Os Aragon
Anos 1920
México, cidade do México
A movimentação de pessoas na cidade, junto ao barulho infernal dos automóveis e o calor que fazia naquela manhã, deixava o humor de Antônio Aragon, ainda pior do que de costume. E não era preciso muito para que ele fizesse algo inconsequente, mas o pouco era o suficiente para que ele usasse como desculpa.
E tudo que uma organização não precisava era de um chefe temperamental, por isso nunca fora permitido mulheres, pois: "Elas nunca pensam com a cabeça e sim com o maldito coração".
Era o que dizia Antônio Aragon.
O primeiro de quem se lembravam quando era mencionado o sobrenome Aragon, por acaso ou de propósito. Sendo ele o mais temido chefe da maior organização criminal da cidade do México e desde então todos seguiram a risca a lei que após sua morte ainda imperava:
"Apenas homens no comando"
Anos 1950
México, cidade do México
Com o passar dos anos toda a organização teve mudanças, desde os armamentos avançados e alavancando os negócios com as drogas e um novo Aragon no comando.
O terceiro desde Donato — Sussesor de Antônio — que após sua morte em uma rixa de gangues, onde seu filho mais velho Esteban assumiu os negócios da família, apenas por ser o mais velho, pois Esteban, era o pior dos Aragon. Seu único dom era ser um arrumador de problemas, foi após um mês ao assumir os negócios que o mesmo foi pego pela polícia e assim acusado e condenado pelos crimes da família.
Assim, Juan tomou a frente dos negócios, sendo o filho mais novo de Donato. O mais inteligente e que todos duvidavam de ter alguma capacidade, principalmente seu pai que no leito de morte disse:
"Mesmo que tu, Juan, fosse meu único filho, jamais deixaria que assumisse o controle dos negócios. Você me envergonha."
E Juan, nunca se esqueceu dessas palavras, mas ele sabia do que era capaz, mesmo que não acreditassem. Era o legado da família dele e ele faria com que os que vieram antes dele, sentissem orgulho.
Quando Juan teve seu primeiro herdeiro: Uma menina.
As coisas que pareciam caminhar na direção certa, se desviaram.
Mas ele não se importava. Porém, sabia que as coisas não seriam fácil para sua pequena Ana Rosa, não com as leis da família proibindo mulheres de serem líderes no negócio. Mas ele a criaria para ser seu braço direito e assim ele o fez, passando 40 anos no poder, sem ser pego ou colocar seu pessoal em risco. Sempre com sua não mais tão pequena Rosa, ao seu lado, o aconselhando e ele sempre a admirou, mais do que a seus quatro filhos homens, pois Rosa era inteligente, assim como, ele e não cega pela ganância de poder como os demais que pareciam ter herdado o pior dos ancestrais.
Anos 1990
México, cidade do México
Miguel casou - se com Teresa, assim que ela engravidou. Ele estava no comando dos negócios a apenas dois anos, após esperar pacientemente que seus três, irmãos mais velhos fossem pegos ou mortos.
Claro, ele teve que por um dedo — Ou talvez dois — para que as coisas acontecessem mais rápido.
Teresa era jovem quando se apaixonou por Miguel, ela tinha um instinto para homens perigosos e em falta de caráter.
Achou que tivesse ganho um prêmio quando descobriu estar grávida, sabia que assim estaria segura. Porém, mais tarde ela descobriu que essa segurança só valia se seu filho fosse um menino e um castigo se fosse o contrário.
Todas as noites ela pedia para que fosse um menino saudável. E caso não fosse, pedia para que sua filha fosse corajosa e forte o bastante para sobreviver naquele mundo onde ela provavelmente nunca seria aceita.
Os 9 meses se passaram e tudo que Teresa conseguia sentir era medo, ela sabia. Sabia que teria uma filha, sabia que teria um castigo por isso, mas agora ela temia mais a segurança de sua pequena do que a própria.
— É uma menina — Disse a parteira quando a criança finalmente nasceu.
Com lágrimas nos olhos Teresa a pegou nos braços.
— Hola mi lucecita — Beijou o topo da cabeça da pequena em seus braços.
A criança chorava tão alto que Teresa imaginou por um instante que ela seria mesmo forte como havia pedido.
A porta foi praticamente posta a baixo quando Miguel entrou, contente e radiante ao ouvir o choro do que ele acreditava ser seu filho.
— Me dê meu filho aqui. Quero apresenta - ló a todos — Ele disse esticando os braços na direção da criança. Teresa a segurou mais forte. — O que está esperando mulher? Não está me ouvindo? — Ele puxou um punhado de seus cabelos fazendo a encara - ló. A parteira saiu do quarto, os deixando sozinhos.
Sabia que seria melhor não estar ali para presenciar o que ele faria e o que ela provavelmente não poderia impedir.
— É uma menina — Ela quase não ouviu sua própria voz. Achou que ele não tivesse escutado, mas teve certeza de que sim quando a expressão de seu marido foi de olhos brilhantes e um enorme sorriso, para dentes cerrados e ódio no olhar.
— Levante - se! — Ele ordenou sem soltar seus cabelos ou olhar para criança.
