Epílogo: Calcanhar de Aquiles
Era uma vez, eu. A garota cujo a casa fez "cabum" e que agora se mudou para o castelo. E, não há grandes considerações a se fazer. Pelo menos, por ora. As minhas percepções quanto ao que eu sinto sobre isso ainda são vagas.
Mas, aparentemente, cidadãos revoltados com as lorotas contadas pelo rei, pensaram que seria uma boa ideia incendiar alguns trechos das ruas de Serinna e uma casa. A minha casa.
É claro que foi o que me disseram, me permitindo descartar essa hipótese de primeira.
Sei que é papo furado, um amontoado de papo furado.
Além dos terroristas, andei cogitando a possibilidade da minha madrasta ter mandando atear fogo na nossa casa. Aliás, depois das últimas descobertas, mais do que nunca tenho motivos para não querer me casar com o filho do Albert. Nenhum deles.
Mandar o teto da mansão Grant para os ares, sem pensar nas fotografias, nos pertences do meu pai, os resquícios do que eu tinha dele, que jamais serão recuperados, pode ter sido uma jogada inteligente, porque agora estamos morando no castelo, com o pretexto de ser o lugar mais seguro do reino.
Eu tenho minhas dúvidas.
Sob a sombra de um guarda sol, em uma das imensas varandas do palácio, mexo e remexo o meu corpo na cadeira, ajeitando o livro que me esforço para ler entre a margem da mesa de pedra e o meu colo. Blá blá blá.
O dia está mais ensolarado hoje do que costuma estar, mas venta sem parar tornando o calor suportável.
Meus olhos vasculham o lugar, desde os vasos de flores a minha volta, além das orlas da sacada, entrevendo um campo com arbustos podados e no meio deles, um coreto, onde um garoto e uma garota tomam chá da tarde.
Jack e Emma estão conversando há uns vinte minutos, eu contei.
Estão sentados um de frente para o outro, usando roupas casuais, como se fossem meros adolescentes.
Não pareciam muito contentes no início, mas parecem conversar tranquilamente no momento.
Emma quase sempre mexe no cabelo dela, não sei se é nervosismo ou se é um flerte. E, o imbecil do Jack, bom, príncipe Jackson, talvez não repare. Ele sorri. Amigavelmente.
Não conversei com nenhum dos dois ainda, confesso que tenho evitado. Se passaram apenas três dias desde o baile de apresentação, tenho precisado de tempo para digerir os últimos acontecimentos, as últimas informações e lidar com uma casa carbonizada. Cinzas e mais cinzas.
Estou evitando inclusive o próprio tio Albert, e ele é o rei, muito do insistente, por sinal.
Jack coloca a mão por cima da mão da Emma e eu torno a encarar as páginas do livro. Ele não deve ter o mínimo de consciência, como pode tomar chá com ela depois de passar tanto tempo mentindo para mim? Como ele dorme?
Sobre ele — o livro — o escolhi aleatoriamente na biblioteca real, e não estou nem um pouco interessada na leitura, especialmente por já conhecer a história de Aquiles, um herói da Grécia. Sei até demais, cada trecho das lendas.
Eu movo as folhas para lá, para cá, e beberico a minha limonada de vez em quando.
É engraçado que ele — o Jack — não tinha demonstrações de afeto com a Emma antes. Eu nunca o vi tocar na mão dela, pelo contrário, ela mesma mencionou um certo afastamento da parte dele.
Não posso me culpar por não saber, os superpinóquios souberam fingir bem.
Jack tentou falar comigo três vezes nesses últimos dias e parou de insistir. Ele não se importa? Se realmente quisesse conversar comigo teria sido mais persistente!
Visualizo o meu livro ser lançado na direção ao coreto, acertando a cabeça dos dois como se fosse um boomerang. Isso me deixa feliz. Muito feliz.
Eu bem que podia fazê-lo, nem vão saber que fui eu.
Mas não faço.
Coloco a história sobre a mesa e jogo a cabeça para trás, podendo observar o céu num azul intenso, límpido, conduzindo a minha atenção para o cantarolar dos pássaros.
É um belo dia para morrer.
Uma borboleta de asas alaranjadas sobrevoa o meu rosto, o interior do guarda-sol, até pousar em cima da capa do livro, no qual eu deveria usar de canalizador.
Aprumo a minha postura, me encurvando um pouco para a frente.
