TREZE
Estou esperando por Will em uma cafeteria. Meu telefone toca pela segunda vez e ignoro a chamada novamente. É Douglas. E não contei a ele sobre isso. Se contasse que Will e eu estamos espionando Ranna e Juca, ele iria vir com um discurso, iria falar que isso não é certo e que não sou esse tipo de garota. Por isso é melhor deixá-lo fora disso. Ele é certinho demais, não iria entender meu lado, por mais que seja meu namorado e acho que deva me apoiar quando preciso.
Tomo um gole de descafeinado e Will passa pela porta de vidro. Algo se agita dentro de mim, meu coração está palpitando de emoção. Quero saber o que ele descobriu e se tiver a gravação certa, vou poder acabar com os planos de Ranna. Will senta ao meu lado e põe o celular sobre a mesa.
- Você está preparada pra ouvir o que aquela cabeça de ervilha falou? – me olha com a testa franzida.
- Foi tão ruim assim? – engulo em seco e tomo mais um gole da minha bebida.
- Mais ou menos. Eu puxei muito assunto. Ele nem se tocou que estava falando da Ranna. Mas... só falou besteira, Emily.
- Entendi. – seguro na borda da mesa. – Eu quero ouvir.
- Você que sabe.
Will pega seus AirPods no bolso, abre a caixinha e me passa um deles. O coloco no ouvido e ele aperta o play da gravação de voz.
- Eu te vi na rua com uma garota linda. – a voz de Will fala primeiro. – Era sua namorada?
- Ah, a gente tá ficando. – Juca fala tão confiante. – Ela é bem legal.
Legal? Sério isso?
- Achei que ainda gostasse da Emily. Ela sempre fala de você.
- Duvido. Ela me trocou pelo Douglas. – diz com deboche. – Eu gostava mesmo dela, mas ela nem deu uma chance pra gente. Foi logo atrás daquele cara...
- Emily gosta dele. Mesmo. Ela não tem olhos pra outro. – consigo ouvir Will soltando um suspiro. – Mas eu te entendo. A gente fica mesmo chateado. Ás vezes dá uma vontade de fazer algo pra aliviar as mágoas...
- Sei lá, cara. Ranna tem me mostrado um lado da Emily que eu nunca tinha percebido. Ela e Emily não se dão bem, mas isso não importa. O que importa é que acho que Ranna tem razão sobre a Em.
- Tem razão sobre o quê?
- Emily quer tudo pra ela. Já percebeu? E ela consegue tudo o que quer. Ela é mimada demais. Quando a gente estava junto as coisas eram instáveis e ela nunca foi totalmente sincera com os sentimentos e exigia que eu fosse completamente entregue a ela.
- Sério?
- É. Ela quer que tudo seja perfeito. Nos mínimos detalhes, quer resolver tudo por si só. Nunca admite que está errada...
Meus olhos lacrimejam e minha garganta aperta.
- Parece que ela acha que só ela pode ter tudo.
- Eu acho que ela é persistente. Ela batalha pelo que ama. - Will rebate. - Se os outros querem ser melhores, eles que corram atrás dos objetivos. Pois Emily está correndo atrás dos dela.
Will para a gravação e tiro o fone do ouvido.
- Não! Eu quero ouvir o resto.
- Não quer, não. - ele guarda o celular e os fones no bolso.
- Quero, sim. Will, é sobre mim que ele está falando. Sobre minha personalidade. Ele está me apunhalando pelas costas. - aponto para mim mesma.
- O resto da gravação é uma idiotice. Juca não fala mais nada importante. - ele pega meu descafeinado e bebe quase tudo. - Relaxa, você queria provas de que eles estavam armando algo contra você. Mas agora você ja sabe que os dois não passam de uns fofoqueiros.
- Tá, mas por que não posso ouvir?
- Porque... estávamos debatendo uns assuntos masculinos.
Continuo lhe encarando e arqueio as sobrancelhas para deixar claro que não entendi o que quis dizer.
