YEJI

Naquela manhã, acordei extremamente indisposta, pois sabia que teria de apresentar um trabalho para a sala inteira, querendo ou não.

Me diga, quem não ficaria com vergonha na situação em que me encontro? Certo, nada neste mundo faria alguém ter disposição ao saber que teria de apresentar um trabalho na escola.

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━━ E é por isso que a boa alimentação é importante para um ciclo menstrual regular e uma boa saúde geral – terminei a apresentação e recebi alguns aplausos, acompanhados de vários elogios dos professores e da turma, enquanto outros colegas apenas assistiam fingindo interesse e batendo palmas lentamente.

O dia estava lindo, mas o clima mudou, e agora uma chuva muito forte se aproxima. Meus pais estavam viajando, como sempre, e eu não tinha dinheiro para o ônibus. Para piorar, Lia não veio à escola para me fazer companhia na chuva.

Meus pais e meus irmãos nunca se importaram comigo da forma que eu queria. Converso com meus irmãos apenas no café da manhã e não posso reclamar, pois provavelmente não teríamos diálogo algum se eles morassem em outro lugar. Papai vive em viagens de negócios, e mamãe o acompanha, para se divertir e fazer compras, o que significa que quase sempre lido com minhas frustrações sozinha, sem suporte maternal algum.

Minha solidão naquele momento significava que eu teria que andar pelas ruas sozinha e enfrentar a chuva intensa que começava. Não tinha como esperar, já que eu precisava trabalhar na cafeteria ainda naquele dia e tinha hora para chegar.

Ao guardar meus materiais, observo Ryujin do outro lado da classe, terminando de guardar seus cadernos na mochila. Penso em ajudar, mas decido ignorar, pois sabia que meu nervosismo atrapalharia e deixaria uma primeira impressão ainda pior. Vejo que a caneta dela está no chão — uma ótima oportunidade para puxar conversa e deixar uma boa impressão.

Com o coração palpitando, vou até a caneta lentamente, mas logo uma garota se aproxima e pega a caneta antes de mim, me deixando parada, apenas observando.

━━ Sua caneta, Ryu! — ela gritou, aproximando-se de Ryujin, que sorriu e pegou a caneta das mãos dela.

Olhando de longe, percebo que ela é muito bonita, talvez mais do que eu. Devo admitir que senti muita inveja daquela garota por ter recebido um sorriso de Shin. Não conseguia evitar a impressão de que elas pareciam próximas, o que significa que ela já deve ter recebido vários sorrisos de Ryujin.

Saio correndo da sala de aula ao perceber que o tempo passou mais rápido do que eu pensava, talvez por estar tão imersa nos meus pensamentos. Tento manter a positividade, mesmo debaixo de uma chuva que engrossa cada vez mais.

━━ Vai dar tudo certo!

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━━ Deu tudo errado! — digo para Tzuyu, com a cabeça apoiada nas mãos, sentada à mesa enquanto nos preparávamos para abrir o estabelecimento.

Tzuyu era minha colega de trabalho. Ela era uns quatro anos mais velha que eu, e fazia faculdade de filosofia. Eu e ela não éramos tão próximas, mas vez ou outra compartilhamos nossas frustrações tanto com o trabalho quanto com nossa vida pessoal, e isso era exatamente o que eu estava fazendo agora.

━━ Quer dizer que uma garota que você nem sabe o nome estava flertando com sua crush?  — questionou incrédula, sem acreditar na forma exagerada que eu contava a história — Yeji, a garota só pegou uma caneta qualquer para ela!

━━ Mas ela até chamou ela pelo apelido. Essa garota com certeza estava flertando com ela! — exclamo irritada, contradizendo o que Tzuyu disse.

━━ Você é muito sensível. Odeio te ver assim por causa de uma garota que nem sabe seu nome. Sabe, nem todas as garotas do mundo são lésbicas só porque você também é — aconselha — Há uma possibilidade mais do que enorme de Ryujin ser hétero, sabe?

Lésbica eu sei que ela não era, porque já a vi beijando outros garotos. Mas quem nega a possibilidade dela gostar dos dois gêneros?

