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||_Ruanna e os recortes do caso_||

|Ruanna estacionou seu carro em frente à porta principal de sua mansão no bairro do Bornéu, trazia consigo uma pilha de jornais e revistas que mal podia carregar; o porteiro ao identificá-la abriu o portão e ofereceu ajuda.
– Obrigada, posso levar. – Delicadamente passou pelo porteiro que tentou ajudá-la, seguiu pelo jardim bem trabalhado até a entrada, deixando para trás o frio da noite e o silêncio triste do local; os olhos claros brilhavam com as luzes vindas dos cristais tailandeses do hall. O porteiro atento à situação a acompanhou e abriu a porta. Ruanna entrou com dificuldade sentindo a porta bater atrás de si. Ruanna girou seu corpo, e utilizou uma pequena mesa rústica como apoio, respirou um pouco e foi pega de surpresa.
– Trabalho de casa. – Falou Alfredo sentado em sua poltrona acompanhado com seu brandy. – Parece que somos identicamente apaixonados por trabalho. Cada vez mais sou pego de surpresa quanto a sua capacidade.
– Acho que se consegue isso quando se ama o que faz. – Disse ela esperando o impacto das palavras sobre o velho Alfredo.
– Tudo bem. Tudo bem... Não quero mais discussão. – O velho advogado levantou-se e subiu em direção ao seu quarto. Ruanna manteve-se estática, alguns fatos sobre a Rua dos Sonhos ainda seriam sua companhia naquela noite de Março. Ela parou algum tempo para ganhar fôlego e subir até seu quarto, pensando em seu pai e em como aquela convivência poderia ser diferente.
Em seu quarto, Ruanna colocou todas as revistas que trouxe consigo em cima da cama, vários jornais foram abertos em páginas policiais, todos traziam em meio às diversas matérias algo sobre o caso do "Pervertido da Rua dos Sonhos". Ruanna sabia que antes de produzir o programa para o canal Onze, teria que saber tudo sobre o caso, tudo sobre seus envolvidos. Naquela noite a fonte de pesquisa seria mais de dez revistas e outras duas dúzias de jornais que foram separados por períodos. As matérias mais antigas seriam lidas antes, continuando sua pesquisa até a data atual de forma crescente e ordenada. Sobre a mesa, um computador foi ligado, nos sites de pesquisas algumas notícias poderiam ser encontradas, mas como o caso era local, e o crime foi manchete há mais de dez anos, as revistas e jornais da época poderiam trazer informações jamais veiculadas no mundo virtual.
O rosto de Iris e o de Eron dominavam as capas de jornais e revistas, a imprensa entrou a fundo na vida da beleza revelação da cidade daquele ano. Iris aparecia em fotos familiares e escolares, praticando handebol ou em algum grupo de dança. Eron de Menezes tinha sua palidez revelada com intensidade, em algumas fotos aparentava desprezo e em outras seu rosto era coberto por uma camisa que estampava o slogan de sua banda favorita. O principal acusado do desaparecimento havia sido agredido na cadeia durante os dias que ali passou em prisão preventiva, e os hematomas eram expostos como troféu para a massa sedenta pelo sengue do rapaz.
Ruanna organizou os periódicos por data e começou sua jornada por uma das primeiras notícias veiculadas sobre o caso, datada há mais de dez anos, que estampava na primeira página: "O Drama da família Almeida".
O texto trazia consigo uma entrevista exclusiva que a revista semanal havia conseguido com a família da menina, quarenta e oito horas após o desaparecimento da garota. Ruanna parou um instante e focou direto na foto que uma senhora carregava de Iris e mais uma vez pode analisar os cabelos dourados e longos da jovem, o rosto sereno e o sorriso contagiante, fazendo a jornalista pensar nas fotos da mansão após o desaparecimento, nos corredores banhados de sangue, imagens que demonstravam uma hemorragia capaz de matar qualquer pessoa em minutos.
Na entrevista a avó de Iris contou que saiu com o esposo no dia anterior para visitar parentes, e confiando na segurança do bairro deixou a jovem sozinha em casa, pois a mesma teria compromissos na universidade e não poderia acompanhá-los.
