03
Bato com a caneta na mesa em um ritmo aleatório. Os suspiros de tédio dos alunos preenchiam o ambiente junto com a explicação do professor sobre MCUV. O sinal estridente e irritante veio como nossa salvação, os alunos saíram da sala, incluindo o garoto do cardigã. Estou há pouco mais de uma semana na cidade e a situação continua: ele não interage com ninguém na escola, mas mais de uma vez o vi andando com Jisung e até mesmo já o vi com Nayeon, mas sempre em silêncio. Me pergunto se ele é mudo. Também questionei alguns alunos, mas não tive nenhum resultado positivo.
— Ele é alto, tem cabelo preto comprido e está sempre com a mesma roupa. — Pergunto a uma das garotas da minha sala. Ela nega com a cabeça. — Certeza? Ele é da nossa turma.
— O único garoto que parece bater com essas descrições não está mais aqui, e a última vez que eu o vi estava com o cabelo curto e loiro.
Um dia, pela primeira vez, consegui ver seu rosto perfeitamente. Não tinha cabelo na frente para impedir e não precisei desviar o olhar; ele não estava me olhando, nem de cabeça baixa. Graças a isso consegui acrescentar mais detalhes a minha descrição.
— Ele tem uma pintinha embaixo do olho, acho que é amigo de Jisung, já os vi juntos fora da escola. Ele sente uma carteira de distância de mim. — A reação que a garota teve não foi a que eu esperava. Seu rosto se empalideceu e seus olhos se arregalaram. Ela pediu licença com a voz trêmula e saiu depressa.
Não entendi aquela reação, mas não fui atrás dela para entender. Tentei também descobrir mais sobre a música que escuto quase que diariamente na escola.
— Não sei, acho que é o diretor que coloca. — Respondeu um aluno enquanto jogava totó. — Essa é a mesma música que o filho dele compôs e tocou em uma apresentação no primeiro semestre do primeiro ano.
Bom, isso pelo menos responde a pergunta que Jeongyeon não pôde responder.
— Sabe se ele fica na escola à noite?
— Irmão, vou falar com sinceridade. — Jeongin acerta a bolinha no buraco e endireita a postura, apesar de continuar relaxado. — Não se mete muito nesse assunto, não. Tem algo de errado nessa família.
O Yang não quis mais falar sobre isso e voltou a jogar com San. Então fui atrás de outra pessoa, Tzuyu.
— Eu acho que é o filho do diretor. Essa era a música favorita da irmã dele, ele a fez pra ela.
— E onde ele está? — Pergunto ansioso, tanto por estar perto de resolver esse mistério, quanto por estar nervoso por falar com tantas pessoas em um único dia.
— Ah, você não soube, o Jin... — Antes que pudesse terminar, o professor de matemática passa por nós e ela fica afobada. — Droga, ele tá indo pra sala! Tenho que ir, ele não deixa os alunos entrarem depois dele e não posso mais receber falta. — Tzuyu sai correndo, e junto dela vai minhas possíveis respostas.
Pelo menos sobre a música há explicações, tem a ver com a família do diretor, isso é certo.
— Jihyo, depois do almoço preciso que venha a minha sala. — Escuto a voz do diretor Inyeop quando passo na frente da secretaria. Estava sempre com um sorriso nos lábios e conversando com todos. Soube que ele sempre está ajudando a todos, doa para a igreja da cidade e o orfanato, participa de ONGs e não aparente ter inimizade com ninguém. O que poderia haver de errado com ele?
Vou para a biblioteca. Os alunos, e até mesmo os professores, parecem não saber da existência do garoto do cardigã, isso está indo além de panelas ignorar, e aqueles que parecem saber sobre, têm a mesma reação. Procuro a prateleira onde fica os anuários dos anos anteriores. Pego o exemplar do primeiro ano do ano retrasado, se esse garoto não é novo na escola, como eu, com certeza ele vai estar em algum anuário, não é possível que até nisso ele foi excluído. Sento na mesa mais afastada e abro o anuário na primeira página, logo de primeira há duas fotos, cada uma cobrindo metade da página. Percorro meus olhos pelos diferentes rostos até achar o que procurava.
