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23. Despedida

Bruno Escarpano parecia ter por volta dos quarenta anos, o que era jovem, dado que uma década atrás fora procurado pelas maiores organizações internacionais por fraude e falsificações de documentos. Passou cheques sem fundo, ganhou dinheiro em cima de gente ingênua que nem sabia como era possível lhes passar a perna tão facilmente. E voltou para se esconder no Brasil quando a coisa apertou. Falsificou um passaporte, comprou uma passagem para o Rio de Janeiro e embarcou pouco antes das coisas apertarem e a guerra com os Corvos estourar.

Escarpano tinha um plano de ação – criar raízes no interior de Santos com o nome de Dante Mingroni e nunca mais dar as caras como Bruno. E foi tão fácil para ele forjar sua nova identidade que pensou que poderia, realmente, esconder-se a vida inteira. Mas David o achou. Na época era chefe de segurança do presidente de Chiaroscuro e, sendo um dos alvos mais procurados do mundo naquele ano de 2013, era de se esperar que chamasse atenção. Olívio Meyers, presidente de Chiaroscuro, tinha outros planos para Bruno Escarpano. Quando denunciaram reconhecer uma face semelhante às que aparecia no jornal da noite com o título de PROCURADO na pacata cidade de Santos, David pessoalmente correu para descobrir quem, na verdade, era Dante Mingroni.

Ao invés de ser preso, Bruno Escarpano recebeu uma proposta: não ficaria em Nóvora, por hora. Não teria a vida segura que o governo de Chiaroscuro tanto queria para os homens de olhos pacatos. Entretanto, seguiria David para as catacumbas. Livre, mas não tanto.

– Senhor, se me permite a pergunta – David indagou ao presidente na época –, por que levar um criminoso como Escarpano para nosso bunker em Havenna?

– Porque, David – com a sabedoria acumulada que levava junto aos cabelos brancos, Olívio respondeu-lhe, apenas levantando os olhos de suas tarefas na mesa para fitar seu chefe de segurança –, sei reconhecer habilidades úteis quando as vejo. E, em algum dia, se quisermos trazer todos os nossos para cá, Bruno Escarpano será útil.




Bruno tinha o cabelo ralo, a barba por fazer, e uma leve barriga que não parecia condizer com o resto do corpo magro e longilíneo. Em nada parecia-se amedrontador ou intimidador. Era apenas um homem normal, à primeira vista, mas Samira deslumbrou-se com a precisão com que ele trabalhava.

Os seis escolhidos para o trabalho estavam em volta da mesa de trabalho de Escarpano, que parecia não se importar com a plateia. Ele olhava por uma lupa, os óculos na ponta do nariz, escorregando com o suor. A lupa tinha uma regulagem e, com a mão esquerda, ele a aproximava, focava e desfocava. Com a direita, segurava precisamente uma pinça. Bruno tinha um papel de documento sobre a mesa. Seis deles, precisamente. Em branco, apenas esperando os registros falsos que ele inseria com perfeição, usando uma boa impressora, uma pinça, caneta, e com o todo o cuidado para aquilo ser verossímil. Amassava uma ponta de um documento propositalmente, dobrava outro ao meio e desdobrava, e fazia parecer que eram gastos e não novos.

Os seis tiraram fotos em fundo branco, as lentes de contato nos olhos, e ele agora as colocava nos documentos com os nomes e dados falsos que Louis criou precisamente para eles.

Samira via seu rosto ser moldado em um papel pequeno com fundo azulado, ao lado do nome de Amanda Castro Silver e as informações de uma vida que ela começaria a levar em breve.

Um dia. Malas feitas. Só esperavam ordens.

David os encarava na sala de Bruno. Ele e Louis estavam mais afastados, e Lou lhe mostrava tudo o que coletara para a nova vida daquelas pessoas.

Mas a pergunta que mais lhes gritava na cabeça era óbvia e não precisava ser verbalizada. Se fossem fazer aquilo, se fossem viver vidas como Corvos, pelo tempo que fosse, precisavam primeiro se infiltrar. Passar pelas fronteiras. E o como, aquele pequeno gigantesco detalhe, era uma pedra no sapato. Se David já tinha as resposta, as escondia muito bem.

