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Capítulo 1

A senhorita Eris Murray, filha do Barão Morfey, em seus quase vinte e um anos de vida, cultivou a impressão de que o casamento tinha poucas vantagens para uma dama. Como filha única de um homem de posses, sabia ser esse seu destino, mas nunca o encarou com o agrado desejado por sua mãe. Festejava a sorte de que seu pai estava mais preocupado com o fim de sua linhagem do que em arrumar-lhe um esposo, sem se dar conta de que os anos começavam a correr rápido demais para sua única prole.

Sempre foi um bocado taciturna, não se deixando agradar com facilidade pela frivolidade dos bailes da boa sociedade. Os chás, com os mais próximos amigos, lhe eram muito mais agradáveis, mas a sua real diversão estava nos pequenos diários que a acompanhavam desde que aprendeu a pôr no papel as palavras que não podiam sair de sua boca.

Foi a Srta. Prin, a primeira preceptora de quem tinha lembrança, que lhe deu o caderno número um. Um mimo para uma aluna aplicada. Explicou-lhe que aquele era um diário no qual ela deveria escrever sobre todos os seus dias, de modo a não esquecer nada importante quando fosse lhe enviar cartas, já que a Srta. Prin abandonava seu posto no lar dos Murray para se tornar a Sra. Burke.

Eris não recordava de uma vez anterior na qual o casamento lhe tirara alguém que lhe era caro. Aos nove anos de idade, Eris não conseguia entender o porquê de a sua preceptora escolher a vida em um rincão rural não muito próspero, ao invés do conforto dos lares do pai dela — as viagens entre a tão animada Londres e a revigorante calma de Walsham, a propriedade rural favorita do Barão.

Esses também eram os questionamentos de sua mãe, mas, ao contrário dela, Eris teve coragem o suficiente para fazê-los diretamente à Srta. Prin, que lhe respondeu com uma risada, parando de guardar suas coisas no baú de viagem para sentar-se ao lado de sua pupila.

— Você ainda é muito nova para compreender algumas coisas, querida Eris, mas deve saber, desde já, que o amor é uma coisa rara de se encontrar. Principalmente no casamento. — Segurava as mãos pequenas de Eris enquanto falava. — Sou muito grata à sua família e a você por todo o respeito que por mim tiveram, mas meu Sr. Burke, apesar de não poder me oferecer todos os confortos que tenho na casa de seu pai, me ofereceu a si mesmo e à chance de construirmos juntos uma vida boa para ambos. E eu o quero, com todo o meu coração.

— Isso significa que não quer mais a mim?

— Quero aos dois — disse-lhe com mais uma risada, beijando o topo da cabeça de cabelos negros com carinho. — Mas você, minha criança, vai crescer e eu não mais terei espaço na sua vida, enquanto o Sr. Burke vai envelhecer comigo, e nós seremos um do outro até que o fim de nossas vidas decida nos separar.

Era claro que a Srta. Prin sempre teria espaço em sua vida. Quem mais poderia praticar com ela tão bem o francês? Ou quem a colocaria para ler os clássicos? Ainda tentou argumentar, sem conseguir arrancar mais do que risadas da sua preceptora.

— Minha doce Eris, um dia você irá se apaixonar por um bom homem, e espero que nesse dia me mande uma bonita carta dizendo que finalmente entende a minha escolha. Agora está na hora de ir para sua cama. Amanhã teremos uma última lição.

Obediente, a menina deixou-se ser enrolada nas cobertas pela preceptora com a certeza de que jamais a entenderia, agarrada com o caderno que tinha seu nome gravado na capa com um bonito tom de dourado.

Pouco menos de um ano depois, as páginas já estavam cheias de seus rabiscos, com as cartas de sua agora querida Sra. Burke guardadas entre elas. Quando completou quinze anos, já possuía um total de seis cadernos de páginas riscadas, alguns blocos de notas com pequenas impressões sobre a mocidade e, por fim, dois pequenos cadernos nos quais Eris contava suas pequenas mentiras.

