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2 de Novembro de 2018
15h18

 Quando aceitou o convite de Pedro, Helena imaginou que precisaria esperar semanas até conseguir um tempo livre para os dois saírem, chegou até a imaginar que Pedro se cansaria e desistiria, o que ela não previu foi que a investigação iria estagnar.

 Quando o DNA encontrado não bateu com o de Ricardo Bosco, toda a equipe sentiu que deram com a cara na parede. Aquela era a única evidência que tinham, a única pista, portanto precisariam trabalhar nela. Acontece que cruzar DNA é um processo lento e que requeria muita atenção. O Delegado Domingos havia encaminhado folhas e mais folhas contendo os nomes de vizinhos e parentes das famílias Costa Bosco e Almeida, além da relação com todos os predadores sexuais fichados no Vale do Porto e seus arredores. Ao todo, haviam mais de cem homens para serem analisados.

 Os dias se transformaram em semanas, a espera de uma resposta positiva era quase insuportável. Todos ali queriam resolver aquele caso, sentiam que deviam aquilo à Ana Clara, mas não estava mais em suas mãos.

 E havia a pressão da sociedade.

 Teixeira nunca poderia imaginar que grupos de pessoas iriam acampar diante da delegacia, exigindo respostas que eles não tinham. Era impossível ligar a TV em algum noticiário e não ver a cara do Delegado, junto com manchetes que incitavam a revoltada dos cidadãos locais e até de outros Estados. A delegacia havia recebido telefonemas do outro lado do país, pessoas que acreditavam que gritar ao telefone iria agilizar as coisas. Algumas poderiam até gerar processos, mas o delegado não queria mais confusão sobre aquilo. Ignorou a todos.

 Com isso Teixeira e Pedro não só tiveram o primeiro encontro, como alguns outros mais. As primeiras saídas foram um tanto desajeitadas, parecia que nenhum dos dois tinha muita prática naquilo, mas logo ficou mais fácil. Helena se via ansiosa no meio do expediente. Sem ter com o que manter sua mente ocupada, acabava desejando que seu turno terminasse de uma vez para que pudesse sair.

 O primeiro mês foi de encontros tímidos que ganharam aos poucos confiança. O segundo trouxe todas as primeiras vezes típicas de um casal e, no primeiro mêsvesário de namoro, Pedro a convidou para um final de semana em uma quinta na parte rural do Porto.

 Não foi difícil ganhar os dois dias de folga, primeiro que ela tinha muitas horas acumuladas, segundo que realmente não andava fazendo muita coisa no trabalho. A oficial jogava paciência em seu computador enquanto esperava que seu turno terminasse.

 Ouviu algumas batidinhas na porta e viu Santos entrando.

— Vai encontrar o Romeu de novo? — ela perguntou, com um sorrisinho.

— Talvez.

— Talvez nada, olha o seu cabelo.

 Helena passou a mão nele.

— O que tem?

— Você hidratou.

 Ela fez um som de desgosto.

— Como se eu só cuidasse do cabelo por causa de homem, Kátia.

— Claro que não, mas vamos combinar que até pouco tempo atrás você mal molhava ele, quem dirá hidratar.

 Aquilo era verdade. Kátia continuou:

— Não estou dizendo que você anda se cuidando para o Pedro, mas sair com ele te vez voltar a querer se cuidar, ficar bonita.

— É verdade, eu... — Helena parou e se perguntou se aquele era um bom momento para desabafar, decidiu que não estava fazendo nada mesmo. Girou sua cadeira para ficar de frente para a amiga. — Eu voltei a me sentir mulher, sabe? Desde que o... Desde que me separei eu esqueci que sou mulher. Acho que pensar em mim mesma desse jeito parecia como tentar me imaginar sendo um ET. Eu era só uma mãe e uma agente. Nada mais. Para nenhum desses papéis eu precisava ser bonita, entende? — Helena desviou o olhar, envergonhada. — E eu pensei muita estupidez. Pensei que se meu próprio marido tinha me abandonado, do que adiantava me cuidar? Meu corpo acabado, minha cara cansada, quem ia olhar pra mim? Eu nem queria que alguém me olhasse, tinha decretado que minha vida amorosa estava acabada. Não me sentia feia exatamente, eu sentia que era incapaz de ser bonita outra vez.

 Katia se esticou e segurou as mãos de Helena, fazendo que a amiga a olhasse.

— Eu fico muito feliz que você tenha mudado esse pensamento.

— Obrigada, K. Eu tô bem feliz, sabe? O Pedro é tão... Bom pra mim, quero dizer, que ele me faz bem.

