Eterno amor
Isabel e Ernesto caminhavam lado a lado pela estrada de terra batida que atravessava a fazenda. Era o fim da tarde, e o céu, pintado em tons de laranja e rosa, parecia dançar com as nuvens, como se o pôr do sol quisesse marcar presença de forma especial naquele fim de tarde. Os dois não precisavam falar muito; suas mãos entrelaçadas já diziam tudo. Havia uma cumplicidade silenciosa que os anos de casamento tinham consolidado.
A brisa suave que soprava pela fazenda trazia consigo o cheiro fresco do campo, misturado ao aroma das flores que cresciam próximas ao lago. Isabel respirou fundo, sentindo o ar puro preencher seus pulmões, enquanto seus olhos seguiam o horizonte, onde o sol lentamente desaparecia.
— É sempre tão bonito aqui à tarde, não acha? — disse Isabel, com um sorriso sereno no rosto, olhando para Ernesto. — Acho que nunca vou me cansar dessa vista.
— Nunca mesmo. — Concordou Ernesto, segurando a mão dela. — Cada vez que vejo o pôr do sol com você, parece a primeira vez.
Isabel sorriu, sentindo o calor do amor de Ernesto através daquele simples gesto. Eles continuaram caminhando, seus passos ecoando no silêncio da fazenda, que aos poucos ia sendo tomada pela serenidade da noite. O som distante das vacas mugindo e o canto suave dos pássaros voltando para seus ninhos criavam uma trilha sonora perfeita para aquele momento de paz.
— É uma bênção termos este lugar. — Isabel comentou, olhando ao redor, como se quisesse gravar cada detalhe na memória. — A fazenda, a família... e Valentina. Ela sempre foi uma bênção em nossas vidas.
Os olhos de Isabel brilharam ao mencionar sua sobrinha. Valentina, agora casada com José Miguel e mãe de dois filhos, Cecília e José Frederico, era como uma filha para Isabel. Os dois pequenos, com seus sorrisos contagiantes e energia incansável, traziam uma nova vida à fazenda dos Caracóis.
— A Valentina... ela é uma mulher especial. — Continuou Isabel, com um sorriso no rosto. — E aqueles dois, Cecília e José Frederico, são como netos para mim. Eu os amo tanto.
— E eles te adoram. — Ernesto disse, olhando para Isabel com ternura. — Você sempre foi uma segunda mãe para Valentina, e agora é uma avó maravilhosa para as crianças.
O sorriso de Isabel permaneceu, mas seus olhos, por um breve momento, perderam o brilho. Ela virou-se para encarar o horizonte mais uma vez, enquanto um pensamento doloroso invadia sua mente. O nome que ela hesitava em dizer finalmente escapou de seus lábios, como se fosse uma sombra que ela não conseguia evitar.
— Ivana... — Isabel disse, quase em um sussurro.
Ernesto sabia que, por mais que a vida deles tivesse sido repleta de felicidade, sempre havia aquele espaço vazio, aquela ferida não curada. Ivana, a filha de Isabel, sempre fora uma fonte de dor para ela. Os problemas psicológicos de Ivana a tornaram uma pessoa difícil, e a relação entre mãe e filha era marcada por tensão e sofrimento.
— Eu me pergunto onde errei — continuou Isabel, a voz trêmula. — Sempre tratei Valentina e Ivana de forma igual. Dei o mesmo amor, o mesmo carinho... mas Ivana nunca aceitou isso. Ela sempre foi tão injusta comigo. Tanta inveja de Valentina, tanto ciúme...
Ernesto parou de caminhar, segurando Isabel pelos ombros e olhando profundamente em seus olhos.
— Meu amor, você não errou — disse ele, com firmeza e gentileza. — Ivana tinha seus próprios demônios, suas lutas internas. Isso não é culpa sua. Você fez tudo o que pôde como mãe. Deu amor, apoio, tudo o que ela precisava. Mas ela estava doente, e às vezes as pessoas simplesmente não conseguem ver ou aceitar o amor que recebem.
Isabel baixou os olhos, lutando contra as lágrimas que começavam a se formar. Ela sempre fora uma mulher forte, mas quando se tratava de Ivana, havia um peso que ela carregou durante anos.