A mocidade não tirou o aspecto calado de sua personalidade. Ao invés disso, aguçou sua observação sobre os amigos do pai, que se reuniam depois do jantar para conversas sobre negócios, e as companheiras de chá da mãe, que falavam sobre os mais variados aspectos da existência feminina. As mentiras, ou realidades imaginadas ao espiar conversas que não eram para seus ouvidos, não seriam toleradas se ditas em voz alta, mas, seguramente escondidas nas páginas de um caderno, não se destinavam a outros olhos que não fossem os dela.

Podia divagar sobre o aperto de mão que viu entre o Sr. e a Sra. Philman antes do jantar, uma atitude pouco habitual entre os casados que conhecia; fazer conjecturas inaceitáveis sobre os comentários que ouvira quanto à infidelidade do Sr. Lancaster, por mais que tivesse demorado a entender o que ser infiel significava. Teve até mesmo o disparate de rabiscar o seu ciúme quando a Sra. Burke lhe informou que sua última filha era uma menina, chamada de Eris em sua homenagem. A carta que remeteu para a antiga preceptora, contudo, exprimia os mais doces desejos de saúde para a pequena, bem como uma promessa de visita que só conseguiria cumprir um ano depois.

Suas observações e os anos passados não lhe ajudaram muito a ter uma melhor impressão do casamento, mas certamente confirmaram que o amor era uma coisa rara de encontrar. Havia perdoado a antiga preceptora pelas bodas e sempre se encantava com o carinho por ela denotado ao senhor Burke nas cartas que lhe chegavam mensalmente.

Seus pais se respeitavam, todavia, não se lembrava de vê-los trocando mais palavras do que os cumprimentos habituais durante as refeições. O que tinham em comum entre si era o desejo de manterem-se respeitosos perante à boa sociedade, feito que conseguiam com graça. Se alguma vez o Barão Morfey parou para ver qualquer das pinturas da esposa, a filha certamente não tomou conhecimento de tal façanha, ainda que muitas delas estivessem nas paredes de suas propriedades. Sua mãe, por outro lado, não tinha qualquer gosto pelas caçadas que ocupavam o tempo do Barão no campo, ou mesmo pelos jogos que o entretinham na cidade.

Cresceu observando a maioria dos amigos dos pais manter o mesmo tipo de relação distante, sem se convencer de que as raras exceções não passavam de uma distorção. Por mais que, nos livros, as relações entre as pessoas fossem bem mais amistosas, a realidade pouco lhe mostrava aquilo. Mesmo entre amigos, era difícil achar aqueles que não se revelassem falsos ou mesquinhos, o que a fez abandonar as relações com a maioria das mulheres de idade similar à sua.

A idade, entretanto, fizera um grande bem aos seus preconceitos, assim como observar a felicidade de sua melhor amiga. Até o casamento de Lara Hale com o Duque de Whantrop, Eris jamais vira de perto o que se chama de felicidade conjugal. Ao contrário do que seria esperado, era comum que o curioso par de recém-casados formado por Lara e Richard trocasse pequenas missivas quando estavam separados — o que, por mais de uma vez, interrompera os chás entre Lara e as amigas em Ackerley, a propriedade dos dois em Londres. Quando juntos, por mais que fosse Lara uma tagarela, sempre parava para escutar o que o marido tinha a dizer, parecendo natural que as mãos de ambos se encontrassem sem pudores quando longe de olhos menos íntimos.

Era sobre Lara e Richard que Eris escrevia em seu atual caderno de notas, forçando a vista para enxergar as palavras que se emendavam sob a parca luz da vela de sua cabeceira. Soprou a tinta fresca com delicadeza e secou-a com o mata-borrão antes de acomodar o pequeno caderno, já fechado, no bolso de suas vestes. A pena e o tinteiro em muito teriam aumentando a pouca bagagem aceitável para um baile, mas o discreto lápis de grafite seria de grande valia caso acabasse entediada ou escutasse algo digno de nota entre as danças.

O vestido claro, por sorte, não ganhou nenhum respingo de tinta que chamasse mais atenção que seus bordados lilases, como Eris pôde perceber quando se levantou de sua mesinha. Ser a filha de um barão lhe trazia responsabilidades. Por mais que tivesse conseguido escapar do casamento, não conseguia repetir este feito em relação aos bailes.

— Senhor, dois cavalheiros estão na sala de visitas à sua espera.