"– Ela já havia completado dezoito anos, estava organizando as coisas para a universidade, erramos ao achar que ela poderia se defender!" – Dizia um trecho da entrevista. Ruanna pôde ver ao lado outra foto em que vários parentes e moradores da Rua dos Sonhos se uniam para divulgar a foto da garota. "Apesar das evidencias de morte presumida indicada pela polícia, acreditamos que podemos encontrar ela ainda com vida". – Continuava a entrevista.

Ruanna observava cada palavra dita na entrevista, cada foto. A jovem sabia que os detalhes poderiam ser essenciais no caso, um pequeno erro poderia levá-la a outra direção e comprometer a qualidade de seu trabalho.
"– Sobre um possível suspeito, existe algum vestígio deixado no local do crime?"- Perguntava a revista, traduzindo os vestígios em crime.
"– Não, não temos nada, só existem vestígios dela, em toda a área que encontraram o sangue. Achamos que isso tudo vai passar e que nada de mau tenha acontecido a nossa neta." – Continuou Walter Almeida, o avô de Iris.
Ruanna pôde notar que até aquele momento, pouco tempo depois do desaparecimento, não havia suspeito e que a esperança de encontrar Iris com vida era uma possibilidade. No fim da página havia outras duas fotos, uma da jovem universitária recebendo sua coroa de beleza revelação da cidade e outra de um jovem que exibia para a câmera fotográfica outra imagem de Iris em tamanho gigante, no rodapé da imagem havia subscrito: (Guilherme Guilhar, namorado de Iris Almeida).
Entender a posição passiva de Guilherme como um simples coadjuvante intrigava Ruanna, mas as investigações não caminharam para essa vertente e a possibilidade de um crime passional era algo a se considerar, essa foi uma das primeiras observações que a jornalista fez em seus rascunhos sobre o caso. Até aquele momento, pouco, ou quase nada era descrito sobre Guilherme Guilhar.
O segundo Jornal trazia em primeira página "Lágrimas na Rua dos sonhos", expondo o feliz rosto de Iris Almeida e o depoimento do chefe da polícia local responsável pela investigação do caso:

"- Estamos com todo o efetivo da região trabalhando nas buscas e na coleta de provas. Pedimos reforços na parte técnica e conseguimos ajuda em relação aos peritos. São cerca de setenta e duas horas de trabalho intenso, tudo segue em segredo de justiça; pedimos à imprensa que entenda nossa tarefa e colabore com o nosso trabalho".
Carvalho Gouveia.
Chefe de investigação

|Ruanna sentia a frieza do ar e suas costas começavam a pedir ajuda, os olhos fixos e curiosos sentiam o peso das horas trabalhadas entre pesquisa, investigação e jurisprudência em relação a casos similares, e quanto mais se avançava no mundo e possível crime ocorrido na Rua dos Sonhos, mais aquele caso se distinguia dos demais, a jovem Spanno tentava encontrar fatos concretos e um verdadeiro sinal que a pudesse fazer encontrar o caminho certo em busca do desarquivamento daquele processo. A morena esticou os braços e treinou alguns alongamentos, observou o relógio e percebeu que muita coisa ainda teria que ser lida. Ao passar as edições antigas dos jornais, a advogada começou a encontrar repetições e a banalização da notícia exposta como novela; Ruanna conseguiu sentir a comoção que dominava a sociedade em busca do corpo da jovem Iris, os depoimentos se multiplicavam, as fotos abrangiam toda uma vida social. Fotos de manifestações e faixas ao redor do antigo colégio e do campus universitário decoravam várias zonas da cidade, levando o mistério à cadeia nacional de notícias. As notícias imitavam-se nos diferentes periódicos, o caso não prosseguia, sociedade e imprensa pressionavam as autoridades.
