𝟮. 𝗠𝗔𝗚𝗜𝗖 | 𝗖𝗟𝟭𝟲
Charles não servia para relações sem compromisso. Depois de passar por dois términos de longos relacionamentos, ele achou que estava preparado para viver uma vida digna de solteiro. Pegou conselhos com alguns amigos - a maioria veio de Daniel e Pierre, das quais ele não estava certo da eficiência - e resolveu se aventurar numa noite de verão do seu amado país. Talvez não tenha ido totalmente de peito aberto para a nova experiência porque durante as primeiras duas horas, Charles odiou todo o flerte que recebeu. As mulheres eram lindas e boas de papo, mas nada que o instigasse a levar aquilo para um quarto de hotel qualquer.
Estava entediado e alto demais para continuar tentando ser um solteiro convicto, até vê-la. Dizer que toda a embriaguez passou ao ver Daphne seria um grande exagero, mas ele sentia que se lembraria daquele rosto mesmo que todas as bebidas do open bar fossem parar em seu organismo. Ela tinha grandes olhos azuis e sobrancelhas naturalmente arqueadas, características que hipnotizavam até o mais centrado dos homens, na opinião do piloto.
Ele permaneceu absorto no mundo daquela mulher até o momento em que adormeceu ao seu lado. Em seu sonho, também apareceu o rosto da loira e seus lábios sussurrando coisas que não eram apropriadas dizer em voz alta, como ela tinha feito pouco tempo antes. Mas Charles sabia que toda aquela magia não fazia parte do sexo sem compromisso que prometeu aos amigos que tentaria. Muito menos sabia se a garota queria ou esperava por mais, não podia criar expectativa. Tinha sido apenas conexão de uma noite e tudo bem.
Lorenzo Leclerc era o único ser humano com menos de sessenta anos que estaria acordado às 6:30 da manhã, então ficou encarregado de buscar o irmão na casa da desconhecida.
— Só se eu puder dirigir sua Ferrari — foi a proposta do mais velho em troca de seu silêncio.
Charles não queria chamar atenção saindo de um prédio residencial onde não tinha um apartamento e dar motivo para algum tabloide de fofoca falar sobre, então permitiu que Lorenzo pegasse qualquer outra Ferrari que não fosse a preta com o número dezesseis gravado nela.
Não saiu do apartamento da mulher sem antes vesti-la no moletom que levou para a festa da noite anterior e um short de pijama que encontrou na primeira gaveta do armário dela. Felizmente conseguiu não acordá-la, e tentou ser o menos invasivo possível quando usou o banheiro da suíte e depois recolheu suas coisas para ir embora.
A mulher devidamente embalada nas cobertas e em um sono profundo foi a última imagem gravada na mente do monegasco. E ele não a esqueceu por dias, talvez semanas.
— Cara, você deveria tomar uma atitude e parar de choramingar no meu ouvido — Pierre soou irritado durante a ligação de quase duas horas com Charles lhe contando sobre a mesma noite com a garota encantadora. Já era a terceira vez só naquela semana.
— Eu nem ao menos sei o nome dela! — Charles argumentou jogado em sua cama depois de passar o dia atrás da mãe fazendo suas vontades, coisa que não podia quando estava viajando à trabalho.
— Porra, como você dorme com alguém e acorda apaixonado no dia seguinte sem saber qual é o nome dela? E outra, Mônaco tem 15 famílias, no máximo. Impossível que você não consiga encontrá-la — Pierre pontuou.
— Ela não me parece de Mônaco. Eu a conheceria se fosse, ou ela me conheceria...
Charles notou naquela noite que ela parecia genuinamente alheia à sua profissão e fama. Não se lembrava de muita coisa, mas tinha uma memória muito específica onde a loira contou aos risos que não fazia ideia de quem era mais da metade das pessoas ali. Ele poderia ter lhe dito que era um dos jogadores titulares do AS Mônaco e ela acreditaria. Mas, ele não contou essa mentira e também ocultou a verdade. Para ela, Charles não era o piloto promissor da Ferrari, era apenas um cara comum que fazia parte da elite de um país bem sucedido.
— Você tem desculpas demais, Charles. Desencana ou corre atrás — o francês colocou o ponto final no assunto quando o silêncio do amigo confirmou que ele continuaria a não fazer nada sobre o assunto.