Pelo modo que Simms havia falado, era claro que, quem quer que fossem as duas criaturas que o esperavam, estavam longe de serem cavalheiros. Em outras épocas, aquilo não lhe chamaria atenção, mas as duas últimas semanas de Harvey Prescott lhe deram motivos suficientes para que ele estivesse alerta.

— E você perguntou quem são os dois antes de deixá-los entrar na minha casa?

— São o tipo de pessoa que não se pergunta quem é — Simms estava ciente dos problemas do patrão e devidamente aborrecido, como qualquer bom mordomo, pelo desagradável aumento de suas atribuições.

Harvey tivera que mandar Percy, seu irmão mais novo, para casa sem falar para o pai o motivo, apesar de ter dado uns bons cascudos no irmão antes de fazê-lo. Percy era um bom rapaz, trabalhador e esforçado, mas se envolvera com as pessoas erradas. Os croupiers viram nele uma presa fácil e o idiota se deixou seduzir como um patinho pelas cartas e prostitutas. Quando Harvey se inteirou das dívidas, mandou-o de volta para casa, e não havia chances de ele dizer para os credores que o irmão estava no campo. A culpa, em parte, era do próprio Harvey. Na primeira vez que tirou o irmão da propriedade rural, não se deu ao trabalho de explicar com que tipo de criaturas ele poderia se deparar, ou mesmo de fazer o aviso simples de que nem todos ali queriam o melhor para os outros.

Harvey não tinha intenção de atender vadios sem eira nem beira. Para um advogado que tentava criar a própria fama, era uma péssima propaganda para os negócios figuras escusas batendo na porta de seu recém-inaugurado escritório. O Sr. Cornish, que o tomara como pupilo desde que ele acabara os estudos, era conhecido por sua clientela composta por nobres e burgueses ricos. Era este o foco de Harvey. Herdara muitos dos contatos e alguns dos clientes do antigo patrão, desde que este se mudou para o novo mundo com a esposa norte-americana. Ainda assim, precisava construir o próprio nome.

O fato de os credores de seu irmão estarem à sua porta àquela noite era um péssimo sinal. Em qualquer outro dia — no qual ele provavelmente estaria debruçado nos próprios documentos depois do jantar, como forma de se distrair até a hora de dormir, ou mesmo se preparando para encontrar um amigo em um pub para beber algo —, talvez Harvey tivesse descido e tentado negociar um novo prazo para fazer o próximo pagamento. Naquela noite, porém, estava quase todo pronto para sair, já dentro de suas vestes white tie. Faltava apenas amarrar a gravata, fechar o colete e colocar a casaca sobre os ombros e Harvey esperava poder contar com Simms para aquilo. Era uma pena que as visitas inesperadas pusessem abaixo seus planos.

— Você disse que eu estava em casa?

— Não sou tão estúpido, mas não pude contê-los do lado de fora.

— Distraia-os. Vou sair pela cozinha. Pedirei uma carruagem de aluguel para Belmont's House assim que me afastar o suficiente de casa.

— Irá até a casa do Conde desse jeito?

Simms já tinha mais de 50 anos, ressaltados por marcas profundas que se espalhavam pelas duas bochechas e lhe emprestavam um aspecto ainda mais envelhecido. Fazia as vezes de mordomo, valete e até mesmo secretário, ajudando Harvey nas mais diversas situações há quase cinco anos. Não tinha tantos pudores como o criado de um homem rico e o olhava naquele momento com a repreensão estampada em cada pedaço de seu rosto feio.

— Irá me sugerir algo melhor?

Se dando por vencido, o criado saiu do quarto sem nada dizer, deixando Harvey com um sorriso preocupado nos lábios enquanto juntava tudo o que precisaria para a noite. Escapou do quarto fazendo o mínimo de ruído possível, pedindo aos céus que a Sra. Abbey, a velha cozinheira que mantinha para não morrer de fome, não estivesse na cozinha. Não podia, contudo, contar com a própria sorte enquanto se esgueirava como um rato pela casa.

— Senhor Prescott, o que pensa que está fazendo...?

Mal teve tempo de colocar o dedo sobre os lábios ao entrar na cozinha, mas, por sorte, a Sra. Abbey entendeu a tempo seu gesto e diminuiu o tom de voz até ele sumir como um todo.