– David – Drica chamou, quando o silêncio ficou pesado demais dentro da saleta. No começo, era estranho aos novatos ver a mulher chamando o pai pelo nome, mesmo que depois tenha tornado-se habitual. Tanto ele quanto ela acostumaram-se desde cedo, desde que ela tinha dezesseis anos. Drica queria, para todos os fins, desvincular-se do laço sanguíneo com o pai. Queria ganhar o respeito dos outros pelo que ela era e pelo que fazia, não por quem o pai era –, como vamos entrar lá?

David encarou a filha por um instante. Naquele mês, que passou tão rápido, ele mal dormira. Os cabelos brancos teimavam em desgrenhar-se e o homem já não trazia a habitual postura de liderança de quando os sobreviventes de Raquel o conheceram. Aquilo estava o consumindo.

Então, o homem se levantou.

– Vamos sair nesta madrugada.

O clima na sala mudou. Todos os presentes, incluindo Bruno, ergueram os olhares de suas tarefas e fitaram um David desconcertado, ao mesmo tempo que suas palavras eram convictas e certas.

Sam sentiu o estômago embrulhar.

O decorrer daquela reunião foi um dos períodos que mais a nausearam durante os anos todos em que viu-se obrigada a lutar contra os Corvos. A luta à distância era mais fácil. Então, ouvir David falar e falar de detalhes minuciosos sobre como se infiltrariam em Luso, dentre pessoas com olhos negros como os dos que a torturaram, fez a bile subir do estômago. Mas Samira se controlou para não abolça-la. E todas as instruções, desde como entrariam na cidade até o que fariam quando chegassem, estavam agora gravadas em sua mente. Nada de papéis, nada de anotações. As que Louis lhes entregou, ficariam para trás, também. Segredos são mais bem escondidos se permanecem só no campo das ideias, guardados a sete chaves na mente. As anotações ficariam.

E Amanda Castro Silver seria uma peça importante para o jogo de David, que a cada dia parecia-lhes mais como um xadrez, e Samira precisava aprender a jogar. Perder não era uma opção.




A noite caiu.

Ela arrumava uma mochila preta que lhe cederam. A alça esquerda parecia prestes a estourar, a direita já estava remendada por uma linha vermelha em costura mal feita e a tintura desgastada passava a impressão do tecido ser cinza. Ainda assim, aquele pedaço maltrapilho era tudo o que Sam tinha para guardar a vida inteira que levaria nas costas para Luso.

Na enfermaria, o quarto que tomou para si por aquele mês, Andy a observava arrumar as últimas peças de roupa, tomando cuidado para não levar nada que pudesse evidenciar a vida que levava como Samira Sabino. O irmão estava sentado na cama, os braços cruzados sobre o peito que subia e descia em um ritmo frenético, o olhar perdido nas hábeis mãos da irmã enquanto pensava que teria de deixá-la ir de novo.

– Onde está sua cabeça? – Samira perguntou, e só então Andy percebeu que ela o observava de soslaio.

– Hum?

– No que tanto pensa?

Andy soltou o ar, debochado.

– O que acha, Sam?

Samira abriu um sorriso amarelo, obrigando-se a desviar o olhar do do irmão.

– Louis disse que vamos poder manter contato, sabia?

– Como?

– Uma vez que estivermos lá – ela fechou o zíper da mochila, por fim –, vamos dar um jeito. E vão saber que estamos bem. Ok?

Andy concordou, sem convicção. Samira sentou-se na cama em sua frente, cruzando as pernas na frente do corpo.

– Está bravo comigo, Andy? – a pergunta soou ingenuamente infantil na voz de Sam, o que ela odiou. Queria manter a integridade da irmã mais velha, mas Andy pareceu não levar a indagação para aquele lado.

Em resposta, a olhou com as sobrancelhas cerradas.

– Por que eu estaria, Sami?

Ela puxou-se para mais perto dele.

– Porque eu vou ter que ir.

– Você sempre foi. – Não havia amargura em sua voz, apenas sinceridade.

– E sempre voltei.

– Até não voltar mais.

– Estou aqui, não é?

– Eu só não... – Andy pensou bem nas palavras. Engoliu-as outra vez ao olhar para os cortes cicatrizados no rosto da irmã. Eram linhas pequenas, pouco perceptíveis, mas estavam lá, e ele sabia. Se tocasse, como já fizera antes, conseguia sentir onde a tesoura a feriu. – Eles já te machucaram, Sami. Não precisa... não precisa fazer isso. Sabe disso, não é? Não é tarde.

