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CAPÍTULO 8: "Você acha que um urso pode estar atacando as pessoas..."


Já é tarde da noite. Wani, apesar da conversa, continuava sendo muito amistoso conosco pelo resto da noite, talvez apenas por causa de Susie. Conversas, risadas, não tocou-se mais no assunto dos garotos desaparecidos. Tentamos ser mais descontraídos falando sobre outras coisas, contando piadas, mas, nos intervalos de silêncio quando ninguém estava falando, o ar estava pesado, o clima, um tanto tenso.

Wani nos deseja uma boa noite, ao que todos nós respondemos. O velho nativo recolhe-se.

Mikasi pede-nos para falarmos agora mais baixo:

- O velho acorda mal-humorado quando não dorme direito.

Seguimos o conselho e conversamos em um volume mais contido. Em uma pequena mesa na varanda estão Susie, Mikasi e Matt conversando descontraidamente, falando sobre suas infâncias, Mikasi está contando coisas de quando Susie era pequena... conversa agradável. Remo, no outro canto da varanda olha para o nada, talvez para a floresta que é bem próxima e se estende até onde o olho pode alcançar, mas a esta hora, mesmo com toda sua imensidão, ela não o passa de uma mancha negra na noite. Ele fuma, parece estar com o pensamento muito longe daqui. Não pretendo lhe dirigir a palavra, mas esperava que como líder ele devesse estar falando conosco a respeito de como será o próximo dia, que horas sairemos, que equipamentos levaremos, qual o tipo de atividade faremos amanhã, mas, nada... nenhuma palavra. Acho que nem ele ainda sabe ao certo o que faremos, de fato, amanhã.

Diego senta ao meu lado no chão da varanda e pergunta:

- O que você acha?

- De quê?

- De tudo isso.

- Não sei, na verdade nem estava pensando nisso agora.

- E estava pensando em quê?

- Em casa, na minha família. Acho que já comecei a sentir saudade. A esta hora meu filho deve estar dormindo, Barbara talvez esteja assim como eu, olhando para o céu... para a lua e as estrelas, imaginando o que estarei fazendo agora. Uma droga o sinal de celular ser tão ruim aqui, o meu ainda está fora de área.

- Acho que estamos longe de tudo mesmo, afinal. Amanhã vou tentar falar com minha família novamente, até agora não consegui sinal também.

- Será que o McAlister não vai dizer nada?

- Sei lá, esse cara é imprevisível. Você acha que um urso pode estar atacando as pessoas na floresta?

- Não sei Diego, parece o mais provável, mas, tudo nessa história beira da loucura ao improvável. No fim das contas Remo pode estar certo. O garoto teve um surto psicótico, entrou na floresta e se tornou alvo fácil para algum predador. O garoto da aldeia pode ter sido atacado por algum animal selvagem também, talvez até um urso mesmo, um urso como qualquer outro. Não vai ter urso psicopata nem monstro nenhum.

- Isso seria bom, quer dizer, não que seja bom...

- Eu entendi, nos daria a normalidade para trabalhar por aqui. Mas para isso teriam que achar os restos mortais de pelo menos um dos garotos.

- É. E será que vamos ajudar nas buscas amanhã? Seria bom para conhecermos o local melhor.

- É mesmo, um reconhecimento do local.

No fim, não tenho outra alternativa senão falar com ele:

- Ei, McAlister, o que você acha de...

- Vamos fazer isso mesmo – interrompe ele – quero saber onde começar a filmar, vocês ajudam e eu vou bolando a estratégia de que lugares são os mais promissores. Além disso, essa busca pode render uma boa segunda história.

Eu e Diego olhamos espantados um para o outro. Ele estava nos ouvindo? Convenhamos, pelo menos um bom ouvido ele tem.

- Melhor falarmos mais baixo a partir de agora. – Eu digo.

Conversamos algumas coisas, sem nenhuma importância e fomos nos deitar também, deixamos combinado com Mikasi de nos acordar assim que ele levantasse, a fim de podermos acompanhá-los.

- Vai ser fácil acordar todo mundo, é só pular do beliche em cima de vocês. – Ele riu.

- É para acordar a gente e não matar a gente. – Falei. Todo mundo ri, menos ele que ficou me remedando, parecendo uma criança. No quarto, nos acomodamos como já previamente havíamos separado os lugares, de quem dormia aonde. Deitei-me, estava exausto e meus olhos já pesavam implorando por uma noite de descanso. Meu relógio enrosca na coberta e então eu o tiro e coloco-o ao lado do colchão. Ouço o tic-tac do relógio, alguém ainda conversa até que... não vejo mais nada, não ouço mais ninguém.

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