— Ufa, eu quase vi em você umas daquelas mulheres que vem aqui defender os maridos, dizendo como eles são bons, comprando comida e que nunca levantaram a mão pra elas.

— Credo, Kátia. Quis dizer que ele me faz sentir bonita e engraçada e uma boa companhia. Que me escuta e eu sinto que ele se importa.

— Ou seja, você achou um bilhete raro para homem que presta!

— Abençoa, Deus. — ela riu. — Só que o Pedro anda meio impaciente porque ainda não levei ele lá em casa.

— Por quê não?

 Helena fez uma careta.

— É que tá tão bom só nós dois, sabe? É como uma fuga que eu tenho da minha realidade. Levar ele pra casa vai fazer ele se tornar parte da minha bagunça e aí eu não vou mais poder separar.

— Acho que eu entendo o que você quer dizer.

— E eu não sei como minha mãe e a Bia vão reagir. — confessou, aquele ponto a assustava mais que o primeiro.

— Relaxa, amiga, se ele é tão legal assim, elas vão cair nas graças dele rapidinho.

— Não sei não. As duas ainda têm uma certa esperança com o Tiago.

— Sério? — Kátia parecia surpresa e enojada.

— A Bia eu entendo, claro, é o pai dela. Ela sente falta dele, aquele cretino nunca aparece. E a minha mãe... Ela detestou o que ele fez comigo, mas ainda acredita que uma mulher só deve ter um homem em sua vida, aquele que tirou sua virgindade. — Helena revirou os olhos.

— Me lembre de nunca listar todos os caras que eu trepei pra sua mãe.

 As duas riram por um bom tempo. Helena sentia vontade de girar na cadeira, estava tão feliz.

— Eu preciso te contar uma coisa. — falou.

— O quê?

— Tô indo passar o final de semana com ele. Mas shhhhh — pediu quando viu que a outra ia gritar. — Eu disse lá em casa que ia viajar com você, por isso nem pense em passar por lá, ok?

— Você parece uma adolescente, Helena.

Ela pensou por um segundo e sorriu.

— Adoro essa sensação! — concluiu.

— E pra onde vocês vão?

— Pra uma quinta. Eu te mando a localização, confio no Pedro, óbvio, mas sou policial.

 Kátia concordou com um aceno enquanto Helena checava mais uma vez a hora.

— Aleluia, deu quatro horas. Tô indo. — ela recolheu a bolsa e se inclinou para abraçar a amiga.

— Aproveita muito seu final de semana.

— Vou aproveitar sim. — Helena já estava saindo quando Kátia gritou:

— Use camisinha!

 Ela fechou a porta para abafar o grito da amiga, mas estava rindo também.

 Helena já havia deixado tudo pronto em casa. Precisou apenas tomar banho, soltar o cabelo crespo e passar uma maquiagem leve. Beijou os filhos, pediu juízo e obediência para Bia.

— Ô mãe, deixa eu ir, vai. Eu já sou grande!

— Não é questão de idade, Beatriz.

— Mas se só vai mulher, eu sou mulher também! E eu nem vou perder aula!

— Outra vez você vai, eu prometo.

 Ela cruzou os braços e saiu marchando para o quarto. Helena revirou os olhos ao ouvi a porta do quarto bater com força. Foi abraçar a mãe, se sentindo culpada por estar deixando os dois filhos com ela ainda mais que o normal, e ainda por cima para sair com um namorado. Quase confessou tudo bem ali, mas sabia que se contasse que tinha um namorado e estava viajando com ele, a mãe ficaria todo o final de semana preocupada. Não importaria que os dois já se conheciam há meses e que estavam juntos, o fato de dona Conceição não o conhecer o tornaria suspeito aos seus olhos e ponto final.

— Mãe, eu acho que eu não vou mais. — Helena sentiu toda sua animação murchar dentro de si. Deixou-se cair no sofá.

— Por quê, menina? Tava aí toda feliz nesse instante.

— É que... A senhora já cuida tanto da Bia e do Léo.

— E daí?

— Não é certo. Eu vou ficar em casa e cuidar deles. Viaja a senhora, vai visitar a tia Guida de novo.

— Deixe de besteira, Maria Helena. Eu fui passear um dia desse.

— É, arrastando a Bia e o Léo junto.

— A Bia nem dá mais trabalho, já é moça. Deixa disso, menina, vai se divertir um pouco com tua amiga.

 Helena ergueu o olhar rapidamente e viu a mãe com um sorrisinho.

— Ahn?