— Faça de conta que não me viu. Simms explicará tudo depois. — Segurou a mão da cozinheira com a que tinha livre e a puxou para um rápido beijo na bochecha, sabendo que aquilo impediria que ela voltasse a falar pelos próximos minutos. — Deseje-me boa sorte, que hoje eu vou conversar com os figurões.

Com o olho direito, deu uma piscadela. Colocou a cartola sobre os cabelos antes de rumar para fora de casa pela porta da cozinha. Seria ridículo sair correndo, além do que chamaria mais atenção do que a necessária para sua figura. Nem mesmo sua ansiedade para se afastar logo de casa o fez olhar para trás, ou apressar o passo mais do que os outros transeuntes. Só respirou aliviado, porém, quando subiu no cabriolé que o levaria até a casa de Robert.

A ideia de convidar um advogado para um baile da nobreza havia sido do próprio Robert, ou melhor, Lorde Robert Bradley, o Conde de Belmont. O pai de Harvey, Henry Prescott, assim como seu avô e bisavô, foram arrendatários dos Belmont durante toda a vida. Os Prescott gostavam da vida rural e os Belmont eram bons patrões. O filho mais velho dos Prescott que buscara para si algo além do trabalho em terras alheias, em muito tempo, fora Harvey, e sob as bênçãos e ajuda do antigo Conde.

O fato de Robert e Harvey terem nascido no mesmo outono fez com que estas duas criaturas de origens tão distintas fossem companheiras de aventura durante toda a infância. O velho Belmont não tinha qualquer óbice para com a amizade dos dois — e, se fosse sincero, diria que se alegrava dela, já que seu filho era um menino tímido e quieto demais, em sua opinião, ao tempo em que Harvey conseguia fazer com que Robert vencesse seus pudores excessivos —, motivo pelo qual pediu que o tutor de Robert também ensinasse ao filho de arrendatário, antes de mandar os dois juntos para Eton e depois para Oxford.

Robert não pudera completar os estudos, e, como filho de um conde, isso jamais fora esperado dele, mas Harvey se agarrara com unhas e dentes àquela oportunidade. Seu próprio pai já não era um homem jovem e, para além dos dois irmãos mais moços, havia as quatro meninas com quem se preocupar. A mais velha tinha 15 anos de idade e seria maravilhoso que pudesse conseguir um bom casamento. A mais nova tinha apenas seis anos, e a pequena escala de idades entre os dois extremos fazia com que os Prescott perdessem noites de sono quando o assunto era casar todas as meninas.

Outro bom motivo para Harvey ter se dedicado às oportunidades que lhes foram oferecidas pelo conde fora o estímulo deste. Tivera conversas francas o suficiente com Joseph Bradley, o antigo conde, para saber que, contanto que ele mantivesse Robert em um bom caminho e fosse para ele um amigo sincero, nenhum de seus privilégios seria retirado. Quando o velho Belmont o disse, contudo, já sabia que nenhum Prescott gostava de viver de favores. Foi por isso que ele fez questão de parabenizá-lo por cada boa nota e progresso nos estudos jurídicos, e, quando o recomendou para o escritório de Cornish, que cuidava dos assuntos do condado há, no mínimo, três gerações, o fez porque acreditava no bom trabalho de Harvey, e com o mesmo orgulho que tinha ao anunciar seu próprio herdeiro aos círculos sociais que cabiam a Robert.

Harvey exibiu o melhor dos seus sorrisos quando encarou Emmet na soleira de Belmont's House. Isso não impediu que o mordomo do Conde de Belmont o olhasse com uma expressão de desaprovação.

— Desse jeito vão pensar que é algum pedinte audacioso que não sabia qual a porta correta para pedir esmolas.

— Não falta muito para que eu fique adequado, Emmet — podia apostar que seu cabelo estava assanhado e que fazia uma figura ridícula com a gravata na mão e o colete ainda de botões abertos sob a casaca. — Estou contando com você para que faça sua mágica antes de anunciar minha presença para Belmont.

Aquele era um péssimo dia para os mordomos no caminho de Harvey. Ele sabia, contudo, que não seria odiado por muito tempo nem por Emmet, nem por Simms.

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