||_Guilherme entre hospitais_||
|Hernandez cortava mais uma vez as ruas daquela cidade que dormia, eram pouco mais de três da manhã e Guilherme estava alerta, viajava dali até o passado, pois o seu presente se encontrou naquela noite com os fatos ocorridos há mais de 10 anos. Beatriz era a pequena menina que corria por aquela praça anos atrás, era a garotinha que ajudava a mãe na quermesse e que possuía um vocabulário ainda em construção. A pessoa que ressuscitou Guilherme era semente da Rua dos Sonhos.
Bia era realmente um conjunto de algo mais.
— Qual a probabilidade dela escapar dessa? — Guilherme se arrumou no banco do carona e tentou trazer algo que o confortasse.
— Não trabalho com probabilidade Guilherme, eu trabalho com a fé. Quem trabalha com números é você. — As palavras de Sereno cantavam com o ar que vinha de fora do veículo, e pensar em fé fez Guilherme fraquejar.
— Tudo bem...
— Qual a probabilidade de vocês ficarem juntos se ela sair dessa? — Perguntou o Monsenhor.
— Como o senhor sabe sobre nós?
— Conheço aquela rua tão bem quanto você. Eu vi Beatriz em sua casa e a vi entrando com você na mansão número sete. — Hernandez continuava atento à direção do carro. — Quando vi os dois juntos senti que algo irreversível aconteceria, pois nada naquela rua acontece por acaso.
— Tenho uma missão então?
— Creio que sim. Creio que você é a força que vai provar que não vale à pena desistir. Se Beatriz tiver uma nova chance e sair dessa, você vai ter a oportunidade de provar para as pessoas que desistir de viver não vale à pena e que lutar e acreditar serão sempre o melhor caminho.
— Entendo. — Guilherme pensou um pouco olhando as luzes que corriam por trás de seu ombro e respondeu ao Monsenhor. — Bia estará comigo para sempre se ela sair dessa. Mas se ela se for, vai me levar junto.
— Você pensa em desistir como ela?
— Não... quero acertar tudo isso... e preciso de fé para acreditar em possibilidades que meus atos não podem controlar. Eu não posso fazer nada em relação à briga dela pela vida. — Guilherme deixou escapar lagrimas quando sua voz se foi mais uma vez.
— Faça sua parte no que suas ações podem ajudar e, em relação à fé, acredite que vocês dois e aquela Rua dos Sonhos ainda terão vários encontros. Se aquelas pedras de calcário falassem, acho que elas diriam que estão à espera de todos vocês. — Sereno olhou para o lado e viu Guilherme chorar segurando as lembranças deixadas por Bia.
||...||
|O hospital das Madres, ou como era mais conhecido, Casa das Madres era um dos maiores hospitais de urgência da cidade, sua pintura em azul anil o destacava dentre todas as outras construções ao redor, possuía apenas dois pisos e era centenário. O poder público, alguns planos de saúde e a igreja mantinham aquela estrutura beneficente e era esse conjunto que ajudaria Beatriz na luta por sua vida. Hernandez e seu bom relacionamento com a diocese conseguiu o melhor tratamento possível e a atenção dos melhores profissionais do lugar. Beatriz estava sedada; uma lavagem e uma serie de exames complexos foram feitos. Elen de Menezes aguardava por notícias da filha em um corredor bem iluminado quando Guilherme e Hernandez chegaram.
— Boa noite. — Disse Guilherme estendendo a mão direita a Elen. — A senhora quer ir pra casa?
— Não, não. Estou bem. Prefiro esperar por notícias por aqui mesmo.
— Entendemos. — Disse Hernandez segurando os ombros da mulher destruída. — Comeu algo?
— Sim. Não deixaram faltar nada para mim.
— Graças a Deus. — Elen levantou a cabeça e encarou Guilherme.
— Nos encontramos outra vez, não é mesmo? — Disse a mulher percebendo que as lágrimas começavam a cair dos olhos do professor de sua filha. — Espero que o fim seja diferente.