— Oi... — Tomo cuidado para não espantar, andarilhando meus dedos até ela em gestos lentos, para que suba neles. — Asas bonitas. — Digo, aproximando a mão do meu rosto, com os olhos fixos nas cores vibrantes e nos pequenos traços em preto.
Nunca estive tão perto de um inseto. Vivo. Vi alguns dissecados no laboratório de biologia do Salgueiro, e somente. Borboletas tem partes bem estranhas, pernas e antenas compridas, fininhas.
— Tá vendo aquilo ali? — Aponto com o queixo para os pombinhos no gazebo. — Me dá dor de barriga. É patético, não acha? — Solto o ar preso nos meus pulmões.
Tão patético quanto uma garota falando com um inseto, depois de ter pego um livro qualquer para vigiar a conversa de alguém.
— É, eu devo estar enlouquecendo. — Resmungo para mim mesma, dando um impulso com o indicador para a borboleta que bate as asas se distanciando.
— Você tá com ciúmes. — Me alarmo quando a voz do Thomas, penetra nos meus ouvidos, me fazendo pegar o livro rapidamente para fingir a leitura.
Cacete. De onde ele veio? Não deveria estar em Analea?
Ergo as páginas até o meu rosto, mas pela visão periférica posso ver o príncipe invocado do submundo terminar de se aproximar, parando de pé ao lado da mesa, com as mãos para trás e os olhos atentos no jardim a nossa frente.
— Eu não tô com ciúmes. — Abaixo o livro. Como ele pôde dizer isso? — É que o mundo tá acabando e esses dois estão tomando chá!
Acredito que estou abusando do eufemismo. A população anda tão revoltada desde o baile e tudo tem dado tão errado, que é bem possível o reino ter se deslocado do planeta Terra e estar marchando rumo a um buraco negro, prestes a ser engolido por ele.
— Ah. Tem razão, não é ciúmes. — Thomas levanta os cantos da boca. — Inveja, então?
O lanço um olhar de indignação, quem ele pensa que é?
— Eles estão tomando chá, mas você está sentada numa cobertura, lendo... — Inclina a cabeça para olhar a capa do livro. — Mitologia grega, enquanto bebe limonada.
— É, e faltou um guarda-chuvinha aqui. — Falo, depois de beber um pouco pelo canudo, evidenciando o meu copo.
Thomas revira os olhos, devolvendo a sua atenção para o jardim, mas não fecha a matraca:
— Deveria ter escolhido outro andar se queria mesmo vigiar os dois sem ser vista.
Chato. Chato. Chato.
— O que você está fazendo aqui, hein?! — Questiono sem paciência. — Em Verena? Não deveria voltar para o reino das trevas?
— Na verdade, eu vou ficar por um tempo.
Merda.
— Por quê?
Ele junta as sobrancelhas e em seguida as arqueia.
— Caso não tenha reparado, eu também sou filho do Albert.
— Eu meio que reparei... — Forço um sorriso, apertando as minhas pálpebras. — Mas está do lado do rei Aldrich, é conselheiro dele! — Replico sem receio. — E, isso te faz o que? — Rio com desdém. — Um traidor?
— Eu prefiro o termo "renegado" — Thomas responde, passando a mão pelo maxilar.
— Seu pai e seu irmão estão enfrentando problemas com o reino, e agora temos um "renegado" com a mesma cara do príncipe, perambulando pela corte. Isso é preocupante.
Um cenário incomum e apocalíptico.
— Não, preocupante é você estar "lendo" esse livro de cabeça pra baixo. — Aponta para o meu livro, enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans em seguida.
Puta merda, eu deveria ter me atentado a isso.
— Suponho que você ande ignorando as chances do rei Aldrich ter algo a ver com a queda de avião, e com os atentando a Verena. — Soo hostil. — A sua família.
— Você supõe demais, Nicolina.
— Eu não poderia pensar diferente se foi criado na corte dele e usa o brasão do reino com tanto orgulho. — Dou de ombros. — Uso a lógica.
— Então eu deveria supor que você é como a Lady Rosana, o Albert e como o resto da corja de membros da corte que mentiram por anos.
— É diferente!
— O que é diferente?
— Olha... — Sacudo a cabeça, me pondo em pé. — Pare de agir como se me conhecesse! Você é um desconhecido e só porque tem a mesma fuça que o seu irmão não significa que somos amigos. Nós não somos amigos!
