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Katrina Joane Finkel-Vettel

À medida que fui crescendo, vi meus pais cometerem erros que os tiravam do pedestal de perfeição que minha mente de criança os colocava. 

Aos dezoito anos, minha mãe tinha acabado de ingressar na faculdade de Literatura e meu pai estava cada vez mais próximo da tão sonhada vaga na Fórmula 1. Eles eram novos demais e o relacionamento já estava gasto demais por conta das mudanças em suas respectivas vidas. Eu nasci na primavera de 2005, e costumava ouvir de meus avós que apesar das circunstâncias, fui tão desejada desde o momento da descoberta tal como a estação do recomeço. E por isso Sebastian e Ursula decidiram tentar fazer dar certo, casaram-se em dezembro do mesmo ano e dividiam o tempo entre criar uma filha, estudar e pilotar carros velozes ao redor do mundo. 

Mas eles falharam inúmeras vezes, comigo, com o casamento e com si mesmos. Eu era muito nova para me lembrar de todos os detalhes, mas se fechasse meus olhos e me concentrasse nas memórias guardadas no subconsciente, ainda conseguia ouvir as discussões sussurradas e sentir o clima de divórcio pairando sobre a casa. Parte da minha infância passei amargurada por não ter pais normais como meus colegas da escola tinham. Essa parte desejava ter nascido em uma família diferente, onde minha mãe não fosse frustrada emocionalmente e meu pai omisso quando não se tratava do trabalho. 

Quem pediu o divórcio foi a minha mãe, quando eu tinha seis anos e já sabíamos que ela tinha conhecido outra pessoa. Ursula Finkel havia me dado o melhor - ou pior, ainda não consigo decidir - traço de sua personalidade: a transparência. Ela simplesmente mostrava não amar meu pai como antes ou prezar por sua relação quando esperava que ele terminasse tudo há algum tempo. 

Meu pai estava no auge da carreira. No ano anterior, Sebastian Vettel foi o nome mais popular no automobilismo após se tornar pela primeira vez campeão mundial de Fórmula 1 e ainda sendo o piloto mais novo a ganhar na categoria de todos os tempos. Mesmo assim, tudo o que envolvia minha família ficou longe da mídia. Ele sempre nos preservou de exposição, o que certamente me livrou de traumas maiores porque veículos de notícias podem ser muito cruéis com figuras públicas, como eu mesma descobri tempos depois. 

Depois do divórcio, mamãe e eu fomos para Cochem, um pequeno vilarejo no sudoeste da Alemanha onde ela nasceu e cresceu. A vida lá era simplista e sossegada, daquelas em que os dias são quase todos iguais e todos te conhecem pelo nome. Mas os dias de calmaria de minha mãe não duraram muito, pois aos oito anos decidi participar de campeonatos de kart. Ganhei o primeiro kart do meu pai, aos quatro anos, porém não parecia tão interessada em realmente correr até Michael Schumacher me presentear no meu oitavo aniversário com um kart feito por ele mesmo.

Depois de ter sido campeã da Fórmula 4 Alemã, 2021 veio para celebrar minha temporada de estreia na FRECA. Eu tive ótimos resultados em campeonatos regionais anteriores e estava ansiosa para pilotar a nível mundial, caso conseguisse um lugar na W Series e futuramente, com muita esperança em igualdade na categoria, na Fórmula 1. 

Estávamos em Mônaco para a terceira etapa do campeonato, e era a primeira corrida das duas que tínhamos a completar. Sentada dentro do cockpit, eu via meu pai perto do meu engenheiro, conversando de forma alheia ao que acontecia ao redor. Sabia que estavam discutindo as melhores estratégias para a pista e no que eu deveria prestar mais atenção naquele circuito de rua. 

Era engraçado ouvir por terceiros como eu era sortuda por ter Sebastian Vettel como meu mentor e pai. Alguns dos pilotos que eu enfrentava - e normalmente vencia - diziam às minhas costas que minha participação ali era puro nepotismo. Antes mesmo de entender exatamente o que o termo significava, eu sabia que seria melhor usar o sobrenome de minha mãe para evitar que comentários daquele tipo fossem feitos, mas em geral não adiantou de muita coisa. E como forma de ironizar todos que tentavam fazer intriga com minha escolha de nome, papai confeccionou moletons com o número do meu carro e 'Katrina Finkel' estampados e distribuiu para toda minha família e equipe. Ele fazia questão de usar em todas as minhas corridas. 

Acho que se soubessem a pressão que eu fazia em mim mesma por ser filha de quem era e para ganhar em tudo que me propusesse a tentar, talvez não precisariam se esforçar tanto em me pressionar também. 

Minha mente desligava de todos esses pensamentos quando o motor acelerava na linha de largada. Era apenas eu e meu carro, ultrapassando os outros até chegar na mais alta posição que conseguíssemos. No simulador, mais cedo naquele dia, meu pai havia me orientado sobre o controle maior que as curvas do circuito exigiam, onde precisava acelerar o máximo que pudesse em uma e já estar preparado para diminuir na próxima. Mas, na sétima volta, na curva final, perdi o controle quando forçava para manter minha posição com um adversário quase roda à roda comigo. A última coisa consciente que me lembro de fazer foi tentar desviar do carro à frente que estava a menos de um segundo de mim, mas acabei sendo acertada pelo de trás e... Tudo se apagou. 