O padre tentou apresentar melhor Elen a Guilherme, mas achou desnecessário naquele momento, pois o que mais importava era as notícias de Beatriz.
— Quais os últimos boletins? — Perguntou Sereno.
— A situação é delicada. O médico plantonista disse que por causa das paradas cardiorrespiratórias, o sistema nervoso foi afetado.
— Sequelas? — Entrou Guilherme.
— Sequelas. — Respondeu a mulher se reconfortando em um moletom que trazia consigo.
— Posso vê-la? — Guilherme não conseguia esconder todo o cuidado e desejo em ver sua amada.
Sem dizer nada, Hernandez caminhou na frente e Guilherme o acompanhou, os dois subiram uma escada de poucos degraus e entravam em outro setor mais calmo e amplo. Várias outras salas guardavam os profissionais de plantão, alguns deles conheciam o Monsenhor e passavam pela dupla com sorrisos discretos e ligeiros.
— As pessoas gostam do senhor.
— Tenho trabalhado muito por aqui nos últimos anos frente à igreja, trabalho com o apoio às famílias que não tem condições de se manter enquanto seus parentes estão lutando pela vida. — O padre dobrou pelo corredor e baixou o tom de voz. — Venha, a sala de emergência que Beatriz está internada fica logo aqui.
Uma cortina tapava a visualização da ala em que Beatriz estava internada, Guilherme ficou parado enquanto Hernandez tentou falar com alguém do outro lado.
— Não eram permitidas visitas nesse horário, o quadro dela é crítico, mas acho que sua presença e fé podem ajudar de alguma forma. — Sereno abriu a porta e deixou um sorriso à enfermeira que fazia a gestão da sala em agradecimento por deixar Guilherme entrar naquele lugar fora do horário normal. A jovem forçou a vista sobre o crachá do padre e fez um apontamento em seu relatório.
A enfermeira saiu e ficou do lado de fora com o sacerdote, Guilherme estava sozinho naquela sala cheia de aparelhos agoniantes onde Beatriz o esperava. Havia três outras adolescentes ao redor do leito 503 e o nome exposto nas grades de baixo da cama de Beatriz faziam todo o sentido agora. — Beatriz de Menezes. Guilherme tentou ler os aparelhos, observou cada número e as trocas de cores que eles sinalizavam, Bia estava pálida e vestia branco, não possuía maquiagem alguma e mesmo assim o jovem Guilhar reconheceu todo o encanto daquela menina que tinha tanto a dizer ainda. O homem sozinho naquela sala fechou os olhos e depois de vários anos arriscou uma oração longa, conversou com Deus e fez promessas. Guilherme pediu desculpas a Deus e a Beatriz, desejou passar a mão sobre seu cabelo preto e cheirá-lo lentamente.
Atrás de Guilherme, longe dos aparelhos e dos sons que eles deixavam escapar estava um homem que vestia preto, ele estava no canto da sala sentado em uma cadeira pouco percebida e entre cortinas estáticas que o deixava ainda mais imperceptível. Eron nada dizia e nada podia fazer, ele apenas observava seu grande amigo e sua irmã. As cortinas balançaram atrás do professor e, em meio à oração, ele sentiu que não estava sozinho, ele respirou fundo e olhou para trás. O pervertido o observava atentamente, mas dessa vez Guilherme não teve medo ou raiva, apenas deixou escapar um sorriso misturado às lágrimas. Eron não mudou de expressão e assim que Guilherme terminou sua oração, o irmão de Beatriz já não estava mais ali naquela sala.
Depois de alguns minutos, a enfermeira voltou à sala de urgência e pediu que Hernandez acompanhasse Guilherme, os dois desceram as escada novamente e encontraram uma sala para acompanhantes para dormir um pouco.
— Você precisa dormir.
— Eu sei, amanhã outro hospital me espera. — Disse Guilherme enquanto se ajustava ao lençol.
