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Epílogo

Retoco a cor da pintura mais uma vez. Nesse ritmo, eu nunca vou terminar a ilustração nessa parede! Deixo meus braços caírem e respiro fundo. Se você fosse um pouco menos indecisa, isso já estaria pronto.

A campainha toca e eu penso na minha agenda. Não, eu não estou esperando ninguém e vizinho nenhum está no prédio em plena véspera de Ação de Graças. É, eu também não deveria estar aqui, mas meus pais disseram que viriam e agora estão presos no aeroporto em Miami por causa do tempo.

Quem será que é? Olho para o estado das minhas roupas - manchadas de tinta, até meu cabelo está assim - e espero que não seja ninguém importante do outro lado. O som da campainha me perturba mais uma vez.

- Já vou! - grito e limpo as minhas mãos no pano ao lado da escada.

Giro a maçaneta e dou de cara com as costas de alguém.

- Apresente-se, por favor. - Digo sem muita paciência.

- É, você continua terrível em reconhecer pessoas, Brie.

A voz é familiar e eu quase desmaio quando vejo o dono dela. Owen! Jogo meus braços ao redor do pescoço dele e o abraço com muita força.

- Vá com calma, garota, eu ainda estou me recuperando.

- Por que você não me ligou semana passada? Ou respondeu as minhas mensagens? - não o largo por nada.

Owen me carrega para dentro do apartamento e fecha a porta. Eu deslizo meus pés até o chão e rio porque acabei de sujá-lo com tinta. Aponto para a sua roupa e ele entende.

- Não tem problema, eu trouxe uma mala. Essa tinta não vai sair, não é?

- Não mesmo. - Puxo dois banquinhos e ofereço um a ele.

- Obrigado, mas eu prefiro ficar em pé. - Ele sorri e caminha pela sala.

- Meu Deus, Owen, nem parece que você sofreu um acidente. Está mais saudável do que antes mesmo de nos encontrarmos. - Prendo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. - Foram o que, dois anos para se recuperar?

- Mais ou menos isso. - Ele olha pela janela e depois prende sua atenção em mim. - Como vai sua vida?

- Quase formada, vendendo muitas telas e pintando muitas paredes por aí.

- Deu para perceber - ele aponta para a minha bagunça. - Planos?

- Nada ainda. E você?

- Eu estava de passagem e resolvi visitar uma amiga, sabe.

- Como achou meu apartamento?

- Tenho meus contatos - seu sorriso me faz derreter por dentro. - Então, você tem um quarto sobrando ou eu precisarei achar um hotel?

- Claro que tem um lugar aqui para você. - Levanto-me, vou até o corredor e abro a porta do quarto de visitas. - Sinta-se em casa.

- Minha mala está lá embaixo - ele olha para dentro do quarto e depois para mim. - Cheguei numa má hora?

- Meus pais deveriam estar aqui, mas o mau tempo em Miami não quer deixá-los partir. O quarto é todo seu, quando eles chegarem eu entrego o meu quarto e fico com o sofá.

- Aquele lugar todo pintado? - ele aponta.

- Algum problema com o meu sofá, Owen? - cruzo meus braços.

- Não, nenhum.

Ele ri e toca meu rosto. Não sei dizer o que é mais real: a presença dele ou seu toque. Seus dedos parecem sentir falta do meu cabelo totalmente colorido - por mais que eu amasse a versatilidade, era hora de mudar um pouco, deixar a raiz crescer e cortar boa parte da cor. Mudei o comprimento também, comprido demais tava muito trabalho.

- Eu gosto assim - ele diz e enterra seu rosto no meu cabelo.

Beijo seu rosto e brinco com seu cabelo. Um soluço escapa de mim e Owen me abraça forte.

- O que foi, Brie?

- Você está aqui.

- Sim, eu estou.

- Eu senti muito a sua falta. - Seus dedos pressionam a minha cintura. - Eu sonhei tanto com esse dia que hoje nem parece real.

- O que eu preciso fazer para te provar que é real, Brie?

- Eu não sei, apenas fique aqui para sempre.

