CAPÍTULO 5: "Na verdade... vocês não chegaram em uma boa hora."
Chegamos à vila por volta das dezenove horas, pensei que veria uma aldeia, com cabanas e canoas, mas o que vi foi realmente uma espécie de vilarejo, com casas, algumas até bem grandes, bicicletas, carros, camionetes, acho que vi até um barco a motor em uma garagem. Percebi um certo movimento pelas ruas, algumas pessoas com rifles nas mãos, camionetes passando apressadas, então não pude evitar de perguntar:
- É sempre tão animado por aqui?
Mikasi pareceu um pouco incomodado com a pergunta.
- Na verdade... vocês não chegaram em uma boa hora. - Passaram-se alguns instantes de silêncio e antes que alguém perguntasse o porquê, ele continuou:
- O filho mais novo dos Hudson sumiu há três dias.
- Foi o filho dos Hudson? - Susie perguntou. – Acho que me lembro dele. Era apenas um menino, coitadinho. Esquecendo suas superstições, fala sério... será que ele fugiu ou se perdeu?
- Não, não achamos que ele tivesse motivos para fugir e embora teimoso, era muito esperto, duvido que se perderia facilmente. Achamos que foi uma outra coisa.
- Outra coisa? - Indagou Matt.
- Bem... não sei se devo contar isso à vocês, mas vocês vão ficar sabendo de qualquer jeito, não se fala em outra coisa por aqui. – Neste momento percebi que Mikasi e Susie entreolharam-se rapidamente. Ele hesitou por um segundo, mas continuou.
- Josh e mais alguns garotos foram tirar algumas fotos na floresta, vocês sabem... pássaros, esquilos, essas coisas, eles sempre faziam isto, ele tinha ganhado uma câmera nova, estava animado. Mas, voltaram contando uma história estranha.
- Que história? – Perguntei com interesse.
- Quer saber? Melhor não falar nisso agora, vocês da cidade grande não acreditam nessas coisas. Nem minha irmã acredita.
- Que coisas? É sobre aquela lenda? – Quis saber Matt.
Então veio uma das pérolas de McAlister:
- Vai dizer que ele foi comido pelo Pé Grande? - E deu uma gargalhada, o que fez sozinho. Percebendo nosso olhar de reprovação, continuou:
- O que foi? Vocês não têm senso de humor? O indiozinho comido pelo terrível Big Foot!
- Não exatamente. - Continuou Mikasi, que pareceu não se importar com a zombaria de McAlister.
- Como assim, não exatamente? Vocês acham que algum animal pode ter atacado o menino? - Susie perguntou.
- Na verdade todos eles voltaram da floresta.
Ficamos sem entender. Ele continua:
- Só que... estavam apavorados... e Josh Hudson havia surtado. Eles contaram que quando estavam se preparando para retornar para casa, sentiram um forte cheiro de carniça, de podridão, acharam no início que havia algum bicho morto por perto e que devia ser grande, porque fedia muito, mas o cheiro chegou de repente, eles já estavam por ali há algum tempo e não haviam sentindo nada antes. Foi quando resolveram cair fora dali, apertaram o passo para sair logo da floresta, mas então... Josh começou a pirar, dizendo que havia uma voz que falava dentro da cabeça dele, junto com gritos e gemidos, foi o que os garotos contaram. Josh ficou desesperado pedindo ajuda aos outros garotos que começaram a ficar assustados. Então ele teve que ser carregado pelos outros porque caiu no chão e ficou lá esperneando e gritando. Quando chegaram na vila levaram o garoto para a casa dos pais. Ele estava queimando de febre. Tinha alucinações, falava coisas sem sentido. Dizia que tinha alguma coisa o perseguindo, que queria arrastá-lo de volta para a floresta, depois ele começou a dizer que tinha que voltar para a floresta, tanto que teve que ser amarrado com lençóis em casa. Os pais dele ficaram espantados e chamaram o Dr. Mahari, o médico da vila, para ver o garoto. Ele aplicou-lhe um sedativo e então ele apagou depois de alguns minutos. O médico não encontrou nada de errado com ele, além da febre. Deu um antitérmico pro moleque e foi embora. À noite, quando todos dormiam o garoto desapareceu, os pais encontraram a porta aberta. Procuramos por toda cidade e até na floresta, mas, até agora nada. Agora mesmo estão voltando de mais um dia de buscas.
Neste momento vem outra camionete no sentido contrário, Mikasi buzina e ela para, dentro dois homens de meia-idade com aparência indígena e outro mais novo, aparentando uns dezoito ou dezenove anos.
- Encontraram alguma coisa? - Pergunta Mikasi.
Um dos homens da outra camionete responde.
- Não, nada, nem sinal do garoto.
Despedem-se muito brevemente e a camionete arranca patinando os pneus. Nós também continuamos, só que no sentido oposto.
- É... nada dele ainda. Fala Mikasi, o que nós já sabíamos também.
Após meditar brevemente sobre o assunto, me arrisquei a perguntar:
- Vocês já pensaram que pode ter sido algum tipo de rapto, ou sei lá, alguma coisa desse tipo?
- Não, achamos que foi algo bem pior.
- Pior?
Segue-se uma breve pausa:
- Sim, a febre do Wendigo.
- Ah, pára com isso! - diz Susie - Essas histórias do papai eram só pra deixar a gente com medo de ir sozinho na floresta.
Insisti.
- Febre de quê? - Sem ter certeza do que tinha ouvido.
- A febre do Wendigo. Meu pai, meu avô, contavam histórias sobre o Wendigo, mas enfim, até agora eram só histórias, ao que parece coisas semelhantes já aconteceram por aqui, só que foi há muito tempo, sei lá, há uns trinta anos. Ou também... pode não ter nada à ver. Os antigos contam muitas histórias.
Mikasi dá um pequeno sorriso. Ele e Susie entreolham-se, ela parece não gostar do que ele disse.
- Acho que... talvez era só para nos manter na linha, como Susie disse. Olhem, estamos chegando!
Olhamos uns para os outros... no olhar, parece que todos concordamos que deve haver alguma outra explicação para o sumiço do rapaz. Exceto pelo próprio Mikasi, ele é uma verdadeira incógnita sobre em quê realmente acredita. Enquanto ele falava sobre o ocorrido havia muita seriedade em sua voz, mas em seguida sorria e fazia pouco do que havia dito antes, como se quisesse espantar para longe algo ruim.
Mikasi vai adentrando em uma garagem de uma bela casa de madeira envernizada.
- Então... chegamos! - Fala o grandalhão com um ar mais descontraído que minutos atrás.
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