Fiquei inconsciente por todo o tempo que levaram para que eu fosse tirada do carro, o que segundo meus pais me contaram depois, foram minutos de agonia por todo o paddock. Não demorou para que eu fosse levada ao hospital e recebesse atendimento, que contaram com muitos exames neurológicos. Os médicos adoraram meu senso de humor ao perguntá-los vez ou outra qual era dia e o ano que estávamos. Acho que coloquei terror em três enfermeiras e na minha mãe no processo. 

Felizmente o que de mais grave ocorreu foi o pulso direito quebrado e o pescoço dolorido. Os outros dois pilotos envolvidos no acidente também tiveram ferimentos leves, um deles chegou a ser atendido ainda no paddock e não viram necessidade de trazê-lo para o hospital. 

Estava prestando atenção na gota que não parava de pingar dentro do saquinho de soro no suporte que se conectava por um fio ao meu braço quando senti a presença de alguém no quarto, sentando-se na poltrona próxima a cama. 

— Oi — disse antes de virar o rosto e me deparar com a figura cansada do meu pai.

— Oi, mein kleiner— ele respondeu com um sorriso terno. — Eu avisei a eles que nem mata leão é capaz de te fazer desligar.

Trocamos uma risada ao perceber que o remédio que deveria me fazer dormir após as horas recomendadas não estava fazendo efeito. Eu lidava com a ansiedade há alguns anos e a maioria dos medicamentos calmantes haviam perdido efeito no meu organismo. Acho que era uma pontinha dela que não me deixava descansar naquele momento.

— Eles deveriam me dar alta logo. Estou completamente bem — falei enquanto ajeitava minhas costas na cama para deitar a cabeça no travesseiro. 

— Só depois da observação de 24h — meu pai argumentou apontando o dedo para a prancheta na porta do quarto. 

Sebastian soltou um longo suspiro e apoiou-se nos joelhos, entrelaçando os dedos de suas mãos ao me olhar de lado. 

— Acho que nunca havia me sentido tão amedrontado como no dia que te segurei no colo pela primeira vez. Na época, eu já dirigia carros que podiam chegar a quase 200 km/h e ainda assim, nada me deixava mais apavorado do que ver você pequenininha e ter que pegá-la com o maior cuidado do mundo. De início eu insisti que só seguraria você quando estivesse sentado, mas logo na primeira noite em casa, sua mãe me fez te dar banho — Sebastian sorriu com os olhos marejados pela lembrança. — Ainda bem que você era uma bebê calma porque seu velho aqui quase teve três infartos no processo e se você chorasse, eu provavelmente choraria junto. Depois, quando você tinha por volta dos três anos e foi internada com pneumonia, juro por Deus que eu quase entrei na cabine do avião e assumi o lugar do piloto para tentar voar mais rápido do Canadá para a Suíça. Fiquei muito apreensivo enquanto estava longe e mais ainda depois que cheguei e te vi grudada naqueles fios e um respirador... Desejei nunca mais sentir aquele medo novamente.

Fechei os olhos por alguns segundos, me recusando a continuar vendo a expressão de tristeza do meu pai. Eu tinha uma saúde muito frágil quando criança e por estar longe grande parte do ano, papai às vezes era impedido de voltar para casa quando eu adoecia por acontecer com frequência. Ele me contou da vez que pegamos catapora juntos durante uma de suas férias de verão e que aquele período tinha sido um dos mais próximos que tivemos durante minha infância.

"Eu não sentia minhas pernas, ou minhas mãos ou ouvia as vozes das pessoas ao meu redor quando o acidente de hoje aconteceu. Enquanto não te vi abri os olhos, meu coração parecia ter parado. Mas, não estou te falando nada disso para fazer você desistir do automobilismo, até porque seria muito hipócrita da minha parte. Além disso, filha, você é a garota mais corajosa e forte que conheço, não precisa da aprovação ou desaprovação de ninguém para continuar indo atrás de seu sonho. Então, eu só... Só quero que saiba o quanto me orgulho de você, o quanto amo você e como sinto muito pela distância que deixei ser criada entre nós dois. Sinto muito pelas vezes que faltei como seu pai, como seu amigo. Sei que nos últimos anos evoluímos como pai e filha, e não apenas por conta do automobilismo, o que é ótimo. Mas a parte da sua infância onde fui ausente, omisso e medroso demais para me aproximar por não querer errar com a garotinha mais importante da minha vida, ainda me assombra e eu..." 

— Pai — disse com a voz baixinha, mas conseguindo chamar sua atenção. — Fui meio dura com você ao longo dos anos também, não é só sua culpa. Mas tivemos nossos momentos. Lembra quando você ia para Cochem e fazia todas as vontades que mamãe me negava? O balanço no quintal, os sorvetes quando estava resfriada, o Orion... — sorrimos ao citar o cachorro que fiz ser de toda família, inclusive dos meus irmãos por parte dele e de minha mãe. — E no dia da profissão na escola! Não que na época eu fosse tão metida assim, mas era ótimo poder te apresentar como o meu pai, mesmo que as crianças não soubessem direito quem você era, e me vestir como piloto de corrida. 