— Aqui! Achei! — Falo mais alto do que deveria, cubro minha boca na hora e peço desculpas a senhora que fica cuidando da biblioteca. — Porra! Achei você. — Sussurro vendo o garoto do cardigã na foto que está marcada como "Primeira Ano A".
Ele está com o cabelo curto, ele não sorri por alguém está apertando sua bochecha enquanto o abraça. Mordo meu lábio ao ver que quem fazia isso era Jisung. Então os dois são amigos! Jisung está com ele na foto, o abraçando e sorrindo para ele. Folheio o anuário, o garoto aparece em várias fotos, e principalmente, interagindo com as pessoas. Há fotos dele com Jisung, na verdade, eles estão juntos em quase todas em que aparecem, há também uma boa quantidade de fotos dele com Felix e com uma garota que se parece bastante com ele. Tem uma foto dele tocando violino, outra tocando piano e mais uma tocando violão. Nas fotos, ele aparece com diferentes roupas, diferente de hoje em dia que sempre está com a mesma calça, a mesma camisa e o mesmo cardigã.
— Quem é você? — Penso alto vendo uma foto dele abraçado a Jisung enquanto aperta suas bochechas. Chego na parte que há fotos individuais dos alunos com seus nomes, procuro por seu rosto na infinidade de adolescentes. E então eu acho. — Hwang Hyunjin. — Leio devagar, ansiava sentir o gosto de seu nome na minha língua a mais tempo que gostaria.
Hyunjin. O que eu poderia dizer sobre Hyunjin partir desse anuário? Que ele é um garoto feliz e talentoso cercado de amigos, seus amigos mais próximos são Han Jisung, Lee Felix e uma garota de cabelo tingido de laranja. Gosta de roupas claras e largas e dificilmente está sozinho. O que sei sobre ele baseado no que vejo? Hyunjin é uma pessoa isolada de todos, ninguém fala consigo e vise e versa, está sempre com as mesmas vestes e tem o olhar distante, triste. Apesar disso, encontra Jisung além dos limites da escola, mesmo que não conversem na escola.
— Quem é você, Hyunjin? — Sussurro encarando sua foto no anuário.
— O que tem o Hyunjin? — Me assusto com a voz grossa de Felix. Levanto a cabeça ao mesmo tempo que fecho o anuário, encaro o loiro a minha frente, ele me olha com dúvida e uma sombrancelha erguida.
— Como?
— Você falou o nome do Hyunjin, ou estou enganado? — Pisco os olhos atônito. Ele contorna a mesa até estar ao meu lado e olha o livro. — O anuário do primeiro ano? Por que está vendo isso? — Ele pega o objeto que antes estava comigo e começa a folhear as páginas. — Esse dia foi legal, Rosé disse que ia pintar o cabelo da Yeji de preto mas acabou pintando de laranja, a Yeji ficou uma fera. — Disse dando uma risadinha.
— Você o conhece? Digo... O Hyunjin, você conhece ele? — Felix abaixa o anuário e me encara confuso.
— Sim, éramos próximos... Bem próximos. — O loiro sorri, mas seu sorriso transmite tudo, menos felicidade. Ele joga o anuário na mesa após dar um suspiro longo.
— Então por que não fala mais com ele? — Minha voz sai mais agressiva do que gostaria. Por um momento sinto raiva, eu vejo todos os dias aquele cara sozinho sendo ignorado por todos. Eu não o conheço e não sou sociável, já fiquei nervoso só de ter a iniciativa de falar com os outros alunos, mas Felix não, ele acabou de admitir que eram próximos, então por que o vê sozinho todos os dias e não fala um único "oi" para ele?! Eu não deveria me estressar com isso, não é da minha conta, mas isso mexe mais comigo do que deveria.
— Porque um dia tudo chegou ao fim. — Havia mais em sua resposta do que aparentava. — Como eu disse naquele dia, Minho, todos passam por mudanças e situações difíceis, Hyunjin e Yeji são a nossa mudança.
