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06 - Nos braços de Morfeu

No finalzinho da tarde, chegou uma notificação no meu celular da minha agenda on-line. Rosana criou um evento para o fim de semana denominado de "Pronunciamento oficial de retratação".

Será uma coletiva de imprensa num sábado à noite, durante o telejornal e antes de uma novela. Não acho que a população vá gostar muito do cronograma, mas quem sou eu para dizer alguma coisa, não é?
Ah, espera. Eu vou dizer alguma coisa. Possivelmente ler linhas e linhas de um discurso minuciosamente criado e pensado pelos assessores da ruiva.

Estou enjoada, preciso confessar, e curiosamente, nesse instante, estou na limousine com a Harper e a Emma a caminho de um restaurante.

As duas estão conversando sobre alguma coisa. Harper parece está explicando como são os bailes no palácio e apresentando os ministros, lordes, duques e condes pelas fotos no google. Tentei participar da conversa no início, mas me perdi depois de começar a contar as linhas que formam o xadrez da saia preta e branca que estou usando.

— Harry... Oi?— O chamo, soltando o cinto de segurança, inclinando o meu corpo para frente.

Aperto o botão do vidro elétrico da Limusine para abaixá-lo, e agora consigo ver a parte da frente do veículo.

— Sim? — Ele responde sem tirar os olhos da estrada.

— Viu a atualização na minha agenda?

— Sim...— Acaba arrastando a pronúncia dessa palavra.

— E, acha que vai funcionar? Essas coisas costumam funcionar?

Sei que não deveria estar incomodando o Harry com essas perguntas, mas preciso da opinião de alguém e não posso perguntar para a Harper que costuma ser muito otimista com tudo.

— É difícil dizer. — Harry me olha brevemente pelo espelho retrovisor.

— Lembra daquela atriz que disse que tinha emagrecido fazendo dieta e exercício físico quando na verdade tinha feito uma lipoaspiração? Sabe me dizer se as pessoas já esqueceram daquilo? Ou da modelo que foi flagrada traindo o marido com aquele jogador de beisebol?  Retratações públicas realmente funcionam?

— Sendo honesto com você, eu não sei se vai funcionar... Mas, se você se arrependeu acho que tem o direito de se desculpar e tentar se redimir, não acha?

Mas e se eu não me arrependi? Como eu sei que isso aconteceu? Como isso funciona, geralmente?

Apoio minhas mãos no encosto do banco da frente e em seguida o meu rosto sobre elas.

Eu não sei se me arrependo, não sei se sei qual é a sensação. Pode ser semelhante ao buraco no estômago que eu sinto depois de ter comido um pedaço de pão no café da manhã, quando na verdade eu deveria ter comido pelo menos dois, com geleia de amora, um pedaço de bolo de cenoura e três xícaras de café.

Ou isso é apenas fome?

— É, acho que você tem razão.

— Acho que está pensando demais nisso. —  Harry diz estacionando o carro em frente ao prédio luxuoso. —  Por que não tenta aproveitar sua noite de quinta-feita com as suas amigas?

— A Harper é minha amiga, não conheço a Emma o suficiente para... — Ele me olha por cima dos ombros e respira fundo. — Tá. Entendi. — Falo e paro de falar.

Costumo gostar de quintas-feiras. Não como a maioria das pessoas, mas pelos mesmos motivos que elas gostam das sextas-feiras, dos sábados, ou dos domingos.

Quinta é o único dia na semana que tenho tempo livre, onde posso decidir sobre o que vou fazer ou não.

É um acordo que eu tenho com a Rosana. Embora eu precise admitir que foram meses e anos sendo muito pedante até conseguir.

Ela não me tirou o direito dessa quinta-feira como disse que tiraria.
Rosana não fez nada do que jurou aos quatro ventos que iria fazer. Mas não é por bondade.

Ela não é burra, me afastar da Harper só aumentaria os bochichos sobre eu ser uma erva-daninha e as Piper's estarem cientes disso o bastante para manter distância.
No mais, quando Harper contou que a Emma estaria conosco no Caprise, ela deve ter visto uma luz no fim do túnel para reverter os danos causados pelas últimas manchetes.

Caprise é um restaurante de luxo da capital, bem famoso em Verena, mas só começamos a frequentá-lo no ano passado, no aniversário de quarenta e seis anos da Sra.Piper.