Sebastian balançou a cabeça rindo quando joguei o cabelo para o lado, fazendo a encenação de como me senti adorável naquele dia.

— Ainda carrego a foto que tirei de você vestida de mim nesse dia, sabia? — ele tirou a carteira do bolso e abriu, mostrando-me a imagem um pouco gasta no compartimento transparente do objeto. 

— Eu era adorável — respondi com os olhos voltando a arder por conta das lágrimas. 

Ele guardou novamente a carteira e ficou em silêncio me observando. Eu sorri e o chamei para sentar próximo a mim na cama reclinável e aquecida do hospital. Era extremamente luxuoso tudo ali, assim como todo o resto de Mônaco, mas eu não diria em voz alta que estava gostando da mordomia porque não era o melhor ambiente para se estar. Papai deu a volta para sentar do meu lado esquerdo, para evitar esbarrar no pulso quebrado. Sempre cauteloso. 

"You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are gray"

Papai quebrou o silêncio depois de um tempo. Ele fazia um carinho singelo no meu cabelo, afastando-o do meu rosto enquanto sussurrava a música que cantava para me fazer dormir quando bebê ou quando o acompanhava nas corridas e ficava triste por estar longe da minha mãe. 

"You'll never know dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away"

Toquei o cordão que eu nunca tirava cujo pingente era a palavra sonnenschein gravada em dourado no meio da fina corrente. Sebastian havia me dado de presente no natal de três anos antes, que fora de longe o mais festivo para mim já que estavam todos lá, meus pais, minha madrasta, meu padrasto e meus meios-irmãos, como a grande e saudável família que eu finalmente tinha.

"You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are gray
You'll never know dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away"

Cantei pela segunda vez junto com ele e vi uma lágrima solitária despencar de seus olhos azuis. 

— Era o que pensávamos durante aqueles minutos de angústia — Ursula disse com a voz embargada encostada na porta do quarto, levando nossos olhares para ela. 

— Eu não vou a lugar nenhum, mamãe — avisei chamando-a para se aproximar. 

Ela me envolveu com os braços, passando-os pelos meus ombros, puxando também meu pai para se juntar ao abraço desajeitado e cuidadoso. Suspirei aliviada, encostando a cabeça no trondo dela e fechando os olhos ao sentir meu pai acariciar minhas costas. 

Meus pais não eram perfeitos, e talvez nunca conseguissem ser, mas fizeram de mim a melhor versão deles. A que sabia perdoar, que foi ensinada a ser gentil, que não desistia quando uma adversidade aparecia e que era forte por natureza. E eu fiz deles pessoas melhores também, porque isso era ser família para nós. 

No dia seguinte, a corrida de domingo foi inteiramente dedicada a mim. De alta do hospital, mas sendo ainda muito vigiada por minha mãe, pude ver meu pai extrair tudo que podia do carro da Aston Martin e usar sua habilidade naquele circuito para conseguir um quinto lugar no final e garantir seus pontinhos na tabela do campeonato. Ficamos muito felizes com o resultado, era o melhor que ele havia conseguido pela nova equipe até aquela etapa da temporada, mas também pelo significado do número cinco. 

Quando a FIA permitiu que os pilotos escolhessem os números para representá-los em 2014, papai não teve segundos pensamentos sobre qual seria o seu. Cinco era o último dígito do ano do meu nascimento, o dia do aniversário de minha mãe - 5 de maio -, e a idade que eu tinha quando ele ganhou seu primeiro campeonato pela Fórmula 1. A homenagem me impressionava toda vez que eu pensava nela. Era tão simples mas tão grande e honesta.

Sebastian Vettel me ensinou o significado das coisas mais importantes da vida, sendo o exemplo ele mesmo. Ele seria para sempre o meu grande exemplo. 

🏁

Cochem: é uma cidadezinha com pouco mais de 5.000 habitantes, localizada ao sudoeste da Alemanha no distrito de Cochem-Zell no estado da Renânia-Palatinado.

FRECA: o Campeonato de Fórmula Regional Europeia pela Alpine, é uma categoria de monopostos disputada em carros da Fórmula 3 que é realizada ao redor de toda a Europa.

W Series: é um campeonato de fórmula exclusivo para mulheres. A primeira temporada da série foi realizada em 2019 e contou com vinte pilotos disputando seis corridas.

Mein kleiner (alemão): minha pequena.

Sonnenschein (alemão): luz do sol.

a

cho que é a segunda ou terceira vez que menciono corridas em Mônaco aqui, talvez porque é meu circuito favorito sim ou sim?

vou admitir aqui que esse é provavelmente meu conto favorito. não consegui fugir da realidade e quando vi, já estava escrevendo algo semelhante a relação que tenho com meu pai. espero que tenham gostado dessa história que significa muito para mim ❤

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