— Ô, Maria Helena. — ela soltou uma risada alta. — Tu pensa que eu não sei é!

 Helena só esperou.

— Eu já... — a mãe puxou a parte de baixo do olho com a ponta do dedo. — Você vindo pra casa se arrumar e depois escapulindo de novo, sem uniforme. Tu até pegou o catálogo da Raimundinha pra fazer uns pedidos de creme pro corpo.

— A senhora tá muito investigadora pro meu gosto. — resmungou.

— Tenho culpa se tu não sabe esconder nada? E a Rita te viu, lá na sorveteria do Alonso, com um rapaz dia desses.

 Rita era a vizinha da frente. Fofoqueira feito o diabo.

— Mas ela não soube dizer quem era o moço, não. — Dona Conceição olhou para a filha com um olhar sugestivo.

— O nome dele é Pedro. E ele trabalha no mercadinho perto da delegacia.

 Aquele foi o convite para a senhora sentar no sofá.

— Ah, então tu conheceu ele lá, foi?

— Foi. E ele é mecânico também. Foi ele que ajeitou aquele barulho do carro.

— Pois é trabalhador.

 Helena olhou para o relógio na parede.

— Desculpa ter mentido pra senhora, mãe.

— Minha fia, tua cara de bicho assustado quando tá mentindo não mudou nadinha de quando tu era criança. — ela riu de novo. — Se preocupe com isso não, vá se divertir.

— É que eu fico assim de sair pra namorar e deixar a senhora com eles.

— Na próxima folga você fica em casa e eu saio pra passear, tá bom assim?

— Até parece que a senhora vai.

— Cuide, Maria Helena, não quero vocês viajando de noite, é perigoso.

 Helena abraçou a mãe agradeceu mais uma vez, pegou a mochila e saiu.

 A quinta era uma casinha de dois quartos, sala, cozinha e um banheiro. O terreno tinha uns cinquenta metros quadrados, com árvores frutíferas e uma piscina mal cuidada. Não era grande coisa, mas o preço também foi bem baixo. Para Helena e Pedro, era mais que o suficiente.

 Assim que chegaram precisaram preparar algo para comer. Pedro havia levado a comida que os manteria nos dois dias, e ele preparou enquanto Helena limpava o quarto e colocava os lençóis que havia levado de casa. Tudo parecia limpo, mas ela não queria arriscar.

 Depois de comer, os dois ficaram sentados no único sofá da sala, conversando e bebendo cerveja que não havia conseguido gelar o suficiente.

 Helena riu.

— O que foi? — Pedro baixou a cabeça para olhá-la deitada com a cabeça em seu colo.

— Isso aqui tá parecendo uma versão pobre de Diário de uma Paixão.

 Pedro jogou a cabeça para trás e riu.

— Você já assistiu esse filme? — ela perguntou.

— Já, é legalzinho.

— Legalzinho? Aquele filme é perfeito.

— Não sabia que a oficial Teixeira gostava de romance.

— Não conte para a imprensa, por favor, eu tenho uma imagem a manter.

 Pedro sorriu e se inclinou para beijá-la. Sem quebrar o beijo, Helena se moveu para sentar no colo dele. O beijo se aprofundou, as mãos de Pedro se moviam por seu corpo como se traçassem um lugar bem conhecido. Ela gostava daquilo, da certeza do toque dele, de como ela conseguia sentir que ele a queria.

 O outro dia começou oficialmente no início da tarde. Prevendo que o sol iria acordá-los junto com o galo, Pedro improvisou uma cortina com os lençóis antigos. Com o quarto escuro, os dois dormiram até tarde e, quando finalmente resolveram se mexer foi para repetir o que havia acontecido no sofá. Helena sentia que ia desmaiar de fome quando chegou na cozinha. Preparou pão, ovos mexidos e queijo para o café da manhã que estava mais para almoço. Devoraram tudo em minutos e resolveram dar uma volta no terreno, descobrindo que não havia nada demais para fazer além de colher frutas.

 Na volta, Pedro tirou o short sem cerimônia, ficando só de cueca, e pulou na piscina. Helena quis fazer o mesmo, mas como estava sem sutiã por baixo da blusa, precisou entrar para colocar o biquíni. Estava passando quase correndo pela sala quando ouviu o celular tocar. Antes mesmo de pegar o aparelho da mesa viu o nome do ex-marido no visor. Por um segundo se sentiu congelar de choque, Tiago não ligava há meses, depois sentiu raiva. Que momento ele escolheu justo para aparecer. Ignorou o celular e foi para o quarto.