Ruanna anotava todas as datas, atenta a cada relato divergente entre uma e outra informação que ela recebia ao ler os periódicos antigos. Todos pareciam dizer a mesma coisa, a polícia estava na defensiva, o trabalho lento acumulava jornalistas e curiosos em frente à delegacia e ao instituto médico legal, as autoridades estavam sob pressão, a sociedade clamava por respostas, a imprensa as retiravam dolosamente. Por longos dias a família foi afastada de qualquer satisfação, e a única luz era em relação ao teste de DNA prometido para ser divulgado em até quinze dias. O silêncio da polícia deixava cada vez mais assustada a população, a prevenção reinava nos lares mais cautelosos e sair noite a fora era algo visto como extravagante para algumas famílias mais conservadoras. Os fatos ocorridos na Rua dos Sonhos e transmitidos para toda cidade através da imprensa tomavam conta dos sermões familiares, e a simples recusa de atenção poderia gerar sérios riscos. Em poucos dias o sumiço da jovem dominava os meios de comunicação em rede nacional, os noticiários da manhã tratavam de debates com especialistas renomados em perícia criminal, os do meio dia sempre traziam o resumo do caso, os do fim da noite traziam as últimas notícias que só confundiam ainda mais as cabeças das pessoas que acompanhavam o caso.
Logo que terminasse suas pesquisas preliminares, Ruanna se dirigiria ao fórum para tentar obter o arquivo do inquérito policial, por último tentaria adentrar na vida de alguns envolvidos no caso. Sem muita dificuldade, Ruanna pôde identificar que a morte presumida da jovem Iris Almeida já havia sido decretada pelas autoridades judiciárias, a confirmação da morte da jovem no meio jurídico, mas sem um corpo ou provas suficientes que pudessem incriminar alguém.
As horas passavam e o crime corria nas veias de Ruanna, a jovem jornalista concluiu que o desaparecimento da menina tinha se transformado em um caso público e que, sob pressão, a polícia parecia não trabalhar racionalmente. Massacradas, as autoridades marcaram uma entrevista coletiva onde os chefes de investigação se pronunciariam sobre o andamento das investigações sem antes obterem provas suficientes ou respostas claras, fato que provavelmente atrapalharia o andamento das diligências; e antes de qualquer reunião coletiva, várias acusações recaíam sobre alguns responsáveis pelo caso. Até aquele momento o caso do desaparecimento de Iris, apesar de curioso, não se tornara tão peculiar, analisou Ruanna, os fatos analisados e repassados para o computador não se diferenciavam de vários outros crimes que abalaram a sociedade, e a situação mais estranha até o momento parecia ser a omissão de parentes e amigos em relação ao caso.
Uma dúvida recaía sobre a mente brilhante de Ruanna: Será que o inquérito, assim como a imprensa, havia sido tão omisso em relação ao meio social de Iris? Uma ponta de sorriso arriscou-se no canto da boca de Ruanna, sendo seguido por uma leve negatividade com a cabeça, até que outras fotos de Iris foram descobertas em uma revista semanal, eram cerca de uma dúzia delas, todas perfeitas, a menina da Rua dos Sonhos era realmente linda e ninguém duvidaria que aquelas belas curvas um dia pudessem ganhar o mundo. Seu rosto era fino, mas preenchido nas laterais, os olhos castanhos eram grandes e combinavam em todos os aspectos com as sobrancelhas altas e de formas singulares, formando uma obra de arte com o nariz reto e simétrico. Ruanna se olhou no espelho, tocou as sobrancelhas em destaque tentando confirmar a perfeição da menina loira da rua dos sonhos. Uma pena! — Pensou Ruanna tentando adivinhar os planos perdidos de Iris Almeida.
Ruanna resolveu descer mais uma vez e comer algo.
Já na cozinha, a mente de Ruanna permanecia longe. Ela abriu a geladeira e parou por alguns segundos procurando além de opção, fome. Nada havia sido ingerido durante todo o dia. Ela sentiu passos leves atrás de si, levantou a visão e esperou.
— Eu poderia pelo menos saber em que caso minha adorável filha está trabalhando? — Ruanna se virou e encontrou a imagem do pai a observá-la.
— Prefiro não comentar. – A jovem Ruanna bateu a porta da geladeira e sentou sem olhar em direção ao pai.
— Para que tanto egoísmo, minha filha? — O tom novamente irônico de Alfredo voltou ao ar pesado do ambiente familiar que se encontravam, Ruanna odiava aquilo, mas sabia que aprendera muito com o pai, e que imitá-lo era mais que atuação, era instintivo.