- Estávamos discutindo sobre quem tinha os... - ele põe as mãos na frente do corpo e finge estar segurando um par de seios. - maiores.
- O quê? - falo alto chamando a atenção das pessoas. - Estavam comparando meus peitos com os da Ranna? - sussurro.
- Fazia parte do plano. - ri. - Talvez eu tenha me aproveitado da situação um pouquinho, mas serviu pra distrai-lo.
- Você é inacreditável. - apoio o cotovelo na mesa e ponho o rosto sobre meu punho fechado. - E o que decidiram?
- O que decidiram o quê? - pergunta confuso.
- Quem tem os seios maiores?
- Ah... acho que deu empate. - seus olhos desviam dos meus e pousam em meu decote. Não é um decote ousado, então não dá para ver muita coisa, mas isso não significa que Will pode ficar olhando e muito menos falando sobre meus seios por aí.
- Vamos embora. - me levanto. - E você paga a conta. - dou batidinhas em seu ombro.
- Insuportável. - abre a carteira e põe o dinheiro sobre a mesa. - Só pra você saber - fica de pé e aproxima o rosto do meu. - Os peitos da Ranna são bem maiores.
Fecho a cara e cruzo os braços.
- Os seus... dão pro gasto.
- Não preciso mais da sua carona. Eu vou ligar para o meu namorado e ele vai vir me buscar. - passo por ele e paro ao chegar na calçada para pegar o celular na bolsa.
- Emily - Will aparece atrás de mim. - , foi mal. Eu só disse aquilo pra te irritar. Nós estamos perdendo a prática na implicância, sabia? - ri. - Não tem graça estar com você e não te irritar.
Me viro para ele e começo a rir.
- Não precisa ligar para o homem mais altruísta da nossa geração. Eu te levo. - anda até a camionete e abre a porta para mim.
Isso é novidade.
- Me deixa na casa da Marília? - mexo no cabelo e prendo uma mecha atrás da orelha.
- Beleza.
À noite, quando já estou em casa, retorno a ligação de Douglas. Ele faz perguntas sobre eu ter sumido o dia todo depois da escola e conto sobre tudo que fiz, apenas tiro a parte de ter colocado Will para gravar sua conversa com Juca.
E ele foi mesmo de grande ajuda hoje. Agora sei o que Juca realmente pensa de mim e isso é imperdoável.
- Em, está aí? - Douglas fala do outro lado da linha.
Pisco para sair dos pensamentos.
- Ah, sim. Desculpa. Me distraí com a lição de casa. - passo a mão pelo rosto e fecho o caderno onde estava vendo alguns exercícios antes de ligar para Douglas.
- É melhor ir dormir. Amanhã temos reunião do comitê da festa logo cedo. Posso ir te buscar?
- Claro. Nos vemos amanhã, então?
- Sim. Boa noite, linda.
Sorrio.
- Boa noite.
Desligamos e coloco o celular no colchão ao meu lado. Maby entra no quarto e se joga na cama, colocando seus fones de ouvido e sua máscara para dormir. Minutos depois ela está roncando e meu celular vibra com a chegada de uma mensagem.
Will: Ei
Eu: O q?
Will: Não leva a sério aquelas babaquices que você ouviu... sei que ficou chateada.
Eu: Não tanto. Só vou deixar pra lá.
Will: Aham
Eu: Obg por ter me ajudado
Will: De boa. Vc também já me ajudou.
Eu: Bom. De qualquer forma. Valeu mesmo.
Ele me manda um emoji de carinha mostrando a língua e a conversa se encerra aí já que Will não manda mais nenhuma mensagem.
Me pergunto se devo enviar um boa noite, mas depois de 10 minutos chego na conclusão de que mandar uma despedida agora seria bem estranho. Ele já deve ter pegado no sono.
Desligo o celular e viro para o lado ignorando a sensação que me diz que eu gostaria de continuar conversando por mais tempo.
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