 Tirou da mochila as duas opções de roupa de banho que tinha, um biquíni e um maiô. O maiô ainda estava novo, já que ela podia contar nos dedos de uma mão às vezes que o usou, o biquíni ainda tinha a etiqueta. Ganhou de presente de aniversário e nunca imaginou vestir, com todas as inseguranças que seu corpo lhe trazia. Pensou por um bom momento, então tirou a roupa e vestiu as duas peças, indo se olhar no espelho pendurado na parede. Conseguia ver a cicatriz da sua cesárea, as estrias que enrugavam sua barriga e alguma celulite na bunda. Também havia o grande contraste entre a pele que pegava sol e a que não.

— Ei, gostosa. — ouviu Pedro e o encontrou na janela. — Quer dar um timbum comigo ou não?

 Ela riu, mas se sentia envergonhada. Ela sabia que Pedro estava brincando, ele a olhava e não parecia ligar para suas imperfeições, tampouco estava babando. Ele a olhava como se já conhecesse seu corpo, com intimidade e naturalidade. É claro, ele já a havia visto sem nada antes.

— Acho que seu telefone tá tocando. — Pedro falou, olhando para a porta do quarto. Ele viu a cara que Helena fez. — Que foi?

— É o Tiago.

— Seu ex? Mas você disse que ele tinha sumido.

— E tinha mesmo. A margarida resolveu aparecer, pelo visto.

— Será que é importante?

— A única coisa importante que eu tenho em comum com aquele lixo são meus filhos, e eles estão com a minha mãe.

 Helena pegou o protetor solar na bolsa e piscou para Pedro.

— Me encontre na água.

 O final de semana passou rápido demais, mesmo assim Helena se sentia feliz de estar voltando para casa. Tudo havia sido maravilhoso, tirando os telefonemas insistentes de Tiago, todos ignorados, mas ela sentia saudade dos filhos loucamente. Ela não era a mãe mais presente, estava sempre trabalhando, mas sentia falta de chegar em casa e vê-los, de ouvir Bia tagarelar e do cheirinho de Léo.

 De volta à cidade, deixou Pedro em casa e foi para a sua. Assim que virou a rua, seu coração perdeu duas batidas. Havia um carro estacionado em frente a sua casa.

 Era o carro do Tiago. E continuava com a mesma placa de São Paulo.

 O filho da mãe nunca foi pra Florianópolis, pensou.

 Helena apertou o volante, sentindo o sangue esquentar. Tiago havia ido embora, mas não para tão longe. Havia sumido todo esse tempo, não ligou porque sabia que o código de área do telefone o entregaria. Depois de xingá-lo de tudo o que conseguiu pensar, Helena respirou fundo. Queria entrar lá e gritar com ele, mas lembrou dos filhos. Pensou em chamá-lo para outro lugar, para aí poder gritar, mas também não era uma boa ideia. Resolveu que pediria para a mãe levar as crianças para passear, assim ela poderia inclusive dar uma surra no imbecil.

 Desceu do carro e abriu o portão, as mãos frias. Muitas imagens piscavam em sua cabeça, flashes do dia que ele foi embora. Sentiu o mesmo aperto no peito ao perceber que estava sozinha com duas crianças.

 Ela o encontrou assim que entrou, sentado no sofá com Bia, assistiam desenho. Assim que a notaram, a filha pulou em pé, o rosto fechado.

— Eu vou embora com o meu pai! — gritou.

 Helena olhou para ela, depois para Tiago. Ele estava diferente, o cabelo mais curto, deixou a barba crescer. Com toda certeza não comprava mais suas roupas na feira, como quando morava ali.

— Bia... — Helena falou, confusa.

— Eu vou! Eu não quero mais morar com você! — e ela sumiu dentro da casa.

— Mas que merda você falou pra ela?! — Helena perguntou, tentando não gritar. Jogou a mochila no chão e caminhou até Tiago.

— O que eu falei pra ela? Só a verdade, que a mãe dela é uma puta.

 Aquilo a chocou. Helena o encarou, a boca aberta. Tiago balançou a cabeça, sorria com escárnio e levantou do sofá.

— Onde cê tava, Helena? Eu tô te ligando desde que eu descobri.

— Não é da sua conta. — respondeu, mas sem muita certeza. Estava tentando não acreditar que a mãe havia contado sobre Pedro para Tiago. Mas como? Eles nem se falavam.

— Não é da minha conta? Eu descubro que você anda dando pra um filho da puta qualquer aí e não é da minha conta? Você devia tá cuidando dos nossos filhos!

