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Capítulo 4 - Já disse que te amo?

É realmente incrível como o cérebro humano aprender a gerir padrões estruturais de percepção, e se fixou nesses padrões exatamente como a carne se agarra aos ossos. Existe uma dificuldade monumental sobre o cérebro humano a respeito de desconstruir padrões, sobretudo quando estes estão relacionados ao espaço-tempo e a entropia. Não é possível para um humano recordar toda uma hora de vida em sentido contrário, ele sempre fará o caminho linear da temporalidade. Não é espontâneo o exercício de imaginar uma caneca quebrada no chão fazendo o movimento reverso e terminar sobre a mesa, intacta a contem seu líquido morno. Por que estou a dizer tudo isso? Bem, vamos retomar a história, espero que entenda.

O Conversor estrutural de essência eletromagnética foi instalado na espaçonave da dupla, e tão logo o trabalho terminou, deixaram a esfera em direção ao buraco negro central da galáxia, deixando para trás a última imagem humana que haviam visto nas derradeiras décadas.

— Isso é abstrato demais para mim.

— Qual parte, Nic?

— Cara... Tudo. Eu não consigo imaginar a matéria se desdobrando em energia, tal como nos foi descrito 'um espirro de energia'.

— A metáfora foi horrível, mas pense, seria algo como um quasar, ou uma colisão de partículas, sei lá, algo assim, porém, em escalas galácticas.

— E se der errado? Quero dizer... É só isso? Mirar, atirar e pronto?

— Eu sinceramente espero que sim.

— Sabe... Eu estive pensando... e se nada disso for reversível? E se realmente for um plano de Deus, ou deuses, para por um fim no Universo.

— Acho que o confinamento em espaço profundo está afetando suas capacidades analíticas.

— Rodrigo, preste atenção. Tudo parece muito bem planejado. Desde o princípio dos estudos cósmicos, o ser humano compreendeu que as galáxias se afastavam, ou ao menos se moviam sobre o tecido do espaço. Com a expansão do Cosmos compreendida e matematicamente previsível, ficou evidente que depois de alguns milênios não alcançaríamos mais a galáxia vizinha, e olha que isso se tornou fácil depois da criação do Portal de Andrômeda.

— Calma! — Rodrigo flutuou até a garota e a abraçou. — Eu sei que você está assustada, mas não precisa se preocupar. Nós estamos juntos nessa, e aconteça o que acontecer, permaneceremos juntos. Seja um plano de Deus, ou uma mera ação aleatória de forças incompreensíveis e indomáveis, dane-se! Nós estaremos juntos.

— Você acredita que dará certo?

— Eu me importo. E isso por si só é uma crença que vai além das possibilidades calculáveis. Importar-se é demonstração de devoção, afeto e amor, e o amor não é só um sentimento, é uma promessa incorruptível que atravessa os horizontes do tempo, do espaço, de deus e do Cosmos.

— Eu já disse que te amo? — Nicole olhou-o com os olhos lacrimejando.

— Nunca como agora.

As horas no espaço correm de forma distinta para cada ponto pelo qual você passa. A nave avançava durante dias, aproveitando o impulso inicial e a gravidade da Última, para seguir em inércia, guardando combustível para uma possível manobra estilingue, caso desse tudo errado. A última estrela havia ficado para trás há poucos dias, logo estariam sob os efeitos da gravidade do gigante opaco.

— Alinhe as nacelas, libere os tubos de plasma. Reative o reator e carregue o canhão.

— Tudo feito. — Nicole observava a tela holográfica e acompanhava mentalmente a contagem regressiva para o momento em que cruzariam a linha de onde deveriam efetuar o disparo.

— Estamos quase lá. Só mais trinta segundos.

— O que acha que vai acontecer? Uma explosão? Um jato?

— Explosão.

— Aposto o último taco que vai ser um jato — disse Nicole tentando esconder o nervosismo com um sorriso trêmulo.

— Essa eu já ganhei. Preparar... Agora!

A garota ativa o gatilho do Conversor estrutural de essência eletromagnética, que dispara um raio de energia concentrado em direção ao horizonte de eventos do colossal Sagittarius A*.

Os olhos da dupla acompanhavam o feixe de luz branca cruzar o espaço e suas mentes projetavam o percurso provável, ou seja, diluiría-se no horizonte de eventos, porém, a cena que presenciaram foi algo àfisico, completamente irracional para a mente humana que trabalha somente com padrões. O feixe atravessou o circulo de acreção, depois o horizonte de eventos e penetrou no manto escuro.

Os corpos estáticos e obedientes às leis do tempo, esperaram por qualquer efeito visual psicodélico, porém, depois de quase dez segundos de puro nada, eles se entreolham e ambos suspiram.

— Tudo bem. Está tudo bem. Vamos tentar o estilingue?

— Não. — Disse Rodrigo encarando o gigante ralo de matéria.

Nicole flutuou até ele e o abraçou por trás, encostando a cabeça em seu ombro.

— Ok! Juntos, até o fim.

— Eu me importo com cada luz que se apaga. Eu me entristeço com cada vida que se esvai, não é justo que tudo o que fizemos, tudo o que passamos, tenha sido em vão. Se existir realmente um Deus, ele é assim tão indiferente com sua própria criação? Eu me recuso a acreditar que sim. E sabe por quê?

— Não.

— Porque para existir algo, deve antes haver um propósito, mesmo que aleatório ou inconsciente. E para isso deve existir uma promessa. Se eu carrego essa promessa, o amor, então, eu sou Deus, e os deuses são astronautas. Então, agora... — Rodrigo enche os pulmões e grita: — QUE SE FAÇA A LUZ!

Fim.

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Olá pessoas lindes!

E aí, olhos mareados? Os meus ficaram quando escrevi este capítulo. São palavras muito profundas. E um final bastante enigmático, mas ao mesmo tempo, muito claro e até tendencioso, rsrsrsrs.

Tenho uma surpresinha para vocês... Tem um final alternativoooo... Eeeeeeeee!!!!!

Pois é, vira a página e deleite-se! rsrsrs

Beijos da Pri!!!

xoxo

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