- Podemos ver isso depois.

Owen segura meu rosto e me beija. Owen, você é mais do que real. Ele me coloca contra a parede e eu perco o fôlego. Não, ele não é mais o mesmo. O corpo parece mais saudável, a sua personalidade enche o apartamento, as memórias estão aqui depois de tudo.

- Eu te amo - ele diz.

- Eu sei.

- Foi difícil demais ficar longe de você durante a recuperação. Mas todo dia eu pensava que eu voltaria para você, meus fisioterapeutas e médicos sabiam da nossa história toda, pelo menos os fatos que podemos contar. - Olho para ele e sorrio. - Não quero mais ir embora.

- Então fique.

- Tem certeza?

- Você tem duas opções: pode vir me visitar todo dia e tomar uma saideira sempre ou morar aqui e beber um pouco todo dia.

- Eu gosto muito da segunda opção.

- Então já pode subir a mudança porque nós seremos colegas de quarto. - Empurro-o rindo e ele parece mais feliz do que quando me viu.

- Como está a sua geladeira?

- Ah, qualquer coisa a gente sai para comprar bebida! - eu me jogo no sofá sujo e me estico. - Foi um dia bem cansativo, se quer saber.

- Ei, vamos devagar, ainda estou me recuperando.

- Aham, Owen, sei - sorrio e ele se aproxima.

- Antes de ir lá embaixo eu preciso te pedir uma coisa.

- É mesmo? - apoio-me em meus cotovelos. - E o que seria?

- Não fuja mais.

- Não vou, juro.

- Nem quando eu mostrar a cicatriz da minha perna?

- Você tem uma cicatriz? - eu me animo, mas ele acha isso realmente estranho. - Não importa o quão gritante for sua cicatriz, eu vou ficar aqui, até porque é a minha casa.

- Tudo bem então. Eu já volto. - Ele abre a porta. - O que deveria ser isso? - ele aponta para a parede.

- Deveria ser uma pintura.

- Tá, mas seria o que?

Levanto-me e ando de um lado para o outro.

- Eu tentei desenhar uma estrada com ponto de fuga, mas não ficou bonito com esses móveis. Joguei uma camada de tinta pra corrigir e um mapa do país veio em mente. - Passo os dedos pelas linhas de tinta secas. - Agora eu estou pintando um carro na estrada com um céu bem estrelado.

- Vai ficar legal.

- Não, está uma merda.

- Ei, você tem que parar de ser tão crítica - ele deixa a porta e me abraça. - Precisa de uma ajuda? A gente pode fazer com que as estrelas ali sejam bem aleatórias.

- Desde quando você entende de arte, Owen?

- Eu tive que me contentar com pinceis e tinta enquanto recuperava meus movimentos.

- Você sabe pintar agora?

- Não, eu sou bom em outras coisas e pintar não é uma delas.

- Me conta uma então.

- Eu sou ótimo em me apaixonar por garotas de cabelos coloridos e artistas.

- E quantas garotas assim você conhece?

- Uma e ela está comigo agora.

- Larga de ser bobo, Owen! - empurro seu braço e ele faz uma careta de dor. - Desculpa!

- A gente vai ter que ir bem devagar com o contato, sabe.

Eu rio porque a expressão que ele faz é bem engraçada, como se ele fosse ficar sem fazer certas coisas para sempre.

- Vou pensar no seu caso se nós vamos bem devagar, quase parando. - Mordo o lábio e ele sorri.

- Seja legal, ok?

- Vá buscar as suas coisas antes que eu pinte a sua cara! - tento fugir daquele momento e Owen sai do apartamento rindo.

Jogo-me no sofá e respiro fundo.

Owen realmente está bem e aqui comigo. Estou chorando e é de felicidade.

Por muito tempo eu pensei que realmente tivesse perdido ele.

Nós nunca abandonamos a estrada porque a vida é uma longa rodovia. A gente só se encontrou no meio dela. Seguimos caminhos diferentes quando precisamos. E nos encontramos no destino final.

Essa será a última saideira porque finalmente achamos nosso lugar.

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