— Mas. — Tento perguntar o que aconteceu, mas sou interrompido na mesma hora.
— Não pergunte sobre esse assunto nem ao Jisung e nem a Rosé, eles eram melhores amigos dos gêmeos. Jisung e Hyunjin não se desgrudavam, Rosé e Yeji eram carne e unha, então não chegue repentinamente perguntando a eles sobre isso. — Agora sua expressão estava séria, sua voz mais grossa que antes me atingiu em cheio. Não sei o que aconteceu, mas seja lá o que for, foi sério. Quero perguntar mais, saber o que aconteceu, talvez até conversar com Hyunjin, mas sinto que esse não é o momento. — Vim te falar que vamos dormir na minha casa hoje, avise a sua mãe que vai passar a noite fora. — Não foi um convite, ele não estava perguntando se eu gostaria de ir, era um aviso, uma afirmação que eu ia e não tinha direito de escolha.
— E se eu não quiser ir.
— Não existe essa opção. Jisung vai passar na sua casa pra te buscar. — Felix dá um sorriso e sem deixar que eu começasse um debate, Felix sai da biblioteca, deixando para trás eu, o anuário e muito mais dúvidas que eu já tinha antes.
[…]
— Não acredito nisso. — Balanço a cabeça em negação ao ver Jisung trazendo Paçoca conosco. Argumentei que não confiava na minha mãe para ficar com Paçoca, então Jisung teve a "brilhante" ideia de trazê-lo junto.
— Eu já mandei mensagem pro Lix, ele super aprovou a ideia! — Eu até diria que essa animação de Jisung é contagiante, mas ela até agora não me atingiu como deveria.
Paçoca não parecia nem um pouco incomodado em ser carregado no colo por Jisung, na verdade os dois se parecem até demais, inclusive Paçoca está usando uma roupinha azul e amarelo bebê de crochê feita pelo próprio Han Jisung, enquanto o bochechudo está usando uma boina de amarela bem clara, uma calça jeans clara, um suéter de listras brancas e amarelas e o ALL Star que já notei usar sempre, enquanto isso eu estou usando uma calça jeans escura, uma blusa preta e um casaco verde escuro.
Assim que chegamos, somos recebidos por Felix. Paçoca anda pela coisa sem cerimônia alguma e o dono da casa não parecia se importar.
— Lix mora sozinho. — Jisung conta como se fosse algo super descolado. — Ele trabalha na Biju, estuda só pra ter o ensino médio completo mesmo. Não respondo e os sigo até um quarto com colchões no chão, não possuía cama e nem armário.
— Aqui tem mais espaço que meu quarto, vamos ficar mais confortáveis. Já, já Niki chega. — Felix fala enquanto brinca com Paçoca. Deixo a mochila em um canto qualquer do quarto e pergunto para Felix onde fica o banheiro. — Fica na porta no fim do corredor.
Saio do cômodo e procuro a tal porta, mas acabo encontrando duas, uma em frente a outra. Entro em uma delas, mas não era o banheiro, havia uma cama nem arrumada, um armário preto do lado oposto e uma enorme estante com livros, o quarto tem as paredes pintadas de cinza claro, com excessão da parede em que a cama está encostada que é cinza escuro. Entro a passos lentos no cômodo observando ao meu redor, há vários instrumentos como teclado, violão, guitarra, flauta transversal e outros. Me aproximo de uma grade na parede, há diversas fotos com várias pessoas, mas as que mais me chamam atenção são as com Hyunjin. Felix não é de sorrir muito, pelo menos não o vejo fazendo tanto isso, mas nas fotos seu sorriso é contagiante e alegre. Passo o olhar por cada uma: Felix com cabelo azul e Hyunjin com o cabelo castanho o abraçando por trás; Hyunjin deitado em cima de Felix; os dois fazendo um coração juntos; e a que mais me pegou de surpresa, uma foto dos dois se beijando.