— Realmente, por que não dividir isso com meu pai? Meu eterno incentivador. O homem que sempre me apoiou, independentemente da situação e de seus próprios sonhos. — Alfredo deixou escapar um sorriso, admirando cada vez mais o poder de atuação da filha, analisando o quanto ela era talentosa. O velho advogado não fugia de suas conclusões, e podia ver muito de seus movimentos no corpo da jovem à frente, ela estava pronta e a força que ela transparecia era formidável.
— Estou à sua espera, Doutora Ruanna Spanno, ou você vai preferir usar o nome de solteira de sua Mãe? – Ele a tocava cada vez mais. – Profissão: jornalista; advogada como hobby! Seus sonhos me surpreendem.
— Não fujo do nosso nome, Doutor Alfredo, fujo da sua especialidade, dos números do seu Direito. — Ela preparava o próprio chá sem tirar os olhos do pai. — Falarei o caso em que estou trabalhando, mas se você prometer não opinar negativamente em relação à minha escolha.
— Tudo bem, mas prometo também não opinar positivamente.
— Perfeito! — Ela transpareceu contentamento. — Estou me dedicando ao caso do Pervertido da Rua dos Sonhos, tentarei desarquivar o processo utilizando novas provas... E por fim criarei um documentário como piloto para uma nova série sobre crimes locais.
— Confesso que a solução e uma sentença favorável elevariam seu nome querida filha, mas e a questão financeira? — Sentou-se o velho advogado.
— Existem milhares de pessoas em busca de justiça com esperança de mudar alguma coisa. Acho que posso mais do que resolver inquéritos policias, acho que posso ajudar pessoas inocentes, ou pelo menos trazer paz a quem perdeu alguém. — Ruanna alongou os dedos e começou a preparar seu jantar.
— Não há como negar a projeção que esse caso pode lhe oferecer e a sua especialidade. — O velho parou alguns segundos olhando ao nada, tentando levar a mente para longe da lei, tentando-a encaixar comercialmente. — E eu estou cansado de sonhar por você, se é por você que eu vivo e não por meus sonhos; nada melhor do que lhe desejar a liberdade, inibir prazeres é cruel, talvez possamos até controlá-los, mas inibir é mais complexo.
— Então posso contar com o senhor? — A menina estava pasma.
—Sim... Como sempre pôde contar. Acho cansativo me opor e te perder, prefiro a conivência à solidão. — Ruanna imediatamente largou tudo que fazia e correu para abraçar o pai, seu rosto transbordou, e com muito carinho beijou a testa do pai.
— Eu te amo. — Disse ela com a voz cambaleante.
— Sua mãe gostaria que tudo fosse assim. — Os dois ficaram abraçados por vários segundos.
— O senhor lembra o caso com detalhes? — Perguntou a morena olhando nos olhos do pai ao ressurgir.
— Faz um bom tempo, mas esses crimes acompanhados pela imprensa são muito mais "lembráveis" que os outros, pois parecem criar raízes na cabeça de todos.
— Mas o que o senhor recorda? — Disse a jovem preparando duas xícaras de chá.
— Bem, lembro que a história envolvia vários jovens amigos de infância. Lembro que a menina era muito bonita e que seus amigos da escola fizeram cartazes e os colocaram em toda a cidade. — Ela entregou a xícara ao pai.
— Continue. — Pediu a advogada e ouvinte.
— As pessoas esqueceram o caso, a televisão esqueceu depois que tudo pareceu "dar em nada". Mas, desculpe a pergunta, o que ocorreu com as pessoas que fizeram parte de todo aquela história? — Perguntou Alfredo com seus olhos arregalados.
— Ainda não cheguei aí também, mas sei que o caso está arquivado, o juiz viu falhas nas peças do inquérito e resolveu seguir os conselhos da promotoria, que de mãos atadas, não possuía provas suficientes para oferecer acusação.
— Interessante como foram corajosos. Difícil encontrar nos dias de hoje magistrados que não levem adiante crimes de comoção pública. — O velho se interessava cada vez mais sobre o caso.
— E o que mais? — Forçava a jovem.
