CAPÍTULO 4: "Mikasi!"
Retornamos pela rua, passamos pelo local das laranjas e seguimos até a entrada da via secundária que pegamos.
- E aí? Onde está sua placa, bonitão? – Provoca Susie.
- Tinha uma placa bem aqui! – Retruca McAlister.
- Sei que tinha! – Ela ironiza.
- Eu também vi. – Digo.
- Xiii! Pelo jeito isso é contagioso. – Ela ri sarcasticamente.
Seguimos até um local que parece ser um bom lugar para esperar.
- Meu irmão logo vai estar aqui.
- Ele vai saber onde estamos? – Retruca McAlister.
- Eu disse a ele que estamos próximos de onde encontraram o carro da filha dos Andersen, uma família do meu povoado, nunca acharam a garota, só o carro. Foi mais ou menos por aqui, já tem tempo, uns doze anos, eu era criança na época.
- Definitivamente, este não é um bom lugar para estar. – É a voz de Diego.
- Tomara que ele não demore Susie. Aliás, muita gentileza a dele vir até aqui. – Eu digo.
- Ele sempre me protegeu, desde criança... e papai vai adorar nos ter em casa, ele ficou bem animado quando eu disse que ficaríamos lá, até o carro ser consertado.
- Olha Susie, agradeço a ajuda, mas acho melhor todos ficarmos em um hotel. – Fala McAlister.
Susie cai na gargalhada.
- Hotel? A menos que algo tenha mudado muito por estas bandas, não vamos encontrar um hotel nos próximos trezentos quilômetros. Pelo menos, não um em que você aceite entrar.
- Que doideira foi aquela? – Fala Matt – Sou eu ou mais alguém também achou tudo isso muito estranho?
- Só estranho? Esse dia está entrando para o "top five" piores dias da minha vida. – Eu falo.
- Isso não foi nada! Já passei por coisas muito piores! – Retruca McAlister.
- Tipo o quê? – Susie Pergunta.
- Vou resumir para vocês em três palavras apenas: selva, savana e ártico.
- Ah, o que é isso? Vamos ficar parados aqui mesmo. Conta pra gente! – Eu falo. Susie revira os olhos, ela deve querer me matar, eu apenas sorrio de volta para ela.
- Então está bem, uma vez eu estava na selva boliviana, tentando encontrar anacondas, minha equipe tinha doze pessoas, mais dois guias locais, então...
Reparo que Diego está quieto além do normal... está pensativo, distante.
- O que foi meu amigo? Tudo bem?
Ele apenas balança a cabeça positivamente.
- Tem certeza?
Ele balança a cabeça negativamente.
- Tem algo mal naquela casa.
- Aqueles dois, principalmente o tal do Bernie, são meio malucos.
- Não é o Bernie que me assusta, é a Charlotte.
- Charlotte?
- Sim. Tinha alguma coisa muito má dentro dela. Não sei dizer o quê, mas parecia que ela não tinha boas intenções para nós.
- Bobagem Diego. São só dois velhos morando no meio do nada que ficaram meio pancadas da cuca.
- Pode ser... - Deixo-o com seus pensamentos.
Enquanto isso McAlister continua narrando suas aventuras, como encontraram uma anaconda que havia engolido uma capivara, estava enorme e sonolenta, enquanto que outras quase devoraram toda a sua equipe. Pensei comigo que ele havia assistido muitos filmes, pois aquelas histórias estavam em muito sendo fantasiosas na minha opinião. Dá tempo de ouvirmos várias histórias das grandes aventuras de McAlister, o rei dos locais hinóspitos. Depois de mais algum tempo uma camionete para próximo a nós.
- Alguém aí quer uma carona?
- Mikasi! – Susie dá um salto em direção a camionete e abraça um sujeito parrudo que a tira do chão e a gira no ar com muita facilidade. Sua feição é simpática embora seu tamanho imponha respeito. McAlister já não parece tão grande perto desse gigante.