— Outro hospital? — Repetiu o sacerdote sentado na cama ao lado.
— Sim. Amanhã temos o depoimento de um dos envolvidos no caso da Rua dos Sonhos e eu fui convidado. — Guilherme fechou os olhos, virou para o lado e continuou. — Amanhã entregarei o celular para perícia e creio que algo novo vai aparecer para ajudar no desarquivamento do inquérito.
Sereno ficou em silêncio.
||...||
|Guilherme dormiu pouco, acordou com a sensação de que havia apenas cochilado, comeu algumas torradas na cozinha à sua disposição no Hospital das Madres e, antes de ir ao depoimento de Sávio em outro centro de saúde, passou outra vez na ala de tratamento intensivo. As notícias que envolviam Beatriz não haviam mudado, o quadro da jovem continuava crítico.
Ruanna acordou cedo, preparou o material que utilizaria e estava acompanhada de um câmera Profissional, que observava mais do que falava. Clarice foi a primeira a chegar ao centro oncológico, tratou dos trâmites burocráticos em relação ao depoimento e a presença da imprensa nos trabalhos para o documentário e as assinaturas de Sávio e Ana autorizando as imagens e um aditivo para o inquérito policial.
Um homem ruivo e de quase dois metros de altura se aproximou de Clarice na entrada do hospital.
— Bom dia, Clarice. — Se apresentou o investigador mostrando seu distintivo da polícia civil.
— Bom dia! — Clarice estava radiante naquela manhã. — Acho que nos antecipamos, mas isso é bom.
— Sim, sim. — Disse o homem estendendo a mão direita. Clarice retribuiu e os dois apertaram as mãos. — Bem, eu serei o responsável pelo reinício dos trabalhos, aliás estive estudando o caso nos últimos dois dias, sei que é pouco tempo, mas tentei me empenhar o máximo possível. Nossos superiores e o secretário de segurança já sabem sobre o programa de TV que estão desenvolvendo e me escalaram com dedicação exclusiva para o caso nos próximos 30 dias.
— Fiquei sabendo e fiquei muito feliz. Como é mesmo seu nome?
— César. — Disse ele assumindo uma postura que agora iria além do distintivo.
— Bem, César, temos um trabalho que vem sendo desenvolvido nos últimos dias e creio que ele pode ser encaixado no inquérito. Temos Ruanna Spanno, uma advogada criminalista que já atuou junto ao ministério público e é jornalista. Os trabalhos dela podem ajudá-lo nas investigações.
Clarice ouviu alguém chamá-la e convidou César a segui-la.
— Vamos por aqui. — Disse ela. Os dois entraram nos corredores e ficaram em uma sala anexa onde funcionava o setor de RH do centro oncológico e a ala de comunicação. — Ruanna vai ser um ótimo suporte.
— Tudo bem, qualquer ajuda é válida.
Uma senhora de meia idade entregou alguns documentos aos dois, César assinou alguns papéis e entregou um documento à responsável pela comunicação do hospital. Antes que saísse da sala Ruanna e seu auxiliar entraram com alguns equipamentos.
— Bom dia! — Ruanna cumprimentou o agente da polícia e deu um abraço caloroso em Clarice.
— Você precisa assinar algumas autorizações. — Clarice entregou alguns papeis a Ruanna e continuou. — César vai nos ajudar. — Clarice apontou mais uma vez para o policial e sua camisa xadrez.
— Estou para ajudar. — César se aproximou e entregou um cartão para Ruanna. — Se você pudesse me mandar alguns arquivos... Ajudaria bastante.
— Tudo bem, o interesse é comum. — Ruanna assinou os papéis e perdeu a vista entre os cabos que eram instalados pelo seu amigo do canal 12.
A senhora que representava o centro oncológico recolheu os papéis e observou as assinaturas.
