Ordinary Love
Aviso de gatilho: Suicídio, solidão, depressão
⋆⋅⋅⋅⊱∘──────∘⊰⋅⋅⋅⋆
Faz dezesseis graus em Londres essa noite, e chove.
Não uma chuva de verdade com raios e trovões, que enche as guias e faz as placas dos restaurantes voarem. Não.
Está mais para aquela chuva cenográfica romântica onde os casais apaixonados a caminho de seus encontros, se apertam embaixo do mesmo guarda-chuva e sorriem tímidos.
Sempre odiei o dia dos namorados, todas as demonstrações de afeto em rosa e vermelho são tão bregas, tipo, quem gosta disso de verdade?
E os restaurantes ficam lotados, as entregas triplicam e meu pedido de comida indiana sempre chaga atrasado.
Por isso escolhi hoje para morrer.
Estou sozinha, não sozinha nesse apartamento ou nessa cidade. Estou sozinha na vida, sem mãe ou pai, amigos, namorado. Nem mesmo o porteiro do meu prédio me cumprimenta quando eu entro. Sei que parece bobo, isso não é motivo para se matar.
Mas a verdade é que nós humanos não nascemos para ficar sozinhos.
Além disso, eu decidi morrer há muito tempo, primeiro aos doze anos quando o trem em que minha família pegou para me ver ser uma árvore em Romeu e Julieta, descarrilhou e se chocou com outro. Perder duas mães e um avô no mesmo dia acaba com uma pré adolescente.
Depois aos dezesseis, nada de especial. Apenas cansei dos abusos no lar de menores. Ai aos dezoito quando me vi perdida em uma cidade grande sem ter para onde ir ou o que fazer.
Quatro anos depois eu até que consegui me virar com o auxilio do governo, mas acordar, comer, ver televisão, jantar e dormir, não é como viver devia ser.
Ligo a tv porque está escuro demais para tirar os comprimidos do frasco, eu os engulo de uma vez com o chá quente, tão fácil dessa vez, uma algazarra do lado de fora da minha janela me atrai, uma última curiosidade me leva para perto, no farol na frente do prédio, um homem asiático muito bonito se ajoelha com um buque de flores enorme para uma ruiva magra e bem maquiada, bato uma foto e posto um status no Insta, escrevo por cima um grande "vão se foder."
Decido que esse era meu bilhete de despedida.
Me deito no sofá, ao olhar para a tv, percebo que o filme é Harry Potter e o Enigma do Príncipe.
- Draco de terno - rio sem humor algum.
Me lembro de quando estava viciada em tentar shifting, as coisas eram mais fáceis quando eu era idiota.
Fecho os olhos, nada melhor para passar o tempo que tentar sentar nos gêmeos. Ainda que eu não faça ideia se a sensação é boa.
- Eu estou indo para minha DR, meus namorados Fred e George me esperam.
Penso que vou pegar no sono e isso me assusta. Me assusta para caralho. Porque significa que consegui.
Me sento de uma vez, minha cabeça gira e não consigo manter o foco, na tela na minha frente, a professora Minerva e o professor Snape verificam o colar de opalas, mas os olhos dele não estão no objeto, estão além da tela, para mim, como se me visse do lado de fora de uma janela.
Então eu fecho os olhos e caio, mas não encontro o sofá macio, ainda estou caindo quando abro os olhos, vejo o céu, meus braços e pernas se agitam para cima e meu cabelo sobe cobrindo meu rosto em mechas, como se eu estivesse dentro d'água.
Sutilmente meus corpo encontra o chão, tateio o chão abaixo de mim e constato que é uma grama úmida e fria, abro os olhos e ele está inclinado sobre mim.
- Quem é você?
- Eu?
Me sento e olho em volta, é Hogwarts. Mas não pode ser, eu abri os olhos e me sentei no meu sofá, não é minha DR, ao olhar para meu corpo percebo todos os defeitos que tirei no script e onde os gêmeos estão?
- Consegue se levantar?
- Sim, consigo.
- Então, porque ainda está no chão?
Suas palavras me despertaram, tão ríspido quanto eu esperava. Me coloquei de pé rapidamente e o encarei, tive que olhar bem para cima de tão alto que ele era.
- Agora responda, quem é você?
- Francis - engulo em seco - Francine Willians.
Queria ter mais tempo para pensar em um nome bem foda e super "Harry Potter".