— O banheiro é na porta da frente. — Dou um sobressalto pelo susto e viro na direção de Felix.
— Eu não sabia qual entrar, então acabei me enganando e... não sabia que tocava. — Aponto para os instrumentos, o Lee me olha sem muita expressão e responde.
— Não toco, eram do Hyun. — Demoro um pouco para me tocar que "Hyun" se trata do Hyunjin.
— Ah, claro. — Respondo envergonhado e passo por ele.
Várias perguntas rodeiam minha mente: o motivo do afastamento deles. O motivo pelo qual todos ignoram Hyunjin como se ele não existesse. O porquê de Jisung não falar com ele na escola mas se encontrar com ele fora dela. Porra! Felix e Hyunjin namoraram já e eu nem sabia que o Lee gosta de homem! Qual o problema de simplesmente me contarem o que está acontecendo?!
— Min? O que aconteceu? Parece nervoso. — Jisung se aproxima de mim com Paçoca no colo. Estava tão ansioso para sair de lá que não percebo que vou para o quarto em que estava antes ao invés de ir ao banheiro.
— Jisung... — Chamo-o, as perguntas ainda pipocavam na minha mente sem parar, perguntas que precisam de respostas. — Quem é- — Antes que pudesse perguntar sobre aquele que está corroendo minha mente com dúvidas, Niki anuncia sua chegada entrando no quarto. Trinco o maxilar por mais uma vez uma maldita interrupção me atrapalhar de saber o que quero. Já é a terceira vez, isso já está me irritando mais do que deveria. — Esquece.
Jisung me olha confuso, mas se distrai rapidamente com Niki, me jogo em um dos colchões sem energia para interagir. Falei com várias pessoas hoje, minha bateria social se foi a muito tempo.
— Se a casa tiver pegando fogo, por favor, não me acordem. — Coloco meus fones de ouvido, ponho uma música calma e fecho os olhos. Fico alheio a tudo que acontece a minha volta.
Minha respiração agora está mais calma, não escuto mais River Flows In You tocar nos fones; na verdade, nem os sinto mais. A música que escuto é a mesma que vem invadindo meus sonhos nos últimos dias, a música que escuto na escola. Não reconheço o instrumento que está sendo tocada, parece ser algum de corda. Mesmo com os olhos fechados, posso notar a claridade do sol sobre mim, o calor que me envolve é agradável, assim como o gramado sob meu corpo. O cheiro de rosas brancas se intensifica no mesmo momento que algo tampa o Sol e a música para de tocar, abro os olhos achando ser uma nuvem, mas ao invés disso vejo um anjo: Íris escuras como a noite, cabelo tão escuro quanto os olhos que se mexiam com o vento, uma delicada pintinha abaixo de um olho, lábios grossos e bem desenhados. Nunca havia o visto tão de perto e por tanto tempo. Seu rosto delicado não parecia tão pálido quanto normalmente, seu olhar não era distante e triste, nele havia curiosidade. Diferente das outras vezes, não sinto nenhum arrepio, tampouco medo e vontade de me afastar, muito pelo contrário; me sinto confortável o bastante para continuar o encarando.
Um anjo. Hyunjin parece um verdadeiro anjo.
Ele mexe a boca, mas não sai nada, não consigo escutar sua voz. Parece que ele está falando meu nome.
"Minho"
Ele continua fazendo isso, e eu continuo sem conseguir escutar sua voz.
"Minho"
Escuto uma voz distante chamando meu nome, mas não parecia estar vindo de Hyunjin.
— Minho! — Abro os olhos e sento depressa, Jisung está ajoelhado do meu lado me encarando e Niki na porta com um balde d'água.
— Droga. — O mais novo entre nós estalo a língua e sai do quarto. — Felix, não vamos mais precisar do balde! Onde jogo essa água agora?
— Você tava mesmo em um sono pesado. — Jisung ri enquanto se levanta. — Já são oito horas, Minho. — Arregalo os olhos com a revelação do horário, chegamos aqui não era nem cinco da tarde ainda. — Pedimos pizza enquanto você dormia, vem comer antes que acabe.