O sorriso que formou-se no rosto de Samira era triste, porque o que Andy dizia não era verdade. Ela não tinha outra escolha. No documento que levava no bolso do jeans, perfeitamente bem forjado por Bruno com o rosto dela ao lado do nome de Amanda, estava a prova de que era tarde demais e, de qualquer forma, deu seu nome porque queria ir, e nunca deixou que o medo fosse um empecilho.

– Andy – ela começou, endireitando a postura –, tenho que dizer algo.

Andy não respondeu. Apenas fitou-a com os olhos grandes vidrados, esperando por algo que sabia que não gostaria de ouvir. Tinha entonação de despedida.

– Você me deixou muito orgulhosa, sabia? Quando assumiu meu lugar.

 Pare com isso, Sami. Não queria assumir seu lugar.

– E o fez mesmo assim, porque precisava.

Ele engoliu em seco. Samira continuou:

– Não é mais uma criança. Está longe de ser, faz muito tempo. – Sam respirou fundo. – E eu vou voltar. Está bem? Eu preciso. Prometi que sempre volto, então... Eu só... quero que cuide deles. Tá?

– Cuidar deles?

– É. – Samira mordeu o lábio. – Da Raquel. Do Benji, principalmente. Tá legal? Porque eu vou segurar as pontas lá, seja lá onde isso for. Mas eu preciso me certificar de que, se ficarem aqui, vão ficar bem. Então me prometa, Andy.

– Prometer o que, Sami?

– Que vai manter a cabeça no lugar. Que vai estar aqui por Raquel, Benji, por todos eles quando eu não estiver.

– Está falando como se não fosse voltar.

– Então vamos ser adultos e dar as cartas: eu não tenho garantia nenhuma disso. Eu prometo que vou voltar porque são as palavras que precisam ouvir de mim quando eu parto, e eu espero que Benji acredite sempre nelas, mas você já esteve do outro lado do jogo e viu que não depende só de mim, Andy. Ok?

Ele soltou o ar que não percebia que prendia.

– Benji não pode te perder duas vezes, Sami.

– Não quero que perca. Nem ele, nem você. Mas eu preciso fazer isso.

– Por que você? – ele insistiu nessa tecla. – E me diga a verdade.

– Porque eu quero garantir, em primeira mão, que tudo vai estar certo nos míseros detalhes antes de jogar vocês nesse jogo. Está bem? Eu não confio em mais ninguém. Só em mim.

O menino fechou os olhos, e sentiu as mãos da irmã sobre seus ombros. Lágrimas brotaram dos cantos de suas orbes, e ele não sabia porque queria tanto escondê-las. Talvez porque a irmã lhe pedia para crescer, e ele queria aninhar-se em seu colo e implorar para que ela não fosse.

Samira percebeu, e seus dedos enroscaram-se no emaranhado dos cabelos castanhos do irmão. Ela puxou-o para um abraço.

Andy mergulhou o rosto em seus cabelos arruivados, e engoliu os soluços.

– Eu tenho boas memórias da vida antes da guerra, sabia, Sam? – sua voz escapou por dentro daquele abraço desengonçado. Samira só esperou que ele continuasse, sentindo seus soluços tremularem nas pontas de seus dedos. – É algo que eu penso todos os dias que Benji nunca vai ter: memórias antes da guerra.

"Mas eu lembro, Sam. Eu lembro... lembro do pai, da mãe. Lembro bem. Eu tinha medo que as lembranças fossem se dissipando com o tempo, mas elas estão vívidas, ainda, e eu sempre... sempre volto nelas. Lembro de conversas, de broncas, de birras, de carinhos. Eu lembro... lembro de você, Sami".

Samira afagou os cabelos do irmão, puxando-o mais para perto, tentando não achar graça em como ele, mais alto que ela, desengonçadamente tentava aninhar-se naquele abraço.

– Eu puxava seu cabelo, quando eu tinha... dois, três anos. E você chorava e me odiava.

– Isso não é verdade – Samira riu. – A parte de eu te odiar. Mas eu queria muito puxar seus cabelos de volta, sim.

Andy abafou uma risada.

– E... eu escondia suas coisas. Apagava a luz do banheiro quando você estava no banho. Eu... comia sua comida, cortava o cabelo das suas bonecas. – Andy riu, e Samira o acompanhou. – E acho que já estou grandinho o suficiente para admitir que implicava tanto com você porque eu te admirava tanto, Sam. Tanto.

A mulher segurou as próprias lágrimas.

– Eu queria sua atenção. Queria ser como você. E... então, naquele dia, quando o mundo acabou, você me abraçou. Eu engoli o orgulho, a implicância que eu carregava, e eu precisei de colo e você me deu, igual está fazendo agora, e–

Um soluço o interrompeu, e Samira o puxou para mais perto, balançando-o como se fosse uma criança.

– Eu vou ser forte, Sami. Por Benji, Raquel, por você. Mas, por favor, eu preciso...

Que volte, a frase foi interrompida com a porta se abrindo. Os dois se afastaram para ver Benji entrar no quarto, a cabeça erguida em contraste com a boca contorcida. Ele olhou de um para o outro, as lágrimas nos olhos das duas pessoas que ele mais admirava no mundo.

Sam, então, abriu um dos braços. E Andy fez o mesmo. E Benji jogou-se ali, entre eles, e essa era toda a despedida que ela precisava. Beijou o topo da cabeça de Ben, a têmpora de Andy, pegou a mochila desbotada e saiu.




Eric Ferragni ficou até ela dormir. Os dedos passeavam pelos cabelos armados e embaraçados de Laila enquanto ela ocupava sua cama, que prometeu cuidar para ele enquanto não voltasse.

Quando ele contou que passaria alguns dias fora, talvez bastante tempo, ela tentou ser compreensiva. Mas, então, Drica também partiria, e Mat também, mas Eric prometeu que Lou cuidaria dela, e Laila argumentou que Louis falava demais sobre coisas que ela já sabia, então Eric riu, lhe abraçou, e disse que manteria contato. Não soube responder quando ela perguntou como.

Laila era teimosa. Bateu o pé de que ficaria acordada até eles saírem, mas a noite estava fria, o início da madrugada ainda mais, e foi fácil para Eric ludibriá-la para que ela esquentasse sua cama, envolta por cobertores quentes depois de um banho quente. Ele conversou com ela até ela finalmente fechar os olhos, e Eric não conseguia deixá-la. Os dedos ainda desfaziam os nós dos cabelos da menina quando, da porta, ouviu a voz de Drica:

– Eric.

Ele olhou para ela. Estava com a mochila nas costas, um coque alto prendendo os cabelos loiros, coturnos confortáveis nos pés, um casaco verde musgo grande demais para ela. Os característicos braços cruzados estavam lá, em frente ao busto, mas ela sorria com carinho. Indicou a saída com a cabeça, e Eric concordou. Ele beijou a testa de Laila e, sem olhar para trás, a deixou no próprio quarto. Disse para Louis que, se ele não voltasse, aquele lugar seria dela.




Os primeiros passos do plano de David começavam a ser colocados em ação. Os seis atravessavam os corredores da catacumba escoltados por soldados de David e a alguns patrulheiros de Raquel. Samira segurou em um dos punhos de Eric por instinto quando os corredores tornaram à escuridão que começava a lhe soar mais familiar do que gostaria. Era como se ela esperasse que o homem a levasse para a Gruta Que Chora outra vez, só os dois e seus segredos do passado. Mas, mesmo não se lembrando exatamente do caminho, ela sentia as curvas mais e menos íngremes no trajeto e sabia que nunca o tinha feito antes. Não em consciência, pelo menos. Os passos dos outros eram discretos no piso de pedra rústico, mas lhe recordavam de que não estavam sozinhos, e não iriam para a Gruta, e sim para fora.

– Cuide dela. E cuide-se. Ok? – As palavras de Raquel ainda soavam em sua cabeça, um sussurro imperceptível dentre o último abraço apertado que deram. – Quero minhas meninas de volta.

Se Sam conseguisse distinguir Zoe na escuridão ao seu redor, teria agarrado-se a ela também como uma criança. Ou um pai superprotetor. Ela prometeu a Raquel que voltariam bem, e tinha certeza de que Miho tinha recebido instruções semelhantes para ficar de olho nas duas.