- Me acompanhe.
Ele se vira e sua longa capa acerta meu rosto como um tapa, quero xingá-lo, mas estou assustada, o pátio externo está vazio como o interior do castelo, olho tudo e não toco em nada.
Esse lugar é maior do que eu pensava, atravessamos várias galerias até alcançar as escadas que descem ao subsolo, são longas de pedra e circulares.
- Nossa, aqui é gelado.
- É uma masmorra.
Ele para bruscamente e abre uma porta pesada de madeira e ferro. Faz sinal para que eu entre. Obedeço. Estou tremendo de frio, não tem janelas para deixar o Sol entrar e não parece nada aconchegante.
- Não é aluna, não é professora. Nunca a vi aqui. Quem é você?
- Eu já respondi essa pergunta.
- Você veio do céu, parou em frente a janela da sala da Minerva e depois continuou caindo, como?
- Eu não sei. Eu já disse quem eu sou, a gente pode ir para um lugar mais quente?
- Quando responder minhas perguntas.
- Pode me interrogar lá fora.
- Quem é você? Francine Willians não me diz nada - ele fica muito mais incisivo, se aproximando mais a cada palavra.
- Eu só queria morrer, tá - grito as palavras e ele recua, sinto as lágrimas nos meus olhos, me odeio por isso, mas não vale apenas segurá-las - eu não sei como vim parar aqui, eu não escolhi você.
- Está dizendo, que estava tentando se matar?
- Eu desisto - dou as costas para ele e me sento em frente da mesa do escritório - use o soro da verdade, como chama? Veritaserum.
- Não saia daqui.
Ele deixa a sala e ouço-o o estalar de um segredo, mas sei que a palavra parar abrir a sala é outra, olho em volta. É um escritório pequeno, as paredes de pedra tem musgo verde escuro, mas de alguma forma isso a deixa muito bonita, a única luz é amarela e está sobre uma haste de um metro e meio no canto da sala, a luz pulsa como um lampião á gás. Atrás de mim há uma poltrona de madeira escura e estofado verde xadrez, ao lado uma namoradeira de mesmo estilo.
- Que irônico.
A porta se abre e Snape passa por ela trazendo um frasco com líquido incolor. Ele se senta na cadeira do outro lado da mesa, despeja o líquido dentro de uma xícara que já estava ali e me entrega.
- Nada de chá quente?
Snape continuava me olhando incisivo, então pego a xícara, cheiro, mas parece água então tomo, o gosto quase me faz vomitar e devolvo imediatamente a xícara para a mesa.
Ele começa a me fazer perguntas e respondo todas elas, algumas são bem incomodas e até vergonhosas de responder. Ainda assim, não acredita e me faz tomar o resto da poção. Respondo tudo de novo.
- E você ia só acabar com a sua vida?
- Sim.
- Porque?
- Porque eu matei as minhas mães, matei meu avô e provavelmente muitas tartarugas com o tanto de plástico que eu consumo. Todo o dinheiro que o governo gasta comigo todo mês poderia estar indo para escolas e segurança público, enquanto eu só gasto com comida indiana duvidosa - essa era uma verdade difícil de dizer até para mim mesmo, as lágrimas correm livres e me desespero para que aquilo acabe - eu juro que é a verdade, por favor, não me faz dizer mais nada.
Acho que ele vai acionar o ministério ou chamar o diretor porque está caminhando até a porta, mas ele a tranca com um segredo e depois vira a chave.
- Não resolve nada. O governo provavelmente vai gastar com outro órfão, ou o valor vai sumir nos cofres públicos por ser muito insignificante, outra pessoa vai consumir o mesmo plástico que você e sua família vai continuar morta. Você não tem o que fazer.
- Obrigada, me sinto muito melhor - reviro os olhos de forma irônica.
- Não tenho intenção de te fazer se sentir melhor. Estou dizendo que você é inútil.
- Eu nunca disse isso.
- Eu estou dizendo - ele anda pela sala e se senta na namoradeira, colocando seus olhos em mim, preciso torcer o tronco para olhar para ele - sabe qual é a única pessoa para a qual você tem um valor inestimável? - não respondo porque não sei a resposta, então ele continua - você mesma e está desistindo de você. Sabe o quão cruel consigo mesma está sendo?
- Você não entende.