Dadas às devidas apresentações carregamos a camionete de cabine dupla, parecida com a que estávamos, só que de outro fabricante e aparentemente parece ser mais nova também. Entramos no veículo, tomamos a via secundária e passamos bem na frente da casa onde estava nossa camionete. Estávamos parando para que Mikasi pudesse dar uma olhada, mas Bernie estava tentando abri-la, com o rifle na mão, parou quando nos viu e ficou encarando-nos ameaçadoramente.
- Melhor irmos embora, amanhã peço para o Marc vir até aqui e guinchar a camionete de vocês.
- Melhor irmos mesmo. – Diz Susie.
Tomamos o primeiro desvio para a pista principal e viajamos rumo a casa da família de Susie, em solo canadense.
Susie está muito animada, conversando com o irmão, eles falam de pessoas e lugares que apenas os dois conhecem dentro do veículo. Ficamos na maior parte do tempo apenas ouvindo, até que ele toca no assunto de um menino que desapareceu em sua vila.
- O que você acha que pode ter acontecido a ele? – Pergunta Susie.
- Você conhece a história. Ele pode ter despertado outra vez.
- Não, você não está achando...? São apenas lendas. Estou vendo que você cresceu apenas em tamanho mesmo, como diz papai.
- Diga o que quiser maninha, mas não é a primeira vez que isso acontece.
Eu olho para Diego, e nós dois para Matt que devolve o olhar, McAlister parece estar tirando um cochilo, de boca aberta com o rosto encostado na janela.
- Desculpe me intrometer na conversa de vocês, mas de que tipo de história vocês estão falando?
Susie e Mikasi ficam em silêncio por alguns segundos antes de Susie responder, depois de um longo suspiro.
- Existe uma lenda na minha terra, na verdade é uma lenda dos nativos sobre um espírito canibal que devora pessoas.
- Não é só na sua terra – retruca Mikasi – do lado de lá da fronteira os povos indígenas tem histórias bem semelhantes sobre a mesma criatura.
- Que seja! São estorinhas assustadoras para manter crianças desobedientes na linha.
- Crianças desobedientes como você. – brinca o grandalhão Mikasi.
- É... como eu.
Os dois se entreolham e riem. Então eu falo:
- Sempre gostei de lendas, elas dizem muito sobre os povos que as contam.
- Então, neste caso, as lendas dizem que meu povo não passa de um bando de supersticiosos, ignorantes e medrosos. – Fala Mikasi em um tom austero e freia a camionete bruscamente no meio da estrada quase deserta, fazendo os pneus cantarem. McAlister desperta assustado:
- O que?
O resto de nós presta atenção no gigante que pilota o veículo se virando para trás com uma cara de pouquíssimos amigos.
- Não. Claro que não! Não foi isso que eu quis dizer! – Tento me explicar.
Não precisamos de mais um clima tenso, muito menos de sermos abandonados no meio da estrada.
- Peguei você! – Mikasi aponta os dedos indicadores na minha direção e um enorme sorriso brota naquele rosto sisudo. Todos nós caímos na gargalhada depois de entendermos o exótico senso de humor de Mikasi.
- Você precisava ver a sua cara! – Ele gargalha zombando de mim.
- Por favor, chega de encrenca por hoje! – Eu respondo fingindo estar implorando, mas rindo junto com os demais.
- Ai, ai, ai. Você continua fazendo isso? – Reprova Susie, embora ela também esteja rindo.
McAlister resmunga alguma coisa inaudível, põe o boné sobre o rosto e volta a recostar-se na janela.
- Ele se aproveita desse tamanho todo para apavorar as pessoas, mas na verdade não faz mal a uma mosca. – Explica Susie.
- Que bom saber disso! – Respondo ainda usando de bom-humor.
Depois disso a viagem fica um pouco mais silenciosa, apenas Susie, segue explicando nosso pequeno acidente com um pouco mais de detalhes para Mikasi que na maioria do tempo ouve tudo em silêncio.
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