— Do principal suspeito eu lembro bem, era um jovem que andava perambulando pelas noites, sempre sozinho. — Alfredo curvou as costas sobre o encosto da cadeira lustrosa e bem talhada. — As fotos dele estavam por toda parte, e sua aparência exótica cravava àquela imagem na cabeça da gente. A imprensa batia fotos terríveis do rosto do rapaz...
— Pensei que o doutor só pesquisasse sobre números e auditoria. — Ruanna em parte ofendeu o pai que já se mostrava bem flexível. — Mas continue.
— O principal suspeito não tinha pai, sua mãe era católica praticante... — Continuou ele.
— Exato. E, pelo que pesquisei, Eron de Menezes serviu por anos a capela da Rua dos Sonhos. — O velho estava de boca aberta. — Inclusive, o namorado da vítima também prestou serviços junto à capela de Nossa Senhora da Conceição.
— E a jovem?
— Frequentava a igreja periodicamente. — Prosseguiu a morena.
— Esse é o elo! – Deixou escapar o velho Spanno.
— Não só esse, doutor, os três estudavam juntos na mesma escola secundária e moravam sob o mesmo céu. Sem contar que esse convívio durou vários anos.
— Meu Deus, belo cenário para uma disputa avassaladora. — Ele socou a mão na mesa.
— Romântico, não é mesmo? — Outro gole de chá. — Eron de Menezes. Essa é a fonte. Pelo pouco que pesquisei no inquérito, nas revistas e nos jornais: ele não deve ser a única peça, mas sem dúvida é a chave dessa história. — Os lábios se moviam de forma charmosa entre palavras e mais um gole.
— E o que mais de intrigante possui essa história?
— Vou dizer o que não possui.
— O quê? — Aproximou-se o velho advogado.
— Um corpo e um criminoso atrás das grades.
— Mas a sociedade culpou o pervertido. — Lembrou o velho.
— Mas não houve cumprimento de pena, não transitou em julgado. Não há fim.
— E o que você acha, Ruanna? – Os olhos dele queriam ver o raciocínio preciso da filha.
— Eu acho que o assassino deveria estar preso e que se Eron de Menezes não for realmente o culpado, a sociedade deve desculpas a ele.
— Mas, minha querida, esse jovem não cumpriu pena alguma.
— Mas sua imagem foi exposta de forma grosseira e, dependendo da condição psicológica dele, esse jovem pode ter tido sua vida destruída anos atrás. — O velho calou-se. — Mas devo ser sincera e afirmar que existem provas e depoimentos contra Eron.
— Quais?
— Bem, o quarto dele era decorado exclusivamente com desenhos da garota desde que a mesma era uma criança. Testemunhas afirmam que Eron rondava a casa de Iris Almeida há pelo menos duas noites, que seu comportamento mudara bastante. — Ela fez uma pausa pra respirar.
— Nada suficiente para acusá-lo. — Disse Alfredo se retorcendo na cadeira tentando forçar os raciocínios da filha.
— Exato, mas, além disso, amigas da jovem disseram em depoimento que Iris se queixava do pervertido há algum tempo. — A jovem esperou algum outro comentário do pai que levou à vista ao teto como se encontrasse respostas por ali.
— Crime perfeito então?
— Talvez não, a prova mais contundente, ficou para o final. — O velho estava completamente seduzido pelo caso.
— Qual? — Quis saber o velho advogado.
— A polícia encontrou o celular da vítima na casa do pervertido. — Disse a morena vagarosamente.
— Bingo! — Ele parou e respirou. — As autoridades tinham o pervertido nas mãos.
— Longe disso, o pervertido alegou ter encontrado o aparelho na praça central da Rua.
— E ao mesmo tempo isso serviria de álibi em relação às constantes visitas à casa da jovem. — Tentou adivinhar Alfredo Spanno, deixando no ambiente um olhar inteligente a espera de um "parabéns".
— Muito bem pensado, foi o que alegou Eron de Menezes. — As provas contra ele, analisavam pai e filha, eram também álibis.
— Se as coisas foram planejadas e ele realmente culpado, o garoto fez um trabalho de gênio. — Os dois calaram-se por um tempo tentando levar o raciocínio a alguma conclusão lógica. — E os outros envolvidos?