— Eu não disse que quero ser seu amigo. — Ele quase sorri.
— Você não engana. — Dou um passo à frente, apontando para ele, o fazendo levar seus olhos ao meu indicador. — É um clichê barato e irritante, do tipo que faz piada com tudo a sua volta, usando o sarcasmo pra se mostrar indiferente, mas na verdade só está com o ego ferido!
Thomas emite estalos com a boca, fazendo que não com a cabeça, e eu junto as sobrancelhas em confusão.
— Engraçado isso vir de você. — Ele finca suas íris nas minhas.
— O que está insinuando?
— Eu? — Dá de ombros. — Nada. — Ele corta o resto da distância entre nós, por um triz minha mão não toca o seu peito, coberto pela camisa preta, com os primeiros botões desabotoados. — É só cômico você dizer essas coisas sendo que há um minuto disse que eu sou um desconhecido.
Nesse momento, me dou conta de que Thomas consegue ser um zilhão de vezes mais irritante que seu irmão.
— E, sobre isso... — Maneia o olhar para Jack e Emma antes de tornar a me encarar. — O que está sentindo, é dor de cotovelo, minha cara. — Thomas leva o dedo indicador até a ponta do meu nariz e eu bato no seu dorso no mesmo instante.
Estou prestes a abrir a boca para retrucar, mas ele é mais rápido.
— Por um tempo, vai ser como o seu calcanhar de Aquiles. — Olha para o livro na minha outra mão, sem desmanchar o sorrisinho sarcástico, como se gostasse de jogar sal em feridas. — Mas, relaxa, isso passa.
Cerro os dentes, engolindo em seco.
Thomas observa o jardim uma última vez antes de se distanciar de mim, entrando no palácio.
Reviro os meus olhos, decidindo sentar novamente, mas sinto o meu celular zunir no bolso do meu vestido.
Acredito que o fantasma resolveu sair da toca e voltar a brincar:
"Parece que o seu problema duplicou. Boa sorte, querida."
Olho ao redor institivamente. Guardas agem como os belos postes, Emma e jack ainda conversam, não há ninguém com um celular em mãos, nem mesmo o Thomas cujo a silhueta acaba de virar um corredor.
Essa merda de novo.
Muito bem, se o fantasma quer jogar, ótimo, que assim seja. Que os jogos comecem.
Fim do livro um.
🎉Confetes 🎉
Chegamos até aqui e se você chegou até aqui é um glorioso que leu 112.957 palavras! Como se sente? Isso tá um livro de 570 páginas, mais ou menos Kkkkkkkkkkkkkkk.
Eu vou postar a nota de agradecimento e notícias sobre o livro dois daqui a pouco, mas primeiro, quero saber o que tu achou desse epílogo, conta pra Nay:
O quê acha que vai rolar entre Emma, Jack e Isla?
Sobre o fantasma, algum palpite?
Thomas é um atirador de sal em feridas?
O quê esperam dele perambulando por Verena?
O quê você achou desse livro?
Teve algo que te irritou nele? Algo que você acha que a autora vulgo eu poderia melhorar?
O que vocês esperam do próximo livro?
Mood da Isla:
Sobre essa versão, eu estou assim:
A edição desse livro me custou altas horas de surto, kkkkk " O reino de desencantos" ainda não está do jeito que eu quero, eu ainda me incomodo com uma coisa ou outra, — muita coisa — mas preciso amadurecer as ideias, e continuar, senão eu vou ficar revisando ele até o fim dos tempos e nunca sair do lugar.
Eu posso ter deixado a desejar em alguns aspectos e eu sinto muito, mas eu nunca recomendo ninguém ler nada meu com altas expectativas porque só se lasca. Melhor ser surpreendido do que ser decepcionado. Então, relevem as farofas da Nay e obrigada por terem lido essa peripécia.
Também preciso dizer que vocês, leitores novos e até mesmo você, leitor antigo que ainda não está no grupo do whats onde eu sempre interajo com vocês e a gente surta coletivamente, está convidado a entrar! Se quiser, é só ir na DM que eu passo o link ♡
Por ora é isso, eu vou postar os agradecimentos agora, vai lá ler que tem coisa importante sobre o segundo livro!!
Beijocas com pipocas 💕
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