No fim, Leclerc estava muito enganado. Tudo o que Daphne queria era encontrá-lo de novo. Ela não sabia o que falaria, como agiria, ou o que esperava dele caso o procurasse, mas passava seus dias distraída pensando naquele par de olhos verdes e o moletom cheiroso em seu guarda roupa.
— Por que moletom e roupa social? — a Bellini mais nova ainda se questionava toda vez que abria o armário e encontrava a peça de roupa ali. Não tivera coragem de levar ou usá-lo de novo para que não perdesse o cheiro dele.
— Ele claramente não tem senso de moda — Beatrice alfinetou sentada à mesa de café da manhã da irmã.
— Vocês já seriam o casal perfeito só por esse detalhe. A estilista e o cara que mistura moletom e roupa social — Dora completou a piada do outro lado da mesa.
— Parem, ele estava lindo... — Daphne defendeu enquanto partia um pedaço da banana para dar a sobrinha em seu colo.
— Não é como se você lembrasse — Dora cutucou Beatrice quando tocou na ferida da amiga. As duas trocaram risadas enquanto Daphne fuzilava a ruiva. — Sério, você tem que procurar um médico. Perda de memória é algo sério.
— Ei, eu estou bem aqui — Beatrice, neurocirurgiã, disse apontando para si própria — Isso é só bebedeira desenfreada. Não tem cura quando se é fraco para álcool mesmo...
— Se não tivéssemos uma criança aqui, eu xingaria vocês duas até cansar — a loira disse apontando para a pequena Alessia que soltou uma risadinha quando a atenção das três adultas se direcionou a ela.
Mais tarde naquele dia, já de banho tomado após chegar do trabalho, Daphne sentou em sua cama com o notebook no colo e o celular na mão. Estava cansada de mais uma vez passar distraída pelo dia porque ficava pensando naquele homem, então decidiu esquecê-lo de vez. Iria aguardar o moletom dele no lugar mais alto de seu guarda roupa e escrever uma carta para a Daphne do futuro, listando os motivos para não tentar procurá-lo quando a curiosidade aparecesse novamente para a assolar.
Digitou rapidamente sobre as teclas do notebook, as palavras pareciam fluir muito bem quando a frustração fazia sua parte. Imprimiu a folha de papel com mais ou menos 30 linhas de desabafo e colocou num envelope que tinha em casa, logo depois guardando no fundo da última gaveta da escrivaninha.
Os primeiros meses após isso foram fáceis. A mulher estava totalmente focada no trabalho e em sua própria costura. O concurso infelizmente havia sido adiado para o início de dezembro, quando todos iam às compras para as festas de fim de ano e os criadores poderiam descolar um dinheiro caso alguma marca resolvesse patentear a coleção de roupas - foi ótimo para Daphne esse ganho de tempo e a possibilidade de arrecadar um financeiro garantido.
Para Charles não havia sido tão fácil assim. Mas o homem não tinha muito tempo entre uma race week e outra para ir atrás da garota encantadora com quem dividiu uma noite. Quando subiu no lugar mais alto do pódio na última etapa da temporada - mesmo que a vitória do campeonato estivesse garantida nas mãos de Lewis Hamilton -, o piloto desejou que ela estivesse o vendo ali e o procurasse. Se perguntou porque todos aqueles meses porque ela não o havia feito. Quer dizer, não era muito difícil encontrar Charles Leclerc, piloto mundialmente famoso vindo do segundo menor país existente.
Faltando duas semanas para o Natal, Cecilia surpreendeu as irmãs aparecendo na porta do apartamento da mais nova com presentes e lembrancinhas de vários lugares do mundo. Ela era diretora de documentários e autora de diversos livros sobre a vida selvagem e viajava muito atrás de conteúdos, isso explicava os globos de neve com ursos polares e as camisetas com estampas florais ou com frases sobre a preservação dos oceanos.
No dia seguinte, Cece acompanhou Daph ao que chamou de "feirão dos iniciantes", o evento do qual a coleção da Bellini estava fazendo o maior sucesso. Com sorte, representantes da Burberry estariam ali para avaliação das peças e a jovem ficaria muito feliz se a escolhessem para patentear, já que era sua marca favorita.
— Eu não quero te desanimar, irmã, mas acabei de ver um sobretudo que parece ser... — Cecilia foi perdendo a voz quando viu aquele homem de olhos verdes em uma estande perto delas.
Ela sim se interessava por esportes, tudo o que Daphne não ligava. Não tinha muito tempo ou como assisti-los dependendo do lugar onde se encontrava, mas quando era adolescente tinha uma paixão particular por futebol e automobilismo que não a deixavam abandonar de vez. Então era claro que Cecilia conhecia o garoto promessa da Ferrari.
— O que foi? O que está vendo? — Daphne perguntou estreitando os olhos na direção que a irmã olhava quase sem piscar.
— Sei que é um país pequeno, mas por Deus... Achei que ele fosse rico o suficiente para fazer suas compras de Natal em shoppings ou sei lá — um sorriso enorme se abriu no rosto da mulher, fazendo Daphne ficar ainda mais confusa sobre o que ela falava e olhava. — Charles Leclerc, aquele piloto de Fórmula 1 daqui de Mônaco, está bem ali.
Disfarçadamente a mais velha apontou para o homem cercado pelos irmãos, a namorada do mais novo e a mãe.
— Quem? — a loira perguntou antes de realmente focar no conjunto de pessoas que Cecilia sinalizava.
Mas ela não precisou de muito esforço, pois os olhos se chocaram como imãs, atraídos pela magnitude um do outro. Os verdes oliva de Charles nos azuis celestes de Daphne. O clima frio e nublado de Mônaco pareceu se dissipar naquele momento, porque os dois iluminaram-se como um dia ensolarado. Era ele. Era ela.
Charles deu o primeiro passo. Daphne pensou em correr para longe. Arthur chamava pelo irmão e do outro lado Cecilia fazia o mesmo. Mas a conexão daquele olhar não podia ser quebrada.
— Oi — Leclerc disse mesmo que quase não ouvisse a si próprio de tanto que o coração batia freneticamente dentro do peito.
— Por que ele está falando com você? — Cecilia sussurrou para Daphne. As duas estavam vidradas no homem à frente, mas por motivos diferentes. — Ele está falando com a gente?
Daphne saiu do transe quando riu do espanto da irmã mais velha. Ela deu a volta em seu estande ignorando as perguntas da mulher e parou próximo do piloto - que havia acabado de descobrir se tratar de um.
— Você é...?
O cara da outra noite. Daphne não terminou a pergunta ao achar que soaria indelicado e inapropriado já que a mãe do homem estava a poucos passos atrás dele.
— Sou eu — Charles sorriu colocando as mãos dentro dos bolsos do casaco pesado. — Podemos conversar? Posso te levar para tomar um café?
As perguntas vieram antes que o homem pudesse e quisesse evitá-las. Mal acreditava que havia a encontrado, não podia deixar que escapasse por entre seus dedos de novo. Daphne não pensou duas vezes antes de ter certeza que iria com ele para qualquer lugar depois do sorriso que o assistiu dar. Parecia mágica, tudo ao redor dele reluzia e a deixava hipnotizada.
— Filho, você vai ficar? — Pascale perguntou ao filho do meio enquanto todos os outros acompanhantes olhavam curiosos e atentos para Charles e a garota. — Olá, menina — a mulher saudou simpática, sorrindo para Daphne.
Arthur era lerdo demais para perceber de quem se tratava, mas Lorenzo ria por já ter sacado quem era aquela "conhecida".
— Acho que vou sim, mãe — ele olhou para Daphne com expectativa, esperando pela resposta interrompida.
— Oi, senhora — a loira acenou para a mais velha com um sorriso envergonhado.
— Oh, por favor, me chame de Pascale — a mulher abanou com a mão como se dissesse para esquecer a formalidade. — E você é...?
— Daphne.
— Combina com você — Charles deixou escapar seus pensamentos ao ouvir pela primeira vez o nome dela.
Todos os que assistiam a cena olharam confusos para Charles, menos Lorenzo, que deu uma risada tão alta capaz de atrair a atenção para si e tirar do rosto avermelhado de vergonha do irmão. A boca de Cecilia abriu-se em um 'O' tão perfeito que seu queixo parecia prestes a despencar no chão - ela também havia entendido que aquele era o cara de quem a irmã falou por dias a fio.
— Err... hm, — o moreno limpou a garganta. — Podem continuar sem mim.
