O relógio marcava exatamente 22:47 da noite. Lando observava os segundos virarem minutos deitado na cama do quarto de hotel que dividia com a namorada, Nadine. Ele deveria estar a alguns quilômetros daquele hotel, na festa que celebrava o lançamento do novo filme protagonizado pela namorada, mostrando apoio e orgulhoso pelo trabalho impecável da filipina. Mas mordido de ciúmes por Nadine contracenar com seu ex-namorado no longa metragem e receber elogios sobre a química entre eles dentro e fora das telas, Norris decidiu ir embora mais cedo, torcendo para que a jovem não tivesse notado sua partida. 

Mas ela notou. E estava furiosa. Infelizmente - ou não - ela era a estrela da noite, o que não a permitia largar tudo para trás e ir descascar pepinos em cima do namorado. Então, Nadine Halina colocou o melhor sorriso no rosto e tentou aproveitar o resto da noite como deveria, feliz pelo seu desempenho e sucesso na carreira que escolheu seguir. 

Nova York estava agradavelmente fria naquela noite, mas Nadine dispensou o casaco de pelagem que o motorista a estendeu enquanto saia do carro à frente do hotel. Tinha bebido na festa alguns shots de tequila que ainda queimava em sua garganta, bem como a raiva ainda latejava por seus poros, e isso não a permitia sentir o frio de fim de ano do lugar. 

Lando tinha se desfeito dos sapatos, da gravata e do paletó, mas a camisa social branca com os primeiros três botões abertos e a calça de alfaiataria azul escuro ainda estava em seu corpo. Deitado sobre a cama com uma perna dobrada e um braço por debaixo da cabeça, ele estava tão lindo quanto no começo da noite. Nadine teria ficado ruborizada com aquela imagem se já não estivesse, mas por outro motivo, um bem ruim.  

— Oi, amor... — ele disse, pausando o filme que nem prestava atenção.

— Corta essa! — falou furiosa enquanto tirava os saltos finos e vermelhos dos pés, se segurando para não jogá-los no namorado. 

A cor dos lábios combinava com os sapatos, mas o vestido de manga sino e transparente, cintilava em prata. Ela usava peças íntimas da cor de sua pele, deixando o look sexy na medida certa. Lando a ajudou a vesti-lo mais cedo, fazendo um monte de piadinhas sujas sobre como queria se livrar dele no pós-festa; o que não aconteceria como planejado. Nadine agora o achava desconfortável, quase não conseguia se mexer dentro dele e estava agoniada por não conseguir alcançar o zíper invisível no meio de suas costas.

— Você prometeu que não faria uma cena, Lando. E você fez! Uma pior do que eu achei que seria capaz de fazer. Ter ficado lá, mesmo que emburrado, teria sido melhor do que não estar lá quando começaram a te procurar para tirar fotos comigo — a garota despejou a frustração sobre o namorado se aproximando da cama. 

— Eu não podia ficar lá parado ouvindo aquelas pessoas dizer o quanto vocês combinam — Lando fechou a cara, respondendo com a mesma seriedade. — "Oh, como vocês não estão mais juntos? Parecem perdidamente apaixonados!"

— Essa é a porra da intenção de uma atuação. Não acredito que vai me fazer te explicar o conceito de cinema — rebateu, indignada com o que ouvia. 

Nadine se deixou cair sentada sobre a cama, enquanto via Lando se levantar, começando a andar pelo quarto impaciente. A morena ainda lutava com o zíper de seu vestido, mas seus dedos pareciam simplesmente escorrer dali.

— E toda risadinha, a mão na cintura, a conversa ao pé do ouvido? Tudo faz parte da atuação? — questionou o piloto levando as mãos ao cabelo.

— Faz parte da promoção do filme. Se não parecermos entrosados fora da tela, isso diminui a expectativa das pessoas de assistir o que fizemos, sabia? 

— Ele é a porra do seu ex-namorado.

— Exatamente! Ex! — a garota quase gritava ao abrir os braços para extravasar o clima tenso da conversa.

— Que passou mais tempo com você no último ano do que eu pude! 

Foi aí que Nadine entendeu. Lando estava inseguro, o que impulsionou o ciúme. Era verdade, o longa demorou a ser concluído porque se passava em muitos lugares diferentes, então entre gravações, regravações, viagens e pausas por conta da pandemia, foram quase seis meses. E ela não podia negar que passar aquele tempo com Ben depois de dois anos separados - e brigados - tinha criado um novo vínculo, a amizade. Quando foram escalados para os papéis principais, Nadine pensou em desistir da trama para não ter que aturar o ex-namorado. Foi Lando que a incentivou a fazê-lo e mostrar que era sim profissional. 