- Cada aluno nessa escola me odeia, eu não tenho amigos que sabem quem eu sou de verdade, matei alguém que eu amava, perdi muitas pessoas, a minha única serventia é para um propósito que eu não escolhi. Eu tenho motivos, Francis. Mas colocar fim na minha vida seria a coisa mais injusta e maldosa que eu poderia fazer a mim mesmo.
Meu peito sobe e desce pesadamente, quero desabar de chorar e começo a soluçar como uma criancinha.
- Não quer ser má consigo mesma, quer?
- Não.
- Sente-se aqui comigo.
Não questiono ou vacilo, me viro de frente antes de me levantar, então ando apressada até ele, o abraço antes mesmo de me sentar totalmente, ele devolve, mas de forma sutil, como se não soubesse ao certo o que fazer.
- Você precisa sonhar.
- Não sei como.
- Precisa de sensações. Como o toque - Snape desliza o dorso de seus dedos pelo meu braço descoberto, sinto um arrepio - está mesmo com frio?
- Estou de pijama.
Ele ri fraco e com a varinha apontada para um canto da sala, murmura "incendio", uma lareira que eu não tinha notado é acendida e a namoradeira desliza pelo chão até parar bem p'roximo e de frente para o fogo.
- Sente o calor? Sente o que ele desperta?
Sua voz desperta muito mais que o fogo, seus dedos passeiam pela minha pele até os ombros, clavícula, nuca. Subo os pés descalços para cima do assento porque o calor pinica, arrepia e causa calafrios pela minha pele.
- Sente o que o meu toque desperta?
Olho para ele, seus olhos penetram os meus, cada célula do meu corpo está alerta para seus movimentos, o apertar dos lábios , as bochechas contraindo com o movimento da língua ao engolir, a garganta movendo ao passar a saliva, o pomo de adão rígido se deslocando por igual.
- Isso é...
- Se apaixonar? Ainda que por um momento ou por um gesto.
- Não tem nada disso de onde eu venho - rio sem graça desviando o olhar para a lareira..
- O real também é apaixonante, Francis - ele se aproxima e sinto seus lábios na minha têmpora - você é apaixonante.
Viro o rosto lentamente para ele até meus lábios encostarem em sua bochecha, o resto do caminho ele percorre, encontrando minha boca com a sua, suavemente ele envolve meu lábio inferior, de repente estou me virando no estofado, ficando de joelhos na frente dele, sou envolvida pela cintura, afasto os lábios para receber os deles enquanto sou puxada para o seu colo. Não é intencional, de alguma forma eu sei disso.
Snape precisa daquele toque tanto quanto eu, talvez mais, porque ele não tenta escapar, ele se afunda na dor e a segura, por isso eu eu preciso segurá-lo de volta. Passos meus dedos por dentro do seu cabelo e o beijo mais intensamente.
Mas o seu gosto estava suavizando, seu toque parecia distante, não quero abrir os olhos porque sei o que vou encontrar.
- Não - murmuro.
- Qual o problema, Francis?
- Eu estou indo embora.
- Tudo bem - sua voz treme e por um momento penso que vai chorar - você precisa se concentrar.
- Não, eu não quero ir - agora quase não o sinto - me deixa fica, me deixa ficar.
- Francis - a voz dele parece distante como um sonho - liga para a emergência.
De repente não posso mais sentir, abro os olhos, estão tão pesados que preciso de toda a força para conseguir afastar os cílios, não estou com Snape, nem sentada, nem no meu sofá, estou deitada no chão de costas, está mais frio aqui do que eu me lembrava, meu corpo tem calafrios e tremores e não consigo me mexer. A tv não mostra imagem alguma, apenas uma estática insistente, há tanta saliva na minha boca que não dou conta de engolir, um um relâmpago atravessa a sala e o som alto de um trovão estala, informando que a chuva não será tão romântica essa noite.
Então todas as luzes se apagam, não só na minha sala, como na rua depois da janela. Todas as luzes exceto uma, o brilho fraco e azulado do meu celular, bem ao alcance de minha mão
⋆⋅⋅⋅⊱∘──────∘⊰⋅⋅⋅⋆
Troco o lençol descartável por outro assim que minha cliente sai pela porta.
A sala é estreita, apenas uma maca portátil e espaço para eu andar livremente em torno dela, no final de um lado há um pequeno armário de madeira com rodinhas, onde deixo todo meu equipamento. Aluguel em Londres custa caro.