— Eu acho que deveria ter pedido um prato menor. — Digo espantada com o tamanho do prato de macarrão — Se a Rosana me pega ela me esgana. Ela diz que ninguém deve exagerar quando assunto for comer massa.

— Ele não conta nada para ela? — Emma pergunta, sentada na cadeira a minha frente e apontando para Harry.

Ele está parado próximo a nossa mesa, agindo como um guarda-costas e ainda bem que ele está aqui.

Entrar no restaurante foi difícil, as pessoas cochichavam "Olha, é Isla Grant" e outras rebatiam com "Cuidado para ela não jogar nada na sua cabeça" como se eu não os ouvisse.

Um dos gerentes do restaurante precisou atender a mesa em que estávamos sentadas.

— Não. O Harry é legal. — Harper, quem está do meu lado, explica por mim.

— Alguém quer dividir comigo? — Pergunto novamente sobre o macarrão. — Eu não estou com o estômago bom. Comer isso tudo não vai me ajudar em nada.

E, eu não estou mentindo. Continuo enjoada. Meu estômago parece ter diminuído de tamanho.

— Eu divido com você. Como eu ainda nem escolhi o meu... — Harper fala deixando o cardápio de lado.

— Pode pegar a maior parte. — Estendo o prato para ela e em seguida coloco uma azeitona na boca.

Gosto daqui, tem um cheiro memorioso de manjericão. Emma deve estar gostando também. Ela parece deslumbrada com o lugar, examinando cada luz, lustre, os músicos, as mesas ou os vasos de flores com camélias no centro delas.

Emma faz perguntas interessantes, nas quais Harper não hesita em responder.
Harp é boa nisso, em conduzir conversas, falar com pessoas, e estar presente.

Pouco a pouco meu foco vai se perdendo outra vez, em especial quando voltam a conversar sobre o baile de apresentação do príncipe. Eu as escuto, estou na mesma mesa, mas não estou mais ali.

Meu coração de repente acelera enquanto eu encaro o meu dedo indicador, decorado por um anel dourado com pedrinhas e diamantes, distribuídos nele.

Sei que tem pessoas olhando para mim agora. Eu sinto isso. Sinto os olhares sobre nós e eu detesto.

Não quero que olhem para mim. Nunca. Rosana não deveria ter maçando uma coletiva de imprensa sem falar comigo antes.

Não sei o que vou dizer e não queria apenas ler um discurso ensaiado. Eu poderia estar dizendo qualquer coisa, sendo qualquer coisa ou causando alguma coisa.

Por algum motivo, algumas pessoas parecem realmente se importar com o que eu faço, uso ou digo.

Lembro de ter dito em uma entrevista que minha cor favorita é o roxo. Eu nem sei o porquê disse isso, talvez porque naquele momento fosse verdade. Não tenho certeza.

Acontece que, no dia seguinte, o que havia de meninas e meninos usando essa cor de todas as formas e em todos os lados, era impossível de calcular.
Até criaram um esmalte chamado "Isla Grant", numa tonalidade de roxo e em outras nuances como o lilás com glitter que recebeu o nome de "Nicolina".

Rosana adorou, afinal, o cheque dos direitos de imagem vai para a conta bancária da família.
No mais, isso ajudou o meu nome ficar ainda mais em alta no país, senão na ilha inteira.

Pessoas elogiando, criticando. Pessoas que nunca me viram, pessoas que eu não conheço.

Algumas vezes eu me sinto tão reduzida ao ponto de sentir que posso ser esmagada como um inseto.

Escrevi no meu diário, numa época que tinha paciência em escrever, que eu me sentia como se fosse um desses pássaros selvagens.
Fred encontrou, leu esse trecho em voz alta e disse que no máximo eu era uma galinha brava que bicava.
Não sei se sinto mais pena da imaginação dele ou da minha.

Não acho que isso melhora. Não acho que vá melhorar. Desde antes ao anúncio do baile eu tenho escutado as mesmas perguntas:

"Você e príncipe estão mesmo juntos?"

"Você já o viu?"

"O príncipe já voltou para Verena?"

"Como ele é?"

"Pretende morar no Palácio depois do noivado oficial ser anunciado?"

"O castelo é tão bonito por dentro quanto é por fora?"

"Seu vestido de baile será de que cor?"

"Quando aconteceu o primeiro beijo de vocês?"

Não sei. Não. Não sei. Não sei. Não sei. Sim. Não sei. Acho que nunca nos beijamos, éramos crianças e eu mal tinha os dentes da frente.

De modo súbito, as coisas começam a ressoar lentas dentro do meu cérebro.
Harper bebe a água da sua taça, a marcando com seu batom rosa.
Emma ri de alguma coisa, outra vez.
O garçom se aproxima com o ravióli.
Ravióli. Emma pediu ravióli.

Talheres tintilam.

— Senhorita? — A mão do Harry toca o meu ombro direito e me obriga a recobrar os sentidos.

Foi tão rápido. Meus pensamentos me conduziram para longe. É isso ou Harry se teletransportou para o meu lado.

— Harry?

Ele agacha.

— Parece apreensiva, precisa de algo?

Senti o ar ser devolvido aos meus pulmões. Puxar e soltar o ar devagar. Isso costuma funcionar.

— Não, eu estou bem, obrigada. — Sussuro e ele assente se pondo em pé, retornando para onde estava.

Sorrio e bebo um pouco d'água da minha taça. Eu deveria me distrair com outras coisas.

— Já pensou no que vai querer de sobremesa? — Harper pergunta, colocando a mão por cima da minha.

— Sorvete de menta com pedaços de chocolate? — Sugiro erguendo os ombros.

— Sorvete de menta? — Emma ri. — Isso é bom?

— É o melhor sorvete que você pode experimentar. — Aviso, e não estou mentindo. Não mesmo.

— Ela diz isso pra te convencer enfiar isso goela abaixo. — Harper provoca. — Não confie muito.

Ela detesta. Harper diz que tem gosto de chiclete barato, não sei de onde tirou uma coisa dessas.

Eu sorrio em resposta. Acho que pela primeira vez estou sorrindo de verdade. Sem forçar demais, sem fingir para ninguém, ou posar para uma foto.

Mas o sorriso não dura muito.

Ele é impedido por um punho fechado que vai de encontro ao meu rosto.
Não tenho certeza de qual direção, se foi um homem, uma mulher, não tenho como pensar nisso.

Tudo fica lento, silente e entorpecido.
Perco o equilíbrio, mesmo sentada. Sinto o gosto de ferrugem tomar conta da minha boca, acompanhado da ardência violenta no meu rosto. Arde, queima e lateja.

Gritos. Tem pessoas gritando.

Posso ouvir, mas não por completo. O som não se propaga bem, é impedido por um zumbido agudo e dolorido no ouvido.

Os meus sentidos são interrompidos, a visão fica embaçada, não sei se estou em pé, no chão, é difícil discernir. Me sinto mole, bamba e turva.
E então, alguém segura o meu corpo. Harry. É o Harry.

— Isla? Isla? — É a voz da Harper, num tom angustiante ela chama por mim.

Flashes. Luzes fortes. Lustres. Gritos.
Muitas pessoas gritando. Vozes que eu sou incapaz de reconhecer.

Quando eu abro os olhos não estou mais no restaurante.
Sei que estou parada, mas eu sinto algo me mover. Estou flutuando, talvez.

Olho ao redor e em frente ao Caprise há dúzias de pessoas com cartazes enormes e eles gritam furiosos. Tento entender, tento ler e não consigo.

Cause I'm leavin' on a jet plane. Don't know when I'll be back again...

A dor pungente no meu rosto, na minha cabeça se alastra por cada polegada do meu corpo me inibe. Sou arrebatada por um sono desmedido. Agora, estou nos braços de Morfeu.

— Consegue seguir o meu dedo com os olhos? — O médico pergunta mexendo o dedo indicador, colocando nos meus olhos uma daquelas lanternas. — Muito bem. A agressão não causou nenhum dano físico grave, mas senhorita pode apresentar estresse pós-traumático nas próximas horas.

Eu não sei porque, mas eu sinto um incomodo no meio do peito quando ouço o termo "agressão física" ser atrelado a mim.
Começa sorrateiro, lento e depois se expande e me dá pontadas fortes e bruscas.