— Tudo bem, então. Mas não esqueça de comprar alguma coisa para o Ano Novo e de preferência algo que você não precise passar, já que nunca faz isso mesmo... — dona Pascale deu o recado para o filho e abriu o sorriso acolhedor novamente para Daphne, nem parecia ter dado uma bronca indireta segundos antes. — Foi um prazer conhecê-la mesmo que brevemente, querida. Está convidada para ir à minha casa qualquer dia. Assim eu posso saber como você fez os olhinhos do meu filho brilharem tão rápido.
A piscadela de Pascale fechou com chave de ouro o óbito por vergonha de Daphne. A garota soltou uma risada envergonhada enquanto balançava a cabeça e ouvia Charles repreender a mais velha. Sorte a dela já estar atravessando o mar de pessoas para longe e não ouvir o filho resmungando malcriado.
— E então...? — o homem virou-se para a loira novamente.
— Eu preciso ficar por aqui... Tenho que-
— Não se preocupe! — Cecilia a interrompeu levantando as mãos, fazendo-os olhar para ela ainda atrás do estande. — Qualquer coisa eu me passo por você, ou te mando uma mensagem e os enrolo até você chegar. Vá com ele.
— Tem certeza?
— Absoluta, Daph — a mulher sorriu completamente animada com a ideia de talvez futuramente ter um cunhado famoso.
— Certo. Parece que você ganhou o benefício de tomar um café comigo.
— Eu esperei meses por isso — Charles confessou inerte na atmosfera dela.
— Foi você quem foi embora pela manhã! — ela o acusou mesmo que nunca tivesse mesmo se incomodado com esse fato.
— E você nunca tentou me procurar! — ele a puxou quando começaram a se afastar e procurar um lugar para irem. Logo suas mãos estavam juntas, como se involuntariamente já conhecessem o encaixe perfeito entre si.
— Eu acabei de descobrir seu nome e quem você é!
— Impossível!
— Não me lembro de você ser tão convencido — ela riu estreitando os olhos para mostrar indignação.
— Bom, disso você lembra!? — Charles rebateu a empurrando de leve.
— Tenho quase certeza que em nenhum momento daquela noite nos aprofundamos em assuntos supérfluos como nomes, carreiras e idades — Daphne disse sarcástica trazendo novamente a risada gutural do homem.
— Vamos fazer certo dessa vez — o homem parou à frente dela na calçada e estendeu uma das mãos. — Oi, eu sou Charles Leclerc.
— Daphne Bellini — a garota disse muito séria pegando e balançando a mão dele.
— Uau, você realmente tem um nome bonito. Sobre o meu: nunca pesquise na internet e esqueça tudo o que sabe sobre mim até agora.
— Tudo bem, vai ser fácil. Não sei muita coisa mesmo — ela deu de ombros e retomou a caminhar, deixando o moreno indignado - e rendido - para trás.
E assim emendaram a tarde pela noite, até o dia seguinte e o próximo. Incapazes de se perderem na multidão novamente, conectados pela mais pura e mágica paixão. Seria uma bela história a se contar, ocultando boa parte dos acontecimentos da primeira noite, é claro.
O que veio depois fez a espera valer a pena. Eles poderiam não ter se encontrado novamente, no entanto o destino quis ver o final daquele encontro que não prometera nada mais que diversão para uma única vez. Daphne e Charles tinham assunto e intimidade que talvez um casal com anos de relacionamento não possuíam mais. As coisas simplesmente davam certo entre eles. Nenhum dos dois teve medo de se jogar de cabeça e do quão rápido tudo estava indo; como passar aquele fim de ano juntos, na casa da mãe Leclerc e selando uma relação ainda sem rótulo para quem quisesse ver na mídia.
E o amor cresceu desde então. Daphne não acreditava em amor à primeira vista, para ela, nunca existiria. Mas o que vivia com Charles, colocava tudo isso à prova o tempo todo. Tudo o que ela acreditava ou desacreditava. Eles nunca superariam um ao outro, porque aquela intensidade só podia ser coisa do outro mundo. O tipo de verdade e magia que filmes de romance pregam. Charles e Daphne tiveram a sorte grande de serem os prova real deles.
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amamos ver o clima natalino por aqui, não é? eu, charles e daphne desejamos um feliz natal para todos vocês!! ❤❤
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