𝗧𝗔𝗞𝗘 𝗖𝗔𝗥𝗘 | 𝗕𝗖𝟮𝟭
Jogadores de alto rendimento, essenciais para a composição tática de um time e que se mantinham na linha não estavam livres de passar por maus bocados durante a temporada. Fosse expulsões, má fase ou lesões, qualquer coisa que tirava a confiança de um atleta para entrar em campo, afetava o psicológico severamente.
Depois de quatro semanas em observação, o departamento médico do Chelsea estava certo de que Ben Chilwell não conseguiria voltar a jogar se não passasse por uma cirurgia para reparar o tendão de aquiles. Se ele já estava frustrado com as dores e a distância do campo, essa notícia serviu para triplicar o sentimento de incapacidade.
Samantha estava sendo o mais apoiadora possível durante todo o processo, trazendo palavras de consolo e formas de deixar o namorado mais confortável com sua situação delicada.
Quando Ben recebeu alta do hospital, foi Sam que o levou para casa. Ele foi recebido por um café da manhã especial, um banho de banheira merecido desde que não teve esse privilégio durante a estadia no hospital e o canto do sofá em L separado somente para ele.
Ambos estavam cientes de que a recuperação era tão importante quanto a cirurgia e que as próximas semanas seriam decisivas para determinar o tempo e o ritmo da volta aos treinos. O médico estava otimista, o procedimento foi feito sem maiores complicações e que isso garantia ao jogador a despreocupação com o pós-operatório.
Sam não estava tão confiante sobre isso, sua preocupação se negava a permitir que Benjamin levantasse um dedo se não fosse preciso.
Ben estava indiscutivelmente cansado após dias mal dormidos no hospital, então Sam o deixou cochilar no sofá, colocando uma coberta por cima de suas pernas e abaixando o volume da televisão. Enquanto arrumava o resto da casa, ela ligou para os familiares do namorado para informar o estado de saúde dele, mencionando que Chilly ficaria feliz de receber visitas já que fazia algum tempo que não os via. Ao ligar para os amigos mais próximos, eles também marcaram de ir visitar o jogador.
Parte dela estava um pouco preocupada que Ben estando muito exausto, não fosse realmente querer visitar. Mas à medida que os dias passavam e as pessoas iam vê-lo, ele ficava mais calmo e grato pela preocupação de amigos e familiares.
Na manhã do dia em que completou a primeira semana de cuidados incessantes e medicamentos tomados na hora certa, Chilly acordou um pouco mais disposto. A fisioterapia começava naquele dia e ele estava ansioso pela chegada do médico que trazia sua esperança de voltar ao campo o mais breve possível.
— Como você está se sentindo hoje? — Sam perguntou suavemente.
Ele ainda não conseguia subir as escadas e mesmo que a mulher tivesse insistido em ajudá-lo a chegar em seu quarto, o jogador preferiu dormir no sofá da sala de estar. O acolchoado era tão confortável quanto o colchão Tempur-Pedic da cama, ele afirmava.
Sam não gostava de dormir sozinha – ainda que os dois ainda não morassem juntos, ela passava a maior parte do tempo na casa dele –, mas também ficava preocupada em machucá-lo durante a noite caso dividissem o espaço no sofá. Então, ela estava dormindo no quarto lá em cima, mas acordava todos os dias pelo menos uma hora antes do que o namorado.
— Estou bem, obrigado — ele murmurou com a voz sonolenta, mas já acordado o suficiente para olhá-la com admiração e carinho. — Ansioso para começar a fisioterapia.
— Isso é bom. — Ela devolveu o sorriso. — Está na hora de tomar os remédios. Você consegue se sentar sozinho?
Ele sentou-se lentamente, não evitando um grunhindo pelo esforço, o que instantaneamente deixou Sam em alerta e pronta para intervir. A expressão no rosto dele mudou quando a viu preocupada, relaxando os ombros e se afastando antes que ela o tomasse pelos braços.
— Eu estou bem, eu estou bem. — Ele se sentou no sofá corretamente, Sam logo fez o mesmo. — Você tem que me deixar tentar fazer algumas coisas sozinho.
Sam nada disse enquanto tirava os medicamentos da caixinha organizada por dias da semana. Ela estava tão agitada na última semana que não conseguia suportar a ideia de vê-lo sofrendo por fazer as coisas mais simples. Mas ela também não pensou em como aquilo o afetava, como trazia a sensação de inutilidade e de que estava sobrecarregando-a.
— Ver você sentindo dor até para sentar não me ajuda muito a deixar que faça qualquer coisa sozinho — ela murmurou ao passo que ele engolia as pílulas e devolvia o copo de água para a mesinha de canto do sofá.
— Você pode pelo menos tentar?
Contrariada, ela assentiu e se levantou para guardar os medicamentos, deixando também o copo na pia da cozinha.
Como havia dito, Chilly tentou caminhar até a mesa do café da manhã sozinho. Era doloroso, mas também muito libertador não ter alguém o segurando o tempo todo como se fosse um bebê que ainda não andava sem apoio. Infelizmente seu joelho discordava e com um tremor de fraqueza, fez o jogador cair. Por estar perto da mesa, ele conseguiu se lançar sobre uma das cadeiras do conjunto antes que fosse parar no chão e machucasse ainda mais o joelho.
— Ben! — Sam gritou com exasperação, correndo para alcançá-lo.
— Eu estou bem — ele respondeu, se equilibrando na cadeira.
— Não, você não está! Você quase caiu sobre seus joelhos, Ben. Já pensou o que poderia ter acontecido? Você teria se machucado mais ainda! Está tentando atrasar a sua recuperação? É só dizer. Deixa o médico saber que-
Chilwell puxou o braço para trás com tudo quando ela ia ajudá-lo a sentar-se à mesa. O choque do gesto a fez dar um passo para trás e se equilibrar nos calcanhares enquanto ele se jogou na cadeira com um gemido de dor.
— Mas eu não caí e não me machuquei! — A voz dele era cortante de tão fria. — Porra, quantas vezes vou ter que dizer que estou bem? Me deixa respirar em paz por um minuto.
Nenhum dos dois disse mais nada por um minuto inteiro. Parecia que ambos tinham que ficar imóveis para absorver o acontecido. E enquanto Ben se apossava de constrangimento e arrependimento por sua rudez, Sam já estava correndo escadas acima com lágrimas escorrendo por suas bochechas.
Isso aconteceu poucos minutos antes da campainha da casa soar, anunciando a chegada do fisioterapeuta. Sam não quis saber como Benjamin fez para receber o médico e se manteve trancada no quarto por toda a duração da consulta – a qual o jogador não rendeu desde que estava mais preocupado com o estado da namorada.
Ela estava chateada demais para entender o lado do jogador enquanto ele já estava sofrendo por achar que ela iria juntar suas coisas e passar pela porta de saída a qualquer momento. Esse pensamento não passou um segundo sequer pela cabeça dela, mas quando seu celular foi bombardeado por mensagens do namorado, Sam estava pronta para descer e jogar algumas verdades na cara dele.
Ben engoliu um grunhido quando se ajeitou no sofá ao ver a namorada descer as escadas. Seu coração se afundou no peito ao vê-la com os olhos vermelhos e o rosto expressando tristeza, sentimento que ele tinha grande culpa em fazê-la estar passando.
— Desculpa. Eu não deveria ter falado com você daquele jeito — ele disse, quando Sam ainda estava no antepenúltimo degrau da escada. — E eu não estou nada além de grato por tudo o que você tem feito por mim essa semana. Você abdicou de trabalhar, de estar na sua casa e até de sair para pegar um sol na varanda para se dedicar a mim em tempo integral. Eu não poderia ser mais sortudo por ter você ao meu lado e estou sendo um babaca por causa das minhas próprias frustrações, que nada tem a ver com você. Desculpa, mesmo.
— Se você gritar comigo de novo, eu saio por essa porta e não olho para trás.
— Fechado. Você pode dar um tapa no meu joelho bichado se isso te fazer sentir um pouco melhor.
Sam riu porque céus, quem conseguia ficar brava com aqueles olhinhos de cachorro-caído-da-mudança e sorriso encantador?
— Eu não quero te dar um tapa... Bem, talvez eu queira, sim, mas isso é maus tratos aos enfermos. — Ela sentou-se ao lado dele no sofá. Ben passou um dos braços pelos ombros dela. — Desculpa por-
— Você não tem nada pelo que se desculpar, meu amor. — O sotaque acentuado de Chilwell estava bem próximo ao ouvido dela. — Tudo o que fez foi me ajudar e tentar me proteger de uma queda feia.
— Mas eu entendo que você se sinta oprimido por tanta ajuda e proteção.
— É as consequências de ser um velho inválido.
— Não diga isso. — Ela já estava rindo quando ele cutucou sua barriga.
— Você gosta de ser cuidadora de um velho inválido desses, é?
— Vou gostar mais quando sua mãe depositar o meu dinheiro.
— Outch.
Sam sorriu e se aproximou do abraço confortável do namorado, deitando-se sobre o peito dele para receber um beijo demorado na cabeça.
— Como você está? — ele perguntou.
— Eu? — A pergunta pegou Sam de surpresa, fazendo-a se levantar para encará-lo.
— É, você. Todo mundo sempre pergunta como eu estou, mas estamos esquecendo que é você que tem se deixado de lado para garantir que eu esteja bem.
— Oh. — Ela sentiu o coração aquecer com a preocupação dele. — Eu estou bem. Meu paciente não tem sido um dos mais calmos e fáceis, mas eu estou aprendendo a lidar com ele.
Ben se inclinou para beijar os lábios da namorada, sentindo o sorriso dela crescer sobre o seu. Ela colocou a mão sobre o peito dele e foi como sentir as emoções ligadas ao amor correndo em suas veias.
— Eu amo você. Muito, do tamanho da minha impertinência — ele disse, segurando o rosto dela próximo ao seu.
— Uau, você me deve amar muito mesmo, porque do jeito que é ranzinza... — ela implicou bem-humorada. — Eu também amo você, Benjamin Chilwell.
— Ah, é? Você me ama o suficiente para dormir comigo essa noite sem se preocupar em me machucar, Samantha Howard?
— Isso é chantagem, não amor!
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