— E você?! — finalmente ela conseguiu gritar. — Onde você tava esse tempo todo?! Tava em Floripa?

— Eu tava trabalhando, cacete! Ou você acha que eu tiro do cu o dinheiro que eu deposito pra você?!

— Pra mim?! Você deposita trezentos reais para os seus filhos! Sabe o que esse dinheiro dá pra comprar? Nada! Ele acaba em dois dias, Tiago! Agradeça por eu nunca ter te colocado na justiça!

— Deve ser que você anda usando pra ir trepar por aí, né. Porque trezentos reais dava pra muita coisa quando eu morava aqui.

— E faz quanto tempo que você não mora aqui? Hein? Faz quanto tempo que você foi embora e não vê seus filhos? Porra, nem pra ligar pra eles!

— Não venha pagar uma de santa, não, Helena! Você também quis que eu fosse embora, não tava mais dando certo. Agora eu sei por quê, né. Deixou pelo menos eu virar a esquina antes de trazer alguém pra te comer aqui?

 Helena sentia o coração queimar em seu peito. Queria gritar tanta coisa na cara dele, queria bater nele, mas descobriu que tudo que havia planejado dizer em todas as vezes que imaginou Tiago em sua frente, sumiram. Aquelas coisas que ele havia dito de certa forma a feriram, como mulher, como pessoa, como ex-esposa.

— Você não vai levar a Bia.

— Não vou? Cê acha que eu vou deixar minha filha crescer aqui com uma mãe como você? Pra ela aprender a ser puta também?

— Você não vai levar a Bia. — repetiu, sentindo as lágrimas descerem. — Ela é minha filha...

— Ela é minha filha também. Só não levo o Léo porque ele ainda mama.

— Léo parou de mamar tem um tempo já. Mas é claro que você não sabe disso, como ia saber, se não dá as caras aqui tem meses. Ele nem lembra de você.

 Tiago apontou um dedo para ela.

— Escuta aqui, Helena, se eu descobrir que algum filho da puta anda vendo meus filhos, você vai se arrepender, ouviu? Eu sou o pai deles, eu sou o único homem que chega perto deles, entendeu?

— Meus filhos não têm pai nenhum, não se preocupe. Eles têm uma mãe e uma avó.

— Como é que você arranja um sujeito daquele, Helena? Hein? O cara deve ser uns dez anos mais novo que você, pelo amor de Deus!

 Aquilo fez a raiva diminuir por um momento, Helena o olhou confusa.

— Como você sabe...

— Ah, você ainda não viu, foi? — Tiago riu e se virou, mexendo nas almofadas. Pegou um jornal que estava ali e empurrou para ela.

 Helena abriu, era o jornal Voz do Porto, de sábado. Na primeira página, uma foto imensa dela dentro do carro e Pedro com uma mochila nas costas. Estavam em frente a oficina, foi na sexta, quando foi buscá-lo para irem para a quinta. No topo, as letras gritavam:

Pausa na investigação para o amor?

 Ela leu a manchete, seu coração se apertando a cada linha, o sangue fugindo de seu rosto. O texto falava sobre sua vida, sobre sua família, sua separação e o “caso” que havia iniciado. O redator terminou se perguntado se encontrar um novo amor foi mais difícil que encontrar o assassino de Ana Clara Almeida Bosco.

— Passou na TV também. Todo mundo viu, Helena, todo mundo tá sabendo da vadia que você é.

 Ela amassou o jornal e sentou no sofá.

— Vai embora da minha casa.

— Essa casa também é minha.

— Vai embora, Tiago. VAI EMBORA, PORRA! — gritou, apertando os pulsos no rosto.

 Ela ouviu Léo chorar lá dentro.

— Eu venho buscar minha filha. — avisou, antes de sair batendo o portão.

 Helena continuou com os olhos fechados, sua cabeça latejava. Não podia acreditar que sua vida havia se tornado um reality show. Por que ninguém ligou? Por que ninguém a avisou? Sua mãe? Alguém da delegacia? Kátia?

 Seu celular começou a vibrar no bolso. Helena limpou o nariz que escorria na manga da blusa e o pegou, imaginando que seria Pedro. Não era, era o delegado.

— Teixeira. — ele falou assim que ela atendeu.

— Delegado, eu acabei de chegar e descobri isso, eu não sei como aconteceu, mas...

— Teixeira, Teixeira! — ele a cortou. — Depois a gente resolve isso. Preciso que venha pra cá agora mesmo. Acabaram de ligar do laboratório. Identificaram o dono do DNA.

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