— Temos Adolfo, paciente terminal com leucemia. Apaixonado durante o ensino médio por Iris Almeida. Acusado por vários de cometer barbáries contra Eron de Menezes.
— Um coadjuvante talvez?
— Não, acho que ele e sua namorada, Ana Moura, sabiam mais do que falaram em seus depoimentos.
— E essa garota sentia o quê pela vítima? Inveja? — Se adiantou Alfredo.
— Exato, mas sua vaidade a impedia de praticar qualquer coisa contra Iris.
— E o garotão? Quem na realidade a possuía?
— Guilherme Guilhar, hoje professor de matemática, recém-formado, mãe esquizofrênica. Namorou a vítima desde os quinze anos de idade. — Ela parou um pouco colocando algo na boca. — Bonito e charmoso, mas comum e sensato demais.
— Mulheres assim odeiam homens sensatos. — Ironizou Alfredo.
— Desejada, invejada, bonita, miss e talvez aventureira. Não concorda? — Alfredo deixou escapar um sorriso.
— Concordo. Afinal, devemos pensar em todas as possibilidades.
— Talvez um caso extra?
— Nem tanto, o amor dos dois parecia coisa de filme. — Concluiu a advogada rapidamente.
— E se a jovem esplendorosa não morreu e estiver em alguma casa de repouso? — Ruanna já havia pensado nessa hipótese, mas nenhum argumento fortalecia essa opção. As palavras de Alfredo seguiam pelo labirinto do caso do pervertido da Rua Dos Sonhos.
— Acho que essa hipótese depende de um motivo, não o temos. — Afirmou ela em meio a outro gole de chá quente.
— Mais alguém? — Continuou o velho advogado.
— Sim, acho que você conhece.
— Anda logo, não me deixe curioso. — O velho parecia uma criança sobre uma mesa de doces.
— Clarice Ribas.
— Não... A megera da indústria farmacêutica?
— Sim! A mulher investigada por várias fraudes em licitações de medicamentos. Hoje milionária. — Clarice era investigada por vários setores do Estado, odiada por amigos e inimigos.
— E onde uma das mulheres mais ricas da nossa cidade entra nesse crime?
— Guilherme foi sua paixão por anos a fio, ela o conheceu na escola. Era também a melhor amiga de Íris.
— Meu Deus... Que história! — O velho estava impressionado. — Se ela possui uma participação mais ativa nesse caso, isso desarticula até a secretaria de saúde. — O velho treinou um sorriso.
—Tenho que continuar minhas pesquisas. Acho que nos demos melhor do que imaginávamos. — Charmosamente, Ruanna Spanno levantou- se da mesa.
— E teremos muito que conversar. – Deixou escapar ele.
— Espero que sim. — Ruanna foi até o pai e o beijou na testa outra vez, saindo logo em seguida. Alfredo estava apaixonado pelo atuação da filha e pelo caso do pervertido da Rua dos Sonhos.
—Tenha uma boa noite. — Desejou ele a seguindo com os olhos até onde pôde.
Ruanna entrou vagarosamente no amplo quarto, rodeou cada centímetro com o canto dos olhos. O ar parecia pesado e a ansiedade pelos acontecimentos relacionados ao caso transformou-se em uma súbita solidão. Em meio a tantas fotos espalhadas nos jornais sobre sua cama haviam jovens unidos e apaixonados, ela circulou sobre suas paredes bem decoradas e sentiu dificuldade em encontrar uma moldura trabalhada que apresentasse algum retrato seu em grupo, algum amigo seu ou talvez um grande amor perdido no colegial. Ruanna era só, estava só. Ela sentou-se sobre a cama dobrando as pernas torneadas e tentou pensar em prazer, ou pelo menos lembrar-se; mais uma vez sua companhia era a doutrina e a jurisprudência, aquilo era sua paixão.
Depois de alguns alongamentos e outra olhada pela janela para ver o fracasso emocional de seus vizinhos, a morena tentou concentrar-se nos diversos documentos ainda por analisar, separou alguns periódicos e cravou os olhos no material que tornaria sua noite longa o bastante. O primeiro jornal chamou bastante à atenção da jornalista, pois era o primeiro que trazia o Eron de Menezes. A capa principal trazia a foto de Eron em tamanho gigante, dando ênfase ao olhar melancólico e sem vida do jovem decorado pelos cabelos negros desarrumados.