Os passos diminuíram a velocidade, um a um, até praticamente pararem. De algum lugar à frente deles, uma lanterna se acendeu nas mãos de Mateus, que iluminou o grupo.

– Olhem o degrau – anunciou, e direcionou o facho de luz da lanterna para o chão à sua frente.

Uma escada subia, e o coração de Samira disparou. Só então ela percebeu que ainda agarrava-se ao punho de Eric e o soltou, constrangida, agora guiada como um inseto atraído pela luz. Foi em Zoe quem grudou, então.

Os degraus da escada eram de pedra, assim como o chão, mas largos e disformes, esburacados e com alturas e larguras diferentes, mas que subiam e subiam e não paravam. As paredes afunilavam-se a cada passo.

Mat parou, por fim, fazendo os outros estagnarem logo atrás dele.

Sam ergueu a cabeça por sobre os ombros à sua frente, curiosa por saber como era a entrada para aquele lugar, tentando dissuadir a própria mente de pensar em quantos degraus subiram, no quanto aquele lugar era enfiado debaixo de terra como um sarcófago.

Então, Samira viu outra escada, dessa vez de metal e verticalmente acoplada à parede de pedra. Não parecia ter dez anos de uso. Não tinham marcas de desgaste, nada enferrujado, e a mulher deduziu que ou o metal era extremamente resistente ao tempo ou a manutenção do lugar era boa e minuciosamente pensada, o que lhe parecia mais provável, dada a preparação da equipe de David.

Mat, então, subiu na frente, escalando degrau por degrau com uma familiaridade impressionante, fazendo o ato ser tão natural para ele quanto respirar. Antes que qualquer um pudesse segui-lo, a única luz de sua lanterna se apagou, e Samira sentiu necessidade de agarrar-se a alguém outra vez, apenas para não sentir-se perdida na infame escuridão.

Foi quando a luz voltou.

Não a da lanterna, mas a da lua. Mateus abriu uma escotilha sobre suas cabeças, e o vento, o ar puro, irradiou sobre eles com uma rajada que soprava forte, o sussurro de fantasmas perscrutando o túnel que o grupo deixava para trás.

Vendo que ninguém seguia o primeiro, Eric retomou a fila. Seguindo Mat, foi o próximo a subir. Depois dele, mais um. E outro. Então, Samira apressou-se, a ansiedade subindo pela garganta. Quando escalou o metal gelado, rumando para fora daquele lugar, não sentiu a dor no peito que achou que sentiria. Foi prazeroso abraçar o ar fresco, a ventania que parecia querer derrubá-la da escada, mesmo que ela se agarrasse aos degraus com mãos firmes e determinadas.

Quando chegou ao topo, não olhou para baixo. Ela olhou para cima, para um céu que, mesmo nublado, pingava estrelas sobre sua cabeça. Ela lembrou das noites no terraço do abrigo ao lado de Benji, contando as luzes sobre suas cabeças, e sorriu. Viu uma mão estendida para ela, e a tomou sem pensar duas vezes.

Eric puxou-a para fora da escotilha e, mais uma vez, estudou-a enquanto ela estudava o que a cercava.

Samira viu árvores altas, pinheiros longilíneos que roçavam os céus e os escondiam tão bem ali, em algum lugar dentro de Havenna. O ar, diferente do que ela esperava, estava seco, e a mulher conseguia sentir resquícios de grãos de areia do deserto raspando-lhe a pele enquanto contornava as árvores.

Enquanto os outros subiam, Sam girou no lugar, deslumbrada e apavorada com o escuro, com a mata que a fechava, o cheiro de terra molhada em um contraste engraçado ao cheiro do deserto.

Assim que todos passaram, ouviu-se o som da escotilha se fechando devagar. Os soldados de David, já habituados, agora colocavam por cima da placa de metal uma camada de terra recortada, e empilhavam folhas e gravetos calculadamente, de modo que, se alguém pisasse ali acidental ou propositalmente, não se perceberia a entrada para a vida secreta que levavam sob as matas de Havenna.

Aquela pequena dúzia de pessoas se entreolhou.

– Vamos – ouviu-se a voz de Mateus, liderando o pequeno exército mais uma vez, desejando, em seu âmago, que não fosse a última.

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