— Eu vou representar o hospital no momento do depoimento junto com uma enfermeira. Sávio será trazido para cá com todos os equipamentos necessários para sua estabilidade. Se alguma coisa atrapalhar seu tratamento, nós suspenderemos a liberação.
Todos ouviram com atenção as informações da mulher que olhava mais para os papéis que para os rostos dos presentes.
— Acho que fui clara... — Ela deixou escapar um sorriso sem graça. — Vou pedir para trazerem o paciente. Vocês terão 20 minutos.
Ruanna olhou para o relógio, já eram 09:05 e Guilherme não havia chegado.
— Falta um convidado. — Lembrou Ruanna.
— Eu sei disso e avisei a recepção, mas infelizmente não posso mais atrasar esse encontro, pois vários profissionais estarão envolvidos para que tudo não saia do controle.
— Tudo bem, afinal o hospital não pode parar. — Disse Clarice entrando na conversa. A representante do hospital saiu.
Em poucos minutos a iluminação estava pronta, as autorizações assinadas, o investigador e o seu gravador no celular estavam aguardando um clique, Clarice estava no canto em uma cadeira e Ruanna revisava alguns papeis. Ana Moura, a noiva de Sávio foi a primeira a entrar, em seu rosto ela trazia um peso e uma curiosidade de quem também não sabia de muita coisa. Uma enfermeira e um técnico entraram em seguida para sinalizarem aos maqueiros sobre a posição em que Sávio ficaria. A representante do hospital e seus papeis autorizaram a entrada de Sávio em estado terminal e tudo o que ele poderia trazer de novidade para o caso.
Pelo canto dos olhos Sávio estudou a sala, ele estava tranquilo o suficiente para começar.
— Bem... — Começou a representante do hospital. — Eu sou psicóloga e tenho alguns trabalhos envolvendo a recuperação de pacientes. Minha função aqui nesses corredores é basicamente essa, ajudar nos pedidos que possam deixar cada um desses pacientes que lutam pela vida mais à vontade. Já acompanhei cachorros de estimação nesses corredores, papagaios e até um pianista. O senhor Sávio conversou comigo nos últimos dias e com o médico que acompanha o caso. Enfim... É desejo do mesmo passar por esse diálogo e colaborar com os trabalhos, nós aqui do centro de oncologia estamos fazendo o possível para que tudo seja feito da melhor forma possível.
Antes que a psicóloga terminasse, a porta foi aberta e Guilherme pediu licença. Ruanna sinalizou um lugar ao seu lado e o jovem professor se sentou.
— Continuando... Torcemos pelo sucesso dos trabalhos de vocês, mas torcemos mais ainda pela recuperação do nosso paciente. Lembrando que estarei aqui avaliando a evolução da conversa e pronta para qualquer intervenção. — A mulher terminou e se afastou da frente da pequena câmera instalada atrás dela, sentando-se ao lado da enfermeira. O técnico desligou uma luz lateral na tomada e ligou outra entre o leito e a câmera.
— Podemos começar. — Autorizou o auxiliar de Ruanna. Clarice começou a roer as unhas.
— Bem, Sávio, você pode começar. Estamos aqui para ouvi-lo. Temos um representante das autoridades policiais, Clarice, Guilherme e Ana Moura; e como combinado, nossa conversa está sendo gravada.
— Certo, certo... — O rapaz se arrumou na cama e todos puderam ver com mais detalhes os efeitos da luta contra o câncer. A pele de Sávio estava pálida, ele não pesava mais que 50 quilos e seu rosto estava flácido e se desprendendo. Os olhos amarelos estavam profundos e escuros ao redor. Já não havia mais cabelos algum em sua careca branca e iluminada.
— Somos ouvidos. — Disse Ruanna ao notar que Ana Moura começava a chorar.
— Há mais ou menos onze anos, quando fui interrogado, não trouxe nada de novo àquele caso da "Rua dos Sonhos". Falei sobre a escola, sobre uma amizade com Iris, disse que conhecia Guilherme e que não me dava bem com Eron de Menezes. O maior trabalho que tive foi tentar tirar as suspeitas contra minha namorada na época. Ana não merecia ser importunada, havia ido sim atrás de Iris algumas vezes naquelas últimas semanas, mas apenas para pedir que ela se afastasse de mim. Ana não queria me perder.
