muita esperança de estar certa.
Ginzu fechou ainda mais os punhos e seus olhos semicerrados se fixaram no horizonte, buscando coragem para revelar a verdade que guardara por tanto tempo.
— Lembra a primeira vez que nos vimos? Se recorda de como foi?
— Sim, estava nevando. Eu estava sozinha até que você me encontrou na floresta. Não é? — Yochi repetiu a pergunta, observando a expressão séria de Ginzu. — Não é, senhor Ginzu?
Ginzu se contorcia por dentro, lutando contra as palavras que pareciam presas em sua garganta. Até que, finalmente, reuniu coragem e olhou em seus olhos.
— Yochi... Há uma verdade que você precisa saber... — Ele batuca um pouco a lateral do barco com suas unhas, era a hora! — Não foi apenas um encontro ao acaso. Eu estava lá propositalmente.
Ela arregalava os olhos. Nunca imaginou que o encontro com Ginzu fosse planejado.
— E-eu não estou entendendo...
Não era bem isso que ela queria ouvir, na verdade, que tipo de papo era aquele?
— Digo isso... Porque eu a conhecia pessoalmente — Ginzu respirou fundo, deixando a verdade fluir, usando sua experiência e sabedoria para escolher as palavras certas: — Antes de você... Tokiwa Gouzen, elaera a Virgem Sagrada do templo. É. Até casar-se — ele pausou por um momento, um misto de seriedade e compaixão marcava sua voz: — Sua mãe... Ela me procurou quando você ainda era um bebê e me deu a importante missão de deixá-la em segurança.
Yochi ficou em silêncio, absorvendo o impacto dessa revelação. Sentiu uma mistura de emoções – surpresa, medo, confusão. Mas afinal, isso não era uma brincadeira de mal gosto, era?
— Ah senhor Ginzu.... Hehe.... Olha, o senhor foi um pouco longe não acha... — O frio em sua espinha apenas se expande, ao notar nenhuma reação no rosto enrugado do homem. — Minha mãe...?
Queridos leitores
Chegamos ao fim deste capítulo.
Curiosidade: Muitas pessoas não imaginaria, mas a inspiração para o termo "Virgem Sagrada" vem dos templos xintoístas. São as famigeradas Mikos ou esposas do templo. Embora eu não tenha a intenção de abordar de fato qualquer religião neste contexto fictício, vale mencionar que muitos elementos foram criados a partir dessa fascinante tradição.
As Mikos são mulheres que desempenham um papel significativo nos rituais xintoístas. Elas são responsáveis por auxiliar os sacerdotes e zelar pelo bem-estar espiritual dos fiéis. Vestidas com trajes tradicionais elegantes, as Mikos encantam com sua beleza e graça enquanto realizam danças e cerimônias em honra aos deuses.
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