Mas as paredes são revestidas de painéis de madeira e tem plantas na parede da frente e um espelho na lateral por onde a cliente pode me ver trabalhar.
Lavo as mãos na pia ao lado da porta, secando com muito cuidado a tatuagem que cobre todo meu antebraço, quando o interfone toca.
- Sim?
- Tem um cliente para você.
- Um cliente? Ele marcou hora?
- Não - a atendente da clinica estética abaixa a voz a um sussurro - disse que não sabia que tinha que ligar.
- Tá bem, pode mandar subir.
Não era o primeiro homem que eu atendia, mas mesmo assim, é algo incomum, a maioria são mulheres. Abro a porta quando ouço uma batida tímida.
Ele entra e fecho a porta, é um homem bem mais velho, elegante, educado e muito bonito. Aperto minha pele sobre a tatuagem e afasto o pensamento.
- Precisa de protetor?
- Protetor?
- Para a região íntima, algumas pessoas preferem um protetor descartável a usar a própria lingerie. Pode manchar com o óleo.
- Eu não sei.
- Já fez massagem antes, senhor?
- Não - ele estremece e balança a cabeça, eu vejo a solidão dele como se fosse a minha - desculpe, eu não sei por que vim aqui.
- Por que quer que eu te toque - as palavras saem sem controle, tão rápidas que nem sei como ele entendeu.
- Desculpe, eu sei que não tem nada sexual, é só...
- Tudo bem, eu sou massagista por causa disso. Uma pessoa me mostrou o quanto o toque é importante. Você me lembra ele.
- Espero que isso seja bom - ele estendeu a mão para mim - sou Astra Wilker.
- Francine Willians, Francis.
Aperto sua mão e ele olha minha tatuagem com comedida curiosidade, eu sempre tenho que explicar porque tenho o rosto de Severo Snape no meu braço, mas não dessa vez.
- Sempre achei que esse professor tem muito a ensinar.
- Nem imagina o quanto - eu sorrio e aponto a meca - pode se despir.
Me viro de costas para ele e começo a separar os olhos que vou usar. Sempre tenho uma inspiração para cada cliente, como se secretamente, suas feições me dissessem exatamente qual aroma usar na terapia. Curiosamente, pego amêndoas para Astra, doce e amanteigado.
- Se eu for um cliente seu - a voz dele veio incerta atrás de mim, eu não me viro - ainda posso te convidar para sair.
Meu peito aperta, mas acho que é hora de permitir sentir de novo o que Snape me causou, então olho por cima do ombro e sorrio para ele.
- Meu último cliente sai ás dezoito.
Astra assente, quando termino de me preparar, ele está de cueca sobre a maca, eu o cubro com uma toalha na altura do quadril, porque imagino que ele não saiba desse detalhe.
Sua pele é manchada de pequenas sardas marrom claro, mais intensas nos ombros e lombar, a textura não é como um garoto de vinte e poucos, talvez ele tenha quarenta ou cinquenta, mas sua pele é quente e quando deslizo minhas mãos por ela, sinto que aquele toque me pertence.
⋆⋅⋅⋅⊱∘──────∘⊰⋅⋅⋅⋆
Vocês gostaram?
Eu reescrevi esse final 3 vezes, não sabia se terminava com ela morrendo de verdade, se ela morria e o pós vida dela era em Hogwarts, mas aí tudo o que Snape falou pra ela não adiantaria nada. Enfim, decidi colocar uma versão mais velha de um personagem meu que eu amo, o mocinho de Querido Marido Assassino.
⋆⋅⋅⋅⊱∘──────∘⊰⋅⋅⋅⋆
Leiam as outras ones (nunca consigo marcar ninguém, então uma lista de leitura no meu perfil foi criada)
asexualnoah
Personagem: Daemon Targaryen
LuciaPontes1
Personagem: Tom riddle
V1tor1a_alm31da
Personagem: Sandman
EvelynCBlack
Personagem: Sherlock Holmes
edsprince
Thranduil de The Hobbit
EvangelineHP1 Personagem: Willian Thatcher
Astori_snape
Personagem: Jennifer's body do filme garota infernal
Nina_malfoy_love
Personagem: Five Hargreeves
Aquinolv Personagem: Joel Miller
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro