Capítulo 3
5 anos depois...
O orfanato onde Ashley crescera estava novamente de pé, graças às suas novas benfeitoras.
De braços cruzados em frente ao peito, Laurel encarava o edifício com um sorriso no rosto, orgulhosa do que ela e Meredith tinham feito. O dinheiro das mulheres Ravenclaw e Lovelace era mais que muito e o sonho de Ashley era aquele: ajudar crianças como ela a encontrar famílias maravilhosas como a que Cedric Diggory lhe providenciara, tantos anos antes. Com a Batalha de Hogwarts, muitas crianças inglesas tinham ficado órfãs e a precisar de um lar, desamparadas e sem ninguém para as amar e proteger.
Por isso, o Orfanato Cedric Diggory erguera-se, com instalações acolhedoras, educadoras e cuidadoras com bons corações e a melhor diretora que poderiam ter: Ashley Diggory Hufflepuff.
Depois da Guerra, o número de órfãos aumentara mais do que o habitual. A necessidade de reabrir o orfanato crescera em Ashley pouco depois de terminar o sétimo ano em Hogwarts, antes de ingressar a formação para medibruxa, um desejo que partilhara com a esposa e com a melhor amiga.
Poucos meses depois, as obras tinham começado.
Aquele era o dia da abertura e Laurel não podia estar mais feliz. Dentro do bonito edifício de paredes amarelas, crianças corriam, bebés choravam, adolescentes tomavam conta dos mais novos e as funcionárias distribuíam presentes por todos eles, oferecidos por Meredith. A Lovelace tinha o seu negócio de roupa a ir de vento em popa e, como tal, não tinha problemas de dinheiro. O ambiente era de festa e de novos começos para muitas daquelas crianças, cujo som das suas gargalhadas preenchiam o coração de Laurel.
Na sua própria casa, as risadas do filho tinham vindo preencher a enorme Mansão Ravenclaw. Laurel esboçou um sorriso ao ver na mãe que se tornara; tinham passado poucas horas desde que deixara Scorpius com Draco e já tinha saudades do menino. Com Astoria a viver com eles, uma decisão feita por todos para bem dela e do filho, Laurel aproximara-se ainda mais dele. Não era difícil amar Scorpius; para além de ser um menino doce e gentil, nada semelhante nem ao pai nem à mãe, era a cara chapada de Draco, embora tivesse os olhos verdes de Astoria.
- Minha senhora... Por favor ajude-me...
Laurel pestanejou rapidamente, afastando os pensamentos e concentrando-se. Perto de si, uma senhora de idade encarava-a com os olhos esbugalhados e pesarosos, o rosto sujo de cinza e pó. Quando os olhos safira da Ravenclaw pousaram no que a senhora segurava, soltou uma exclamação, pousando a mão de imediato no ombro da desconhecida.
- O que lhe aconteceu? Em que posso ajudar? Por Merlin, ela está bem?
- Está mas não sei por quanto tempo. Minha senhora, eu não posso fazer nada por ela, sou apenas uma sem-abrigo... Mas talvez a senhora possa. Ela precisa de cuidados, mal respira, pobrezinha...
A bebé no colo da senhora balbuciou, o rosto enrugado numa careta de dor. Laurel estendeu os braços, vendo a idosa entregar-lhe a criança com uma expressão de confiança, o dedo acariciando suavemente a bochecha da criança.
- Encontrei-a numa casa em chamas perto de onde costumo dormir. Pertencia a um homem com fama de bebêdo, talvez tenha sido ele mesmo a causar o fogo... Se foi, fugiu e deixou a criança para traz.
- Vou levá-la ao hospital. - afirmou Laurel, aconchegando a recém-nascida junto de si - Muito obrigada por salvá-la. Aqui tem.
Com a mão livre, estendeu uma nota Muggle na direção da mulher, algo que carregava consigo em caso de emergência. A senhora abanou a cabeça.
- Não o fiz para ganhar alguma coisa...
- Eu sei disso mas por favor aceite. - sorriu gentilmente à senhora, que aceitou o dinheiro, reluntante - Irei cuidar da menina. Muito obrigada mais uma vez.
Apressada, Laurel virou-lhe as costas, correndo em direção ao orfanato. Não podia Aparatar com a menina, parecia frágil e debilitada, provavelmente pelo fumo que inalara. Teria de a levar ao St. Mungus mas o hospital bruxo ainda era longe.
- Ashley! Ashley!
A Ravenclaw virou a esquina, dando de caras com Ashley, cujo rosto lhe mostrava que pressentira de imediato que ela precisava da sua ajuda e soubera exatamente onde ela estava, como sempre. A Hufflepuff abriu e fechou a boca, os olhos arregalados ao ver a bebe em mau estado nos braços de Laurel.
- O que aconteceu?!
- Não sei ao certo, foi uma senhora que a entregou...
- Dá-ma.
Laurel estendeu os braços sem pensar duas vezes, a confiança cega que tinha em Ashley inabalável. As duas adentraram a casa de banho mais próxima, onde Ashley pousou a bebê, analisando-a com olhos críticos.
- Ela inalou muito fumo. - disse a mulata, abrindo a bolsa que sempre trazia à cintura e retirando de lá um pequeno frasco de vidro - Isto irá ajudar. - franziu o sobrolho - Mas o que...
Uma exclamação estrangulado escapou-se-lhe dos lábios, os olhos âmbar arregalados. Laurel aproximou-se dela, procurando ver o que tanto a transtornara. Lentamente, o seu rosto perdeu a pouca cor que tinha, a mão pousando no braço fino da bebé.
- Ela é tão nova...
- Talvez tenha sido o pai. A senhora mencionou que ele tinha má fama... Talvez não fosse má pessoa ou um bebedo, talvez ele fosse...
Laurel fez uma pausa, encarando o rosto franzido da bebé com uma tristeza saudosa.
- Um lobisomem.
Ashley nada disse. Com suavidade, verteu o líquido do frasco na boca da menina, cujo rosto suavizou para depois se contorcer de novo numa careta de choro ao sentir o pano húmido que Ashley usava para lhe limpar o corpo. Estava coberta de cinzas e pó, de tal forma que parecia morena e de cabelo escuro. Laurel limpou-lhe o tufo de cabelo enquanto Ashley tratava do corpo, ambas sorrindo ao ver a bebé revelar as suas verdadeiras cores: pele de marfim e cabelos cor de ouro. Quando o choro cessou e abriu os olhos, as íris azuis cor do céu fitaram as suas salvadoras, acompanhadas de uma risadinha bem disposta.
- Olá querida. - saudou Laurel, enrolando a pequena numa toalha - Como será que tu te chamas?
- Teremos de procurar saber quem é, se tem família, se o pai a vem buscar...
- Se vier não irei permitir que ele a leve sem saber exatamente o que aconteceu.
Ashley soltou uma risada, observando a guerreira em Laurel vir ao de cima para proteger aquela bebé desconhecida.
- Como é que vais explicar isto ao teu marido?
Laurel franziu o sobrolho, balançando a bebé sorridente no seu colo como se o fizesse desde sempre.
- Explicar o quê?
- Explicar como lhe arranjaste uma filha sem ele sequer ter direito a dizer se quer ou não.
A Ravenclaw corou.
- Por Merlin!
**
- Mamã Lau!
Scorpius correu escada abaixo em direção à porta, abraçando as pernas de Laurel com toda a sua força. Ele fazia sempre isso quando ela chegava a casa, como se a quisesse segurar e nunca mais a largar. A Ravenclaw sorriu, vendo o menino erguer os olhos verdes em direção a ela com adoração.
- Já estava cheio de saudades tuas. A mamã está no quarto mas disse que já descia, ela hoje está um bocadinho melhor que ontem, não está tão branquinha...
- Ainda bem, querido. Forçaste-a a tomar a medicação? - perguntou a ruiva, pousando a sua mala no bengaleiro e aconchegando o montinho nos seus braços ainda mais contra o seu peito, o qual o pequeno Scorpius sequer reparara.
- Xim! Fiz o que tu disseste: olhar para a mamã com os olhos muito abertos e fazer beicinho.
- Isso mesmo, querido. Ninguém resiste ao teu beicinho. - Laurel afagou-lhe o cabelo, sorrindo - Scorpius, o teu pai já chegou?
- Xim, mamã Lau. Está no escritório, eu vou lá chamá-lo!
O menino virou-lhe as costas, correndo escada acima. Do quarto de hóspedes, situado ao lado da sala de estar onde Laurel se encontrava, Astoria saiu, a expressão rabugenta e um sorriso forçado desenhado no rosto para receber a amiga a casa.
- Scorpius disse-me que estavas melhor. - comentou a ruiva, aproximando-se dela enquanto Astoria se sentava pesadamente no sofá.
- No que toca ao meu filho eu sempre vou parecer melhor do que realmente me sinto. - respondeu a mais nova, tossindo - Quero que ele se lembre de mim bonita e divertida, não... Assim.
Laurel beijou-lhe o tipo da cabeça, escondendo as lágrimas que lhe tinham assolado os olhos.
- Consegui fazer com que durasses mais que o previsto. Não vou desistir agora.
Astoria assentiu, embora nada convencida. Os olhos verdes ergueram-se na direção da mais velha, parando por breves instantes nos braços dela. Sem alterar a sua expressão, ergueu ligeiramente as sobrancelhas, questionando naturalmente:
- Laurel... Roubaste um bebé?
A Ravenclaw soltou uma gargalhada, não muito alta para não acordar a pequena nos seus braços. Abanou a cabeça, colocando um dedo à frente da boca para que Astoria não fizesse barulho e segredou-lhe:
- Uma senhora entregou-a no orfanato, encontrou-a num incêndio... Ashley diz que não posso ficar com ela oficialmente até sabermos se tem família ou não mas permitiu que eu a trouxesse para casa e cuidasse dela, pelo menos por enquanto.
- Se é só por enquanto porque é que estás a olhar para ela como se fosse tua filha?
Laurel encolheu os ombros, beijando a bochecha da bebé.
- Tenho um pressentimento... E a minha intuição nunca falha.
O som de passos a descer as escadas e das gargalhadas de Scorpius anunciavam a aproximação de Draco. Como uma mola, Astoria pôs-se de pé, fazendo Laurel rir ao dizer:
- Vocês têm muito para conversar e eu não quero estar aqui quando a tempestade se instalar. Scorpius, querido.... Draco Malfoy, o que estás a fazer ao meu filho?!
O loiro revirou os olhos. Estivera com Scorpius às cavalitas como os dois tanto gostavam; por isso o menino viera a rir, contente nos ombros do pai.
- Quantas vezes é preciso eu explicar-te que não vou deixar o nosso filho cair, Astoria Greengrass?
- Se ele cair, eu irei pessoalmente matar-te.
- Já disseste isso quinhentas vezes.
- E digo mais vezes até tu parares de fazer isso ao meu filho!
- Nosso filho!
- Eu chamo-lhe o que eu quiser!
Laurel suspirou, sorrindo discretamente a Scorpius, ambos mais que habituados às discussões entre aqueles dois. Embora parecesse distraído com a conversa de Astoria, o seu marido fizera o que fazia sempre que entrava numa sala: procurava por ela, os olhos ficando mais brilhantes quando a via.
O homem deitou a língua a Astoria, ignorando as suas reclamações enquanto caminhava em direção à sua esposa. Notando o olhar apaixonado que o casal partilhava, a Greengrass revirou os olhos, pegando na pequena mão do filho e dizendo:
- Vemos-nos ao jantar, chatos!
Laurel soltou uma risada, fechando os olhos para receber o beijo na testa que Draco sempre lhe dava quando ela chegava a casa. Quando os voltou a abrir, os olhos prateados de Draco já tinham encontrado o que ela tanto lhe queria mostrar, o rosto sério encarando a esposa à espera de uma explicação. A ruiva pigarreou, sentindo o peso do olhar dele sobre si.
- Draco, esta é... Bom, foi deixada no orfanato e...
- Como se chama?
Os olhos safira da jovem marejaram-se, fitando o marido com um sorriso gentil no rosto.
- Ainda estamos à procura a ver se ela tem família, documentos, alguma coisa que nos quem é. Em princípio é uma bruxa, já teve alguns episódios que o comprovam mas... - Laurel soluçou - Chamei-a de Ariel. - fez uma pausa, respirando fundo - Draco, ela...
Baixou a manta que tapava a bebé, expondo o arranhão no seu pescoço, já cicatrizado. O rosto por si só pálido de Draco perdeu o resto da cor, encarando a mulher, cuja expressão se alterara de imediato enquanto dizia:
- Eu sei tudo o que é necessário saber sobre lobisomens, as suas transformações, o que sofrem na Lua Cheia... Consigo ensinar-lhe tudo o que ela precisa saber se... Bom, se nós....
- Ficamos com ela.
O rosto da Ravenclaw iluminou-se.
- A sério?!
Draco encolheu os ombros, atrapalhado com o olhar intenso da mulher.
- Tu já te apaixonaste por ela, Laurel. Para além disso, ela precisa de uma família e o Scorpius tem pedido uma irmã ou um irmão para brincar. - o loiro encolheu os ombros novamente, acariciando a bochecha da bebé - Sempre falamos em adotar. Agora é tão boa altura como Scorpius o foi há três anos atrás: talvez tenha sido uma loucura mas foi a melhor loucura que nós já cometemos. - Draco sorriu, limpando as lágrimas da sua mulher delicadamente - Talvez a Ariel venha a ser a segunda melhor loucura que já cometemos.
A pequena Ariel acordou do seu sono, balbuciando coisas desconexas. Um sorriso gigante desenhou-se no seu rosto rechonchudo ao ver Draco, que se assustou ao ver a menina esticar os braços na sua direção.
- Parece que ela se apaixonou por ti. - comentou Laurel, divertida.
- Elas apaixonam-se todas, querida.
Laurel nada disse, apenas sorriu, enquanto Draco lhe piscava o olho. Pegou na menina e embalou-a, os olhos prateados brilhantes ao vê-la rir e agitar-se no seu colo. A Ravenclaw cruzou os braços, sentindo o coração transbordar de amor por aquele homem e pela família que tinham construído. O marido sorriu na sua direção, o seu sorriso matreiro enquanto murmurava para a bebé:
- Ariel Malfoy Ravenclaw... Bem-vinda à nossa família.
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