O Han sai do quarto, me deixando sozinho com meus pensamentos. Deito novamente e olho para o teto. Desde que cheguei, tenho sonhado com este lugar: um campo aberto com Dentes-de-Leão por toda parte, o céu sempre limpo e o clima agradável. A mesma música toca todas as vezes, mas em diferentes instrumentos. O cheiro de rosas brancas também sempre se faz presente, mas, diferente das outras vezes, alguém aparece.
Não uma pessoa aleatória.
Mas o garoto do cardigã: Hwang Hyunjin.
Não senti aquela sensação estranha como nas vezes em que ele me encarou, mas sim uma estranha leveza. Pela primeira vez, vi detalhadamente seu rosto; ele parecia um anjo de tão lindo.
— Argh! Mas que merda tá acontecendo comigo?! — Esfrego o rosto, tentando afastar esses pensamentos. Ver as fotos do anuário e as do quarto de Felix só aumentou minhas dúvidas.
Finalmente levanto do colchão e vou até onde todos estavam, paro na entrada da cozinha vendo os três se divertindo. Felix brigava com Niki por alguma estripulia que ele fez enquanto Jisung ria da situação, os três devem ser amigos desde que nasceram, têm histórias juntos. Não sei porque insistem tanto que eu esteja presente, está claro que estou sobrando, um forasteiro no mundinho deles.
— Min, tem uma metade camarão todinha pra você. — Jisung fala mostrando a caixa de pizza. Ele foi o primeiro a falar comigo, desde nosso primeiro encontro se mostrou ser uma pessoa alegre e animada, não exclui ninguém; exceto Hyunjin na escola. É o que mais tenta me encaixar nesse mundinho deles e eu nem sei o porquê dele me querer tanto por perto.
— Cara, como que você gosta de uma coisa dessas? É horrível! — Observo Niki fazer careta. Não conversamos muito até o dado momento, ele está no segundo ano então não somos da mesma sala, mas ele nunca me destratou, muito pelo contrário; Niki age como se nos conhecêssemos a anos, mesmo que não tenha nem duas semanas que nos conhecemos.
— Olha, vou ter que concordar, é uma combinação que não parece muito boa. — Ah, Felix, ele é o que eu menos entendo. Não é extrovertido e barulhento como Jisung e Niki, é mais na dele, mas diferente de mim, gosta de estar com os amigos, bom, ele tem amigos. Não fala com todos como o Han, mas aparenta ligar bastante para seus amigos, tenta me incluir nas atividades deles. Isso me faz ficar ainda mais confuso; faz esforço pra me incluir, mas na escola age como se Hyunjin não existesse.
— O que foi, Min? Tá tudo bem? — A voz de Jisung afasta meus pensamentos, me fazendo voltar a realidade.
— Parece que ainda tá dormindo. Eu devia mesmo ter jogado aquele balde d'água.
— Nem pense em fazer isso algum dia, Nishimura Riki. — Digo sério, quase em tom de ameaça, em resposta ele apenas levanta as mãos em redenção enquanto ri.
— Tudo bem, não vou tentar te afogar. — Niki responde, ainda rindo.
— Mas você está bem, né? — Pergunta Jisung novamente, com um pedaço de pizza de quatro queijos na boca.
Olho de relance para Felix, nosso encontro na biblioteca e as fotos em seu quarto voltam a minha mente novamente. Sorrio fechado para Jisung, acenando com a cabeça.
— Sim, estou bem. Só com a cabeça cheia.
— Come um pouco, não tem nada tão ruim que pizza não possa ajudar. — Fala Felix enquanto me entrega um pedaço da pizza de camarão, agradeço pegando a pizza e um copo com refrigerante que Jisung me entregou.
— Agora quero saber, Minho. Como era sua vida antes de vir pra cá? — Niki pergunta olhando para mim e Felix lhe dá um beliscão no braço como repreensão. — Qual é? É só uma pergunta inocente.