━━ Às vezes, Tzuyu, quando digo desabafo sobre algo, tudo que quero é alguém que olhe nos meus olhos, me abrace forte e diga que minhas paranóias estão certas, não um "Você é muito sensível" — praguejo frustrada — É tão doentio assim querer me sentir amada?

━━ Ji, eu sei que você quer que eu diga o que  você quer ouvir, mas eu sou sua amiga e não acho justo te enganar com mentiras e esperanças falsas. Se for o destino de vocês ficarem juntas, hora ou outra irão, mas se não for, não há o que fazer — diz calma, colocando a mão em meu ombro — Está tudo bem, essa paixonite vai passar.

Eu odiava saber que ela tinha razão, odiava saber que provavelmente Ryujin sequer gostava de garotas. Mas aceitar aquela frustração me parecia tão errado, me parecia errado não tentar antes.

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Eu cantarolava uma música melancólica enquanto caminhava pelas ruas de Seul. Naquela estação as ruas ainda eram lindas e mantinham sua beleza mesmo com o tempo nublado. A chuva havia cessado, embora as ruas estivessem molhadas e as árvores carregadas de água, pingando suas pequenas gotas no chão.

É um fato que talvez eu queira ocultar, mas me molhei inteira e acabei caindo na lama da praça, onde muitos carros estavam parados, esperando a sinalização do semáforo, e muitas pessoas atravessavam a faixa me olhando com espanto e pena.

Algumas crianças riam de mim, e outras apenas olhavam, pensando se deviam ajudar ou não, mas, no final, eu estava sozinha nesse desastre. Ninguém iria parar sua vida corrida para me ajudar a levantar.

━━ Aish — murmurei enquanto tentava me recompor, não tinha tempo para ficar dramatizando no chão, Afinal, precisava chegar em casa antes das seis, mas já passava das sete, pois tive de ajudar Tzuyu depois do meu turno.

No último ano do ensino médio, imaginava que passaria menos vergonha e transtornos, mas estava errada. Minha vida continua sendo um completo desastre e, pelo visto, a tendência é só piorar, já que meu anjo da guarda parece dormir o dia todo.

━━ Ei, você está bem? — a voz suave que eu tanto amava ouvir estava ali, sendo direcionada a mim. Fiquei espantada ao ver Ryujin ali, aparentemente preocupada comigo.

Levantei o olhar, totalmente envergonhada, com medo de encarar a pessoa que eu menos esperava ver.

━━ S-sim.

Ela estendeu a mão e sorriu. Levantei-me com seu auxílio. Por sorte, apenas minhas mãos e meu traseiro estavam sujos. Todavia, quem estava à minha frente era simplesmente ela, Shin Ryujin! Qualquer sujeira ou impureza me deixava envergonhada, pois eu sabia que deveria manter uma boa aparência se quisesse conquistar essa garota.

A dona dos meus maiores sonhos e conspirações.

Ao tocar em seu corpo, não tive coragem de encará-la olho no olho e evitei o contato visual ao máximo.

━━ Ei, você tem certeza que está bem? Está tremendo um pouco, acho melhor ir ao médico — disse ela, parecendo realmente preocupada.

Ryujin, se você soubesse que a causa da minha tremedeira é você... seja minha médica, por favor!

━━ E-eu estou bem, me desculpe pelo transtorno e obrigada de qualquer forma. Preciso ir.

Não dei tempo para ela responder e saí correndo em meio à chuva. Juro por Deus que esperava encontrá-la em uma sala de aula ou mercado, sabe? Daquelas coisas bem clichês. Até mesmo encontrá-la no esgoto da cidade seria mais imaginável do que isso. Esse encontro não foi clichê o suficiente, pois não nos encaramos em momento algum.

E quem era eu para me importar com clichês? Eles nunca estavam ao meu favor.

Tinha medo de olhar para trás. Se ela estivesse me observando, eu cairia morta ali mesmo. Queria enterrar minha cara na lama pela vergonha que estava sentindo naquele momento.

Estive dando uma olhada nas minhas fanfics antigas, e percebi que há muito o que mudar em todas elas rsrs a próxima que quero reescrever é kill shot

Enfim, até logo.