— Ela nunca me deu a chance, amor — murmurou Isabel, as palavras saindo com dificuldade. — Sempre se afastou, sempre foi cruel. E por quê? Eu a amava tanto.
— Eu sei, meu amor. Eu sei — disse Ernesto, puxando Isabel para um abraço suave, aconchegante. — E isso é o que importa. Você sempre fez o seu melhor. Ivana não soube valorizar isso, mas isso não diminui o que você fez por ela. O seu amor foi verdadeiro, Isabel. Não há culpa nisso.
Isabel se permitiu ficar naquele abraço por alguns minutos, sentindo o conforto das palavras de Ernesto. Ele sempre soube exatamente o que dizer, como acalmá-la e lembrá-la de que ela era uma boa mãe, apesar das circunstâncias.
— E sabe... a Valentina — Ernesto continuou, afastando-se levemente para olhar Isabel nos olhos e segurando de suas mãos — é como uma filha para você. Você sempre foi como uma mãe para ela. E ela te ama de verdade como se fosse mãe dela, meu amor. Sem reservas, sem mágoas. E agora, com os filhos dela, você tem essa oportunidade de ser uma avó maravilhosa. Cecília e José Frederico são abençoados por ter você em suas vidas.
O semblante de Isabel suavizou ao ouvir isso. Pensar em Valentina e nas crianças sempre trazia luz ao seu coração, mesmo nos momentos mais difíceis. Ela sorriu, sentindo o peso de suas preocupações diminuir.
— É verdade — Isabel disse, com um leve sorriso. — Valentina sempre me deu tanto amor. E as crianças... Cecília e José Frederico são como meus netos. Eles trazem tanta alegria à minha vida.
Os dois começaram a caminhar novamente, agora em silêncio, deixando que o som da natureza ao redor preenchesse o vazio entre as palavras. O sol estava quase totalmente escondido no horizonte, e a fazenda começava a ser envolta pelo crepúsculo. Isabel olhou para o céu, que agora tinha um tom suave de azul, com as primeiras estrelas começando a aparecer.
— Eu sou grata, meu amor — disse Isabel, de repente. — Grata por tudo o que vivemos, por Valentina, pelas crianças. E sou grata por você, por sempre estar ao meu lado, me apoiando, me amando. Não sei o que faria sem você.
Ernesto sorriu, segurando a mão dela com carinho.
— Você não precisa agradecer, meu amor. Nós construímos essa vida juntos, lado a lado. E enquanto estivermos juntos, tudo ficará bem.
Eles se beijaram e continuaram caminhando, e a fazenda ao redor parecia respirar em harmonia com eles. As árvores balançavam suavemente com o vento, e o som das folhas se movendo era como uma música suave que acompanhava cada passo. O ar fresco da noite começava a cair, trazendo consigo a promessa de uma noite tranquila e acolhedora.
Finalmente, chegaram ao topo de uma pequena colina, de onde podiam ver toda a extensão da fazenda. As luzes da casa ao longe brilhavam como pequenos pontos de calor e conforto. Isabel e Ernesto pararam ali por um momento, admirando a vista.
— Olha só — disse Ernesto, apontando para as luzes ao longe. — Ali é onde está o nosso lar. E sempre será. Um lugar cheio de amor e memórias. Temos sorte, minha vida. — Disse ele, abraçando Isabel por trás.
Isabel sorriu, sentindo o coração mais leve. Ao lado de Ernesto, ela sabia que, apesar das dificuldades com Ivana no passado, tinha construído uma nova vida plena, cheia de amor e realizações.
— Temos muita sorte — concordou ela, entrelaçando os dedos com os de Ernesto. — E eu sou muito feliz por ter você ao meu lado.
Eles ficaram ali, observando o céu escurecer lentamente e as estrelas iluminarem a noite. Sob a luz do pôr do sol que se despedia, Isabel sentiu uma paz profunda, sabendo que, independentemente das cicatrizes do passado, o amor que ela e Ernesto compartilhavam era a força que os mantinha unidos e firmes, prontos para enfrentar qualquer tempestade que o futuro pudesse trazer.
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