Extra
Laurel Ravenclaw acordou aos gritos.
Os braços gentis de Harry Potter rodearam-na, as mãos puxando-a para encostar a cabeça no seu peito, sentindo as lágrimas quentes dela humedecerem-lhe a camisa. A ruiva soluçava, o rosto transfigurado, os olhos azuis fitando o rapaz com uma expressão confusa.
- Onde...
Depois, lembrava-se.
Estava sozinha na Mansão Ravenclaw até Harry decidir ficar consigo. Ashley ficara com Andromeda para ajudar com Teddy enquanto Laurel precisava estar ativa junto do Ministério. Havia uma nova luta para travar e uma série de julgamentos para assistir.
O coração doía-lhe. Sentia tanto a falta dele.
- Aqui. - ouviu Harry dizer, estendendo-lhe um copo de água - Bebe. Vais sentir-te melhor.
Laurel bebeu o copo de um trago, apreciando a frescura da água na sua boca seca e enrouquecida pelos gritos. Aconchegou-se no peito do amigo, fechando os olhos e respirando fundo para acalmar-se.
- Quando é que isto melhora, Harry? - perguntou, num sussurro infeliz.
O Menino-Que-Sobreviveu encarou-a com tristeza. Também ele sofria diariamente com os pesadelos dos momentos que fora forçado a viver. Tal como Laurel, a presença de Voldemort nunca o deixava. Sonhava com a sua voz sibilante, com as pessoas que ele matara, com ao caos e a destruição que ele provocara. Sonhava com s ligação que partilhavam e que o atormentara a vida inteira.
Ele não era capaz de dormir uma noite inteira e por isso sugerira à Herdeira de Ravenclaw ficar com ela até.. Até ele regressar.
Passaram poucos meses após a Guerra de Hogwarts e o mundo recuperava. Laurel fazia o esforço de integrar-se novamente na sociedade e recuperar alguma da sua essência mas o luto por Remus fazia-se muito presente. Quando não eram os pesadelos, era o choro da perda.
Piorara bastante quando Draco Malfoy fora levado para Azkaban.
As noites eram frias naquela mansão. Faziam poucos meses desde a Guerra de Hogwarts e Laurel ainda estava a habituar-se à ideia de não viver no castelo ou aprisionada. A única outra realidade que conhecia era Grimmauld Place e a casa dos Black era muito diferente da Mansão Ravenclaw.
Mudara-se para ali com Draco. Ficara sem ele poucas semanas depois. Os pesadelos, no entanto, nunca a deixavam.
Era o Malfoy que a amparava quando acordava aos gritos. Era ele que a acalmava e ficava a noite acordado à espera que ela voltasse a dormir. Era ele que passava a noite em claro se ela não fosse capaz.
Ele limpava-lhe as lágrimas quando ela desabava. Ele recordava-a que não precisava de ser sempre forte.
Ele acariciava-lhe o ventre quando ela se apercebia do que perdera.
Mas Draco estava preso. Todos os antigos Devoradores da Morte tinham sido presos até serem julgados: Meredith Lovelace, Draco Malfoy, Lucious e Narcissa Malfoy.... Entre outros. Laurel fora incapaz de convencer o Ministro da Magia a condená-la, por muito que tivesse tentado.
Ao invés, fazia o que podia para libertá-los e acelerar o processo judicial contra a sua família. Ela só queria ver-se livre de todos os restos da Guerra... e de Voldemort.
Como podia seguir em frente se tudo a levava de volta a ele? Como podia aprender a ser livre se o mundo ainda não estava livre? Como podia ser feliz se perdera tudo?
- Queres que leia para ti? - perguntou Harry, em vão.
Laurel abanou a cabeça, puxando os joelhos contra o peito. Essa era uma atividade que tinha com Draco nas noites que passavam em claro e não era capaz de o fazer com Harry, embora fosse grata pela sua oferta.
- Preciso de visitar Meredith amanha. - murmurou, perdida em pensamentos - Ela deve estar impaciente porque o resultado do julgamento nunca mais sai e a cela de Azkaban é horrível...
- Laurel.
O rosto da ruiva virou-se automaticamente na direção de Harry. Este abanou a cabeça, pousando a mão no seu ombro.
- Precisas descansar. Para de pensar nas tuas responsabilidades e vamos tentar dormir, está bem?
- Eu não... Eu não consigo...
A Ravenclaw estremeceu. Sentia-se pequena em comparação com a Herdeira que sempre fora. Quando falavam com ela, dirigiam-se com respeito e admiração pela jovem que se sacrificara para vencer o Senhor das Trevas. Era uma heroína, tal como o famoso Harry Potter.
No entanto, nenhum deles se sentia um herói.
Eram apenas dois jovens quebrados, cuja vida fora roubada por um maníaco.
- Temos de seguir em frente. - murmurou Harry, num reflexo do seu estado emocional frágil e debilitado - Ou ele vence.
Laurel assentiu. Com um suspiro, recostou-se no abraço do amigo, apreciando o calor que emanava do corpo do Herdeiro de Grynffindor.
**
A jovem dos cabelos cor de fogo pestanejou, confusa. Espreguiçou-se, exausta. Conseguira adormecer e nem dera por Harry sair do quarto ou tapá-la.
Algo no seu coração acordara-a. Uma sensação, como o puxar interno de um fio invisível.
- Laurel! - ouviu Harry chamar lá embaixo, num tom alegre - Laurel, acorda!
De sobrolho franzido, levantou-se, vestindo apressadamente o roupão antes de descer as escadas. Tinha olheiras escuras abaixo dos olhos safira, o cabelo emaranhado, a mancha negra que detestava cobrindo-lhe o antebraço esquerdo à medida que arregaçava as mangas.
- Harry? - chamou, vendo-o junto da porta da rua - Está tudo bem...
Calou-se ao ver a figura sorridente da sua melhor amiga. Ashley Hufflepuff saudou-a com um aceno breve, a mão esquerda segurando firmemente a vassoura, os olhos âmbar brilhantes de entusiasmo.
- Oi Lau. - cumprimentou a Herdeira de Hufflepuff, entusiasmada - O veredicto saiu hoje. - o coração de Laurel falhou uma batida, acelerando o passo para se aproximar dela - E eu trouxe um presente.
Ashley desviou-se e a Ravenclaw estacou, cobrindo a boca com a mão para tapar o arquejo de choque e surpresa. Os olhos encheram-se imediatamente de lágrimas e a pessoa à entrada da sua casa esboçou um sorriso, a expressão suavizando ao vê-la.
Draco Malfoy estava livre.
- Draco! - exclamou, correndo porta fora.
Atirou-se ao pescoço dele com fervor. Ele cambaleou para trás, ligeiramente enfraquecido pela prisão, o rosto enterrando-se na curvatura do pescoço dela. Inspirou profundamente, sentindo o odor característico da jovem impregnar-lhe os sentidos.
- Senti tanto a tua falta. - murmurou, baixo o suficiente para que apenas ela ouvisse.
Ela soluçou, afundando o rosto no seu peito. Chorou tudo o que tinha para chorar nos braços do homem que amava, sentindo o corpo dele mais magro, a respiração entrecortada, o palpitar do seu coração contra o dela.
Atrás deles, Harry sorriu, feliz. Os olhos cinzentos de Draco Malfoy ergueram-se, procurando os esmeralda do seu antigo inimigo. Ashley contara-lhe que o rapaz ficara com a Ravenclaw e ajudara-a no seu processo doloroso de luto e perda. Não podia deixar de se sentir grato por isso, embora houvesse um claro olhar de "eu cheguei, já não precisas de estar aqui", segurando a jovem nos braços com firmeza.
Harry abanou a cabeça, rindo. A insegurança de Draco continuava a mesma do costume. Ainda assim, ao vê-los, soube que o seu trabalho ali estava feito e Laurel iria ficar bem. Ela era forte e Draco aprendera a ser forte por ela.
- Eu vou andando. - disse, passando pelo casal - Ley, dás-me boleia? - perguntou à jovem Hufflepuff, apontando para a vassoura na sua mão.
- Claro. - respondeu Ashley, observando Laurel afastar-se de Malfoy - Até breve, pombinhos.
Apressou-se a montar na vassoura, desejosa de chegar a casa. Meredith esperava-a, também ela regressada de Azkaban.
Era um momento de alegria para todos.
Laurel ergueu os olhos azuis para encarar o namorado, afagando-lhe o rosto com ternura.
- Anda. Precisas de comer. - disse, puxando-o gentilmente na direção da Mansão Ravenclaw.
- Espera.
A ruiva viu-se puxada novamente para os seus braços, sentindo o corpo dele recostar-se no dela. Draco fechou os olhos, apreciando o contacto e a sensação de estar junto dela.
- Só preciso de estar contigo. - respondeu, beijando-lhe a testa - Deixa-me apreciar este momento.
- Estás livre. - murmurou Laurel, feliz - Estamos todos livres.
Draco assentiu, acariciando-lhe os cabelos e recostando o queixo no topo da sua cabeça, abraçando-a fortemente contra si. Eram completamente opostos, ela fogo, ele gelo, ela cabelos encarnados e olhos safira, ele cabelos pálidos e olhos cinza.
Opostos... mas inevitáveis.
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