— E por qual motivo Ana tinha ido atrás de Iris naquela época? — Perguntou César, o policial.
— Bem, Ana havia lido algumas mensagens de texto de Iris para mim naquela época marcando um encontro. Ana estava disposta a "dar uma lição nela" como costumava dizer pra mim.
— Um encontro? — Continuou César.
— Sim, um encontro. — Guilherme ajustou seu peso à cadeira no canto da sala e colocou a mão sobre o queixo. — Eu amava Iris desde o primeiro dia de aula.
Ana começou a chorar. Todos na sala notaram e a psicóloga segurou sua mão.
— Eu era alucinado por ela, mas nunca consegui me aproximar. — Continuou Sávio. — Um dia, um rapaz novo chegou à escola; ele tocava violão e aparentava uma idade mais avançada. Aquele rapaz era Guilherme Guilhar. Um menino com ares de outro lugar. Eu vi como ela olhou para ele na primeira vez e, naquele dia, eu soube que a perdera para sempre. Contra ele eu não poderia fazer nada e, se tentasse, seria humilhante.
— E o encontro? — Perguntou César novamente
— Calma, chegaremos lá. — Sávio se arrumou novamente no leito. — Como eu estava dizendo, contra Guilherme eu não poderia fazer nada, mas existia outro rapaz, Eron de Menezes, o menino franzino que a desenhava de todas as formas, que a observava com curiosidade. Eu não o suportava e despejava nele toda minha frustração.
Clarice estremeceu ao lembrar-se do que Sávio fazia com Eron.
— Então eu desistir de lutar naquele momento, daí Ana entrou na minha vida e eu decidi ficar com quem gostava de mim. — Todos olharam para Ana, todos acompanhavam cada reação sua às palavras de seu noivo. — Os dias passaram e, em um dia normal, eu analisei que Iris ficava na escola por mais tempo, todos saíam para suas casas, mas ela permanecia. Pouco antes do desaparecimento eu a via ansiosa e triste. Notei algo de errado e logo depois soube que entre Guilherme e ela as coisas não andavam bem.
— E você foi investigar? — Disse Ruanna.
— Sim. Essa história é cheia de investigadores inexperientes. — Sávio parou, respirou um pouco e continuou. — Houve um evento na escola bem perto do fim do ano e Iris saiu mais cedo, eu a acompanhei até a saída, me escondendo atrás dos pilares da escola e vi quando ela entrou em um carro familiar. Não era Guilherme. Guardei aquilo pra mim, e fiquei acompanhando os passos dela nos outros dias.
— Iris se encontrava com outra pessoa antes de desaparecer?
— Isso... Também fiquei surpreso. Aquela menina carregava a pureza dessa cidade.
— Quem era essa pessoa? — Perguntou César outra vez.
— Calma, senhor, muita calma. — César mostrou impaciência e ganhou um olhar negativo da psicóloga. — Não sabia quem era o novo amigo de Iris, então não conseguia dormir e comecei a vigiá-la sempre que podia. Então em uma noite, ao lado da escola, eu descobri quem buscava a menina mais desejada daqueles corredores.
Guilherme baixou a cabeça e não conseguiu mais olhar para Sávio.
— Duas pessoas viram aquela situação.
— Quem? — Perguntou Ruanna estendendo o gravador.
— Eron de Menezes e eu. Ele estava na parada de ônibus, não esperava ver aquela situação. Iris também nos viu, e agora nós tínhamos seu segredo. Ela era inteligente, veio até mim, marcou um encontro e pediu minha ajuda para guardar por enquanto aquele segredo. Disse que eu teria minha chance com ela e que eu deveria provar que a amava. Eron ficou aos meus cuidados e então eu tinha que além de guardar o segredo de Iris, conter a possibilidade de Eron espalhar para toda a escola. Então o ameacei na gruta e o derrubei.