Naquela noite, Teresa soube que teria sempre que estar ali, pois se não fosse ela a receber os castigos, seria sua filha.
Anos 2000
México, cidade do México
Ana Rosa Aragon - Nome que recebeu de sua tia, que a anos havia morrido com seu avô em um acidente de carro - já estava com seus 10 anos de idade e sabia que nunca seria chefe da organização de sua família. Mas ela não aceitava. Era filha única e qualquer outro ali levaria a organização para o buraco.
Sabia que teria que provar ser merecedora e tinha raiva disso, pois nenhum outro membro da família precisou provar nada. Sua mãe sempre lhe dizia que ela poderia ser qualquer outra coisa e que tirasse isso da cabeça, mas Rosa era persistente, era teimosa e tão cabeça dura quanto o pai. Ela sabia o que queria e faria o que tivesse que fazer para conseguir.
— Por que não me dá uma arma também? — Foi sua pergunta para o seu pai quando viu seu primo Gael, ganhar uma com 8 anos de idade, sendo que ela era mais velha.
— Já lhe disse que não tem idade e não me aborreça! — Falou autoritário — Vá ficar com a sua mãe — Ordenou apontando para a porta.
— Quero minha arma agora! — Ela se impôs chegando perto da mesa — Gael tem apenas 8 anos, eu tenho 10, como não tenho idade? — Ele parou de movimentar a caneta e a jogou em cima do bloco de notas, se levantou da cadeira lentamente, enquanto parecia analisar qual seria o próximo passo.
Ana nunca tinha recebido um olhar de seu pai. Nunca entendeu o porquê, mas ela sempre estava por perto, o observando. Ela sabia que não queria ser igual a sua mãe, ela estava sempre acanhada e obedecendo ordens e também sabia que não queria ser igual ao seu pai, ele era o pior dos homens, não tinha piedade de ninguém e era um ignorante, bastava apenas olhar para ele.
Ele apenas se garantia na força. E para ele, isso bastava.
Ana sabia que queria ser apenas ela, inteligente, corajosa e forte.
Mas naquele momento, quando seu pai se levantou da cadeira e veio andando até ela, quando ele pôs os olhos nela, ela sentiu que não era forte, não era corajosa e muito menos inteligente por ter afrontado ele.
Ela recuava enquanto ele avança os passos em sua direção. Seu coração disparou quando bateu as costas na parede, sabia que não tinha para onde fugir.
Ele estava tão próximo dela, era tão grande e furioso. Ela se sentia uma formiga, prestes a ser esmagada pela sola do sapato dele a qualquer segundo.
Ela estava com medo, mas não deixou de encara - lo, mesmo que isso acabasse lhe custando a vida.
— Saia daqui! — Ele rosnou.
Naquela momento ela percebeu que o problema não era ela ser nova demais, o problema era ela não ter um pau entre as pernas.
No mês seguinte ao pequeno confronto com o pai, Ana descobriu que sua mãe estava grávida. Ela sentiu tudo, menos felicidade. Se já era difícil por si só, pior seria se seu novo irmão fosse igual ao pai.
Ela sabia que seria um menino, era óbvio e então tudo pioraria para ela.
Quando seu irmão nasceu foram semanas de comemoração em toda a organização, ela já não aguentava mais, queria pegar a primeira pistola que visse pela frente e acertar a própria cabeça.
Não era preciso aulas, ela sabia observar. Ela nunca tinha tocado em uma, mas sabia o que fazer quando tivesse uma em suas mãos.
Quando todos pareciam estar dormindo, ela foi até o quarto do irmão e o observou. Ele era tão pequeno, seria fácil pegar ele e levar pra qualquer outro lugar ou sufoca - ló com o pequeno travesseiro que estava embaixo de sua cabeça sem que ninguém soubesse, mas ela não era assim.
— Prometo que vou cuidar de você, Dario. Não vou deixar que seja igual a ele — Segurando a mãozinha do pequeno Dario ele sorriu. Ela achou engraçado, aquela boca sem nenhum dente, mas seu sorriso era fofo.
Se assustou quando ouviu alguém mexer na maçaneta da porta e correu para de baixo do berço, onde era o único lugar seguro. Torcia para que fosse apenas sua mãe, mas sabia que não era ela quando sentiu sua mão soar e o cheiro forte de charuto impregnar o quarto do irmão.
—Aí está o meu campeão. Meu filho homem — A voz dele era carregada de orgulho — Você será o próximo líder, vou garantir isso. Nem que para isso eu tenha que me livrar de quem se por no nosso caminho.
Por um segundo Ana imaginou seu pai dizendo essas palavras para ela e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Prometeu a si mesma que essa seria a última vez em que choraria por causa dele ou de qualquer outro homem.
Quando ele saiu, ela ficou embaixo do berço pelo que pareceram horas, quando decidiu sair algo refletiu uma luz e a fez parar. Viu ali uma pistola, tão perto dela.
Ela estava furiosa, chateada por nunca ter sido reconhecida pelo pai e seu irmão mal chegou e já haviam promessas para ele. Ela sabia o que deveria fazer, pegou a pistola e saiu de debaixo do berço.
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