— Ninguém te contou ainda? Considerando que já sabiam quem eu era antes mesmo de chegar, estou surpreso. — Minha voz sai mais sarcástica do que gostaria, nada muito fora do comum. Me junto a mesa com eles e sento ao lado de Jisung.
— Eu morava com meu pai, apesar da cidade ser grande, tinha tantas pessoas que parecia não ter espaço pra todas. Eu não saía muito, nem tinha tempo, estudava integral e cuidava da casa, também não tinha muitos amigos, no máximo três, se é que podemos chamar de amigos mesmo, acho que estávamos mais pra colegas próximos, mas eu gostava deles. Meu pai era meio distante, mas se esforçou pra me dar uma boa criação, já ninha mãe nunca foi muito presente, na verdade, ela foi uma péssima mãe, então quando meu pai se matou, não quis vir pra cá, mas não é como se eu tivesse muita opção.
Por um minuto, o silêncio tomou conta, até Jisung parou de mastigar por um momento. Bebo um gole de refrigerante e volto a falar.
— Mas eu ganhei um cachorro, prefiro gatos, mas gosto do Paçoca. Então acho que tá tudo bem.
— Um ponto positivo, então, eu perdi meus dois meio-irmãos e não ganhei nem um bolinho de consolo. — Apesar da tentativa de parar descontraído, a risada de Niki que seguiu-se de sua fala era forçada e seu olhar caiu sobre a mesa. Sou pego de surpresa por essa revolução, Jisung e Felix também tinham seus olhares baixos e vagos. — Eu pelo menos acho que eram meus meio-irmãos, acreditávamos que sim porque eu nunca conheci meu pai, e a mãe deles dava a entender que foi traída, e bom, nós éramos bem parecidos. Infelizmente morreram antes que pudéssemos fazer um exame de DNA.
Suas palavras pesam o ambiente, deixo a pizza no prato sentindo o peso delas e como elas me atingiram.
— Ei, idiota. — Jisung dá um soco fraco no braço de Niki. Nunca vi o tão abalado. — Deixa de ser mentiroso, eu te dei consolo.
O mais novo ri soprado e termina seu pedaço de pizza.
— Como se você tivesse tido estrutura pra fazer isso. — Responde com um falso humor.
Nunca vi os dois desse jeito. Niki sempre está fazendo brincadeiras e aprontando, e então, sem qualquer aviso prévio, nos acertou com esse tiro de informação, ou melhor falando, me acertou, pois aparentemente Jisung e Felix já sabiam. E então as palavras do Lee voltam na minha mente: "Todos nós passamos por perdas difíceis."
Desde aquele momento, notei que Felix parecia estar falando de algo específico, repasso em minha mente o que sei como um filme: Jisung disse que já não está mais tão próximo de um amigo. Algo aconteceu entre Felix e Hyunjin. Aparentemente aconteceu algo que afastou Jisung e Rosé dos gêmeos Hwang, agora os irmãos de Niki.
Nesse mar de pensamentos, um se conecta ao outro, penso agora se o amigo que Jisung comentou no dia do lago é Hyunjin. De repente, um click ecoa na minha mente: Jisung disse que o ainda conversa com esse amigo e já o vi com Hyunjin fora da escola, não seria impossível ele fingir que não fala mais com Hyunjin por causa de Felix. Meu rosto se ilumina com a probabilidade, mas rapidamente descarto o pensamento ao lembrar que Jisung falou que seu amigo já não estudava mais na escola.
Suspiro resolvendo deixar esse assunto de lado por um momento e me concentro no agora.
Felix dá um abraço lateral em Niki e lhe oferece um sorriso fechado, porém carinhoso. Felix não sorri tanto sem ser de forma sarcástica, mas quando o faz são momentos de união ou conforto, gosto disso nele.
Ponho minha mão sobre a de Niki sorrindo para si também.
— Acho que estamos juntos nessa então, somos dois ferrados. — Ele retribui meu sorriso. Talvez esse tenha sido o primeiro sorriso sincero que direcionei para alguém além de Paçoca. Eu gostei disso.
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