— Você teve sua chance? — A voz de Clarice atravessou a sala.
— Um único beijo. — Respondeu ele. Ana deixou escapar um gemido de dor e tapou a boca com um lenço dado pela responsável pelo hospital. — Mas ganhei esperança.
— E o que deu errado no plano? — Falou Guilherme finalmente.
— Ela se arrependeu de tê-lo traído, se arrependeu de pedir minha ajuda e me beijar. Iris o traiu por pelo menos seis meses e decidiu acabar com tudo e tentar ter você outra vez.
— E por que você não contou isso na época do desaparecimento de Iris? Quem era a pessoa que ela saia escondida? — Questionou Ruanna.
— Eu não queria meu nome envolvido a ponto de me tornar um suspeito que poderia estar ligado como coautor, eu não queria perder Ana, pelo menos eu tinha ela ainda. E, por último, eu não aceitava que a mulher que eu mais amei fosse vista como uma traidora, mentirosa que possuía vários parceiros. No fundo eu acreditava que ainda poderia me encontrar com ela e ter minha chance.
— Acho que todos aqui querem saber quem é a pessoa que buscava Iris na escola e foi seu parceiro por pelo menos seis meses como você falou. — César olhou para o relógio ao falar um pouco mais alto.
— Iris tinha um caso com nosso professor de biologia. O professor Salvador. — todos que conheciam o caso da "Rua dos Sonhos" ficaram de boca aberta. Guilherme não conseguiu reagir e apenas deixou a boca aberta por vários segundos até se tocar que a gravação estava sendo encerrada.
— Temos que encontá-lo imediatamente. — Disse César se referindo ao professor de biologia. Ruanna confirmou com a cabeça e pediu que o policial esperasse.
— Guilherme? — Ruanna tentou acordar o jovem Guilhar. — O celular?
Guilherme retirou o Nokia 6120 que estava em uma sacola plástica e entregou a Ruanna.
— Aqui está, César. Nesse aparelho deve ter provas suficientes para juntar todas as peças. São mensagens salvas no próprio aparelho. — Ela estendeu o parelho ao policial. — Precisaremos de um técnico para recuperar o aparelho.
— Não vai ser difícil. — César guardou o aparelho. — Vou solicitar de imediato a presença do nosso novo amigo nesse caso.
— Guilherme? — Chamou Ruanna olhando por trás dos ombros. Guilherme estava de saída. — Você vai para onde?
— Vou pegar um táxi aqui em frente... Tenho uma coisa para resolver. — Clarice e Ruanna se olharam. — Adeus.
Guilherme desceu às pressas pelas escadas do hospital, chegou até a entrada e pegou o primeiro táxi que apareceu em sua frente e pediu para que o taxista o levasse até a escola. Enquanto isso, prevendo a reação de Guilherme, Ruanna e Clarice avisaram César que o mandato deveria ser expedido o mais rápido possível e que eles deveriam chegar à escola antes de Guilherme.
— Ele pode por tudo a perder, César. — Clarice estava tensa. — Guilherme vai até aquela escola resolver isso tudo.
— Verdade. Salvador pode desaparecer antes desse mandato ser expedido. Temos que correr. — César perdeu a vista em meio ao seu raciocínio.
Um silêncio dominou o ambiente.
— Resolva o mandato, eu vou para a escola tentar evitar algo pior e conter uma possível fuga por parte desse "tal" de Salvador. — César fez uma ligação e pediu reforço. — Preciso de pelo menos mais dois agentes, não vou conseguir conter uma escola inteira.
— Tudo bem, eu vou solicitar o mandato agora mesmo e Clarice vai me ajudar nos trâmites burocráticos para acelerar os procedimentos. — Disse Ruanna segurando a mão de Clarice. As duas correram para o estacionamento.
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