"As autoridades policiais já têm um suspeito através de denúncias. Eron de Menezes, vizinho da vítima, foi direcionado ao distrito policial responsável pelo caso".
JORNAL PRIMEIRA MÃO

|Logo em seguida ao jornal que colocava um suspeito no caso, graças à organização cronológica dos documentos, Ruanna encontrou um jornal vespertino que trazia duas fotos no topo, uma ao lado da outra: em uma delas jazia uma menininha linda de cabelos bem arrumados e vestido trabalhado, era loira e esbanjava um sorriso angelical, facilmente identificável, tratava-se de Iris ainda criança. Em outra a foto de um Eron não menos esquisito, pequeno e magro, de roupas humildes e uma gravata colorida curiosamente torta. Abaixo, o responsável pela reportagem afirmava que vítima e acusado estudavam juntos desde a infância, e que uma paixão doentia misturada a uma rejeição inesperada poderiam ter levado Eron de Menezes a praticar o sequestro e assassinato da jovem Iris Almeida.
Ruanna sabia que necessitava de um pouco mais da história infantil dos envolvidos, coisa que o inquérito e as manchetes não responderiam. A morena estava convicta que as provas substanciais e o caminho para um julgamento e assento de um réu seriam escavados sobre aspectos simples, onde mais de uma pessoa poderia estar envolvida. O mesmo jornal agora trazia no verso da reportagem principal outra foto, menos nítida, mas tão curiosa quanto as outras, nela estavam vários adolescentes de pé, enfileirados e organizados em conjunto sobre uma grande escada, todos estavam uniformizados, era a turma de conclusão do primeiro grau, nela estavam vários envolvidos no caso, Ruanna marcou cada um com um círculo e escreveu o nome de todos que conhecia sobre suas cabeças.
Abaixo, a matéria encerrava com as seguintes informações:

"O chefe de polícia local, responsável pela investigação do caso do desaparecimento da jovem Iris Almeida disse em entrevista coletiva na noite de ontem que o inquérito policial sinaliza Eron de Menezes como o principal suspeito do desaparecimento da jovem universitária, segundo ele, testemunhas afirmaram que a jovem já vinha se queixando do acusado. Iris comentou com amigos que por diversas vezes era seguida pelo jovem. Partindo desses depoimentos, um mandato judicial foi expedido e a polícia revistou a casa de Eron, na residência do principal suspeito foram encontradas algumas fotos da garota desaparecida e seu celular. O chefe de polícia ressaltou que o pedido de prisão preventiva foi pedido pelo ministério público, dependendo apenas do aval do Juiz da comarca".

|As pernas da advogada estavam dormentes pela má posição em que conduzia
suas pesquisas. Ela resolveu levantar, deixou-se um tempo ao centro do quarto e depois seguiu até a janela, lembrando-se da noite anterior quando foi levada pelo destino ao caso do "Pervertido da Rua dos Sonhos", - ela estremeceu. Seu corpo bem estruturado não se moveu por alguns segundos; Ruanna sabia que coincidências aconteciam todos os dias, esse era o argumento que trazia consigo. O fato do televisor não mudar de canal naquela noite tinha lhe trazido forças para seguir sua carreira, analisando os benefícios e as consequências de tão forte decisão, então pensou que estava feliz, pois fazia o que amava, não se importava com os corredores sujos que frequentaria. O medo pouco importava nessa especialidade, o dinheiro era sofrido e a pressão, constante. Nada a assombrava mais do que o rosto do pervertido, nada a arrepiava mais que os acontecidos com seu televisor; e nada elevava mais sua atenção do que o homem que rondava sua casa na noite anterior, ela sabia que poderia ser pura coincidência, mas a parte lógica da sua mente não compreendia o que uma pessoa estaria fazendo ali àquela hora. Corajosamente a morena aproximou-se mais da sacada, ergueu a vista em meio à noite e correu sua rua ponta a ponta, estava vazia.
— Rua dos Sonhos... – Disse ela em voz baixa para as paredes.

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