Até agora não entendi completamente o que houve. Os fatos são: Eu estava no Caprise com as meninas e de repente, um dos clientes da mesa ao lado se levantou e me acertou com um soco. Foi isso o que eu ouvi.

Parece que foi armado, eu não tenho certeza, mas o homem tem ligação com as pessoas que estavam do lado de fora do restaurante e protestavam em voz alta contra o reinado do tio Albert, sobretudo, o quanto não me queriam como a sua futura princesa.

— Tome um banho quente e descanse. Se sentir alguma dor, algo de incomum, não hesite em me ligar. — Dr. Sartori diz guardando as coisas na sua mala de couro.

Aproveito para ajeitar as minhas costas no apoio do sofá da minha casa.

— Não tá tão feio. — Maya fala se sentando ao meu lado.

Acho que ela se refere ao corte na minha boca, após me passar o espelho.

Eu estou horrível. O rímel e o lápis de olho estão borrados, escorreram um pouco nas minhas bochechas, visualmente, afundam a região das olheiras.

O corte no lábio inferior não parece fundo. A minha pele só está dolorida e muito vermelha.

Passo a ponta da língua sobre o ferimento meio amortecido e sinto o gosto de sangue outra vez.

— Tá péssimo. Eu vou pegar mais gelo. — Megan discorda se afastando.

— Ainda doí? — Fred pergunta, agachado na minha frente.

Faço que não com a cabeça, mas sim, meu rosto ainda dói. Parece que eu fui pisoteada várias e várias vezes.

Olho para a Rosana no fundo da sala, ela está à meia-luz, falando exasperada com alguém no telefone.

— Mamãe está falando com o rei. — Maya conta num sussurro.

Encaro a garota sardenta arregalando os meus olhos como se o meu irmão tivesse acabado de soltar outro palavrão.

— E, as meninas? A Harp e a Emma? — Pergunto.

— Falando com um detetive, dando depoimento.

— Depoimento?

— É, colhendo as provas para manter o agressor preso por muito, muito tempo.

Agressor. Agressão.

Eu estava sentada com as meninas, eu estava sorrindo.

— Senhorita, beba isso. — Lenna surge com uma xicara de chá e o Fred abre espaço para que ela possa me entregar.

Tento beber um gole e fecho os olhos com força quando o chá quente faz arder ainda mais a ferida na minha boca.

Cacete.

Pego o meu celular em cima da mesa baixa na minha frente.

— Isla, não. — Maya pede segurando a minha mão.

Mantenho os olhos fixos no dela e ela não diz nada, apenas solta aos poucos.

Geralmente eu o evito, apenas para não ler e reler matérias e fofocas sobre mim, mas agora, eu preciso. Preciso entender.

"Isla Grant é agredida em restaurante nesta noite de quinta-feira."

"Manifestantes se juntam na porta de restaurante para protestar contra as ações de Isla Grant"

Internautas dizem "Merecido, se levasse mais surras não seria assim."

—Oi. — Harper se aproxima e agacha na minha frente, apoiando as mãos nos meus joelhos. — Como você está?

Se eu levasse mais surras não seria "assim"? Uma vadia mimada ou a síntese de uma geração ingrata? O que eu sou exatamente? Um ou outro, ou as duas coisas?

Pessoas me cansam. Pessoas me confundem.

Eu estava sorrindo de verdade e do nada, puf.

Isso é tragico e cômico. Eu estava sorrindo sem fingimentos e a vida deu um jeito de tirar isso de mim também.
Se eu apanhar mais, vou aprender a não machucar as pessoas? Que merda de lógica é essa?

Começo a rir. Começo a gargalhar alto, fazendo todos na sala olharem para mim estupefatos.

— Você está me assustando. — Fred cochicha.

— Eu levei o soco no meio da cara, porque segundo eles eu destrato pessoas! Essa não é a coisa mais controvérsia que você já ouviu?

Perturbadoramente engraçada.

Mas, Harper não ri, eu não sei o porquê e eu não consigo parar. Não dá.

— Acho melhor você subir, descansar. — Ela diz baixo e se põe de pé. — Vem, eu ajudo. — Estende a mão para mim.

O riso me toma por completo, não posso conter, só que até rir demais parece ficar doloroso depois de um tempo. Como se humanos estivessem fadados a tristeza, ao choro.

Você não pode rir demais, isso enfurece o universo.

bau tica baubau

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