Os anos da relação intensa e de altos e baixos de Ben e Nadine, mais a separação brutal, não significavam nada para ela quando tinha agora um novo relacionamento, muito mais saudável e firme. Naquela noite, foi a primeira vez que ela duvidou do amor e da durabilidade do seu romance com o piloto. 

— Não é minha culpa. Você está sendo injusto — Nadine dizia com a voz tremida. Lando sentiu o coração apertar dentro do peito.

— Eu estou? Você o odiava há poucos meses atrás e agora parece ser a melhor amiga e ex do cara. O que nesse processo eu perdi? — ele esbravejou segurando o nó que também crescia em sua garganta. 

— Eu te disse que a gente tinha acertado as coisas! 

— E eu ouço e vejo todos ao redor dizendo como você sempre vai amá-lo porque superou as coisas e voltou a se conectar com ele! 

— Quem diz isso!? — Nadine pergunta visivelmente confusa. 

— Todo mundo! Olha... — Lando alcançou o celular na mesinha de cabeceira para mostrar os comentários mais recentes em suas redes sociais. A última foto no feed de Nadine era uma ao lado de Ben, promovendo o romance que estrearam. Nem ao menos havia sido ela a postar ou escrever a legenda daquilo. 

— Lando, eu não passo o meu tempo vendo tudo que falam sobre mim na internet. E nem quero. Isso fodeu comigo uma vez, lembra? — ela respirou fundo, prendendo novamente o choro. — Eu não levei quase um ano para me acostumar com a ideia de assumirmos nosso namoro publicamente à toa. Eu tinha medo por você, por mim. Deixei as redes sociais ainda mais de lado quando veio à público, porque eu não passaria de novo pelo que passei com Ben — Nadine mostrava sua vulnerabilidade e honestidade, tentando destruir qualquer insegurança que se instalara no coração do namorado. — Perdão é uma dádiva, que quando entendi e a aceitei, finalmente me libertei desse passado conturbado e pude recomeçar com Ben. E o que nós temos hoje é apenas amizade e respeito, entende? Não importa o que as pessoas falam quando eu sei o que sinto e por quem sinto.

— Me desculpa... — Lando amoleceu, sentando na cama ao lado da namorada e deixando o celular para lá. — Às vezes eu queria ser mais parecido com você. Mas eu simplesmente não consigo ignorar quando falam de quem eu amo. 

— E às vezes eu gostaria de ser mais parecida com você. Ter coragem de rebater todos os comentários negativos e falar sobre saúde mental abertamente — ela citou o tópico do qual costumava fugir em entrevistas. 

— Você é honesta com quem importa, e não precisa provar nada para o resto. 

— Sinto que deveríamos ter conversado sobre isso antes — a morena soltou uma risadinha, voltando a perturbar o zíper do vestido. 

— "Ben" não é meu assunto preferido para conversas — Lando arriscou fazer uma graça e notou o incômodo da namorada, a abraçando e levando sua mão até o alto das costas dela, e a desceu trazendo o zíper junto. 

Nadine respirou aliviada, deixando as mangas escaparem de seus ombros. Sussurrou um obrigada e abraçou o tronco disponível do namorado, encostando a cabeça no peito dele e escutando as batidas ritmadas de seu coração. 

— Eu amo você. Não quero que pense que estou duvidando de seus sentimentos ou fidelidade a nós, eu só...

— Eu entendo. Mas quando tivermos um problema, saiba lidar com ele ao meu lado, não fuja...

— Tudo bem, me desculpe por hoje — Lando beijou a bochecha da namorada. — Podemos falar o quanto você está sensacional nesse filme?

— Você viu aquilo!?

— Eu não aceito menos que 100% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes.

— Lando Norris, o crítico de cinema — Nadine soltou uma risada passando os braços sobre os ombros do garoto.

— Só dos filmes em que minha namorada está sendo uma genial atriz — ele disse deitando Nadine no colchão, prendendo o corpo contra o seu. Sua expressão voltou à seriedade enquanto ele acariciou o rosto dela com a ponta dos dedos. — Estamos bem?

— Estamos ótimos — ela garantiu antes de resmungar frustrada. — Por favor, chega de conversa fiada. 

Lando não teve tempo de pensar muito, logo os lábios da morena estavam colados aos seus. Ele passaria o resto da noite seguro de que era o único no coração e mente de Nadine, e queria essa certeza para sempre.

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race week vindo aí e eu só penso em uma coisa: lando norris no pódio. juro pra vocês que é o meu pedido para o papai noel esse ano